1. Spirit Fanfics >
  2. Behind the roses >
  3. VIII - I don't know what I'm doing but I know how to do it

História Behind the roses - VIII - I don't know what I'm doing but I know how to do it


Escrita por: wellcarryon

Notas do Autor


Boa noite pra quem conseguiu cumprir o prometido e voltou no dia certinho. Boa leitura!

Capítulo 8 - VIII - I don't know what I'm doing but I know how to do it


Conforme o passar dos dias e a iminente aproximação do aniversário de Frank, uma nuvenzinha negra começou a se aproximar de sua cabeça. Densa, carregada, causando reviravoltas em seu estômago e em seu peito, a nuvenzinha trovejava em sua mente, povoando-a de inseguranças e dúvidas.

O que estava fazendo de sua vida era a pergunta constante. Seus planos para o futuro nunca foram muito concretos devido à instabilidade financeira em que vivia com sua mãe. Sua única certeza era de que eles o levavam para a música. Antes de sua mãe falecer, ele já havia traçado uma meta – com grandes chances de desvio – em direção ao seu sonho. Ele arranjaria um emprego, ajudaria sua mãe e investiria o dinheiro em adquirir e aperfeiçoar seus conhecimentos.

Mas a morte repentina de sua mãe foi uma desagradável surpresa em todos os aspectos. De repente, viu-se sem a única pessoa que tinha ao lado, sua melhor amiga, em quem ele confiava mais do que em si próprio. E ainda, viu-se sem casa. Ninguém pensou duas vezes antes de enxotá-lo para fora, de um jeito que se bem sabia, não era permitido. Mas ele não iria argumentar com alguém para quem devia tanto. Deixou que ficassem com quase tudo, exceto suas roupas, o celular e a guitarra – a coisa mais importante que ainda possuía.

Naquele momento de sua vida, foi como se ele estivesse dirigindo por uma gigantesca estrada com sua mãe, seu sonho visível há muitos quilômetros de distância – mas ainda assim visível – e de repente a estrada fosse bloqueada, obrigando-o a desviar por uma estrada de terra batida, a qual não sabia onde levaria – e o pior, teria de caminhar, sozinho.

A oferta de emprego à qual respondera parecia ser o emprego dos sonhos. Um bom salário, casa, comida e roupas. Não tinha de investir nenhum dinheiro. Mas, agora que parava para pensar, o mesmo emprego que fora a luz no fim do túnel, também podia ser o ponto final na estrada que tomara. Sem chance de retorno, pois ela desaparecera conforme ele a percorria.

Não sabia para onde estava indo. Não sabia onde tudo o levaria. Só sabia que a incógnita do futuro e a ausência de objetivos o estavam levando a agir de forma impulsiva, e isso podia arruiná-lo ainda mais. Que ideia fora aquela de convidar seu chefe para passear, quando ele não saía de casa há quatro anos? Não bastava tê-lo induzido a lhe contar coisas pessoais que não eram de sua conta? Onde estava com a cabeça, exatamente? Estava prestes a fazer 25 anos, mas ainda agia como se fosse dez anos mais novo.

Nem isso. Talvez o seu Eu de 15 anos fosse mais sensato.

Era óbvio que não havia recebido uma resposta. Talvez o Sr. Way não tivesse visto o convite, afinal, ele não era muito perceptível. Um papel no meio de um livro não significa nada, podia ser o marcador utilizado por Frank enquanto o lia. Alguém teria de pegar o papel e lê-lo para perceber que havia uma pergunta escrita no rodapé, com a letra mais trêmula que Frank conseguiu fazer.

Mesmo assim, Frank não sabia por que ainda esperava intimamente por uma resposta.

Seu celular vibrou com uma mensagem, e Frank pegou-o no bolso do casaco para ver de que se tratava.

"Estou chegando!"

Era Julian. Bloqueou a tela e guardou o celular de volta no bolso. Depois de conversar brevemente com ela na lavanderia, na semana anterior, a moça sugeriu que saíssem para jogar conversa fora, comer alguma coisa e se conhecerem melhor para oficializar a amizade.

Na verdade, era porque Julian queria comprar fantasias de Halloween escondida de alguém, e precisava de companhia. Mas, de certa forma, é a mesma coisa. Então, os dois trocaram os números de celular, Frank tirou o dia de folga, e ali estava. Sentado, no banco de uma praça do centro, que fica próxima a lavanderia. Pensando muito – uma nova tendência em sua vida. Assistindo cachorros passeando com seus donos – não o contrário – e fazendo suas necessidades pelo pavimento. Até então todos os donos haviam sido educados o suficiente para limpar a sujeira.

Frank sempre quis um cachorro. Essa foi uma de suas frustrações de infância, mas ele nunca foi egoísta o suficiente para insistir no assunto com sua mãe. Ele era uma criança consciente das necessidades familiares.

Avistou Julian há vários metros de distância, se aproximando. Levantou-se e andou até ela para encurtar a distância.

– Você está esperando há muito tempo? – perguntou ela, tirando o celular do bolso para checar a hora e guardando-o novamente em seguida.

– Não, cheguei há pouco.

– Certo. Então, eu tenho uma loja preferida de fantasias e ela fica aqui perto. É para lá que nós vamos. – disse ela, começando a caminhar, com Frank ao seu lado. – Você já pensou no que vai vestir, ou se vai vestir alguma coisa?

– Na verdade, nem sei se vou.

– O quê? – Julian parou de andar e Frank avançou alguns passos antes de ter seu braço puxado, forçando-o a virar para trás. Ela encarou-o, olhos azuis profundos escaneando os seus como se pudessem lê-lo.

– Hm, digamos que eu fiz uma coisa muito burra... – disse Frank, desviando o olhar para um ponto atrás de Julian, onde um homem lendo uma revista tropeçava no meio-fio.

– Mudança de planos, nós vamos tomar chocolate quente. Eu pago – acrescentou ela, ao que Frank estava prestes a protestar. – Você precisa me contar essa história.

 

Dessa forma, Frank e Julian acabaram em um café conhecido de Frank, onde muitos chocolates quentes já salvaram sua alma de congelar em meio ao frio, assim como xícaras de café transformaram dias ruins em dias bons, e dias bons em dias ótimos. O lugar era pequeno e aconchegante, com um cheirinho de comida gostosa no ar, sofás estofados vermelhos em contraste com chão quadriculado, músicas clássicas dos anos 60-80 tocando em som ambiente e preços tão bons quanto todo o resto.

Em um desses sofás que ficava bem ao lado da janela e proporcionava uma grande visão do lado de fora, Frank contou uma versão sucinta de como a montanha russa de sua vida entrara em declive nos últimos meses. Falou sobre a perda recente de sua mãe, seu novo emprego e sobre se sentir sobrecarregado e perdido com tantas coisas ao mesmo tempo. Sobre a aproximação de seu aniversário, e as inseguranças que isso lhe provocava. Julian ouviu tudo com atenção, observando-o com os olhos muito atentos – como se a história toda fosse se perder caso desviasse-os por um segundo sequer – enquanto devorava um donut com devotado apetite.

– E por fim, acabei convidando– mas Frank se interrompeu no meio da frase. Era o fim da história, e de repente, se viu sem querer dizer quem havia convidado. Pensou por um segundo e decidiu por ocultar a informação. – bem, convidando alguém que eu não deveria ter convidado, pois não parece certo. Foi algo idiota, na verdade, pois eu escrevi no rodapé do seu panfleto e o entreguei. Talvez ele nem perceba – concluiu, dando de ombros.

– Bem, qualquer coisa você pode dizer que estava delirando – disse Julian, com uma piscadela.

Frank acabou sorrindo. Talvez ele fosse precisar mesmo dessa desculpa. Poderia dizer que o frio da rua e os germes nas prateleiras do supermercado encontraram em seu sistema imunológico incompetente uma oportunidade para semear o caos, causando-lhe febre e delírios terríveis onde ele voltava no tempo e convidava seu amigo de infância para o Halloween.

– Mas quero que saiba – começou Julian, interrompendo o devaneio de Frank. – que não importa qual seja o resultado do seu convite ousado, você pode e deve ir até a comemoração. A gente se encontra lá e podemos passar a noite nos divertindo. Além disso, quero que você conheça uma pessoa.

O rosto dela se iluminou ao falar sobre a pessoa e um sorriso singelo brotou em seus lábios, de forma que Frank entendeu imediatamente o que significava.

– Não quero interromper nada entre vocês...

– Você não vai interromper nada. Somos amigos, amigos se divertem. Vai ser bom.

Frank assentiu, erguendo o copo de isopor e bebendo um gole de chocolate. Queria aceitar, e não duvidava de que seria mesmo divertido, mas em algum lugar no fundo de sua mente, ele queria ir com outra pessoa. Ele queria que sua burrice desse certo, só mais uma vez, mesmo que jamais fosse admitir. Queria saber como seria. Mesmo sem ter nenhuma razão em específico para isso.

Depois de comer, os dois saíram do café e caminharam por algumas quadras até chegarem à loja de fantasias. Como ela havia dito, era mesmo perto, e ao adentrarem o estabelecimento, Frank se viu imerso em um santuário das roupas temáticas. Ali poderia se encontrar qualquer tipo de fantasia, desde trajes completos a acessórios variados. Minutos depois, Frank se perdeu de Julian, conforme ela percorria os corredores, procurando algo que se adequasse aos seus objetivos. Aparentemente, ela queria uma fantasia dupla.

Ele caminhou devagar pelos corredores, e se entreteve por tempo indeterminado observando uma cesta de máscaras e acessórios. Enquanto olhava máscara por máscara, ouvia a voz de Julian a alguns corredores de distância. A loja não era grande, mas a quantidade de roupas lotando cada centímetro das prateleiras fazia com que o som soasse abafado, como se estivessem em um enorme depósito.

De repente, algo chamou sua atenção. Puxou a máscara de Frankenstein de dentro de uma das cestas e observou-a, recordando um Halloween em sua infância, no qual disse para a mãe que queria ser o Frankenstein. Ela acabou pintando o rosto dele de verde e desenhando os detalhes com tinta, e Frank se divertiu muito pedindo doces naquela noite, pois sua fantasia era diferente de todas as outras, com uma pintura em vez de uma máscara.

Arrependeu-se profundamente por não ter nenhum dinheiro, pois aquela máscara era algo que ele realmente gostaria de comprar.

Julian surgiu minutos depois na ponta do corredor, e encontrou Frank observando a máscara em suas mãos com uma expressão sonhadora no rosto, como uma criança que acaba de descobrir onde seu brinquedo favorito esteve escondido depois de muito tempo de procura.

Sem pensar duas vezes, tomou a máscara de suas mãos e dirigiu-se ao caixa, deixando Frank para trás com uma expressão perplexa. Colocou a máscara sobre suas compras.

– O que você está fazendo? – perguntou Frank, alcançando-a no balcão.

– Comprando nossas coisas.

– Mas eu não trouxe dinheiro – disse ele, erguendo a mão para pegar a máscara de volta e devolvê-la ao lugar de onde a tirara, mas Julian segurou seu braço no ar, impedindo-o, e empurrou as coisas em direção ao atendente.

– Eu sei, eu vou pagar.

– Você não tem que fazer isso, você já pagou o chocolate, eu não estou aqui pra gastar o seu dinheiro – protestou Frank, tentando soltar o braço.

– Sou eu quem está gastando o meu dinheiro. Considere seu presente de aniversário – disse ela, empurrando o braço de Frank para baixo antes de soltá-lo.

– Mas- Frank tentou argumentar, mas Julian cobriu sua boca com uma das mãos para fazê-lo calar-se.

– Pare de ser teimoso, ou você não vai comer doces no Halloween – advertiu ela, lançando-lhe um olhar sério.

Frank revirou os olhos, mas acabou por ceder. Não era como se ele não tivesse tentado.

Julian pagou as compras, entregou a sacola com a máscara para Frank e os dois caminharam por mais algumas quadras antes de se despedirem. Frank percorreu o caminho de volta para casa a pé, mas dessa vez muito atento a qualquer aproximação. Como no dia em que levara a surra dos assaltantes, as ruas estavam desertas, e caminhando com um pouco mais de pressa, cerca de quinze minutos depois ele alcançou os portões da casa.

Encontrou Bob no quintal quando caminhou pela lateral da casa até a porta da cozinha, mas não encontrou nem sinal de Ray no interior da casa. Estava tudo imerso em profundo silêncio. Foi até seu quarto guardar seu presente e vestir sua roupa para voltar ao trabalho. Abriu a porta, colocou um pé para dentro e escorregou no mesmo instante, segurando-se no batente da porta para não cair sentado.

Reequilibrou-se e olhou para o chão a fim de descobrir em que havia pisado, encontrando um papel dobrado ao meio, onde agora havia a marca de sua pegada. Seu coração agitou-se no peito e seu estômago pesou.

Abaixou-se e pegou o papel, hesitando por um minuto antes de abri-lo. Dentro, havia apenas uma palavra – um “ok” escrito em uma caligrafia caprichada e objetiva, como se quem o escrevera houvesse desenhado as letras, depositando nelas toda sua certeza. E Frank obviamente sabia quem escrevera.

Nervosamente, sentou em sua cama com o papel em mãos, encarando as letras por alguns minutos. Em seguida, tirou o celular do bolso e digitou uma mensagem.

Eu vou.

Apertou o botão de enviar. Segundos depois, recebeu a resposta de Julian, como se ela estivesse grudada no celular.

Sabia.

Sorrindo, Frank guardou de volta o celular no bolso e observou mais uma vez o papel, antes de deixá-lo sobre a escrivaninha, ao lado da máscara. Vestiu seu uniforme, ouvindo o barulho feito por Ray ao adentrar a cozinha, e foi o seu encontro a fim de perguntar o que havia para ser feito.

Encaminhando-se para suas tarefas do fim do dia, Frank acabou desfazendo o sorriso e substituindo-o por uma expressão apreensiva. Agora que estava decidido que iriam, como fariam aquilo? Como sairiam de casa sem levantar suspeitas e comentários dos colegas?

 

Três dias antes do Halloween Frank teve suas dúvidas sanadas. Ao adentrar uma sala do andar de baixo, carregando uma vassoura e o espanador de pó, tomou um susto ao descobrir que havia alguém sentado no sofá. Recuou um passo, antes de identificar o cabelo escuro com algumas falhas, e o livro que Gerard tinha em mãos – o mesmo em que Frank colocara o panfleto.

– O que voc- digo, não esperava que você estivesse aqui – disse Frank, aproximando-se e contornando o sofá para encará-lo.

– Sr. Iero, que surpresa – disse Gerard, uma expressão onde a seriedade e o divertimento estavam mesclados. – Chame seus companheiros, eu gostaria de dar uma palavrinha com os senhores.

Frank piscou, aturdido, mas saiu do cômodo, largou as coisas no hall de entrada e foi atrás de Bob e Ray. Com os colegas, voltou ao encontro de seu chefe.

– Senhores, esse ano gostaria de tentar algo diferente – disse ele, levantando-se do sofá e juntando as mãos como se estivesse discursando. – Os três ganharão uma folga na noite de Halloween. Podem ir para onde quiserem, dormirem onde quiserem, e por favor, não voltem para casa.

Um instante de silêncio recaiu sobre os quatro, antes que Bob e Ray começassem a protestar em simultâneo, causando uma grande agitação. Frank não teve coragem de abrir a boca para dizer nada, apenas desviou o olhar e acompanhou a discussão, sentindo o rosto esquentar. No fim, Gerard Way, obviamente, acabou convencendo-os de que ficaria bem e de que não precisaria deles, pois era um adulto capaz de se cuidar sozinho por algumas horas.

Os colegas, impressionados e desconfiados, conversaram a noite inteira sobre o assunto, enquanto Frank assentia ocasionalmente, fingindo que o assunto não era de seu interesse. A escolha de palavras de Gerard fora terrível, mas o objetivo era manter os dois afastados para não causar constrangimentos a Frank e a Gerard, ou terem de explicar porque estavam saindo juntos.

Na verdade, ele ainda não acreditava que aquilo estava mesmo para acontecer. Era fato que havia adentrado um caminho desconhecido e perigoso ao aceitar aquele emprego, mas em momentos como aquele, sentia curiosidade de saber o que havia no final daquela estrada.

A última de suas atitudes indevidas aconteceu na véspera de seu aniversário, quando pediu um adiantamento de salário. Como o pedido foi aceito e pago, Frank jurou que nunca mais faria algo que não devia, como quando as crianças prometem para as mães que vão se comportar.

 

A decisão de sair de casa foi pensada e repensada por Gerard muitas e muitas vezes no período entre o convite e sua resposta, e mesmo após. Ele pensou inúmeras vezes em dizer não, em manter sua reclusão por tempo indeterminado. Em sua cama, esperando o sono chegar, mais uma vez ele pensava sobre o assunto.

Mas havia uma coisa dentro dele que seu empregado enxerido despertava, e ele gostava de como essa coisa o fazia sentir. Era como se estivesse de volta à adolescência – antes do episódio que marcou sua vida para sempre –, fazendo pequenas loucuras que no final seriam as melhores recordações. Ele não achava que merecesse qualquer coisa boa, mas Frank Iero tinha um jeito impulsivo, e Gerard decidira seguir em sua onda e descobrir onde ela o levaria. 


Notas Finais


Espero que tenham gostado. Foi um capítulo cheio de drama de vida, reflexões e etc, mas foi importante. Esperem por mais interações no próximo capítulo, e se tudo continuar correndo bem nos vemos daqui há 2 semanas! :) Até mais <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...