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História Bells of Notre-Dame - Gratidão


Escrita por: ElvishSong

Notas do Autor


Olá, gente! Mais um capítulo, mostrando o que se passou após os primeiros cuidados dispensados por Esmeralda a Aaron. Boa leitura!

Capítulo 7 - Gratidão


Esmeralda estava no quarto de Aaron, que havia descido para tocar órgão na missa matinal; entretinha-se vendo os desenhos do artista quando, inesperadamente, ele entrou no quarto.

- Gosta do que vê? – perguntou ele, sorrindo por sob a meia-máscara que usava.

- Muito – respondeu a moça, sorrindo para ele – como aprendeu a desenhar e pintar deste modo?

- Sozinho, eu creio. Por tentativa e erro. – ele se aproximou ainda mais, fazendo-a erguer a cabeça para fita-lo; seus corpos estavam tão próximos que podia sentir o calor dele, através das vestes de ambos.

- É magnífico. – constatou ela, ao que o organista acariciou seu rosto com as pontas dos dedos:

- Nem tanto quanto você, Esmeralda. – fitaram-se em silêncio por algum tempo, antes que ele a enlaçasse pela cintura e trouxesse o corpo pequeno contra o seu, curvando-se então para beijar a pequena mulher, que ficou na ponta dos pés, ansiosa por aquele beijo.

Seus lábios se uniram, a princípio timidamente, depois com mais ousadia, e ela passou os braços pelo pescoço do homem, que a levantou no colo, apoiando as costas da garota na parede. Agora seus rostos estavam na mesma altura, e o beijo se aprofundou mais e mais!

Ela desceu as mãos para o peito de Aaron, que a camisa entreaberta deixava à mostra, e começou a acariciar aquele corpo forte; ele correspondeu segurando-a mais firmemente pelas coxas, subindo as mãos até seus quadris. Ela corou intensamente: aquilo era completamente errado! Desde pequena aprendera que os ciganos, homens ou mulheres, deviam se guardar para aquele com quem trocariam seus votos matrimoniais! Mas ela não conseguia parar, nem queria. Não conseguia, também, imaginar-se entregando-se a qualquer outro que não Aaron, e foi assim que tomou a decisão de sua vida: certo ou errado, pecaminoso ou não, ela pertenceria a ele. Não podia esperar nada mais da parte do artista, então pelo menos teria o que ele podia lhe dar... Uma fração de seu amor, por menor e mais breve que ela fosse.

- Aaron – suspirou, entregue e rendida, incapaz de resistir, mesmo se quisesse. Seu corpo pulsava e ardia com uma necessidade estranha que a fazia desejar o toque do homem, o corpo dele, a voz dele em seus ouvidos... Como nunca desejara alguém, e nem pensava que tornaria a fazê-lo, com outrem.

Em resposta aos arquejos dela, ele a carregou para o leito e a deitou, continuando a beijá-la. E ela não saberia dizer em que momento haviam ficado nus, mas sentia o corpo de Aaron junto ao seu, as mãos dele a tocá-la, suas bocas trocando beijos sôfregos e murmurando palavras de paixão... Ela o ouviu dizer o quanto a achava bela, o quanto a desejava, como amava seu corpo e sua voz... E a própria Esmeralda confessou tudo aquilo que estava em seu coração: que o amava, que amara desde o primeiro momento, que não se importava com o que os outros diziam, pois, para ela, ele não era inquisidor, monstro ou assassino: era apenas Aaron, o homem a quem amava.

Em meio a carícias cada vez mais intensas e sem nada que os pudesse impedir, uniram seus corpos numa ânsia profunda de estarem juntos do modo mais íntimo que podia haver; ela o sentia sobre si, dentro de si, e nada jamais fora tão perfeito! Queria que aquele momento jamais terminasse, e que pudessem ser apenas ele e ela, pela eternidade!

De repente tudo escureceu e se enevoou, e a imagem do sonho deu lugar à claridade que a ofuscou momentaneamente. Piscando para se acostumar à luz, lembrou onde estava, e ouviu a voz de Grigoire a chama-la:

- Esmeralda!

- Dois segundos! – respondeu, esfregando as têmporas... Ah, tomara que não houvesse gemido ou algo do tipo, pois ia morrer de vergonha se Grigoire houvesse escutado algo! Tratou de ajeitar as próprias saias, que se haviam erguido um pouco durante o sono, prendeu os cabelos com sua faixa e destrancou a porta, deparando-se com Grigoire – o que houve?!

- Acalme-se, mademoiselle! – sorriu o sineiro – primeiramente, bom dia.

- Ah, sim, perdoe-me! Bom dia – ela corou – e obrigada pela cama. Fazia tempo que não dormia em uma... – ela esfregou os olhos sonolentos – como está Aaron?

- Não teve mais febre, e parece que acordará em breve. Você me pediu que a acordasse cedo, e o Sol está para nascer... Se quiser buscar mais alguma erva ou coisa similar, a hora é agora, pois terei de repicar os sinos na missa matinal. – ele lhe estendeu uma capa – mas é melhor usar isso, para não a reconhecerem.

- Sim, claro! Obrigada, Grigoire! – ela nem esperou um segundo antes de descer as escadas, cuidando para não ser vista e puxando o capuz ao máximo sobre o rosto e encenando uma corcunda, como se fosse uma velha. Saiu da Catedral pelas sombras do alvorecer, à procura de um jardim ou recanto com plantas crescendo; de repente, passou por um jardim onde cresciam pequenas flores alaranjadas, e isso lhe deu um estalo na memória: calêndula! Sim, era um ótimo anti-inflamatório! Ia ajudar Aaron com as dores!

Discretamente ela colheu um maço da planta, guardou-o nas dobras das saias e, ainda antes que o Sol nascesse, correu de volta para o campanário. Assim que retirou a capa e a deixou sobre uma cadeira, Grigoire apareceu:

- Conseguiu algo?

- Sim. Calêndula. Eu não tinha muito tempo para procurar, mas isso há de servir bem.

- Ótimo – ele lhe estendeu uma bolinha de uma espécie de massa e, pegando-a, a cigana perguntou:

- O que é isso?

- Cera de abelha, das velas já queimadas. Proteja os ouvidos com isso, ou o som dos sinos pode deixa-la surda. Foi Aaron quem me ensinou a fazer isto, pois todos os sineiros antes dele ensurdeceram.

A jovem pegou a cera amolecida e tratou de tapar os ouvidos com ela: a última coisa que queria era ficar surda! Preocupava-a não poder falar com seu “paciente”, se ele acordasse, mas este era um problema menor. Foi para o quarto do inquisidor e encostou a porta antes de se pôr a trabalho: ele dormia de bruços, com panos limpos cobrindo as feridas do açoitamento e bolhas causadas pelo sol. Ah, sim! Calêndula também servia para as queimaduras! Fora uma grande sorte!

Esmeralda foi até o braseiro que Grigoire mantivera aceso, pondo a ferver uma vasilha de barro com água. Quando o líquido ferveu, acrescentou a calêndula e tirou a infusão do fogo, deixando que arrefecesse sobre a mesa de cabeceira. Testou os curativos, constatando que haviam se grudado à pele, devido ao sangue coagulado, e fez uma careta: que droga!

Com toda a paciência, foi molhando os panos e descolando-os da pele; em algum momento deste processo, porém, Aaron acordou e começou a se mover. Sabendo que ele não a ouviria, pois Grigoire também protegera os ouvidos do amigo com a cera, ajoelhou-se de modo a entrar no campo de visão do homem, que ainda tinha o olhar embaçado e confuso; torcendo para que ele conseguisse ler seus lábios, falou:

- precisa ficar quieto, para que eu possa cuidar dos cortes. – mesmo ainda tonto e confuso, ele compreendeu e ficou imóvel (teria voltado a dormir?). Assim, Esmeralda retomou seu trabalho até expor o dorso do organista: sem todo o sangue acumulado do dia anterior, não parecia tão ruim assim... Eram cortes não muito profundos, que dificilmente teriam seccionado algum músculo. Mas a infecção era sempre uma possibilidade iminente, e ela tratou de lavar os ferimentos com mais água de alecrim. Melhor seria se conseguisse alho, e pediria isso a Grigoire, mais tarde. Aos poucos, os ensinamentos de sua mãe retornavam a sua mente, pelo que ela era muito grata.

Estava limpando as feridas de Aaron quando sentiu alguém tocar seu ombro; virou-se de modo defensivo, antes de perceber tratar-se de Grigoire. Ele apontou para os próprios ouvidos, indicando à jovem que retirasse as proteções auriculares, o que ela fez de imediato, retirando as do homem adormecido, em seguida. O sineiro parecia preocupado, e perguntou:

- Ele ainda não acordou?

- Acordou, mas acabou voltando a dormir. As queimaduras foram sérias, e me preocupam mais do que os cortes. Fosse apenas o açoitamento, e seria fácil de tratar, mas as bolhas... – ela fez uma careta, agradecendo pela cor escura da própria pele – até mesmo escolher o que usar é difícil. Se ele não estivesse tão queimado, algum tempo de exposição ao Sol secaria bem depressa as lacerações. O tratamento úmido das queimaduras nunca é rápido, e esse soro que verte constantemente vai complicar os cortes.

- E o que fazemos?

- Álcool. É só o que me ocorre. Mas ele vai urrar de dor...

- Se for ajudar, é só o que importa! – insistiu o moço de cabelos claros – posso conseguir álcool de beterraba. Serve?

- Na situação dele, qualquer coisa serve. O álcool mais concentrado que você conseguir, de preferência.

- Certo. – concordou o jovem – volto logo.

Esmeralda anuiu e retomou seu trabalho; quando terminou de lavar as feridas, que já não sangravam mais, pegou a infusão de calêndula já fria e, molhando um pano macio, começou a umedecer com ela as diversas bolhas nos ombros, braços e costas do enorme homem. Enquanto o fazia, reparou no tamanho desproporcional dos músculos dos ombros e parte superior das costas, que o curvavam levemente para frente... Ele era tão alto que nem mesmo isso fazia diferença em seu tamanho! Percebia agora que ele fora quase delicado ao jogá-la em suas costas, pois aqueles braços poderiam tê-la partido ao meio como se fosse um passarinho...

Uma vez que a calêndula fora espalhada pelas queimaduras, ela se sentou ao lado da cama num banquinho – provavelmente deixado ali pelo sineiro – e permaneceu apenas observando-o. Estava tão tranquilo, no sono... Parecia até uma criança, em vez do aterrorizante inquisidor sobre o qual tanto se falava. E embora estivesse deitado sobre o lado deformado da face, ela ainda podia ver um pouco de sua desfiguração: era bastante estranha, sem dúvidas, mas alguém que já vira leprosos terem a carne putrefeita em vida e perderem narizes, lábios, orelhas e extremidades do corpo não ia se assustar com aquilo, certamente. Na verdade, muito pouca coisa assustava Esmeralda, agora. Ficou ali, observando seu paciente e, sem perceber, acabou cochilando, debruçada no leito enorme.

 

*

 

Aaron acordou sentindo o corpo todo doer, embora houvesse sobre suas costas um frescor que aliviava o latejar intenso; olhou para o lado, e o que viu não apenas o surpreendeu, como jamais sairia de sua mente: a cigana, Esmeralda, debruçada ao seu lado e profundamente adormecida, os cachos negros caindo pelas costas, o rosto de anjo – nem de menina, nem de mulher adulta – relaxado no sono, tão... Tão pura! Tão inocente! Como uma criatura daquelas poderia carregar o mal dentro de si?

Confuso, ele começou a se lembrar do dia anterior, e do modo como fora exposto e humilhado; lembrou-se, também, de como ela o protegera com o próprio corpo das pedras e coisas podres jogadas, de como tentara defende-lo do açoitamento – jamais esqueceria a sensação do corpo dela debruçado sobre o seu, tocando-o com uma falta de medo que ninguém jamais demonstrara! – e, principalmente, de como lhe dera de beber e aliviara seu sofrimento espalhando água sobre as costas em brasa.

Forçando a mente – que começara a falhar após tanto tempo sob o sol inclemente, enevoando algumas lembranças – ele recordou claramente de implorar ajuda a seu padrinho, e de este não apenas ter-lhe dito que suportasse a punição por seus pecados, como também ter derrubado Esmeralda do patíbulo para que ela não mais o protegesse. Aquilo encheu de raiva o coração do homem, que começou a ligar os pontos: a hora da guarda jamais era corretamente patrulhada... Contudo, estavam de prontidão e no lugar exato onde ele atacara Esmeralda, um lugar da cidade praticamente esquecido pelas patrulhas! Como teriam chegado ali, se não houvessem sido guiados? E quem, senão Frollo, sabia onde ele estaria? Fora uma armadilha sórdida de seu padrinho e, pior ainda, ele sequer entendia qual a motivação!

Em sua confusão, ele só conseguiu chegar a uma conclusão: por algum motivo, seu padrinho estava cada dia mais louco e obcecado pelo pecado. Cismara que ele, Aaron, era um pecador, e fizera de tudo para penitenciá-lo. Mas por quê?!

Com muitas perguntas em mente, voltou-se para a jovem cigana ao seu lado: depois de ontem, já não conseguia crer nas palavras de Claudius, sobre ela ser uma feiticeira e tê-lo amaldiçoado... Não. Não fazia nenhum sentido. Pois se o tivesse amaldiçoado, não teria tido medo dele, quando a atacara e, depois, não o teria defendido... Pois ele se lembrava bem de como ela mesma fora acertada por várias pedras – o corte na testa ainda estava lá, bem visível e com uma marca roxa ao redor. Então, novamente, ou Frollo mentira deliberadamente – por alguma razão incompreensível – ou projetara sua obsessão pelo pecado sobre a menina, simplesmente por ela ser uma cigana. Ou, uma ideia que fazia Aaron se sentir muito mal, devido ao fato de o músico ter se mostrado atraído por ela. Era isso! Frollo não o queria perto de Esmeralda, e usara de todos os artifícios para provocar o afastamento de ambos. Mas por quê? Acreditaria ele, realmente, que ela tinha algum mal em si? Qualquer imbecil nas ruas poderia ver que isso não era verdade, após as ações dela!

Tentando aliviar o próprio desconforto, ele se moveu, e o movimento despertou a garota; seus olhos cor de mar se abriram de repente, um pouco assustados, e ela se ergueu abruptamente:

- Aaron! – então seu tom se suavizou – como se sente?

- Como se atropelado por uma tropa de cavalos selvagens. – respondeu – mas não é o pior dia de minha vida.

- Deve ter tido alguns dias muito ruins, então – ponderou a moça.

- Todos os meus dias anteriores, uma vez que jamais despertei com visão tão bela. – devolveu ele, fazendo-a ficar vermelha. Havia algo de adorável no modo como suas bochechas coravam e seus olhos fitavam o chão... – perdoe-me as palavras indelicadas.

- Já ouvi piores. – respondeu a jovem – tive medo de que você morresse...

Aaron silenciou por alguns segundos, antes de perguntar:

- Por que está fazendo isso, menina? Não me deve nada, não precisa ficar aqui, arriscando-se deste modo.

- Sim, eu sei... Você queria me matar, afinal. Mas eu nunca mais dormiria em paz se deixasse alguém, mesmo A Sombra, passar por aquilo sem tentar ajudar. Especialmente porque você só foi preso por estar atrás de mim. – ela pegou outro pano e tornou a umedecer as queimaduras, o que causou enorme alívio para o músico, embora gemesse ao sentir suas feridas sendo tocadas – desculpe... Não tenho muitos recursos, aqui.

- Está usando alguma bruxaria em mim, então? – ele perguntou. A princípio a dama ficou apreensiva, com medo mesmo de ser denunciada por bruxaria, mas então notou o tom divertido na voz dele:

- Sim. Bruxarias terríveis: alecrim para limpar os cortes, e calêndula para secar as queimaduras.

- Muita gente a chamaria de feiticeira por isso...

- Já estou quase me acostumando. – espere, em que momento haviam ficado íntimos assim, para travar tal conversa? Provavelmente, quando ela o protegera de muito mais dor do que sentia, agora... – Mas não é magia. As plantas têm... Alguma coisa. Cada uma tem um efeito sobre o corpo... Não sei explicar. É algo que aprendemos de geração em geração, e minha mãe disse que veio de uma terra longínqua, a Leste... Índia, foi como ela chamou. Disse que nossos ancestrais vieram de lá... Os avós dela.

- Diga isso num tribunal, e acaba na fogueira. Os homens do leste são pagãos.

- Não é preciso muita coisa para ir à fogueira, não é? – havia tristeza na voz dela – porque ninguém se importa se você faz o bem ou o mal, desde que se encaixe na sociedade. E como não me encaixo...

- Eu me importo, Esmeralda. – ele suspirou – pensei que você havia me enfeitiçado, e a odiei por isso, mas... Depois de ontem... Não consigo acreditar que haja qualquer coisa maligna em você. E se estas suas... Ervas... Realmente funcionam, então deve ser algo vindo de Deus.

Ela sorriu e, soltando o pano que usava, encostou-se à parede, sem sair do campo de visão do homem ferido:

- Minha mãe dizia que as plantas são um presente de Deus para as pessoas. Que carregam graças capazes de curar, se usadas do modo certo. E é isso o que estou fazendo com você, agora.

Ele deu um longo suspiro, antes de finalmente dizer:

- Obrigado, Esmeralda. Mas ainda é perigoso você permanecer aqui... Se o juiz vier...

- Estou sob a proteção de Santuário. O juiz não pode tocar num fio de cabelo meu, enquanto estiver aqui. – respondeu prontamente.

- Mas ele pode levar seu caso ao tribunal eclesiástico, e convencer os demais membros a endossar a suspensão de seu direito a Santuário. – Esmeralda empalideceu: não sabia disso! Entretanto, as palavras seguintes de Aaron amenizaram sua angústia – É claro que leva algum tempo, pois precisa da aprovação de uma autoridade maior, como um arcebispo... Mas ainda assim...

- Shhhh – ela pousou um dedo sobre os lábios dele – não se preocupe comigo. Sei o que estou fazendo. Agora descanse, para se recobrar mais rápido. – mas em pensamento, perguntou a si mesma: será que realmente sabia? Ou estaria se deixando levar por aqueles sentimentos tolos e perigosos que nutria pelo homem de olhos dourados?

- Eu seria capaz de me levantar e tocar os sinos, se fosse preciso. – respondeu ele.

- Não duvido disso, mas então eu seria obrigada a bater em você com um candelabro, pois o esforço faria todos os seus cortes voltarem a sangrar.

- Costuma ameaçar todos os seus pacientes, Mademoiselle?

- Apenas aqueles que dão muito trabalho par se deixarem tratar. – riu a jovem – e vou avisar de antemão: Grigoire saiu à procura de álcool, para que eu consigo limpar melhor os cortes e secar as feridas. Vai arder muito, mas, se você tentar me impedir, vou desmaia-lo com uma pancada na cabeça. E Grigoire há de me ajudar!

- Mal o conheceu, e já o fez seu cúmplice?

- É claro: ele também se preocupa com você.

Aaron sorriu: não era sempre que algo o fazia sorrir, mas Esmeralda conseguia provocar-lhe essa reação com grande facilidade! Talvez fosse seu modo sincero e direto de ser, talvez aquele jeito de menina que ainda guardava, um tanto travesso... Ele não saberia dizer o que era, mas apenas a presença dela lhe dava vontade de sorrir. Um anjo na terra, isso é o que ela era. E se as coisas que fazia a marcavam como feiticeira, então ele começava a questionar se feiticeiras eram enviadas do Diabo ou de Deus.

Esmeralda, por sua vez, sentia-se ilogicamente à vontade com o inquisidor. Como aquele homem gentil podia ser o mesmo que a atacara, determinado a mata-la? Era quase como se dentro dele habitassem dois seres bem distintos, e deste com quem conversava agora, ela gostava muito.

 

*

 

- Viu só, como eu estava certa? Precisava de tanto escândalo por causa de um pouco de álcool, seu frouxo? – censurou a cigana, ao ver Aaron deixar o quarto caminhando, ainda que com certa dificuldade, devido às dores que a calêndula só conseguia aliviar, não sanar.

- Eu não disse que não ia funcionar, mas doeu muito mais do que todo o açoitamento! – retrucou ele – se lhe faltar um emprego, poderia se tornar um carrasco – e ante o modo como ela o fuzilou com os olhos – foi só uma brincadeira.

- Melhor mesmo que seja. – ela fingiu zanga e caminhou até a janela, fitando o pôr do Sol... Era sua terceira noite ali, e a quarta fora do acampamento... Clopin deveria estar louco atrás dela! – Aaron... Receio que eu não possa ficar por mais tempo.

- Por quê?! – perguntou ele, espantado – você está sob a proteção de Santuário!

- Eu sei, mas... Minha família deve estar desesperada, sem saber onde estou. Nunca sumi por tanto tempo!

- Sua... Família?

- Meu pai adotivo, e todo o meu clã. Sem falar nos amigos... Nunca fiquei tanto tempo sem voltar para casa.

Ele franziu o cenho, claramente insatisfeito, mas também compreensivo, e aquele olhar a alegrou: ele sentiria sua falta!

- Entendo, Esmeralda... – Ele deu de ombros – bem, se é assim, é melhor ir, então. Mas não agora... Espere cair a noite, quando poderá sair sem ser vista.

- Sim, sem dúvidas. – concordou a jovem – a última coisa que quero é ser seguida por alguém. E acho que Frollo não tem nenhum apreço especial por mim, depois que o enfrentei... Se for pega agora, será a forca, com muita sorte.

Aaron não tentou reconforta-la ou amenizar a situação: sabia que era verdade, e sentia-se um tanto culpado por isso... Pois se não houvesse ido atrás da jovem, tomado por uma raiva irracional, nada daquilo teria acontecido! Ele se levantou do banco e caminhou pelo vão do campanário, o qual ele próprio mobiliara com mesas, cavaletes de pintura e desenho, suportes para instrumentos e partituras... Não era apenas sua casa: era seu ateliê particular. Cruzou o espaço que o separava de Esmeralda, e tomou as mãos dela nas suas:

- Perdoe-me por todos os problemas que lhe causei.

- É o que acontece quando uma cigana acha que pode conversar com um homem de bem sem qualquer consequência. – ironizou ela – esqueça isso. Culpar a si mesmo não muda nada. A culpa é só um peso que carregamos e que nos amarga; não assuma este peso. As coisas aconteceram desse jeito por algum motivo, mas questionar como teria sido não muda nada.

- Parece uma estoica falando.

- Estoica?

- Desculpe, eu me esqueço de que você não sabe ler... – ele procurou termos simples para explicar – os estoicos eram filósofos... Homens que criam que o segredo para a felicidade está na aceitação das coisas tais como são.

- Bem, eles entendiam bem como é o mundo, então. – disse ela. Fitando aqueles olhos tão belos, a pele que reluzia dourada à luz do Sol poente, o mistério no semblante da moça, ele se viu tomado por um impulso quase irresistível! Mas e se ela não quisesse? Afinal, embora estivesse com a máscara, agora, ela já vira seu rosto... E havia também a questão de ele ter tentado aprisiona-la... Mas queria tanto um beijo da jovem!

Ela, por sua vez, também parecia ter o mesmo desejo, e lutar contra ele: seus rostos se aproximaram, fitando um os olhos do outro, tão próximos e, ao mesmo tempo, tão distantes... Mas nunca chegaram a saber o que teria acontecido, pois uma voz grave e séria os interrompeu:

- Mas que cena poética. – era uma voz carregada de sarcasmo cruel e, quando se viraram, depararam-se com a última pessoa a quem desejavam ver: parado no último degrau das escadas que levavam ao campanário, em suas vestes pretas e com o semblante revestido de ódio, Claudius Frollo fitava o casal com olhos que ardiam em pura fúria.


Notas Finais


Eitaaaaaa! O circo pegou fogo! Ou vai pegar...
Esmeralda, fofa, tratando de Aaron;
Aaron percebendo que foi pego numa armadilha de seu mestre, e conhecendo o lobo em pele de ovelha que exite no juiz;
Frollo chegando e pegando os dois num quase-beijo... Alguma aposta do que pode vir disso tudo?!
Não me matem por parar aqui, eu só queria dar um supensezinho, kkkkkkkkkkkk!
BEIJOS, FLORES!
PS - deixem reviews!


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