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História Behind the roses - XVII - I want you closer to me


Escrita por: wellcarryon

Notas do Autor


Oi! Demorei um pouco mais por conta das correrias da vida, mas espero poder compensar com o capítulo de hoje. Espero que gostem!

Capítulo 17 - XVII - I want you closer to me


Os dias que se passaram foram um exercício de paciência, tanto para Gerard quanto para Frank. Para Gerard porque a espera o estava enlouquecendo. Bem ou mal, ele sempre fora acostumado a não esperar muito pelo que queria, mas neste caso não havia nada que ele pudesse fazer para acelerar o processo, a não ser esperar mais. Para Frank, porque a cada dia que passava ele via seu dinheiro diminuir um pouco mais, e nem um centavo entrar. No dia anterior ele sonhara que estava sendo jogado de um prédio pelo dono de sua antiga casa, e acordou no meio da queda livre, suando e tremendo como um cachorro molhado.

A situação estava difícil para os dois. Se quisessem ver um ao outro, Gerard precisava ir até o apartamento de Julian ou encontrá-lo no centro da cidade, porque Frank se recusava veementemente a colocar os pés em sua casa antes de conseguir um emprego. Para se encontrarem no centro, também era um problema para Frank, que não queria que Gerard lhe financiasse nem sequer um copo de água, mas também não estava em condições de gastar livremente. E no apartamento de Julian acabava sendo sempre um pouco estranho. Às vezes ela saía para deixá-los a sós, mas de modo geral sempre acabava sendo desconfortável para um dos dois ou ambos, desencadeando uma onda de timidez. De qualquer maneira, era o que tinham, e mesmo não sendo o melhor eles aproveitavam como podiam.

Era sábado por volta do meio dia, e enquanto Frank preparava uma salada de almoço para ele e Julian, a amiga estava no sofá da sala, fazendo as unhas dos pés e ouvindo o noticiário local. A notícia mais comentada em todos os canas era sobre a possibilidade de um white christmas. As temperaturas estavam baixas, mas por enquanto não houvera nem sinal de neve na cidade. Os meteorologistas, no entanto, ainda apostavam que ela começasse a cair dentro dos quatro dias que faltavam para o natal.

A campainha tocou, distraindo os dois de suas tarefas. Frank virou-se em direção à sala, mas antes que pudesse perguntar se Julian queria que ele atendesse, a amiga já havia saltado do sofá e se dirigido para a porta, então ele voltou sua atenção para o almoço e colocou a tigela de salada na bancada antes de pegar os pratos e talheres.

– Oi Rebecca! – Ele entreouviu a voz da amiga, que fez uma pausa para ouvir o que a pessoa na porta dizia. – Ah, hoje não vai dar... Vai ter uma festinha com o pessoal da lavanderia. – Outra pausa em que ele só conseguia ouvir um burburinho. – Mesmo assim, hoje não vai dar. – Outro burburinho. – Só um minuto.

Julian voltou-se para dentro e esticou o pescoço para olhar para Frank, que levou um instante para perceber, e quando o fez, olhou para a amiga com uma expressão confusa.

– O quê?

– Você sabe cuidar de crianças? – perguntou ela, analisando-o com uma mão no queixo.

– Crianças? Nunca cuidei de nenhuma. Por quê? – respondeu ele, cada vez mais confuso.

Ela estreitou os olhos avaliando-o, e por fim gesticulou para que se aproximasse.

– Rebecca, este é o Frank – disse ela quando ele a alcançou, passando um braço pelos ombros dele. – Frank, esta é a Rebecca. – Os dois trocaram um breve aperto de mãos. – Ela precisa de uma babá hoje à tarde, e eu disse que você está disponível.

Você O QUÊ? – Frank teve vontade de gritar, mas em vez disso, apenas engoliu em seco e concordou. A mulher na porta lhe olhou de forma avaliativa. Ela tinha os cabelos castanhos recém lavados, caindo úmidos pelos ombros, e vestia um terninho azul marinho. Depois de uma rápida inspeção, ela sorriu.

– Bem, se você é recomendado pela Julian é porque é boa pessoa – disse ela, ainda sorrindo. – Tenho uma reunião hoje à tarde e preciso que cuide do meu filho enquanto estou fora. Ele tem sete anos, e não é de dar trabalho. Só quero que mantenha um olho em cima dele, porque apesar de comportado, crianças são imprevisíveis. Tudo bem se você descer às 14h?

– Claro – respondeu Frank, aparentando uma confiança que não tinha realmente.

– Então estamos combinados. Obrigada Julian, eu fico te devendo uma! – disse ela, já se dirigindo para as escadas.

– Você pode me pagar em tortas de maçã – gritou Julian enquanto fechava a porta. – As tortas de maçã dela são a melhor coisa que já comi na vida. – Ela encostou-se na porta com um ar sonhador.

– Eu vou matar você – sussurrou Frank, desfazendo sua máscara de segurança. – O que eu vou fazer?

– O que ela disse. Mantenha o menino vivo e você vai receber uns trocadinhos no fim da tarde – disse Julian, dando de ombros e seguindo em direção à bancada da cozinha.

– Eu nunca cuidei de crianças!

– Bobagem, não tem mistério. Vamos almoçar?

E Julian deixou o assunto para trás tão rapidamente quanto ele surgiu, restando apenas um Frank nervoso e preocupado para segui-la em direção à cozinha.

 

Pouco antes das duas da tarde, Frank desceu o lance de escadas para o andar de baixo e tocou a campainha do apartamento 302. Em sua cabeça ele repetia uma série de pensamentos motivacionais que tivera durante o almoço, tentando se acalmar. Vai dar tudo certo. São só algumas horas. Ele é um menino tranquilo. Não vai aprontar nenhuma. À noite você vai ver o Gerard.

A porta foi aberta, revelando Rebecca, agora com o cabelo preso em um coque e com uma camada de maquiagem discreta dando uma aparência saudável ao seu rosto.

– Oi de novo – disse ela, abrindo caminho para que Frank entrasse.

Ele se viu em um pequeno corredor que desembocava em uma sala, e à sua esquerda ele pôde ver que uma porta levava à cozinha. As paredes estavam repletas de fotos, mas Frank não se deteve muito nelas, dedicando toda sua atenção à mulher.

– Bernard está na sala assistindo desenhos. Ele já almoçou e comeu sobremesa, então por enquanto não vai pedir nada. Deixei uns sanduíches prontos para os dois se sentirem fome no meio da tarde. Tem suco na geladeira, e fique à vontade para procurar o que precisar nos armários.

– Certo.

– Vem, vou te apresentar a ele. – Ela adiantou-se pelo corredor e ele a seguiu.

Em poucos passos, ele se viu em uma sala um pouco menor que a de Julian. Um sofá estava de costas para ele, onde um menino de vastos cabelos castanhos como os da mãe estava sentado, assistindo um desenho na televisão logo à frente.

– Filho – chamou a mulher, e o menino virou a cabeça para trás. – Este é o Frank, ele vai ficar com você hoje enquanto a mamãe trabalha, ok?

O menino acenou positivamente com a cabeça e voltou a assistir o desenho.

– Fique à vontade – disse ela, voltando-se para Frank. – Vou pegar minha bolsa e já vou.

Frank concordou e aproximou-se de uma poltrona, onde se sentou.

– E aí, tudo bem com você? – perguntou ao menino, torcendo para que ele respondesse, porque Frank não fazia a menor ideia do que mais dizer.

Bernard lançou-lhe um olhar e assentiu, voltando a atenção para a TV.

– Que bom – disse Frank, inclinando-se para trás na poltrona. – Comigo também.

Logo Rebecca voltou, e aproximando-se para depositar um beijo na cabeça do filho, despediu-se dos dois e saiu.

Frank suspirou e acomodou-se na poltrona, de onde podia ver tão bem o menino quanto a televisão. Depois de cerca de 10 minutos de silêncio sem nada de extraordinário acontecer – nem uma palavra dita, ou sequer uma mudança significativa de posição – Frank se convenceu de que estivera exagerando tudo, e passou a prestar atenção no desenho também.

O tempo passou rapidamente a partir de então. Já fazia mais de uma hora que Frank estava entretido com a televisão quando sentiu uma vibração de seu celular no bolso da calça e tirou-o para ver de que se tratava. Era uma mensagem de Julian.

Tudo certo?

Tudo. Fazendo maratona de desenhos e nem ao menos sei qual é. Ele não fala?” – ele digitou e enviou. Frank em seus dias teria virado do avesso um visitante desconhecido, enchendo-o de perguntas, e aquele garoto nem abria a boca.

A resposta chegou no minuto seguinte.

Hahaha, fala sim. Eu disse que ia ser tranquilo.

Tranquilo até demais – pensou Frank. Guardou o celular e se espreguiçou. Agora que se distraíra, percebeu que suas pernas estavam cansadas de ficar tanto tempo sentado, então levantou da poltrona e andou até a janela. A vista não era das melhores – dava para a parede do prédio vizinho, e ele só podia ver outra coisa se olhasse do canto da janela. Voltou-se para a sala e passou a observá-la.

Apesar de pequena, ela parecia bastante cheia. Uma parede laranja dava cor ao ambiente repleto de móveis de cores claras. Havia uma porção de quadros e retratos amontoados em um canto, apoiados em uma parede e em uma mesinha de canto. Agora que prestava atenção, ele podia perceber os ganchos nas paredes onde todas aquelas coisas estiveram penduradas. Rebecca devia ter tirado tudo para uma limpeza, para a qual não tivera tempo.

Uma coisa em especial chamou a atenção de Frank. Apoiado na parede atrás de onde Frank estivera sentado havia um violão, coberto por uma fina camada de pó pela provável falta de uso. Frank aproximou-se e o ergueu instintivamente, analisando-o. Era idêntico ao violão no qual ele aprendera a tocar, e com o qual conseguira ganhar uns trocados em tempos difíceis. Ele segurou o violão e correu os dedos pelas cordas, testando a qualidade do som.

O ruído chamou a atenção do garoto, que virou a cabeça na direção de Frank e observou-o com curiosidade.

– Você sabe tocar isso? – ele perguntou, escorregando do sofá para o chão.

Frank se virou, surpreso por ouvir a voz do garoto.

– Sei.

O menino se aproximou e subiu de joelhos na poltrona, olhando para os dedos de Frank de forma a sugerir que ele deveria voltar a tocar. Sem saber o que dizer, Frank acabou passando a alça pelo ombro e dedilhou alguns acordes. Bernard parecia encantado, e Frank viu muito de sua curiosidade infantil naquele olhar. Isso lhe deu uma ideia.

– Você quer tentar? – perguntou, tirando a alça de seu ombro e estendendo o violão para ele.

– Quero!

– Venha. – Frank foi até o sofá e sentou, indicando que o menino devia sentar ao seu lado. Posicionou-o de costas para si e ajeitou o violão sobre o colo do garoto, levando suas mãos para os lugares certos. – Você nunca tocou violão?

– Não.

– Então eu vou te ensinar umas coisinhas básicas. Primeiro, o violão tem seis cordas, e cada uma delas faz um som diferente. Ouça. – Frank correu o polegar do garoto pelas cordas, produzindo de um som grave a um som agudo. – Você consegue perceber a diferença? – Diante do assentimento do garoto ele continuou. – Cada uma delas tem um nome. De cima para baixo: mi, lá, ré, sol, si, mi. – Conforme falava, ele tocava as cordas com a mão do garoto.

E foi assim que os dois passaram o restante da tarde – Frank ensinando com calma os conhecimentos básicos do instrumento, e o garoto empolgado reproduzindo o que aprendia, rindo a cada vez que passava o dedo por uma corda e ouvia um som. Já estava escurecendo quando Rebecca abriu a porta do apartamento e ouviu uma risada do filho. Curiosa, ela foi até a sala e viu uma cena que a espantou.

Seu filho, com o violão do pai nas pernas, correndo os dedos pequenos pelas cordas enquanto Frank o ajudava a segurar o instrumento e fazer os movimentos certos. Ela ficou em silêncio observando e sentiu os olhos marejarem.

Frank notou a presença em seu campo de visão e levantou a cabeça, encontrando Rebecca parada na sala observando-os com uma expressão indecifrável.

– Ah, oi! – disse, receoso de ter feito algo que não devia.

– Mamãe! O Frank ta me ensinando a tocar violão mamãe! Olha! – Ele correu os dedos pelas cordas.

– Eu vi, filho – ela disse, com a voz embargada. – Que bom que vocês arrumaram uma utilidade para esse violão. Eu estava pensando em me desfazer dele.

Frank levantou do sofá e se despediu do garoto.

– Você já vai?

– Tenho que ir, garotão. – Ele fez uma expressão triste. – Não fica assim... Me desculpe, ta bom? Mas sua mãe quer matar a saudade de você.

Ele não teve escolha se não deixar o garoto entristecido para trás no sofá, e adiantar-se em direção à saída.

– Me desculpe se eu mexi onde não devia... – ele disse, virando-se para Rebecca. – Eu só vi o violão atrás da poltrona e acabei ficando curioso, e ele se interessou, então eu pensei “que mal pode haver?”. Me desculpe, sério. Acabamos nos entretendo tanto nem comemos nada...

– Não, imagina. Agora eu dou algo para ele comer, vocês estavam se divertindo, não tem problema – disse Rebecca, limpando uma lágrima do canto do olho e se recompondo. – O pai dele gostava muito desse violão, e teria gostado de ver o filho tocando. Eu só fiquei emocionada, sou uma boba...

– O que aconteceu? – perguntou Frank, já imaginando a resposta.

– Ele faleceu há dois anos.

– Sinto muito – disse Frank, tocando no braço dela como se oferecesse apoio. – Bem, eu já vou. Foi um prazer.

– Espera, quanto eu lhe devo? – perguntou ela, puxando a carteira da bolsa.

– Não precisa de nada...

– Eu insisto. Se você não vai dar seu preço, pegue. – Ela tirou algumas notas da carteira e entregou a Frank.

– Obrigado – disse ele, aceitando-as.

– Você dá aulas de violão? – ela perguntou.

– Na verdade nunca pensei nisso.

– Se você quiser continuar ensinando o Bernard, eu ficaria contente em remunerá-lo. Você tem disponibilidade?

– Bem, no momento eu estou tentando encontrar um emprego, acabei de sair do anterior. Não sei bem...

– Podemos fazer o seguinte: você pensa melhor no assunto, vê o seu preço e sua disponibilidade se conseguir um novo emprego, e nós voltamos a conversar no início do ano. Que tal?

– Parece ótimo.

– Então estamos combinados! Até mais e obrigada por hoje.

– Não precisa agradecer.

Frank deixou o apartamento e seguiu para as escadas sentindo algo que não sabia descrever. Ele acabara passando uma tarde muito agradável, ao contrário do que imaginara. Bernard realmente era um menino tranquilo, e sua curiosidade acabara criando a perspectiva de uma futura renda informal para Frank, fazendo o que ele mais gostava. Ele teria ensinado o garoto de graça e nem pensara em cobrar nada da mulher, mas não podia negar que ser pago por aquilo viria bem a calhar.

Ao abrir a porta do apartamento essas sensações ficaram para trás ao ver Gerard esperando por ele, sentado no sofá. Trancou a porta atrás de si e adiantou-se para abraçá-lo e beijá-lo, ao que ele levantou do sofá para recepcioná-lo. Uniram seus lábios e Frank enlaçou o pescoço de seu amado, sentindo a familiar alegria que surgia sempre que estavam juntos dominá-lo.

– Então, como foi? – perguntou Julian, surgindo do quarto enquanto colocava um par de brincos. – Ah, perdoem a tia Julian inconveniente crianças, podem continuar brincando – continuou, dando meia volta.

– Não, espera – disse Frank, separando-se de Gerard. – Nossa, você está linda!

A amiga estava usando um vestido vermelho sem ombros e que descia até a altura dos joelhos com um caimento rodado. Seus cabelos estavam presos em um coque frouxo e alguns fios caíam sobre o rosto.

– Obrigada – disse ela, curvando-se com um gracejo.

– Na verdade, foi muito bem – disse Frank, respondendo à pergunta da amiga. – Vocês não vão acreditar no que eu fiz.

– A Julian disse que você estava sendo babá – disse Gerard, com um sorriso curioso.

– Sim, e eu também estava ensinando o garoto a tocar violão!

– Sério? – perguntou Julian, sumindo no quarto e voltando com uma bolsa de mão e calçando um sapato.

– Sim! E a mãe dele sugeriu que eu continuasse com as aulas de violão!

– Isso é ótimo – disse Gerard, com um sorriso esperançoso. – Isso significa que você vai morar comigo?

Frank fez-lhe uma careta debochada, à qual Gerard respondeu com um revirar de olhos e um sorriso.

– No início do ano nós veremos isso direito – continuou Frank. – Mas é praticamente certo.

– Isso é ótimo mesmo, Frank! – exclamou Julian, aproximando-se do sofá para pegar seu casaco que estava no encosto. – Então rapazes, estou saindo, vou esperar minha dama lá embaixo. Comportem-se e não precisam me esperar acordada porque eu não sei em que estado estarei depois dessa festa, nem pra onde vou. Beijinhos e até amanhã.

Julian passou pela porta vestindo o casaco e lançando beijos no ar.

– Aonde ela vai? – perguntou Gerard, quando ouviram o barulho dos saltos dela na escada.

– Festa de final de ano dos funcionários da lavanderia – respondeu Frank, deixando-se cair no sofá e puxando Gerard pela mão.

Ele sorriu marotamente e inclinou-se em direção à Frank para depositar um selinho em seus lábios.

– Vou arrumar nosso jantar – disse, esquivando-se para a cozinha. – Está com fome?

– Estou. – Agora que estava prestando atenção, Frank percebia que na verdade estava faminto.

Gerard tirou dois pratos térmicos de uma sacola e vasculhou os armários da cozinha procurando pratos, talheres e taças. Quando encontrou tudo de que precisava, serviu o jantar e acrescentou porções de salada que trouxera em outros potes. Frank o observava da sala com um sorriso divertido.

Com tudo pronto, Gerard acenou para que Frank viesse jantar e puxou o banco para que ele se sentasse, provocando risadas. Em seguida, acomodou-se ao seu lado e os dois comeram a refeição que Bob preparara – espaguete à carbonara com salada caprese – enquanto desfrutavam de suas taças de vinho, que Gerard também trouxera.

– Bem, agora que estamos alimentados eu quero conversar com você – disse Gerard, depois de colocar a louça na pia, virando-se para Frank e apoiando-se na bancada enquanto tomava sua mão.

– Você usou o truque de me alimentar pra eu ser mais flexível com você? – perguntou ele, com uma falsa careta de indignação.

– Talvez – respondeu Gerard, sorrindo. – Mas agora é sério. Eu quero que você passe o natal lá em casa.

A expressão de Frank murchou.

– Gerard, nós j—

Gerard colocou um dedo sobre os lábios de Frank.

– Shhh. Não terminei. Eu pedi pros rapazes saírem de lá enquanto isso. Eles vão viajar na segunda para passar o natal fora, então você vai ter toda a liberdade que quiser.

– Eu não sei se é uma boa ideia...

– Sabe sim. Ah, vamos! É o nosso primeiro natal juntos! E eu tenho uma surpresa.

– Surpresa? – Frank ergueu uma sobrancelha.

– Sim. E não, não vou dizer nenhuma palavra sobre isso – disse Gerard, diante da expressão curiosa de Frank. – Então, o que me diz?

Frank ponderou por um instante, olhando pensativamente para Gerard, procurando alguma coisa em sua expressão. Por fim, acabou cedendo.

– Tudo bem. Se a casa vai estar vazia.

– Ótimo! Terça você volta comigo para lá, então. Certo?

– Certo.

Gerard inclinou-se e roubou um selinho de Frank. Depois, virou-se em direção a pia.

– Me deixa lavar a louça, você já fez muito hoje – disse Frank, levantando-se e empurrando-o da pia. Levantou as mangas e começou o serviço.

Sem opção, Gerard ficou ao seu lado e ajudou-o a secar e guardar os utensílios. Frank não podia deixar de achar engraçada a visão de Gerard com um pano de prato nas mãos, fazendo tarefas domésticas quando em casa ele nem sequer entrava na cozinha. Seu ar de diversão chamou a atenção de Gerard.

– O quê?

– Você. Preparando o jantar, secando a louça. Eu não sei se vou me acostumar com essa cena.

– Bobão.

Frank riu abertamente, voltando a atenção para o que estava fazendo. Como não havia muita louça, ele terminou rapidamente. Depois disso, foram para a sala, onde se aninharam no sofá e procuraram um filme para assistir. Viram uma comédia e acabaram por pegar no sono na metade de um filme de ação.

Julian voltou para seu apartamento com Ella por volta das 4 da manhã. A festa havia sido ótima e elas estavam um pouco bêbadas, mas nada muito grave. Ao abrir a porta, a primeira coisa que viu foi a televisão ligada em volume baixo. Ao aproximar-se para desligá-la, viu Gerard deitado no sofá, com Frank espremido entre seu corpo e o encosto do sofá, a cabeça acomodada em seu ombro e uma das pernas enroscada nas dele. Fez sinal para que Ella não fizesse barulho e desligou a TV.

– Vou tomar uma ducha – sussurrou Ella, adiantando-se em direção ao banheiro.

Julian apenas concordou e foi até seu quarto buscar um cobertor. Voltou para a sala e cobriu os dois, ajeitando delicadamente o braço de Gerard que estava pendurado no sofá. Em seguida, despiu o casaco, soltou os cabelos e adentrou sorrateiramente o banheiro.

 

Frank acordou na manhã seguinte com o ruído das xícaras na bancada da cozinha. Quando abriu os olhos, viu Julian, Ella e Gerard sentados, tomando café. Ele se perguntou por que sempre era o último a acordar naquela casa, e depois de ir até o banheiro, juntou-se aos demais na primeira refeição do dia.

Os quatro passaram um dia de preguiça, assistindo televisão e jogando conversa fora. Do lado de fora, a prometida neve finalmente chegara, caindo em pequenos flocos em baixa intensidade. Gerard voltou para casa no fim da tarde, e Ella aproveitou a deixa para voltar para seu apartamento também, de forma que ficaram apenas Frank e Julian. Ele então contou para a amiga tudo o que acontecera na véspera – sua experiência como professor de violão e o jantar com Gerard, no qual ele pedira que ele fosse passar o natal em sua casa.

Em contrapartida, a amiga contou-lhe sobre a festa, que fora sensacional – na metade, alguns dos colegas mais sóbrios tiveram que sair pra comprar mais bebidas, porque era uma tradição que a bebida inicial fosse sempre insuficiente, mas fora isso, tudo correra mais que perfeitamente.

Na segunda-feira, como uma forma de comemorar o natal antecipadamente, Frank decidiu abrir a mão e ele e Julian saíram para beber. Já era quase uma da manhã quando voltaram para casa, com os casacos úmidos e cobertos de neve. Frank arrumou algumas roupas em duas mochilas para passar o natal fora – bagagem reduzida para Gerard não pensar que isso o convenceria a mudar de ideia e ir morar lá antes de ser empregado. Com suas coisas prontas, deitou para dormir, preparando-se para o restante do dia que já começara.

 

A véspera de natal amanheceu do jeitinho que todos desejavam: tão branca quanto possível. A neve se intensificara durante a noite, acumulando-se ainda mais sobre todas as superfícies na rua.

Depois do almoço, Gerard passou para buscar Frank. Ele se despediu de Julian com um abraço apertado e desejos de feliz natal, e desceu as escadas carregando suas mochilas. Gerard o esperava na porta, e o ajudou a colocar suas coisas dentro do carro mesmo que não fosse necessário. No caminho, segurou sua mão, que estava muito fria, tanto pela temperatura quanto pelo nervosismo.

Frank não sabia exatamente o motivo pelo qual estava tão tenso em voltar para aquela casa. Não podia ser por ver os ex-colegas, pois já sabia que eles não estariam lá. Além disso, já conhecia o lugar tão bem quanto as circunstâncias lhe possibilitaram – ainda havia lugares particulares do andar de cima que ele não conhecia, obviamente, mas todo o restante lhe era familiar como a palma de sua mão.

Talvez fosse algo simbólico em relação ao lugar, alguma questão emocional que ele não conseguira interpretar ainda. A única coisa que tinha certeza era do tremor em suas pernas quando desceu do carro e caminhou com Gerard até a entrada.

A casa parecia incrivelmente solitária sem os ex-colegas lá dentro, mas ao mesmo tempo, havia algo diferente lá. Mais acolhedor. Frank varreu o hall de entrada com o olhar, a escadaria familiar, a árvore de natal que ajudara a preparar – nada parecia mudado, mas ao mesmo tempo, havia alguma coisa estranha.

Gerard pegou o seu casaco e o pendurou em um gancho na parede perto da porta que Frank surpreendentemente nunca havia notado. Depois, conduziu-o escada acima, passando pelo corredor conhecido até uma parte não tão familiar, onde abriu uma porta. Eles entraram em um quarto que fez o queixo de Frank cair.

As paredes e o teto eram brancos, sendo a decoração responsável por dar vida ao quarto. Na parede ao redor da cama de casal havia vários andares de prateleiras do chão ao teto, repletas de livros. A cabeceira da cama, assim como o revestimento de trás das prateleiras, imitava madeira, dando um tom levemente rústico ao quarto. Aos pés da cama havia um banco baú estofado na cor dourada, e longas cortinas quase da mesma cor cobriam as janelas.

Na parede aos pés da cama havia uma escrivaninha também em madeira, com uma poltrona confortável e um abajur de piso, e ao lado da escrivaninha, um grande espelho do chão ao teto.

– Separei este quarto pra você – disse Gerard, colocando as mochilas de Frank na poltrona. – Imaginei que fosse querer um lugar próprio. Quando vier para cá continuará sendo seu.

Frank olhava ao redor embasbacado.

– Se você puxar essa porta – disse Gerard, colocando uma das mãos na lateral do espelho e arrastando-o para o lado. – Tem acesso ao banheiro e ao seu guarda-roupa.

Frank olhou para o vão que surgiu atrás do espelho escandalizado.

– Você está bem? – perguntou Gerard, diante da expressão de choque no rosto de Frank.

– Estou – murmurou ele depois de um instante, quando se sentiu capaz de falar novamente. – É... lindo!

Gerard sorriu.

– Que bom que gostou. Vou deixar você a sós. Se precisar de mim, estarei na cozinha preparando o jantar.

– Já? – Frank ergueu uma sobrancelha.

– Tenho que caprichar, certo?

Frank sorriu, e continuou sorrindo até depois de a porta se fechar. Olhou ao redor sem acreditar que estivesse em um quarto de verdade. Aproximou-se da cama e subiu nela. O colchão era macio, as cobertas eram macias... Era como se deitar em uma nuvem.

Permaneceu um instante esparramado na cama, olhando para o teto. Ele já estava mais calmo agora. Também, com tantas lombadas de livros olhando sugestivamente para ele... Não era surpreendente que ele tivesse esquecido os problemas por um instante.

Querendo desfrutar desse momento raro de tranquilidade, Frank levantou, vasculhou as prateleiras e escolheu um livro. Tirando os tênis, sentou-se com as pernas encolhidas em cima da poltrona e em questão de minutos se viu totalmente imerso na leitura.

 

Já estava anoitecendo quando sua bexiga o lembrou de que havia uma realidade fora das páginas do livro. Ele foi ao banheiro de seu quarto, admirando-se mais uma vez com o lugar, embora o banheiro fosse mais simples, próximo do que ele estava acostumado a ver, e depois decidiu descer e procurar Gerard.

As luzes da árvore de natal estavam acesas, piscando e lançando cores por cada centímetro que alcançavam. Frank abriu a porta que leva à cozinha e ficou contente em ver as portas de seu antigo quarto e dos demais fechadas, afastando assim o sentimento de pesar que o afligira muitas vezes desde que fora embora. Evitou olhar muito para as paredes, pois suas últimas lembranças dali não eram agradáveis. Alcançou a cozinha, onde finalmente encontrou Gerard, com um avental amarrado atrás do pescoço e na cintura, às voltas com as panelas no fogão.

– O que você está fazendo? – perguntou Frank, se aproximando para bisbilhotar.

– O jantar.

– Ah, não me diga. Por que vamos comer hoje e não amanhã?

– Vamos falar sobre isso depois.

– Hm, misterioso. – Frank espiou dentro do forno, onde um peru estava assando. – Precisa de ajuda?

– Não, já estou quase terminando.

Dando-se por vencido, Frank puxou uma das cadeiras da mesa e sentou para observar Gerard cozinhar. Depois de alguns minutos percebeu que ele seguia uma receita anotada em uma folha amarelada que estava no balcão, perto de onde ele estava preparando tudo.

Embora às vezes fizesse movimentos sem jeito, Gerard parecia saber o que fazia, e Frank se perguntou como ele aprendeu aquelas coisas se nunca cozinhava, e até onde sabia, sempre tivera empregados em casa.

Meia hora depois, Gerard anunciou que o jantar estava pronto e começou a levar a comida para a sala de jantar, que para a surpresa de Frank, estava preparada com destreza e iluminada por velas.

– Tenha a bondade de se sentar – disse Gerard, puxando uma cadeira para Frank. – Vou terminar de trazer as coisas.

– Não quer ajuda?

– Não! Que rapaz impaciente você é, Frank Iero – repreendeu Gerard, brincando.

– Eu só estou achando tudo muito estranho e com medo de ser engolido pelo chão – brincou Frank, embora no fundo ele realmente estivesse com medo de que algo do tipo acontecesse. Gerard não se daria tanto trabalho por nada.

– Obrigado pela parte que me toca. Aguarde um momento, por favor.

Frank novamente se deu por vencido e esperou pacientemente que Gerard colocasse as travessas de comida sobre a mesa e trouxesse uma garrafa de vinho. Com tudo pronto, ele finalmente sentou com ele para jantarem.

– O que temos hoje, chef? – perguntou Frank, em tom de pilhéria.

Gerard sorriu.

– Peru, batatas gratinadas e alcachofra com alecrim.

Eles se serviram e começaram a comer. Estava delicioso, e Frank comeu muito mais do que deveria. Ao fim da refeição ele sentia que poderia explodir a qualquer momento. Gerard tinha um ar pensativo enquanto bebia de uma taça pela metade, ao mesmo tempo que Frank se inclinava para trás pousando uma mão sobre o estômago farto. Talvez ele realmente fosse explodir. Nunca comera tanto na vida.

– Você está tentando me engordar pra depois me abater? – resmungou Frank, tirando Gerard de seus pensamentos. – Eu não consigo comer nem mais uma azeitona.

Gerard riu.

– Qual o objetivo desse jantar? – perguntou Frank, se ajeitando na cadeira e passando a fitar Gerard com seriedade.

Gerard pousou sua taça e se ajeitou na cadeira. Havia chegado o momento de dizer a verdade.

– Você está certo em pensar que esse jantar tem um objetivo. Mas não é o que você está pensando, provavelmente. Eu não estou tentando comprar você – ele sorriu. – Michael me convidou para a ceia de natal amanhã, com minha mãe... Em “família”. E eu quero que você vá comigo.

Frank engoliu em seco.

– E-eu? Mas eu não sou sua família – gaguejou.

Gerard virou-se na cadeira e pegou sua mão.

– Você é minha família sim, Frank. Você é toda a família que eu tenho. E é por isso que eu convidei você pra vir aqui hoje, e me acompanhar amanhã. – Gerard pigarreou, criando coragem para o que ia dizer. – Eu amo passar tempo com você, seja sem fazer nada ou fazendo qualquer coisa. Amo saber cada coisinha sobre você, e embora eu só saiba uma parte, assim como você não sabe tudo sobre mim, eu quero conhecer você, cada dia mais. Eu não paro de pensar em você nem por um segundo do dia, e é por isso que eu queria que você viesse morar aqui comigo. E também é por isso – Gerard colocou a mão no bolso e tirou uma aliança fina de ouro branco – que eu resolvi dar uma de adolescente bobo e pedir de um jeito tão meloso que você namore comigo. Seja meu parceiro.

Frank olhou para o anel boquiaberto e sentindo seu coração tão acelerado que poderia parar a qualquer momento.

– Eu sei que eu estou longe de ser perfeito, tenho essa aparência terrível e algumas manias malucas. Não posso mudar minha aparência infelizmente, mas o resto eu posso mudar pra melhor, e já estou mudando. Você me faz ser uma pessoa melhor Frank. Você me faz ter vontade de levantar da cama e deixar esse mundo mais bonito só pra ver você sorrir. Embora minha presença não possa deixar o mundo perfeito como queria que fosse, eu espero que seja o suficiente pra você. Talvez seja precipitado dizer isso, mas eu já perdi tanto tempo com outras coisas que eu não quero simplesmente perder o tempo que tenho com você. Por que... Bem, porque eu amo você.

Gerard levantou o olhar, que estivera pousado em suas mãos unidas, e observou o rosto de Frank com ansiedade.

Frank soltou sua mão da de Gerard, o que o fez baixar novamente o olhar sentindo o coração apertar. Mas, para sua surpresa, as duas mãos de Frank foram parar uma de cada lado de seu rosto conforme ele levantou da cadeira e empurrou a mesa com o quadril para sentar em seu colo. Os olhos de Frank o encararam, firmes.

– Gerard, não diga bobagens. Você é lindo, é uma pessoa incrível, e eu estou muito assustado com tudo isso, mas é claro que eu quero namorar você, fazer o que você quiser. Eu cavo um túnel daqui até o outro lado do mundo se for isso que você quiser. Eu demorei pra perceber, mas acho que finalmente entendi... Eu também te amo.

Eles uniram seus lábios em um beijo apaixonado, que transbordava tudo o que disseram e o que havia ficado subentendido. Depois de um momento intenso, eles se separaram e encostaram as testas, tentando normalizar suas respirações. Gerard quebrou o silêncio.

– Você cavaria um túnel daqui ao outro lado do mundo se eu quisesse?

– Sim.

– E não quer morar comigo de jeito nenhum?

Frank revirou os olhos.

– Você não esquece isso, não é?

– De jeito nenhum.

Gerard pegou a mão direita de Frank e deslizou a aliança pelo seu dedo anelar, satisfeito ao constatar que o tamanho estava adequado. Em seguida, depositou um beijo sobre o anel, e outro sobre os lábios de Frank.

– Adoraria passar mais um tempinho com você, mas preciso continuar minhas tarefas domésticas e deixar tudo limpo para sair amanhã – disse.

– Onde vai ser o almoço?

– Segundo o Michael, na casa da nossa mãe.

– Que fica...?

– Em Nova York.

Frank novamente ficou de queixo caído.

– Nós vamos pra Nova York?

– Você fala como se fosse longe, é praticamente nosso quintal...

Frank bateu de leve no braço de Gerard.

– Pare de desdenhar Nova York, seu exibido.

Gerard riu.

– Ok. Sim, nós vamos. E é melhor você subir e arrumar umas roupinhas pra levar, porque duvido você querer voltar no mesmo dia.

– E onde nós ficaríamos? – perguntou Frank, erguendo uma sobrancelha.

– Em um hotel. Não se preocupe com o dinheiro.

Frank olhava incrédulo para Gerard, dividido entre protestar e aproveitar a oportunidade única. Nova York é Nova York, afinal de contas...

– Cadê sua aliança? – perguntou por fim.

Gerard tirou a peça do bolso e estendeu para Frank, que imitou-o deslizando-a em seu dedo anelar direito.

– Vou ajudar você com as coisas, depois eu arrumo minhas roupas.

Trocando um último selinho, Frank levantou, permitindo que Gerard fizesse o mesmo. Os dois guardaram as sobras, lavaram a louça e deixaram tudo limpo. Depois, subiram, e Frank arrumou suas roupas em uma mala que Gerard deixara em seu guarda-roupa. Com tudo pronto, os dois se deitaram para dormir no quarto novo de Frank, e após trocarem um beijo apaixonado, não demoraram a pegar no sono, descansando serenamente nos braços um do outro.

Apesar de todas as situações difíceis em suas vidas, Frank e Gerard eram, naquele instante, as duas pessoas mais felizes do mundo.


Notas Finais


Entãooooo, fiquei um pouco insegura com o capítulo, mas espero que tenham gostado... Um pouquinho de açúcar pra adoçar a noite/dia de vocês!
Festa de família chegando hein? No que será que vai dar...
Muito obrigada por todos os comentários e favoritos!!! Continuem compartilhando comigo o que estão achando da história, eu adoro saber! Beijos e até mais!


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