1. Spirit Fanfics >
  2. Bells of Notre-Dame >
  3. Decisão

História Bells of Notre-Dame - Decisão


Escrita por: ElvishSong

Notas do Autor


Olááá! Cá estou com mais um capítulo! Este ainda não tem muita ação, mas haverá uma conversa vital entre Aaron e Esmeralda que, talvez, faça vocês quererem me matar. Não façam isso, por favor! É importante para a trama, ok?
Boa leitura!

Capítulo 15 - Decisão


Esmeralda correu em silêncio pelas ruas: hoje não trazia Djali, nem usava roupas coloridas ou xales brilhantes com moedas. Não iria dançar, nem cantar, muito menos ler a sorte de alguém ou vender alguma poção, fosse ela uma farsa ou verdadeira. Não, tinha o único objetivo de encontrar Aaron o mais depressa que pudesse, falar com ele e retornar ao Pátio antes que se metesse em mais problemas!

Havia vencido boa distância de seu percurso quando foi interpelada por algumas crianças que brincavam: doce e gentil, Esmeralda era amada pelos pequenos, que a chamaram animadamente:

- Esmeralda! Esmeralda! Venha brincar conosco! – os pequenos pulavam corda e brincavam com bolas de pano; embora tivesse pressa e soubesse precisar correr, também não queria desapontar seu pequenos amigos, cujas idades iam de sete a onze anos. Assim, virou-se para os jovens e falou:

- Hoje estou com pressa... Apenas um jogo, está bem? – gritinhos de alegria escaparam às cinco meninas e quatro meninos, que arremessaram uma das bolas de pano para ela. Com agilidade, a jovem pegou o objeto e o arremessou na menina mais velha, acertando em cheio a barriga dela – Morta! – a garotinha jogou a bola para outro amigo e se ajoelhou no chão, tentando agarrar os calcanhares de quem passava muito perto. Quando conseguiu, a vítima tomou seu lugar, ajoelhada, e a criança voltou ao jogo.

Por longos minutos se distraíram assim, rindo como se tivessem todos a mesma idade, até que restava apenas Esmeralda em pé, tentando escapar aos nove pares de mãozinhas que tentavam segurar seus pés. Finalmente tropeçando, ela caiu ás gargalhadas e foi “atacada” com cócegas pelos demais, que protestavam:

- Assim não dá, Esmeralda, você sempre ganha!

- Peguem ela! – exclamava outro, e dedinhos duros cutucavam as costelas da morena, que se retorcia em gargalhadas e pedia misericórdia, sem ar de tantas cócegas.

- Chega, eu me rendo! Eu me rendo, seus monstrinhos! – abraçou Petry, o mais novo de todos, e beijou sua cabeça antes de se sentar, livre dos amigos – certo, crianças, geralmente eu ficaria, mas estou com pressa.

- Ahhhhh....

- Volto outro dia. Vocês sabem que sempre cumpro o que prometo! – apertou as bochechas dos mais novos, beijou a testa dos mais velhos e, recolhendo as saias na altura dos joelhos, correu em direção à Catedral, sem reparar que três pares de olhos a fitavam: o primeiro, dourado como uma chama, a encarava do alto da Catedral, e um lindo sorriso se estampava no rosto mascarado. O segundo, castanho, inflamava-se de desejo e ódio, apenas aguardando o momento em que a gypsia cometeria um erro, dando-lhe um pretexto para ordenar-lhe a captura. O terceiro era puro desejo e malícia, e maquinava ideias após tê-la visto brincar com os pequeninos... Então, Esmeralda tinha mor pelas crianças? Isso poderia funcionar a seu favor.

 

*

 

- Aaron! Aaron! – sem se preocupar com ser ouvida ou vista, subindo as escadas da Torre Sul velozmente; alcançou depressa o campanário, onde irrompeu chamando pelo organista. Quem a recebeu, porém, foi Grigoire, que desceu escorregando por uma grossa corda, o semblante preocupado:

- Esmeralda! O que houve?!

- Ah, Grigoire! Aconteceu uma coisa... Eu nem sei dizer se é boa ou ruim, mas... Preciso falar com Aaron!

- Ele está lá em cima, me ajudando a limpar os sinos – e apontou para a imagem vestida com roupas marrons, equilibrada em uma larga viga de madeira – quer ajuda para subir, ou quer que eu o jogue de lá de cima?

- Apenas faça-o descer, por favor – pediu ela, rindo – preciso dele inteiro.

- Como quiser, mademoiselle...  – Grigoire fez uma enorme reverência, como se cumprimentasse uma rainha e, com um sorriso, escalou o madeirame da torre como se fosse um esquilo. Um esquilo muito alto e de cabelos loiros, comparação que fez a cigana rir.

Aaron parecia estar usando os abafadores de cera, pois Grigoire precisou chegar bem perto dele e fazer uma série de gestos; o artista removeu as proteções e, olhando para baixo, viu Esmeralda. Seu rosto se iluminou, e ele se agarrou às cordas dos sinos, descendo com uma agilidade que a cigana não esperaria de um homem tão grande! Mais ágil e rápido do que muitos meninos franzinos que viviam nas ruas tão bem conhecidas por ela!

Mal os pés do mascarado tocaram o piso de madeira, ele correu em envolver sua cigana num abraço, tirando-a do chão; ela riu e o beijou, apaixonada, antes que uma percepção constrangedora a atingisse: Aaron estava sem camisa! Afastando-se subitamente, ela corou o bastante para que mesmo suas bochechas morenas ficassem visivelmente avermelhadas; o mesmo se deu com o antigo sineiro que, de repente, percebeu estar semidespido. Extremamente constrangido, agarrou a camisa que deixara sobre uma viga e a vestiu, atrapalhando-se com as mangas e a gola enquanto a cigana olhava para o outro lado. Quando ele finalmente estava vestido, murmurou muito sem-graça:

- Perdoe-me, eu não... Não era para você ver isso. Eu só tirei a camisa porque os sinos ficam muito sujos por dentro e...

- Aaron, está tudo bem! – a moça sorriu, tímida – já vi outros homens sem camisa, no Pátio. É claro que nenhum tinha o seu tamanho, ainda assim...

- Imagino que não tinham ombros deformados e manchas vermelhas, também... – murmurou, mais para si do que para a menina.

- Não, não tinham. Na verdade, eles eram bem sem-graça. – receosa de estar tomando uma liberdade que ele não lhe dera, tocou o volume de um dos ombros por sobre a camisa branca – dói?

- Na verdade, não. – respondeu ele, querendo desviar o assunto do momento constrangedor de segundos atrás – não eram tão grandes, quando era criança, mas ficaram maiores com o trabalho nos sinos. Felizmente não doem... São apenas feios.

- Não parecem deformados – contestou a garota – seus braços são largos e musculosos, e você é grande por inteiro. Na verdade, acho que ficariam desproporcionais se fossem menores.

Ele sorriu e prendeu os cabelos que se haviam soltado durante as pequenas acrobacias de um sino a outro:

- Você é muito gentil, Esmeralda, mas sei que nunca serei visto como o cidadão mais bonito de Paris.

- Prefiro você exatamente como é. – respondeu ela, sentando-se na borda da bancada de Aaron e pegando nas mãos uma pequena escultura em madeira de um cavalo – não é uma beleza óbvia... É algo que precisa ser descoberto, conhecido... Desvendado. – ele se aproximou da menina, que dobrou as pernas sob o corpo, sentando-se de lado na bancada para permitir a aproximação de seu amado. Os olhos dele brilhavam como ouro puro, e como ela amava aquele olhar! Ah, Deus, só podia acreditar no que Leoni e Alba haviam dito, quanto a estarem destinados um ao outro, pois um amor daqueles não podia simplesmente surgir do nada, em tão pouco tempo! Ele parecia ler seus pensamentos, pois segurou-a pela nuca e a beijou profundamente, antes de dizer:

- Passei a crer em destino quando você entrou em minha vida. – e ao ver o brilho preocupado no olhar dela – o que foi? Parece preocupada...

- Aaron... Precisamos conversar sobre uma coisa... – e mordeu o lábio, hesitante – Meu clã descobriu sobre nós.

- O quê?! – ele se espantou: como Esmeralda podia estar ali, se os ciganos haviam descoberto sobre seu envolvimento?! Certamente não houvera qualquer aprovação! – Como?! E como você está aqui, neste caso?

- Clopin não é tolo... Somou dois e dois. – respondeu ela – Queriam me punir, e bem... Levei algumas cintadas por isso... Mas no final consegui convencê-los a lhe dar uma chance.

- Uma chance? Chance de quê, mulher?!

- De se fazer ouvir pela kris – ela se corrigiu – pelo conselho de anciãos. Eu contei absolutamente tudo, e os convenci de que você me salvou de Frollo, o que não é mentira. Assim, apelei para a questão da dívida de sangue e de honra, e acabaram dispostos a ouvi-lo.

- Ouvir-me? Minha querida, eu irei até seu clã, se isso é importante para você, mas... O que isso significa? Não imagino que estejam sequer cogitando algo como me aceitar entre vocês... O que eles estarão julgando, de fato?

- Nada. – respondeu ela, sincera, pousando o pequeno corcel de madeira sobre a mesa – isso é só um jogo de Clopin para convencer os demais a me restringirem ao entorno do clã, e nos impedir de nos vermos. Se a kris o considerar um perigo para nós, o deixará ir, mas serei confinada aos limites de nosso acampamento até a primavera.

- E se não considerar?

- Então, a princípio, tudo continua como está.

Ele anuiu, compreendendo; se conseguisse convencer os ciganos de que não representava uma ameaça para Esmeralda ou o restante do grupo, a moça continuaria livre para visitá-lo. Mas isso significaria que ela ainda estaria ao alcance de Frollo... Com expressão dolorosa, ele sussurrou:

- Não mereço você, Esmeralda. Sou egoísta demais para merecer.

- Por quê?! – perguntou ela, espantada, pondo-se em pé diante do homem.

- Se eu não fosse tão egoísta, faria a kris ver o modo como ficar perto de mim a coloca em perigo! Como estar aqui a põe ao alcance de Frollo e...

- Aaron, sejamos sinceros: não existe lugar em Paris onde eu não esteja ao alcance do juiz. – declarou a cigana, sem emoção na voz – se eu der um só motivo para tanto, ele mandará arrasar até a última choça e tenda do Pátio, para me achar.

- Mas a lei...

- a lei? – ela estava levemente indignada – Aaron, não aja como o tolo que você não é. Nós dois sabemos que não há soldado ou civil em Paris que não ficaria feliz com a expurgação do Pátio dos Milagres. Ninguém ergueria um só dedo contra o massacre. – ela caminhou até o grande vão e se sentou no peitoril de pedra, com Aaron ao seu lado.

- De acordo com o que você diz, se Frollo tivesse algum pretexto para prendê-la, Notre-Dame é o único lugar seguro, para você.

- Exato. Clamar por Santuário exige apenas uma palara. E, é claro, Frollo não está louco o suficiente a ponto de profanar a santidade da Catedral. – ela se voltou e o encarou firmemente – nem creio que ele vá tentar me prender se nos vir juntos. Ele sabe que você enfrentaria os soldados e, louco ou não, o juiz jamais criaria uma situação da qual você saísse morto. Ainda é seu afilhado, independente de qualquer briga.

- Eu creio que sim. – concordou o organista – pelo que sou grato, já que este é meu maior trunfo para mantê-la segura. – ele segurou suas mãos – sei que soarei pouco convicto, mas forçar-me-ei a uma tentativa mais: afaste-se, Esmeralda. Fique com seu povo, onde Frollo não a verá! Onde nada poderá ser provado contra sua pessoa!

- Pelo contrário... – havia dor nos olhos dela – Se Frollo não me vir na cidade, saberá que estou no Pátio. E tem ideia do quão fácil é forjar um crime, para culpar um cigano? Um assassinato dentro dos muros, próximo às portas... Um suborno para que digam ter-me visto, e serei culpada. – ela trincou os dentes – não importa o que eu faça... Nas ruas, no meu acampamento... Frollo me quer, e me terá da algum modo, cedo ou tarde. – uma lágrima escorreu de seu rosto, e ela puxou a faca que mantinha presa à panturrilha – Sabe para que carrego uma faca, Aaron?

- Para se proteger. – ele estendeu as mãos, que ainda tinham cicatrizes deixadas pelas facadas da moça – devo dizer que é especialmente habilidosa no manuseio do punhal.

- Exato. – respondeu ela – para me proteger. Posso arremessar essa faca no peito de um homem a cinco metros, sem errar. Sei perfurar um pulmão, um coração, e cortar uma garganta. Essa lâmina vai encontrar o peito de quem tentar me ferir... – ela tinha o semblante resignado – ou o meu, se a defesa não for possível.

- Não diga uma tolice dessas, Esmeralda! – Aaron segurou as mãos dela, horrorizado com a frieza com que ela falava em suicídio – suicídio?! Poria fim à própria vida?!

- Para evitar ser estuprada por Frollo e outros homens da Inquisição, torturada e queimada viva? Pode apostar! – a mulher que já afirmara não ter medo agora estava trêmula – com a morte eu posso lidar. Com a dor, também. Mas não vou ser humilhada, exposta e violada! Não vou!

- Primeiro, dê-me isso antes que corte a si mesma! – pediu o homem, preocupado com o tremor de sua amada, antes de lhe tomar o punhal e abraça-la com força – e segundo, olhe para mim – ele tomou seu rosto entre as mãos. Seus olhos jamais haviam estado tão intensos e verdadeiros – nada vai acontecer a você! Nada, entendeu?! Darei minha vida antes de permitir que a machuquem, Esmeralda, e este não é um juramento em vão!

Ela não conseguiu resistir, e deixou-se envolver pelos braços largos do artista, que beijou sua cabeça, confuso ante o choro silencioso que molhava a frente de sua camisa. Mas ele compreendia bem aquele choro: num mundo comandado pela Igreja, não havia lugar seguro para ela, ou para os seus. Esmeralda nada fizera, e ainda assim estava sob o fio de uma espada, apenas aguardando o momento em que seria acusada. Bastava uma oportunidade, uma brecha na qual uma prova falsa pudesse ser plantada. Uma testemunha anônima, uma acusação de charlatanismo, bruxaria ou prostituição... E entendia, também, que não era por si mesma que a jovem chorava – não apenas – mas porque sua situação punha em perigo todos aqueles a quem ela amava. Todo aquele que tentasse defendê-la terminaria no cadafalso, ou tombaria sob uma espada. Se os ciganos e proscritos a defendessem, morreriam. Se ela se escondesse, eles morreriam da mesma forma, acusados de ocultá-la. Se ficasse pelas ruas, seria presa, sofreria toda sorte de abuso, e teria a pior das mortes. E mesmo que se pusesse sob o abrigo de Santuário, este poderia ser revogado ao cabo de um ano ou menos, dependendo do quão depressa as autoridades religiosas se prestassem a avaliar o caso. E mesmo se não revogassem! Ciganos eram seres livres – o pouco tempo passado com a moça já lhe mostrara isso! Notre-Dame poderia ser um refúgio, mas tornar-se-ia rapidamente uma prisão, que a sufocaria e mataria de tristeza!

- Meu amor – sussurrou ele, acariciando os cabelos da mulher – confie em mim: vou protegê-la de todo o mal. – ele acariciou seu rosto, fitando demoradamente aqueles olhos verdes que o haviam capturado desde o primeiro momento, quando ainda não compreendia o fascínio sentido – o inverno está sobre nós... Até ele passar, eu velarei por você. E então, quando chegar o momento, você partirá com seu povo. – ela ergueu o rosto, incrédula, com uma expressão de dor como se ele a houvesse esbofeteado:

- O quê?!

- A menos que Frollo morra, Paris é a morte para você e seu clã. Disse-me que pretendem partir na primavera, e é o que devem fazer. – ele a acariciou – posso protegê-la por algum tempo, mas até mesmo eu tenho limitações. – Aaron tocou a cicatriz deixada na testa da cigana pela pedra que a atingira há cinco meses – posso intimidar os soldados e confrontar Frollo... Mas você e eu sabemos que ele não pode ser detido para sempre. Em algum momento, nem mesmo os laços que tivemos o irão deter, e ele ordenará que me matem ou aprisionem. E nesta hora, quem a irá proteger? - e meneou a cabeça – o único caminho que existe, para você, é a estrada. Faça como seu povo, e parta.

Desta vez ela não retrucou, não argumentou... Era a mais pura verdade. Se ela ficasse, provocaria a morte de seu povo, de Aaron e a sua própria; sabia que suas palavras eram tolice, mas ainda permitia a si uma esperança:

- Venha comigo!

- O quê?! – agora era o artista quem estava perplexo.

- Saiamos de Paris! Venha comigo, e seja livre! Temos pouco, mas não nos falta nada quando estamos na estrada... Venha comigo, e prove a liberdade que sempre lhe negaram!

Nunca uma ideia atraíra tanto o organista: estar junto de Esmeralda para sempre, livre da Igreja, da culpa... Do pecado e do medo do Inferno... Vivendo como pagão... Dormindo sob as estrelas... Mas o que estava pensando?! Ele, que perseguira e torturara ciganos, que era igualmente temido e odiado pelos proscritos... Que tinha mais pecados do que Judas?! Em primeiro lugar, os ciganos jamais o aceitariam, e boas razões tinham para fazê-lo! Além disso... Esmeralda fora uma bênção, uma dádiva em sua vida. Fora uma Graça, uma iluminação que alguém com seus pecados certamente não merecia.  Já tivera em sua vida muito mais alegria do que era merecedor, e perdê-la para os caminhos do mundo era apenas mais uma punição para seus crimes. Não apenas uma punição, mas uma garantia de que aquele amor puro e eterno que nutria pela cigana jamais se tornasse algo pecaminoso e imundo. Viveria o resto de seus dias na luz daquele amor, purgando-se de seus pecados, feliz pela certeza de que ela estaria segura e feliz. E então, quando a morte lhe viesse, talvez alcançasse um estado de purificação suficiente para reencontrá-la no Paraíso.

- Não posso, Esmeralda. – respondeu, enfim, com extrema dor na voz – Seu clã jamais me aceitaria, e não sem motivos. E o que sei sobre ser um cigano? Sei que vocês vivem nas estradas, que sobrevivem do comércio... Como acha que meu aspecto poderia ajuda-los em tal vida?! – ele respirou fundo – Eu amo você, minha cigana. Mais do que jamais amei qualquer um, e mais do que pensei ser possível fazê-lo. Mas é por amá-la que digo para partir. E mesmo que o destino nos separe em corpo, você estará para sempre em meus pensamentos e coração.

A menina já não chorava, pois em seu íntimo reconhecera desde o princípio as palavras que Aaron agora proferia. Haviam sido unidos em alma pelo destino, mas esse mesmo destino determinara que não viveriam juntos... Pois bem, que fosse! Ela aceitava sua sina, então! Mas ainda havia um longo inverno pela frente e, por Deus, ela ia usufruir de cada segundo que pudesse ao lado de seu amado! Pois quando chegasse ao fim, teria de ser de fato a esposa de Miro, viver com o cigano e gerar seus filhos. Uma vida tão pacífica quanto era possível a um gitano, mas nem de longe feliz como ela sonhara. Pois quando partisse, seu coração ficaria para trás, com Aaron... Portanto, nada havia a perder. Mas a primeira coisa a ser feita, se quisesse ter ao menos aquele inverno como memória, seria confrontar os anciãos.

- Falará aos anciãos?

- Quando esperam por mim? – ele não tinha qualquer traço de dúvida na voz.

- No dia em que eu lhes disser que você irá, em até uma semana... Se quiser ir, é claro.

- Amanhã, então, após a missa das seis horas. Sairei da cidade e irei a seu encontro. – Ele a abraçou num gesto quase desesperado, tomado pela angústia de saber que tinha tão pouco tempo ao lado da jovem – Não me odeie por isso, Esmeralda... Por favor, você é tudo o que mais amo... Não me odeie.

- Não o odeio, Aaron – respondeu Esmeralda, acariciando o lado exposto do rosto masculino – isso está além de nós. São as vidas de muitos, que não podemos arriscar por desejarmos estar juntos... – ele beijou a palma da cigana, que continuou – mas teremos alguns meses.

- Alguns meses, sim... Se os quiser desfrutar.

- Quero desfrutar mesmo dos mais breves segundos, e cada um será um tesouro precioso que levarei comigo para o resto da vida. – segurou a mão de Aaron, e espalmou a sua ao lado, traçando com o indicador a marca profunda presente na base do polegar de cada um – vê? Nossas almas estão ligadas... Para sempre.

Para sempre... pela primeira vez em muito tempo – mais tempo do que conseguia se lembrar – Aaron chorou. Lágrimas de múltiplos sentimentos escorreram por seu rosto enquanto apoiava sua fronte contra a de Esmeralda, ambos de olhos cerrados, compartilhando daquele silêncio que falava mais do que mil palavras.

Ficaram um longo tempo ali, alheios ao jovem de cabelos louros que, sentado numa trave, os observava com olhos alegres e pesarosos a um só tempo... Grigoire, o estranho e solitário sineiro que tinha por amigos os sinos e os livros, num exílio autoimposto por motivos que jamais compartilhara com alguém. Embora jovem, seus olhos pareciam antigos, e havia nele uma compreensão de mundo maior do que esperado para sua idade: ele encarava aqueles dois seres que tanto se amavam, e sofria pelo destino cruel que impusera a ambos aquela separação. Mas o destino podia ser mudado, afinal... Pois não dera o Criador o livre-arbítrio às criaturas? É certo que os doutores da Igreja nunca haviam conseguido alcançar um consenso acerca da predestinação, mas ele, Grigoire, não desistiria de tentar fazer felizes seus dois únicos amigos verdadeiros! Certamente falaria muito ao mascarado, naquela noite.


Notas Finais


E então? O que acharam? Mereço reviews?


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...