História Behind The Scenes - Te proteger

– Eu sinto muito... – sem aviso prévio as lágrimas começaram a rolar, e minha visão ficou embaçada, minhas pernas fraquejaram. Procurei a mão de Cody, e assim que a encontrei a entrelacei à minha, já sabia o que vinha por aí, não precisava nem ouvir o restante – sua mãe não resistiu aos ferimentos...

Flashback on - quatro semanas atrás

– Mãe, você já está completamente bêbada! – eu disse rindo ao vê-la tentando cantar Flawless da Beyoncé ao mesmo tempo que tentava fazer a coreografia.

– Flawless... flawless... flawless! – ela virou mais um copo de whisky – I wake up like 'this, we flawless! Ladies tell 'em! – ela apontou o microfone para mim, e eu subi com ela no palco do karaokê e cantamos juntas: – Say I look so good tonight... god damn, god damn, god damn! – depois de dançar muito e cantarmos como loucas, voltamos para nossa mesa.

Havíamos marcado de sair só nós duas hoje, ou como ela intitulou "flawlessssss night". 

Passava das três da manhã, eu estava completamente sã, pois estava dirigindo, já dona Clarice, estava completamente alterada.

– Alyssa! – ela me chamou segurando em minha mão assim que entramos no carro – eu amo você filhota, e saiba que tenho tanto orgulho de você, de ter tido a oportunidade de ver seu sonho sendo realizado... meu coração às vezes parece que vai explodir de orgulho! Nunca se esqueça de que sempre teremos uma a outra! – olhei em seus olhos e vi que estavam marejados.

– Eu amo você dona Clarice! – a puxei para um abraço, e logo depois voltamos a "enlouquecer" quando tocou Body Say.

Flashback off - atualmente

Ela se foi.

Quando vi meu pai nos abandonando aos meus quinze anos, eu achei que meu mundo tinha acabado. A dor que eu sentia ao implorar para que ele ficasse, e ele simplesmente negava com a cabeça, era algo insuportável! Meu coração parecia que ia rasgar no meio, e a vontade que eu tinha era de puxá-lo com a mão, mas quando minha mãe se ajoelhou ao meu lado e disse olhando em meus olhos que nunca me deixaria eu senti que não tinha acabado o mundo, e que ele só iria acabar quando ela se fosse, e hoje ela se foi.

Meu cérebro não conseguiu raciocinar o que o médico disse depois.

As lembranças minha e dela passavam como filme de curta metragem, e isso me sufocou de uma maneira inexplicável.

Eu estava nos braços do Cody ainda, mas parecia que estava vagando no vazio, nada mais fazia sentido ali pra mim, ela se foi, minha mãe se foi! Acabou o mundo para mim.

Me desvencilhei dos braços dele, e vi todos me olhando preocupados e curiosos, me sentei novamente no sofá e senti o desespero me dominar. A sensação de solidão, o medo, a dor, a saudade que eu já estava sentindo sufocava qualquer vestígio de sã consciência.

– Aly... – Cody disse se agachando ao meu e lado segurando minha mão. Levantei meu olhar para ele, e vi que ele estava tão perdido quanto eu. Olhei para o restante do pessoal, e vi Shelley e Spraybarry chorando silenciosamente – eu sinto muito... – voltei a encará-lo e neguei com a cabeça, eu não chorava mais, não haviam mais lágrimas para derramar, eu simplesmente estava vazia, era como uma casa abandonada.

– Eu quero ir embora. – eu disse agora encarando minhas mãos, elas pareciam tão interessantes. Olhei de relance e vi Cody trocando olhares com O'brien e Shelley.

– Cody pode ir com ela, eu resolvo tudo por aqui. – O'brien disse me encarando. Me levantei e fui em direção à ele e o abracei forte. Os braços dele logo rodearam minha cintura me trazendo mais para perto, aproximei minha boca de seu ouvido e sussurrei um "obrigada". O'brien suspirou fundo e me apertou mais ainda – Fica firme! – ele disse segurando minhas mãos assim que nos separamos. Assenti e voltei para o sofá onde estava para pegar minhas coisas.

– Eu vou estar com ela, me liga pra avisar o que foi decidido e tudo, certo? – Cody disse para O'brien que balançou a cabeça positivamente. 

Abracei todos ali me despedindo, e Cody e eu saímos.

***

Fomos para a casa do Cody, já que ele não quis de forma alguma me deixar ir para a minha.

A casa era enorme, só isso deu pra reparar, o resto não prestei atenção  porque minha cabeça não permitia.

– O que quer fazer? – ele perguntou entrelaçando suas mãos às minhas. Olhei para ele e dei de ombros – Vamos comer alguma coisa, não sei, assistir filme? – franziu o cenho e eu apenas neguei com a cabeça. Cody me encarou por alguns segundos, o que me deixou bem incomodada – Me diga o que fazer?! Por favor, porque eu não sei... eu estou tão perdido, não faço a mínima ideia do que fazer Alyssa... – olhei para ele e vi lágrimas escorrendo por seu rosto. Me aproximei mais dele e acariciei seu rosto.

– Só não me deixa sozinha, pelo menos não agora... – ele assentiu me puxando para um abraço. 

Ficamos em pé no meio da sala de estar nos abraçando.

– Cody? – uma voz feminina soou atrás de nós nos assustando – Ah! Desculpe...

– Ah mãe, essa é a Alyssa. 

– Aí meu Deus que prazer em conhecer você, sou Ashley! – ela disse vindo em minha direção. Sorri tímida e estendi a mão, mas ela ignorou e me puxou para um abraço apertado. Não sei o que aconteceu, mas o abraço dela me trouxe um alívio enorme, e me fez sentir em casa. Não pude segurar as lágrimas, e "desabei". Não consegui soltá-la, fiquei chorando em seus braços  – Aí meu Deus, o que aconteceu?

– A mãe dela... hum... – Cody disse e senti que ela se assustou, pois seu corpo estremeceu. 

– Meus sentimentos meu amor... – ela disse acariciando meus cabelos. Soltei um longo suspiro, e comecei a chorar desesperadamente. 

Dona Ashley continuou me afagando enquanto eu me recuperava.

– Me desculpe por isso... – me desculpei assim que nos separamos do abraço – me desculpe mesmo, eu acabei de te conheci e já fiz uma cena dessas...

– Por favor né?! – ela disse com as mãos na cintura me encarando – Acha mesmo que deve se desculpar por isso...

– É que senti uma coisa tão diferente quando me abraçou, senti um alívio, uma paz... – disse sentindo meus olhos marejarem novamente. Cody se materializou ao meu lado e depositou um beijo em minha cabeça.

– Amor, me deixa sozinha com ela um minuto? – dona Ashley perguntou ao Cody.

– Mãe, é que ela me pediu pra não deixá-la sozinha...

– Tudo bem... – eu o interrompi. Ele me encarou surpreso e eu sorri em resposta e logo em seguida selei seus lábios.

– Certo... – ele sorriu e me beijou de volta – vou estar na cozinha. – assentimos e esperamos ele sair.

– Vamos sentar ali? – ela indicou o sofá com a cabeça e assenti. Nos dirigimos até lá e nos sentamos. Dona Ashley se sentou ao meu lado, e segurou firme minhas mãos. Olhei para ela que sorria solidária, e senti as lágrimas escorrerem novamente. Num impulso totalmente involuntário me deitei em seu colo e chorei tudo que queria chorar – Se algum dia você ver um pingo de chuva à rolar, pelo vidro da janela... saiba então que não há nenhum pingo de chuva que caí sem a permissão do Criador... – ela cantarolou enquanto afagava meus cabelos. Sua doce voz invadia meu ouvidos com delicadeza, e penetrava até o fundo do meu coração me trazendo uma paz indescritível – porque desde o raio que cai, até à uma flor que floresce passa pela decisão de Deus, saiba então que tudo que ele faz é o melhor para o seu coração! Mesmo que você não entenda o propósito agora, lá na frente verá que ele sempre esteve com o controle nas mãos... entendeu o que a música quer dizer? – ela perguntou ainda acariciando meus cabelos. Me levantei enxugando as lágrimas e assenti sorrindo – Então... quando estava na quarta sessão de quimioterapia, quando perdi todos os pelos do meu corpo, e emagreci mais de vinte quilos, Cody chorou desesperado ao me ver naquela situação, mas aí eu cantei essa canção e o lembrei que tudo que Deus faz é bom, e ele nunca perde o controle das mãos. Fica firme meu bem, a tempestade vai passar, essa dor vai passar, a saudade vai vir, mas tudo vai se acalmar ok? – assenti sorridente – Você poder ter perdido sua mãe biológica, mas acabou de ganhar uma sogra que vai te tratar como uma filha.

– Obrigada por tudo dona Ashley, de coração! – eu disse a abraçando – Você é linda, tanto por fora quanto por dentro!

– Imagina meu amor, linda é você com esses olhos azuis maravilhosos, e esse cabelo, esse rosto de boneca! – ela respondeu sorrindo.

– Ah por favor! – gargalhei negando com a cabeça.

– Agora entendo o porquê do Cody ter se apaixonado... – ela piscou para mim divertida.

– Aí meu Deus, só você para me fazer rir agora! 

– E é assim que tem que ser! Sempre sorrindo, não interessa a situação – assenti – agora vá namorar um pouco! – gargalhei alto.

Dona Ashley me fez esquecer a dor de ter perdido minha mãe, ainda sinto a tristeza da perda, claro! Mas agora sinto que foi o melhor, que faz parte da vida, e que eu não estou sozinha.

Fui em direção à cozinha e encontrei Cody sentado na bancada comendo um misto quente que tinha acabado de fazer, pelo cheiro que estava ali.

Cheguei de fininho por trás dele e o abracei.

– Que susto! – ela exclamou com a mão em cima do peito esquerdo – Tá melhor?

– Muito melhor, sua mãe é demais! – respondi ainda abraçado à ele. Estava com meu rosto encaixado entre seu ombro e pescoço, sentindo o cheiro do seu perfume. 

– Claro que ela é demais, se parece comigo! – revirei os olhos e soltei uma gargalhada contra seu pescoço. Cody virou o banquinho e ficou de frente para mim. Seus braços rodearam minha cintura me trazendo para mais perto, e ele ficou me encarando sorridente.

– O que foi? – perguntei sem graça.

– Nada... – deu de ombros ainda sorrindo – Quero que saiba que pode contar comigo ok? E você não está sozinha, pode até morar aqui se quiser.

– Tá me pedindo em casamento? – arqueei a sobrancelha e ele gargalhou.

– Se eu estivesse você aceitaria?

– Respondendo minhas perguntas com outras perguntas? – semicerrei os olhos o encarando e ele esbanjou um sorriso de canto.

– Estou? – Cody perguntou cínico.

– Idiota! – soquei de leve seu ombro e ele me abraçou.

***

Comemos uma maravilhosa pizza de pepperoni com queijo, que dona Ashley pediu. Ficamos conversando por um longo tempo até O'brien ligar e dizer que acertou tudo em relação ao enterro e tudo, será amanhã às quatro da tarde, vai ser fechado para paparazzis, e somente para família e amigos.

Já havia ligado para meu pai, e ele já tinha visto na internet, disse que amanhã pela manhã chega aqui. A única irmã da minha mãe também estava a caminho junto com sua família.

– Pode ir agora. – Cody disse saindo do banheiro do seu quarto enrolado numa toalha – Pode deixar que vou buscar uma roupa pra você, onde tá a chave?

– Não! Não precisa. Me dá uma camisa sua, ou qualquer coisa... – dei de ombros enquanto fazia um coque em meu cabelo.

– Tudo bem. – ele assentiu e veio em minha direção me dando um beijo rápido. Entrei no banheiro, coloquei minha playlist para tocar no modo aleatório, me despi e entrei debaixo do chuveiro quente.

Tocava Like I'm Gonna Lose You da Megan Trainor, e meus pensamentos vagavam nas lembranças com minha mãe, só que dessa vez eu não estava completamente triste, ainda sentia uma certa tristeza, mas não estava machucando tanto, eu estava sentindo mais saudade, mas era aquela saudade boa, das lembranças felizes, do sorriso dela, das piadas, das nossas histórias juntas. O que me fez estremer foi pensar que não iria mais ouvir seus conselhos estranhos, sua piadas ridículas sobre os caras... não pude impedir que algumas lágrimas rolassem, mas logo as limpei e espantei qualquer vestígio de tristeza.

Fechei o chuveiro, desliguei a música, me enrolei na toalha e saí do banheiro me deparando com Cody deitado na cama mexendo no celular.

– O que é pra eu vestir? – perguntei fazendo ele agora reparar em minha presença.

– Ali! – Cody indicou umas roupas dobradas em cima da escrivaninha. Fui até lá e voltei para o banheiro para me vestir. Saí de lá com uma calça preta de moletom, e uma regata branca. Pendurei a toalha, e me deitei na cama ao seu lado – Que cheiro! – ele disse com um sorriso nos lábios me abraçando, sorri para ele como resposta e me aninhei em seus braços, "enterrando" meu rosto em seu peito – Eu gosto disso – Cody disse sorrindo contra meu pescoço.

– Eu também, gosto dessa sensação de me sentir protegida por você...

– Que bom, porque é exatamente isso que eu quero fazer desde o dia em que eu te conheci... te proteger.