História Beijado pela escuridão - Razão

Durante semanas as coisas haviam mudado. Yoongi e eu estávamos tão próximos que sequer parecia que tínhamos quebrado a cara um do outro tempos atrás. Jimin hyung e eu estávamos revezando para ficar com Jin no hospital, esperando qualquer sinal de melhora ou de que iria acordar, mesmo que ele não tenha dado nenhum até agora.

Eu tentava ficar confiante, pensar positivo e não cometer mais os mesmos erros de antes, já que nem Depressão eu estava vendo ou sentindo mais, mas confesso que dentro de mim a esperança estava indo embora devagar...eu evitava esse pensamento, a natureza pessimista que eu sempre tive, não queria deixar aflorar. Entretanto, o que aparentava era que tudo queria, desejava imensamente que as coisas dessem errado pra mim. Confirmei isso com a entrada da Depressão desaparecida no meu quarto, quando eu estava me arrumando pra sair e ir ao hospital.

- Sentiu saudade Kookinho?

- O que você quer?- Não escondi o desprezo no olhar.

- Não vou deixar você ir a esse hospital, você não vai ver seu maninho, não.

Soltei um riso irônico e debochado, olhando pra ela:

- E você vai fazer o que pra me impedir?

- Que bom que perguntou!- Bateu a porta do meu quarto com força, passando a chave.

- Ei! O que pensa que está fazendo?!- Fui pra cima dela sem medir esforços, ela não me tocaria.

Me equivoquei bonito com o soco bem dado que ganhei dela, lambi o lábio sentindo o gosto do sangue.

- Antes eu não podia te tocar, mas agora que você já é meu...

- EU NÃO SOU SEU!- Gritei furioso, que poder essa vadia achava que tinha sobre mim?!

- Ah, é sim...- Me agarrou pelos ombros e beijou. Eu estava paralisado de susto por três motivos:

1: Eu estava tendo meu primeiro beijo com um espírito da morte.

2: Eu não sabia se também podia toca-la assim como ela me toca.

3: Não era um beijo comum, era algo a mais, como se ela estivesse sugando algo de dentro de mim.

Em meio à essa confusão, tentei empurra-la, sem sucesso. Escutei batidas na porta, quase um arrombo nesta na verdade:

- Jungkook, tá tudo bem?!- Yoongi. Bem na hora certa! Será que ele também a veria? Como eu gritaria pra ele, ou será que ele perceberia meu silêncio? Eu esperava que a segunda opção ocorresse.

- Abre a porta Jungkook!- Chutes. Meu coração se alegrou, eu só precisava ficar acordado mais um pouco, o que não foi difícil já que o barulho da porta indo pro chão me fez pular.

- O QUE É ISSO?! QUEM É ELA??

Tentei gritar desesperado, precisava de ar e precisava também do que seja lá o que ela estava sugando de mim, agradecendo mentalmente o fato de Suga também a ver e não demorar a entender meu desespero, puxando ela pelos cabelos e jogando na minha cama.

Caí de joelhos auxiliado por ele.

- MALDITOS!- Depressão levantou numa raiva desgraçada. A aparência dela havia mudado misteriosamente, estava medonha, como um monstro de dentes afiados mesmo.- TENHO QUE ACABAR COM ISSO ANTES QUE...

Não entendi o por quê de ela não ter terminado a frase até ver as mãos dela se esvaindo em pó.

Saí correndo em direção à porta, daria explicações ao Suga mais tarde, agora, eu sentia que precisava ver Jin imediatamente. Como se algo fosse acontecer, e eu apenas apressava meus passos a pé mesmo, pra chegar logo ao edifício azul.

Sabe aquela sensação de estar atrasado e seu físico não colaborar? Uma frustração, pressa que corrói? Ansiedade o nome. Era o que eu estava sentindo agora, um frio subindo pela garganta e pelas minhas pernas nuas protegidas pelo tecido fino do pijama que eu não tinha terminado de tirar, naquele frio característico de Seoul.

Cheguei ao hospital puxando o ar com força pros meus pulmões doídos e nem pra recepção fui, saí atropelando médicos e enfermeiros enquanto escutava gritos me advertindo a parar. Parar o caralho.

Entrei no quarto do Jin com tudo, escancarando a porta, vendo o lugar vazio, onde raios Jimin estava?!

Segurei a mão do meu hyung com força, implorando por um sinal, qualquer coisa que mostrasse que meu instinto não estava errado.

- Por favor, por favor...- Murmurava baixinho. Os segundos se passavam como décadas, e se minutos se passaram ali, foram séculos. Eu ouvia o alvoroço chegando ao quarto, médicos e seguranças, com a informação de que um louco de pijama havia invadido o hospital.

Não soltei Jin, ainda apertava suas mãos e relutei quando eles entraram no quarto pra me tirar de perto dele, iriam me arrastar. Não mesmo. Não corri tudo isso à toa não! Eu já agredi médicos antes, quero ver quem é que vai me sedar agora.

Enquanto sentia meu corpo puxado pro outro lado do quarto, eu agarrava suas mãos cada vez mais forte.

- Solte ele garoto!- Voz grossa do segurança irrompeu o ar.

- Me solta você!

Eu já estava a ponto de chorar. Jin por favor, corresponda...

Foi quando senti um choque. Antes de meu frágil organismo ser arrancado dali, eu senti Jin apertar minha mão. Acredite eu não estava delirando.