História Believe Me - No way

Eram 5h da manhã. Meu vôo tinha sido extremamente cansativo, afinal foi uma viagem sem escalas dos Estados Unidos até a Coréia. Uma coisa dessas por si só é capaz de deixar qualquer um irritado e exausto, mas sentar ao lado de um senhor com um vídeo de seu papagaio piorava tudo.

O vídeo, que ele fazia questão de mostrar a cada 20 minutos, consistia no pagaio cantando uma música antiga em inglês, que nem mesmo os criadores do anglosaxão conseguiriam entender.

Felizmente sobrevivi a tal tortura e agora só precisava lutar por um táxi que me levasse direto para meu antigo apartamento sem desviar muito a rota.

Enquanto me dirigia para o ponto de táxi recebo uma mensagem de Kihyun.

“Hey, onde está?”

“Indo para o pegar um táxi. Pq acordou tão cedo? Eu ainda tenho as chaves do ap” respondo.

Antes que a mensagem fosse respondida avistei um carro preto se aproximando. O motorista parou próximo de onde eu estava e abriu a porta do carona, então percebi que se tratava de Hyunie, meu melhor amigo.

-Eu sei que tem a chave seu bobo, mas queria vir aqui te buscar e matar a saudade. - disse ele.

Entrei rapidamente e me sentei no banco do carona. Nos abraçamos de forma desajeitada, mas isso foi o suficiente para lágrimas surgirem.

Conversamos sobre coisas banais enquanto íamos para casa. Ele perguntou do vôo e eu descrevi o stress que foi, cheio de turbulências e o senhor com o vídeo do papagaio.

Como ainda estava cedo as vias principais estavam praticamente vazias, o que permitiu que o trajeto de 40 minutos do aeroporto até o prédio fosse reduzido para uma viagem de apenas 20 minutos. Chegando em casa Kihyun me ajudou a levar as malas até meu antigo quarto.

Ao entrar no cômodo me lembrei de tudo que havia passado em um lugar tão pequeno. As noites de jogos no meu XBox com Kihyun (ele sempre ganhava de mim nos jogos de luta, enquanto eu o vencia nos de futebol), as noites passadas em claro com Minhyuk em meus braços, ele dizendo que me amava, ele deitado em minha cama com meu moleton…

Pensar nele fez meus olhos se encherem de lágrimas. Droga, por que eu estava pensando nisso logo agora? Eu já superei… “Já passou” disse tentando acalmar minha mente.

-Ei, quer comer alguma coisa? - perguntou Hyunie encostando no batente da porta.

-Acho que não. Vou só tomar um banho e dormir um pouco, estou exausto. - ele acenou afirmativamente e disse que estaria em seu quarto, caso eu precisasse de algo, enquanto eu me dirigia para o banheiro.

Senti falta dessa preocupação do meu hyung. Nós éramos muito amigos desde o momento em que comecei na escola em que ele, Minhyuk e Wonho estudavam.

Nos conhecemos em uma aula de educação física. Eu não sou um exemplo de coordenação, principalmente quando se tratava de chutar uma bola de futebol (o que é irônico, pois sou muito bom nesse esporte em jogos eletrônicos).

Em uma triste aula de educação física Kihyun era o assistente do nosso professor, que por acaso era o treinador dos times de futebol, basquete e vôlei. Kihyun era muito bom no vôlei, o que lhe garantiu o título de capitão do time da escola, e por isso estava ajudando o professor a treinar os novos integrantes da equipe. E como esse treino coincidência com as aulas de educação física da minha turma o técnico era responsável pelas duas turmas (por isso Hyunie era seu assistente)

Então quando Kihyun estava ensinando a um garoto como levantar a bola para o corte eu o acertei em cheio. Era oara ter chutado no gol, mas a bola sofreu um pequeno desvio e o acertou bem na cara, quase quebrando seu nariz.

No momento eu entrei em pânico, mas depois que pedi desculpas começamos a conversar e acabamos nos tornando grandes amigos.

Me lembrar dessa história me fez rir sozinho. Gostava do tempo do colegial, mas fico feliz por ter acabado.

Terminei meu banho, coloquei um moleton largo e confortável e me joguei na cama. Eu realmente estava exausto, por isso peguei no sono rapidamente.

><>< 

-Bom dia, bela adormecida! - disse hyung ao me ver entrar na cozinha - pensei que fosse dormir o dia todo.

-Bem que eu queria - respondi me sentando na mesa e me servindo um pouco de café.

-Quase não conversamos ontem, pois estava muito cansado, mas hoje você não escapa. Vai me contar tudo.

-Mas, hyung, nos falamos todos os dias durante esses três anos.

-Eu sei, mas falar por mensagem ou Skype não tem a mesma graça de uma conversa ao vivo.

-Okay, okay - cedi. Ele primeiro perguntou como estavam meus pais e depois começou com as perguntas complicadas.

-E como foi no começo? - às vezes eu acho que ele devia ter feito psicologia na faculdade, ao invés de música.

-Nossa, direto você, né? - isso fez ele dar uma risadinha, mas não perdeu o foco da conversa - Bom, como você deve imaginar foi difícil… o tempo todo me lembrava de você e… e dele… mas com o tempo foi passando. Fui me acostumando com a dor.

-Você… ficou com alguém enquanto esteve lá?

-Não… tinham umas pessoas que conheciam meus pais que tentavam me empurrar para seus filhos, mas nada que despertasse meu interesse.

-Hmmm.. ele… tentou falar com você?

-Não… ele… ele não tentou.

-Acho que nem sei se digo “Sinto muito” ou “Que bom que vocês se esqueceram”, porque mesmo depois desses três anos ainda sinto que isso não acabou.

-Acabou sim, Hyung. Eu acabei, lembra? Fui embora por três anos e me esqueci de tudo. - mas essa fala foi mais para mim do que para Kihyun.

-Esqueceu mesmo? - perguntou ele olhando no fundo dos meus olhos.

Por um momento essa pergunta reverberou em minha mente. Será que esqueci tudo? Os momentos bons, as risadas, os beijos e inclusive as brigas?

Esses questionamentos projetaram imagens em minha mente do nosso passado juntos. Isso foi a gota d’água. Lágrimas grossas começaram a molhar meu rosto e um soluço desesperado saía de minha garganta.

-Por que? - perguntei entre soluços - Por que eu não consigo esquecê-lo? Por que não consigo apagá-lo de minha mente? Por que, Hyung?

-Porque você ama ele, Chae. O que vocês tiveram não foi passageiro. E se afastar dele mudando de país não vai fazer com que você esqueça o que aconteceu. Você precisa conhecer outras pessoas. Socializar com gente diferente.

-Mas… mas eu não consigo - respondi ainda chorando, mas havia conseguido controlar os soluços.

-Não consegue sozinho. Agora estou do seu lado, nós vamos conseguir. Mas não faremos nada hoje. Que tal irmos na sorveteira que você adora? - disse ele com um sorriso gentil nos lábios, mas podia jurar que seu olhar era de piedade.

Acenei afirmativamente. Depois dessa conversa nenhum dos dois estava mais com fome, por isso arrumamos a mesa e fomos assistir um filme na sala.

No almoço Hyunie esquentou um prato congelado para comermos enquanto nosso programa favorito começava. Assim que acabou nos trocamos e fomos para a sorveteira.

Eu adorava aquele lugar. Era bem iluminado por conta de suas grandes janelas e das portas de vidro, sem contar que era todo colorido e trazia uma única palavra a minha mente “felicidade”.

O lugar não estava cheio, por isso fomos direto para a fila escolher o sabor de nossos sorvetes. Tudo corria bem, até que o avistei.

Minhyuk estava sentado em uma mesa um pouco distante da fila, mas não era só isso. Ele estava acompanhado. Estava de mãos dadas com Shin Hoseok.