História Behind your ocean eyes - Formatura

                               ●Di POV●

~Alguns dias depois, escola.

John estava na cantina e eu estava sentado guardando uma mesa, distraído com um jogo novo que eu tinha baixado. 
–Diogo.. posso falar com você?– Pedro Paulo parou na minha frente e meus olhos saltaram, já era uma reação involuntária que eu tinha ao vê-lo.–Não vou te bater.– Ele revirou os olhos. 
–O que foi?– Engoli em seco. 
–Bom… obrigado.–
–Hum?!–
–Eu saí com a Aninha nesse fim de semana.–
–Ah, que bom que ela aceitou.–
–É.. era só isso, tchau.–
–Tchau..–
Peppa sorriu sem mostrar os dentes e se afastou. Meu Deus… como isso foi estranho. John vinha em minha direção e se sentou na minha frente. 

–Toquinho, comprei um refri pra você. O que ele queria? Se aquele merda estava te ameaçando outra vez eu..–
–Não, ele não veio me ameaçar. Na verdade, ele veio me agradecer.–
–Pelo quê?–
–Eu o ajudei com uma coisa..– Encolhi os olhos. 
–E será que posso saber em quê você está ajudando outros caras?– Ele me encarou sério. 
–Tá com ciúmes?–
–Tô.–
–Deixa de bobagem.–
–Então me fala.–
–Ai…..eu o ajudei com uma menina.–
–Você….? Ajudando Pedro Paulo….? E com uma menina…? Pena que não tenho um relógio pra ver a hora em que você contou essa piada.– John riu com deboche, até perceber que eu o estava fuzilando com os olhos. 
–Espera aí, vou procurar a graça.–
–Contra outra, amor. Por que Pedro Paulo pediria sua ajuda pra alguma coisa, ainda mais com meninas?–
–Você está duvidando da minha capacidade? Ele não pediu minha ajuda, pra falar a verdade, eu o ajudei indiretamente.–
–Prossiga.–
–Ele gosta da.. – “Se você contar isso pra alguém, eu te mato..” o flash do que Pedro Paulo tinha falado no outro dia ecoou na minha mente. 
–Da?–
–Da…da…da vida!–
–Da vida? O que isso quer dizer?–
–É que ontem meu irmão saiu com a namorada dele e eu fiquei sozinho assistindo anime, aí lembrei de você.–
–O quê?! Isso não tem sentido algum!–
–John, sabia que as tartarugas vivem mais de 150 anos?–
John me olhou sem expressão alguma e manteve silêncio. 
–Desculpa, eu não posso contar…–
–Tá beleza.–
–Não fica bravo comigo.–
–Aliás, quando foi que você virou amiguinho do Pedro Porco?–
–Não viramos amiguinhos. Você faltou no dia do trabalho de história e o professor me mandou fazer com ele.–
–Então vocês tiveram tempo para conversarem coisas que eu nem posso saber, não é?–
–John! Já te dei motivos pra desconfiar de mim?–
–Pior que já.–
–Quando??–
–Quando você beijou aquele cara naquela festa da Andy.–
–Meu Deus! Eu já expliquei que foi ele que me beijou!–
–Tá beleza, já falei!–
–Caramba, John! Não acredito que você está fazendo isso..– 
–Vou pra sala.– Johnatan se levantou e saiu sem olhar pra trás. Às vezes eu quero bater nele até não poder mais. 
Fui atrás dele, mas seus passos eram longos e ouvi alguém me chamar. Me virei para ver quem era. 
–Oi, Di.–
–Ah, oi Aninha.–
–Aconteceu alguma coisa?– Ela segurou meu pulso.
–Não, tudo bem.–
–Tem certeza? Você parece chateado..–
–Bom.. é só o John com um mini ataque de ciúmes. Daqui a pouco ele esquece e fica tudo bem. Eu… vou voltar pra sala. Você vem?–
–Vou com você.– Ela encolheu os olhos e abraçou um dos meus braços enquanto andávamos. 
–Soube que saiu com Pedro Paulo.–
–Uhum..foi legal.–
–O que fizeram?–
–Fomos dar uma volta no shopping. Ele ganhou uma pelucia em uma daquelas máquinas impossíveis. Comprei cordas novas pra minha guitarra e ele me deu uma palheta.–
–Você toca guitarra?–
–Uhum.–
–Que legal!–
–Falando nisso, vou tocar na festa de formatura. Você e o John vão, não é?–
–Acho que sim. Caramba, já é no próximo fim de semana.–
–Uhum… adiamos um pouco para os alunos que vão prestar vestibular fora também participarem.–
O sinal tocou e entramos na sala. John estava no celular e olhou brevemente para mim e para Aninha enquanto ela me puxava até ele. 
–Oi, John!– Ela abriu um sorriso enorme para ele. Dei as costas e apenas me sentei no meu lugar.

                                                                        ●John POV●

–E aí, baixinha.–
–Tudo bem?–
–Eu estou ótimo.–
–Você e o Di vão à festa de formatura?–
–Eu acho que vou sim, o Diogo eu não sei, talvez ele queira ir com Pedro Paulo.– 
–Com Pedro Paulo?–
–Aham. Estão cheios de amizade e segredinhos.–
–Eu estou saindo com Pedro Paulo.– 
–Hein?– Então aquele Toquinho não estava mentindo? Mas por quê Pedro Paulo pediria a ajuda dele? Isso não está certo… 
–Eu disse que estou saindo com Pedro Paulo.–
–Sério? Por quê está saindo com aquele búfalo?–
–Ele não é assim tão mal quanto parece..– Ela sorriu tímida.–É dele que você está com ciúmes do Di?–
–Eu fui um idiota, não fui?–
–Talvez..–Riu.–Vou voltar pro meu lugar, o professor vai acabar brigando comigo.– Ela acenou com a mão e saiu. 
E essa era a hora de começar a me desculpar, aposto que o Toquinho ficou puto…e bem, eu briguei com ele por nada e ainda joguei a festa do outro dia na cara dele.

–Toquinho…….amorzão? Di… Olha aqui..–
–O que você quer, Johnatan?– Ele disse seco. Sem sequer me olhar. É, ele está puto, até me chamou pelo nome. 
–Desculpa, amor.–
–Agora que você já me acusou de te trair com o cara que me batia e de jogar aquele cara que me beijou numa festa em que você mesmo insistiu que eu fosse?–
–É…– Diogo olhou pra mim sem expressão alguma.–Pode dizer que sou um idiota.–
–Você é um idiota, Johnatan.–
–Sou um idiota. Desculpa.–
–Vou pensar no seu caso.–
–Então pensa com carinho.–
–Não prometo. Estou ocupado agora pensando na próxima vez que vou te trair com Pedro Paulo. Puta que pariu, Johnatan, você está escutando como isso soa ridículo?! Eu não consigo acreditar que você pensou nisso.–
–Isso foi porquê você não quis me contar.– Cruzei os braços. 
–Quer tanto assim saber?–
–Quero.–
–Peppa me batia porquê Ana gostava de mim e ele gostava dela. Feliz?–
–Wow wow wow o quê?– Será que ouvi direito?
–Ah, John… Longa história. Enfim, foi aí que eu ajudei o Peppa com uma garota. E é só isso, eu conversei com ela e foi como ela te disse, agora eles estão saindo.–
–Entendi.. Mas, então… Você vai à formatura comigo?–
–Eu vou à formatura, só não sei dessa parte que é com você.–
–Tá, eu sei que mereço isso que está fazendo comigo. Mas quero deixar claro que se nos divorciarmos, a guarda do Osvaldo é minha.–
–Mas o Osvaldo é meu.–
–Tsh, já falei que ele é nosso filho.– Ele deu de ombros.–Já me perdoou agora?–
–Não.–
–E agora?–
–Não!–
–Que tal agora?–
–Que tal se você me deixar prestar atenção na aula?–
–Se eu deixar você prestar atenção você me perdoa?–
–Tá bom, John. Para de me encher.– Ele bufou e voltou a atenção para frente. 
–Se fosse Muriloira aposto que você não ligaria de estar conversando.– Murmurei. 
–O que você disse?–
–Eu? Disse que te amo.–

[…]

                                                                       ●Di POV●

~Dia da festa de formatura

Nossas turmas de terceiro ano concordaram em fazer uma festa só para os alunos, seria mais barato e nos sentiríamos menos acanhados de sermos nós mesmos sem a presença de tantos pais, familiares e professores. Alugamos um salão e os líderes de cada turma planejaram os detalhes. Ainda era uma festa de formatura, então foi sugerido que fôssemos com roupas formais, terno e sapato social. 
Eu estava me arrumando em frente ao espelho do quarto, minha mãe me mandou um terno e uma camisa de presente e meu irmão me deu um par de sapatos. Ambos ficaram chateados por não poderem ir à festa também. Não falei nada com meu pai, então não sei como ele estava em relação à isso. Eu e John combinamos de nos encontrarmos lá no salão. 
Ouvi alguém bater na porta do quarto e murmurei um “entra.” era Mylena, a namorada do meu irmão. 

–Oi, Di. Seu irmão pediu pra perguntar se você está pronto.–
–Acho que sim.–
–Quer alguma ajuda?–
–Tem alguma coisa fora do lugar?– Me olhei e ela riu. Pra mim parecia tudo certo. 
–Na verdade, tem.– Ela se aproximou de mim e puxou meus pulsos, depois ajeitou as mangas da minha camisa, que talvez estivessem um pouco emboladas.–Tem que colocar a camisa dentro da calça… E não precisa fechar até o último botão da gola. Vai usar gravata?–
–Eu não sei como dar o nó..–Sorri forçado. 
–Então temos um problema.. eu também não sei.– Ela riu.–Vamos procurar na internet.–

Mylena pegou o celular e procurou algumas imagens de como dar nó em gravata. Ela me ajeitou algumas vezes e no final ficou muito bom. 
–Obrigado.–
–Não há de quê.–

–Ei, vocês dois, que demora. Ele vai à uma formatura, não vai se casar.–
Thiago torceu o nariz e nós fomos.

Eu não cheguei exatamente cedo, cheguei um pouco depois da hora marcada. Mandei uma mensagem para o John, perguntando se ele já estava lá, mas ele não me respondeu. Desci do carro e parecia que algumas pessoas já tinham chegado. 
–Ei, baixinho!–
Olhei para trás e Victor vinha com Murilo, eles estavam muito bem vestidos, pareciam até combinar. 
–Vivs! Não sabia que você viria.–
–Está me mandando ir pra casa?–
–Não, não!–
–Calma, estou brincando. E o Johnny?–
–Não sei, ele não respondeu minha mensagem.–
–Tsh..aquele animal.–

–Oi, Di. Está bonito.– Murilo bagunçou meu cabelo. 
–Obrigado, você também.–
–Vamos entrar.–
–Vamos.– Assenti.

Entramos no salão e vi o palco com os instrumentos, a banda era composta por alunos das nossas turmas, Aninha ia mesmo tocar guitarra. Ela estava muito bonita num vestido prata que ia até os joelhos. Olhei de novo e John já estava lá, estava num canto do palco, conversando com Aninha enquanto ela afinava a guitarra. Ele também estava muito bonito, os cabelos bagunçados como sempre e a gravata meio frouxa no pescoço. Andei até eles e logo que me viu, ele parou de falar o que quer que fosse.

–Oi, amorzão.– Ele me puxou pra cima do tablado e abraçou minha cintura.–Você está lindo demais.–
–Você.. você também.– Sorri e mal pude ver quando ele me beijou.
Parte de mim odeia quando ele faz essas coisas do nada e no meio de todo mundo, mas outra parte de mim adora isso. Afundei minha cabeça no peito dele e ele apoiou o queixo na minha cabeça. Aquele foi um abraço maravilhoso. 
–Oi, Aninha..– Sorri sem desfazer o abraço. 
–Oi, Di. Está bonito.– Ela sorriu e voltou a organizar uns papéis. 
–Você está linda.–
–Obrigada. Gu, já terminei com a guitarra.– Ela se virou para trás e olhou um aluno do outro terceiro ano sentado no banquinho da bateria. 
–Eu também já acabei de montar aqui, vou chamar o Lê.– Ele se levantou e desceu do palco.

[…]

A festa estava muito boa, tiramos algumas fotos, a musica era boa e como eram três turmas, haviam uns 80 alunos, o que era bastante coisa e alguns alunos levaram amigos, ou seja, tinha bastante gente. 
Eu e John estávamos conversando com Murilo e com Victor. Até que eu notei que John tinha sumido sem nem falar alguma coisa. Olhei ao redor, mas não havia claridade o suficiente, exceto no palco, onde por um acaso ele estava. 
Ao final da musica, Leandro, o vocalista, pediu um minuto de atenção. 

–Oi de novo, pessoal. Estou com um pouco de sede, cantei nove musicas direto.–Riu.–Bom… acho que a maioria aqui conhece o Johnatan, ele é bem popular, -principalmente com as meninas-, mas o que vocês não sabem é que eu descobri que ele canta e nem é no sentido de mandar cantadas. Isso mesmo, eu vou pedir pra ele segurar o palco um pouco enquanto eu tomo uma água e respiro. John, o microfone é seu, é nois.–

John agradeceu e andou até o meio do palco. 
–Boa noite, gente.. eu estou um pouco nervoso, mas como a moça da guitarra entregou pro vocalista que eu canto, fui intimado à subir aqui. Vou aproveitar e dedicar essa música pra alguém que só de me olhar nos olhos sempre faz tudo ficar bem.– John olhou para Aninha e ela assentiu com a cabeça antes de começar a tocar. Em seguida, tive a impressão de vê-lo olhar diretamente para mim antes de fechar os olhos. Senti meu rosto esquentar.

–And I’d give up forever to touch you, cause I know that you feel me somehow. You’re the closest to heaven that I’ll ever be and I don’t wanna go home right now. And all I can taste is this moment. And all I can breathe is your life, cause sooner or later it’s over I just don’t want to miss you tonight. And I don’t want the world to see me, cause I don’t think that they’d understand. When everything’s made to be broken I just want you to know who I am.–
(E eu desistiria da eternidade para te tocar, pois sei que você me sente de alguma forma. Você é o mais próximo do paraíso que chegarei e eu não quero ir para casa agora. E tudo que eu posso sentir é este momento, e tudo que eu posso respirar é sua vida, porque mais cedo ou mais tarde isso acabará e eu não quero sentir sua falta esta noite. Eu não quero que o mundo me veja, porque creio que eles não entenderiam. Quando tudo estiver destruído, eu só quero que você saiba quem eu sou.)

[…]

–Foi isso, pessoal. Muito obrigado! É… o Lê me pediu pra dizer que a banda fará um intervalo para que também possam curtir a festa. É isso aí…–

John desceu do palco após os aplausos, ele vinha me fitando com meio sorriso e segurou meu maxilar com as mãos, acariciando-o com os polegares. 

–E aí, gostou da música que cantei pra você?–
A voz dele era macia e provocante. Os olhos negros fitavam os meus sob o sorriso branquinho que se formava enquanto ele falava. 
–Era pra mim?–
–Pra quem mais seria?–
–Não sei, você é bem popular, como o Leandro disse. Principalmente com as meninas.–
–Mas tem um problema pra elas… Acontece que eu namoro.–
–Ah, é?– Sorri e o abracei pela cintura.
–Aham..ele tem olhos lindos.–
John se curvou sob mim e eu o beijei. Eu já não ligava mais se tinha alguém olhando ou o que pensariam.

[…]

                                                                           ●John POV●
~Pós festa.

Abri os olhos ao ouvir a voz do meu pai me chamando do lado de fora do quarto. Olhei o celular, marcava 11:30 da manhã. 
Algum tempo depois, desci as escadas e ele estava sentado na mesa da cozinha. 
–Achei que não fosse levantar mais. Como foi a festa?–
–Foi boa.–
–Escuta, você já fechou as notas do ano, não é?–
–Já… temos menos de um mês e meio de aulas.–
–É melhor assim…–
–Por quê o interesse repentino nas minhas notas?–
–Johnatan, precisamos conversar..–
–Engraçado..– Ri.–Da última vez em que você disse algo parecido, nós nos mudamos.–
Olhei pro meu pai e a expressão dele não era divertida como a minha. Ele estava sério. 
–Johnatan…eu serei transferido outra vez.. Teremos de nos mudar outra vez.– 
–E-então vamos apenas nos mudar de bairro de novo, não é?– Senti um aperto na garganta.
–John… eu fui transferido para outro Estado.–