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História Behind the roses - II - Tik tok


Escrita por: wellcarryon

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 2 - II - Tik tok


Às sete horas da manhã os empregados do Sr. Way estavam prontos para iniciar seus trabalhos. Ray foi para o quintal e recebeu os jardineiros, que rapidamente voltaram ao trabalho de onde haviam parado no dia anterior. Bob foi para a cozinha e preparou o café da manhã de seu patrão, se encaminhando para a horta logo em seguida.

O único que até então não fora visto em lugar algum era Frank. Enquanto todos desempenhavam suas tarefas, Frank repousava em sua nova cama no quinto estágio do sono, sonhando com uma festa em que uma pessoa mascarada apunhalava a todos com uma faca de açougueiro.

Acordou com um salto quando o homem chegou perto de si e ergueu a faca. Olhou ao redor, desorientado, se perguntando onde estava até reconhecer as roupas formais penduradas na porta do armário. Seu coração, cujo ritmo dos batimentos ainda estava acelerado pelo sonho, passou a martelar freneticamente quando verificou a hora na tela do celular. Estava pelo menos uma hora atrasado, e não fazia nem um dia que iniciara no emprego.

Saltou da cama, despindo o pijama e enfiando-se dentro do uniforme. Aprontou-se em tempo recorde, mas sua inabilidade com nós de gravata transformaram o que deveria ser um visual profissional em uma fantasia de Halloween. Abriu a porta do quarto e saiu às pressas, tropeçando em algo que fora deixado do lado de fora, um saco preto ao qual um bilhete estava colado.

“O restante das roupas está no cesto na lavanderia. Não misture-as. O motorista estará pronto para levá-lo assim que você informar ao Sr. Way sobre o café da manhã.”

Café da manhã, Deus. Se o homem ainda estivesse esperando por um aviso sobre seu café da manhã, Frank teria de verificar as ofertas de emprego no jornal novamente antes da hora do almoço.

Sem mais tempo a perder, Frank deixou o corredor e procurou a lavanderia, descobrindo-a ao lado da cozinha. O cesto continha uma pilha de roupas, que enfiou em outro saco disponível, carregando ambos para fora, sem encontrar nenhum sinal de Bob ou Ray pelo caminho. O motorista o esperava na entrada de carros, e somente ao deixar os portões imponentes para trás é que Frank percebeu que não sabia o que fazer. Agora a ideia de sair de casa sem falar com ninguém para fingir que não havia dormido demais parecia idiota e irresponsável, o que de fato era.

Algum tempo depois o carro parou em frente a um prédio com fachada de vidro, dentro do qual era possível ver um balcão onde duas pessoas estavam esperando. Frank saiu do carro vestido com uma falsa confiança que se esvaiu cinco passos depois. Voltou e bateu na janela do carona. O motorista baixou os vidros.

– Oi. Você sabe me dizer o que eu devo fazer? – perguntou, envergonhado.

O motorista sorriu, divertindo-se.

– Não, mas talvez, se você procurar pela Julian ela possa te ajudar.

– Julian – repetiu Frank. – Ok, obrigado.

O motorista subiu o vidro da janela e Frank endireitou-se, dando meia volta e avançando em direção ao estabelecimento.

O interior era decorado de forma simples e a entrada agora estava totalmente vazia, as duas pessoas saíam da loja naquele momento. Frank parou no balcão e um rapaz foi em sua direção.

– Oi, eu poderia falar com a Julian? – perguntou, sentindo-se ser analisado com desconfiança.

O rapaz deu alguns passos para trás e, sem tirar os olhos de Frank, gritou para uma porta aberta:

– Julian, tem um cara aqui querendo falar com você!

Alguns segundos depois uma moça bonita, com longos cabelos loiros, surgiu pela porta e aproximou-se do balcão com expressão simpática.

– Você disse que quer falar comigo?

– Oi, sim. Será que você pode me ajudar? Eu estou trabalhando para o Sr. Way, você o conhece? – perguntou Frank.

– Oh, claro, é um cliente muito assíduo. Você é o novo empregado?

– Sou...

– Certo, como você sabe, eu sou a Julian – disse, estendendo uma mão a qual Frank apertou. – Fiquei sabendo mesmo que a Maggie se foi... É uma pena, era uma ótima pessoa – comentou. – O que você tem ai? – perguntou, apontando para os sacos que Frank carregava.

– Algumas roupas, mas na verdade eu não sei bem o que fazer com elas, apenas que não devem ser misturadas. Quer dizer, eu obviamente sei o que fazer com roupas sujas, mas essas roupas parecem ser especiais – disse Frank, sentindo-se tolo.

– Sei como é. Quer dizer, eu não conheço o homem pessoalmente, mas ele nos paga mais para que nós lavemos as roupas em vez de seus próprios empregados, então...

Nossa, quanta confiança. Um dia de trabalho e Frank já estava se sentindo como se fosse ser preso a qualquer momento por envolvimento em algum crime. Felizmente ou não, não sabia por quanto tempo mais continuaria no emprego, já que estava no limite de erros que podia cometer em tão pouco tempo.

Julian resolveu todos os problemas de Frank. Trocou as roupas sujas por pacotes com as roupas que já haviam sido lavadas e passadas, além de ser a primeira pessoa a ensinar alguma coisa a Frank sem um certo ar de superioridade. Assim, em pouco tempo Frank estava voltando para a casa com pelo menos uma coisa bem feita para usar a seu favor.

Seu sentimento de triunfo durou até descer do carro e ser visto por Ray, que dava novas ordens aos jardineiros. Ele pareceu pedir licença aos homens e então foi em direção à Frank com uma expressão que não parecia boa.

– Onde você se meteu?!

– Desculpa, eu me atrasei – murmurou Frank.

– Por que não está lá dentro continuando com seus afazeres? Vamos! – disse empurrando Frank com uma das mãos em direção à casa.

– Bem, porque você me chamou! – grunhiu, tropeçando pelo chão. – Espera! O que eu faço com...

– Avise o Sr. Way sobre o almoço!

Ray bateu a porta da cozinha assim que Frank a atravessou.

– Hey, bom dia – ouviu a voz atrás de si e virou-se para Bob com expressão de aborrecimento. – Nem tão bom?

– Nem tão bom – concordou, suspirando e começando a se arrastar pela cozinha com as roupas nos braços.

– Olha, não dê bola pro Ray. Ele não estava sendo rude de verdade, ok? É apenas o jeito dele. Ele se preocupa muito com o trabalho.

– Huh – resmungou. – Você sabe o que devo fazer com essas roupas?

– Os uniformes são nossos, pode deixar aí na cadeira, o resto precisa ir para o andar de cima – explicou Bob. – Eu vou colocar a mesa, talvez você possa dizer ao Sr. Way que o almoço está servido?

– Claro.

– A propósito, você não comeu nada ontem à noite?

– Comi... Umas bolachas que estavam no armário, achei que não fariam falta, desculpa – justificou-se, se perguntando quanto tempo levaria para que parasse de fazer besteiras.

– Por que você fez isso? – perguntou Bob, e Frank suspirou, culpado. – Tinha um prato servido na geladeira para você. Era só aquecer.

Um prato... Quê? Ah. Então o prato bonito que vira na geladeira era para ele. Ouviu o estômago roncar com a lembrança.

– Eu não sabia – disse, lamentando o desperdício.

– Tudo bem, mas você deve estar morrendo de fome. Nós vamos almoçar depois que o Sr. Way estiver servido, então venha comer antes que desmaie por inanição.

Assentindo, Frank saiu da cozinha e andou até as escadas carregando a pilha de roupas dentro dos pacotes. Focou-se nos degraus, afastando um pensamento que surgira com as palavras de Bob. Subiu até o andar de cima e se viu sem saber para onde ir. No pequeno tour do dia anterior não havia sido levado a nenhum quarto.

– Senhor Way? – chamou.

Provavelmente estava certo, pois um empregado recém admitido e com grandes chances de ser demitido não tinha motivos para conhecer o quarto de seu patrão. Provavelmente só Ray sabia onde era.

Virou em um corredor e bateu com o rosto em algo macio.

– Você está bem?

A cereja do bolo.

– Me desculpe – pediu, o rosto esquentando. – Na verdade eu estava procurando pelo senhor para descobrir onde devo colocar suas roupas. E Bob pediu para que eu avisasse que o almoço será servido. Quero dizer, o Sr. Bryar.

Disse tudo encarando os botões da camisa do patrão. Estava envergonhado e receoso demais para olhá-lo no rosto, considerando toda a claridade no corredor e o fato de tê-lo conhecido em um ambiente pouco iluminado. Talvez as cicatrizes fossem bastante ruins e não queria parecer rude expressando estranheza. Não que olhar para seu peito em vez de seu rosto fosse algo educado a se fazer.

– Tudo bem, você pode me entregar isso... – disse o homem, pegando as roupas dos braços de Frank devagar, como se estivesse tirando uma arma da mão de um bandido.

Frank percebeu que assim como o lado esquerdo do rosto, a mão esquerda tinha o mesmo aspecto enrugado e avermelhado pela queimadura.

– Você pode deixar as roupas aqui da próxima vez, venha – disse, dando-lhe as costas e avançando pelo corredor, entrando por uma porta logo ao fim.

Frank seguiu-o e adentrou um ambiente parcialmente iluminado pela luz que transpassava as cortinas de um tom médio de cinza. No cômodo havia algumas estantes com livros, e sofás de frente pra uma lareira. Havia uma porta fechada na parede oposta à lareira.

O homem colocou as roupas sobre um dos sofás e voltou-se para Frank, que olhava atentamente ao redor, sem encará-lo.

– O que aconteceu com sua gravata? – perguntou o homem. Frank, que havia esquecido o quão mal estava o nó, imediatamente pôs-se a tentar desfazê-lo.

 – N-nada...

Mas o homem já levava as mãos em direção à gravata, de modo que Frank apenas desistiu de desfazer o nó e observou.

– É muito simples. Você cruza as duas partes da gravata, faz uma volta dessa forma, passa essa ponta por dentro da volta e então é só ajustar. Agora é sua vez.

Desmanchou novamente o nó e deixou Frank tentar. Um pouco constrangido, Frank fez como havia observado, recebendo ajuda quando ficou em dúvida.

– Ótimo, mais uma vez para aprender realmente – disse o homem, tornando a desmanchar o nó.

Frank revirou os olhos, mas sorrindo discretamente, refez o nó. Não ficou perfeito, mas era um nó.

– Parabéns, você aprendeu – disse seu chefe, e Frank não pôde evitar de sorrir, baixando a cabeça.

– Obrigado senhor, desculpe o incômodo – disse Frank, caminhando em direção à porta. – Voltarei ao trabalho, o almoço está servido – e com um aceno de cabeça, saiu do cômodo.

Quando chegou à cozinha, seu rosto estava ligeiramente ruborizado. Manteve a cabeça baixa ao sentar-se à mesa com Bob e, depois de servir-se, desfrutou de cada porção do seu almoço, o primeiro de verdade em tempos. Ray juntou-se à eles minutos depois, bem humorado, e pôs-se a conversar com Bob sobre assuntos diversos, aos quais Frank não prestou atenção, porque sua cabeça estava em outro lugar. Agora entendia o olhar de estranheza do rapaz da lavanderia. Era por causa da gravata.

Durante a tarde, Frank recebeu ordens para limpar um banheiro pouco utilizado do térreo. Deixou as torneiras brilhando e os espelhos tão limpos que pareciam uma janela para outro cômodo. Sentiu-se muito satisfeito com seu trabalho, e com o ânimo parcialmente restaurado, saiu do cômodo, trocando os produtos de limpeza no armário ao qual pertenciam pelo espanador de pó.

Passeou pela casa espanando os móveis, removendo a poeira invisível de todas as superfícies. Agora que não estava acompanhado podia fazer aquilo muito mais rápido. Não via necessidade de fazer algo que já estava feito, de forma que apenas passou o espanador brevemente sobre as coisas e estava livre.

Mas um pensamento passou por sua cabeça, impedindo-o de continuar. E se a casa fosse vigiada por câmeras? Lembrava-se muito bem do dia anterior, quando uma câmera se movera no portão de entrada para ver quem estava parado lá. E se uma câmera estivesse filmando-o enquanto fazia seu serviço? E se pudessem ver que ele não estava fazendo-o direito?

Receoso, retornou ao começo e espanou novamente todas as superfícies, dessa vez afastando os objetos e não apenas contornando-os. Ray apareceu depois de algum tempo fazendo expressão de surpresa ao ver que Frank ainda estava naquela tarefa.

– Quando terminar aí você está dispensado – disse Ray. – Amanhã quero que vá ao supermercado, pergunte a Bob o que você precisa comprar.

Frank assentiu e assistiu Ray se retirar em direção à porta que levava à cozinha. Quando ficou completamente sozinho, fez uma careta e resmungou coisas ininteligíveis sobre ainda estar nesta tarefa, mas se recompôs rapidamente ao lembrar que poderia estar sendo filmado.

Quando finalmente terminou, passou um tempo agradável com Bob na cozinha, anotando dicas e a lista do que deveria comprar enquanto ele preparava o jantar. Mesmo depois de apenas um dia de trabalho, Frank já gostava bastante de Bob. Ele era ótimo em fazer as pessoas se sentirem à vontade, ao contrário de Ray, que parecia estar sempre sob pressão. Embora Frank acreditasse que a pressão que Ray sofria fosse auto-imposta, não havia como ter certeza de que não tinha algo a ver com o serviço. Afinal, desde que chegara àquela casa ele próprio estava se sentindo sufocado, infeliz, envergonhado.

Mas, pensando bem, essas coisas nada tinham a ver com estar na casa, e ao sentir o familiar nó na garganta se aproximar, Frank sacudiu a cabeça, respirou fundo e se ofereceu para ajudar Bob lavando a louça, se concentrando inteiramente na tarefa e evitando outros pensamentos.

Depois de jantar, Frank tomou um banho quente e se recolheu ao seu quarto. Ali, sozinho e sem ninguém o observando, o nó na garganta pareceu estrangulá-lo, e as lágrimas involuntariamente vieram aos seus olhos. Mas ele não queria chorar, então respirou fundo ruidosamente por diversas vezes seguidas e fechou bem os olhos, como que forçando as lágrimas a voltarem para o lugar de onde vieram já que não havia outro lugar para onde irem.

Deitou-se em sua cama, abafou a cabeça com os cobertores e obrigou-se a dormir, obtendo sucesso minutos depois.


Notas Finais


Espero que estejam gostando, agora que acabei a outra fanfic posso me dedicar totalmente a essa.
Comentários são sempre bem vindos, até mais!


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