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História Bells of Notre-Dame - Ruptura


Escrita por: ElvishSong

Notas do Autor


Olá! Essa é para me redimir do capítulo anterior! Agradecimentos especiais à Tiete Drama Total, que me deu boas ideias para os dois últimos caps, e leu trechos quase me matando aqui e ali. rs. Agradecimentos também à masquered for you, minha linda ciganinha que vem acompanhando a história! Adoro vocês!

Capítulo 8 - Ruptura


- O que está fazendo aqui? – perguntaram Aaron e Esmeralda em uníssono, enquanto o organista, protetor, punha por reflexo a jovem atrás de si. E embora a cigana estivesse furiosa e desejasse confrontar o juiz, também tinha o bom-senso de compreender que Aaron corria menos riscos do que ela, ao fazê-lo.

- Vim apenas ver como você estava, meu filho. – disse Frollo, estreitando os olhos e mirando a cigana – tem muita coragem em vir enfeitiçar um homem de Deus dentro da própria Catedral, vadia cigana.

- Enfeitiçar? – Aaron segurou o pulso de Esmeralda, que tentara avançar – Esmeralda é a causa de eu estar em pé e vivo, em vez de prostrado numa cama, com feridas podres!

- Ah, sim... Ela usou sua bruxaria em você, e agora está grato por ser amaldiçoado e condenado ao inferno?

Sem responder ao padrinho, Aaron se virou para a jovem e murmurou:

- Vá para o meu quarto e tranque-se lá. Não saia até eu dizer que é seguro, não importa o que ouça.

- Nem pense nisso! Não vou deixar você...

- Apenas vá! – ordenou ele, empurrando a jovem para trás de si, um tanto bruscamente. Ante o olhar do sacerdote sobre si, ela correu para o quarto do artista e trancou a porta, encostando-se a essa, trêmula antes de ódio do que de medo. O modo como ele a olhara não fora apenas ameaçador: fora lascivo! Ela se sentira despida e violada apenas com o olhar do padre, e esfregou a própria pele para se livrar de uma sujeira que não estava ali, embora se sentisse imunda! Fora isso, e não as palavras de Aaron, que a haviam feito correr para o quarto.

Do lado de fora, o gigante confrontou aquele que o criara, o qual lhe perguntou:

- Já fez dela sua meretriz? Seu caminho para a perdição foi mais rápido do que pensei.

- Meu caminho para a perdição foi acreditar que você era, de fato, um homem de Deus. – rosnou o organista – Ou acha que é um ato de amor armar uma emboscada para mim, fazer-me padecer toda aquela dor e humilhação por ações que VOCÊ me incitou a cometer!?

- Oras, Quasímodo... Ainda não percebe? – Frollo falava com aquela calma fria, aquela falsa piedade cristã que irritava seu afilhado mais do que qualquer outra coisa - Eu sabia que você cairia em tentação! Precisava não apenas impedi-lo, mas mostrar-lhe quem, de fato, é aquela mulher... Infelizmente, ela é melhor atriz do que pensei, e cometeu todos aqueles atos tão... Altruístas. E você, como uma criança, caiu nas seduções dela.

- Seduções?! – qualquer homem que não fosse Frollo já estaria morto – Seduções?! Ela me protegeu das pedras, à custa da própria integridade. Ficou ao meu lado, deu-me água e trouxe-me para a Catedral, quando eu não teria sequer conseguido me mover, sem ajuda! O único momento em que deixou o meu lado foi quando VOCÊ a jogou do patíbulo! – Aaron ficou frente a frente com o juiz, agigantando-se diante do ancião que, contudo, não moveu um músculo ou alterou a expressão - Agora, o que lhe parece menos cristão, “padrinho”: proteger um homem de pedras que poderiam mata-lo, ou bater em uma garota que mal se tornou mulher? Ela tratou de minhas feridas, lavou-as, fê-las secar, em vez de apodrecer. Você me traiu, traiu aquele que lhe foi fiel a cada segundo de sua vida, que amou e reverenciou como se fosse seu filho! E diz que Esmeralda é a manipulada pelo demônio?!

Frollo ficou lívido e avançou para dar um tapa em seu pupilo que, desta vez, não permitiu: segurou a mão do juiz, cujas faces estavam rubras de raiva:

- Você é um pecador miserável, Quasímodo! Eu devia saber quando o vi na Roda dos Enjeitados que algo tão deformado não poderia seguir o caminho da retidão. Você é tão torto em sua alma quanto em seu rosto! – e cuspiu no afilhado – dei-lhe tudo, ensinei-lhe as palavras do Senhor e o caminho da Fé, mas você sempre ansiou pelo pecado, não foi? Sempre ansiou pela carne, e questionava a Deus. Sempre perguntando aquilo que devia ser apenas aceito, sempre questionador, irreverente... Agora encontrou alguém que o acompanhe em seu caminho para o Inferno, e peca mesmo sob o asilo de Notre-Dame, coabitando com aquela vagabunda!

Ante aquelas palavras, Aaron gargalhou: não sabia se de raiva, ou ante o descabimento das palavras, e respondeu:

- A maldade do mundo está apenas em sua mente, Frollo. Esmeralda não tocou mais do que minhas costas, para trata-las, e eu não toquei mais do que suas mãos. Ela tem uma pureza que você, com sua obsessão pelo pecado, vendo o mal e a imundície em tudo, jamais poderia compreender. É você quem está podre no espírito, quem carrega o Inferno e o mal dentro de si, e o projeta em tudo aquilo que vê!

- Bastardo ingrato... – sibilou o sacerdote – devia ter deixado que o afogassem quando foi enjeitado! Assim não teria criado um pecador!

- E este é o piedoso amor cristão que o senhor prega... – disse Aaron – ouça-me bem, “padrinho”: tudo o que eu possa lhe dever foi pago em sangue, dor e culpa, ao longo dos últimos trinta anos em que lhe fui fiel como nenhum cão jamais havia sido ao dono. Eu o amo, padrinho, como amaria meu pai. Mas pude ver exatamente o tipo de homem que você é: um homem amargo, mesquinho, cheio de ódio pelo mundo, e que usa a desculpa da fé para realizar as próprias crueldades. Que Deus tenha piedade de sua alma, por usar Seu santo nome para praticar todos os atos abomináveis! – ele soltou o punho do idoso e se afastou – Estão rompidos aqui todos os laços que tenhamos.

- Não vai conseguir sobreviver sem meu apoio! Ninguém aceitará uma besta deformada como você.  – disse o sacerdote, friamente. – aquela cigana? Vai usá-lo e descarta-lo como um trapo velho, depois de o ter lançado no Inferno.

- Apenas observe. – desafiou o mais jovem, embora soubesse, em algum canto de sua mente, que Frollo estava certo quanto ao fato de que ninguém o aceitaria – E nem pense em fazer mal a Esmeralda, a única pessoa que foi boa para comigo sem ter nisso qualquer interesse que seja.

- Ela é uma cigana! Acha que fez aquilo por piedade?! Qualquer coisa que ela tenha feito foi apenas para conseguir sua proteção e servidão, como realmente obteve! Está completamente perdido, cheio de vaidade, orgulho, luxúria e...

- Não projete sobre mim os pecados que são seus: vaidade? Minhas roupas são de algodão sem tingir, enquanto as suas são de seda e veludo, e anéis preciosos adornam seus dedos. Luxúria? Eu sequer imaginei qualquer coisa em relação àquela menina! Mas vi bem seu olhar sobre Esmeralda, quando ela se trancou em meus aposentos, e aviso-o... Não ouse tocar nela.

- Ou fará o que? – perguntou o sacerdote, arqueando as sobrancelhas num desafio ao gigante.

- O que for preciso. E isto inclui uma gama enorme de possibilidades. – respondeu o mais jovem. – agora, eu agradeceria se saísse de meus aposentos.

Frollo começou a bradar uma série de imprecações e ofensas, enquanto Aaron permanecia impassível; de repente, uma mão pousou no ombro do juiz, e a voz de Grigoire soou:

- Já proferiu blasfêmias demais neste recinto sagrado, Meritíssimo. – Frollo se voltou, encontrando a figura alta e forte do sineiro, que parecia calmo, mas muito sério – já é hora de partir.

- Não se meta, sineiro. – o padre retirou o ombro rudemente, aviltado pelo toque do jovem. Como ele ousava?!

- Esmeralda e Aaron estão sob a proteção de Santuário. E somente uma prova muito forte pode suspender este direito, prova eu não existe, e sou testemunha. – ele fitou a porta do quarto de Aaron, aliviado por Esmeralda ter tido o bom senso de não permanecer ali - Ouvi quando chamou a garota de meretriz, então deixe-me tranquilizar seus temores: ela tem dormido no meu quarto, e eu, dormido no chão ao lado da cama de Aaron. Nenhum de nós pecou, aqui. E já que não há pecado algum, juiz, pode se retirar.

Havia algo no sineiro que incomodava o ancião: ele era jovem e puro, e em outras ocasiões mesmo o próprio sacerdote o havia comparado a um anjo, pela aparência bela e semblante austero. Contra aquela força – não só física, mas moral, pois a conduta do rapaz era irrepreensível – o sacerdote não queria – ou não conseguia – se bater, e virou-se para sair. Antes de descer o primeiro degrau, porém, avisou ao afilhado:

- Perdeu minha proteção e ganhou minha inimizade, Aaron. Cuide-se, e de sua cigana, pois bastará um passo em falso para que eu tenha a ambos. Um único passo em falso, e receberão o convite da Santa Inquisição! – e com ódio, desceu os degraus.

Aaron e Grigoire se entreolharam, e o jovem loiro falou ao amigo:

- Ganhou um inimigo poderoso, Aaron...

- Eu sei. Obrigado pela ajuda... Foram as palavras mais difíceis que eu já disse.

- Sim... O homem era como um pai, para você. Foi muito forte em confrontá-lo, mas já era tempo, também. – ele viu o semblante tenso do moreno, e perguntou – o que foi?

- E se eu estiver cometendo um pecado, Grigoire?

O sineiro meneou a cabeça:

- A lei de Deus é o amor. Esmeralda é boa e só faz o bem, independente de ser ou não batizada. Frollo, sacerdote ou não, é mau, e jamais se arrepende das crueldades que cometeu. É fácil saber onde está o bem e o mau, não é?

- Ele diria que a penitência...

- Carecem de penitência os que fazem algo com maldade no coração. Fazer o bem não é um crime. O amor e o perdão são as únicas verdadeiras leis. – uma vez que o outro era um seminarista, Aaron se acalmou, e falou:

- Obrigado, Grigoire. Você é diferente de todos os outros... Tem uma bondade que nunca encontrei em qualquer outro.

- Em ninguém, mesmo? – perguntou o sineiro, olhando para a porta do quarto. O artista deu um sorriso e anuiu, concordando, mas o amigo o interpelou antes que pudesse falar – Ela não pode ficar aqui, Aaron. Vi o olhar de Frollo sobre ela... Sei que gosta da menina, mas, se realmente se importa com ela, precisa garantir que fique junto aos outros ciganos, longe dos olhos do juiz.

- Eu sei disso. – havia um tom de lamento e dor na voz de Aaron: Esmeralda fora a melhor coisa que lhe acontecera, mas precisava mantê-la longe para a própria segurança da moça. Isso fazia a conversa com Frollo parecer quase uma brincadeira, ante a dificuldade que haeria em mandar embora aquela jovem que, em pouco dias, ganhara tanto de seu coração. Mesmo infeliz o organista foi até seu quarto e bateu à porta:

- Esmeralda! Abra! Sou eu, Aaron! Está tudo bem!

Ela abriu a porta como um tornado e, sem esperar, começou a examinar os braços, antebraços, ombros, perguntando:

- você está bem? Ele lhe fez algo?

- Hey. Hey, calma! – disse o homem, segurando a jovem pelos ombros – eu estou bem. Graças a Grigoire. Estamos a salvo, por hora, Esmeralda.

Embora geralmente fosse reservada em relação ao não-proscritos, ela já perdera todo e qualquer receio de Aaron e Grigoire; num ato impulsivo, abraçou ambos ao mesmo tempo:

- Obrigada! – de repente, porém, seus olhos pousaram no céu escuro, e seu coração deu um salto – ah, céus! Tenho de ir para casa!

- Sair agora? Está louca? – perguntou o sineiro – Frollo terá colocado guardas em cada esquina, depois disso!

- Se eu chegar às catacumbas, consigo sair da cidade. – as palavras dela deram uma ideia a Aaron, que declarou:

- Há uma passagem, na Catedral. Leva às fundações. De lá, é possível acessar os subterrâneos, mas... É perigoso. Há muitos ladrões, proscritos e... – ao ver o olhar de Esmeralda fita-lo como se o desafiasse a terminar a frase, percebeu o absurdo que começara a dizer – ah, esqueça. Eu levo você até as fundações.

A cigana se despediu de Grigoire, agradecendo pela ajuda do rapaz, e seguiu Aaron pelas sombras: desceram a escada em espiral que conduzia às naves, e de lá se esgueiraram até um postigo logo abaixo dos degraus; era uma abertura mínima, invisível a quem não prestasse atenção. Logo após a missa, Notre-Dame estava vazia, e foi em absoluta segurança que desceram para a escuridão abaixo.

- Está tão escuro que não vejo meus pés – disse Aaron – como se orienta aqui embaixo?

- Anos de prática. E os olhos se acostumam, depois de uns minutos. – respondeu ela. De fato, enquanto aguardavam até que a cigana pudesse ver o próprio caminho, os olhos do próprio organista se habituaram à falta de luz, de sorte que conseguia divisar a silhueta da moça, e os contornos indistintos do vão em que haviam saído. Não era tão ruim, afinal: estreitas fendas deixavam entrar a luminosidade da lua através das pedras e terra pouco acima.

                Ficaram num silêncio um tanto desconfortável, até que a moça se manifestou:

                - Aaron... Obrigada por tudo.

                - Eu é que preciso agradecer, Esmeralda. Talvez não estivesse vivo, se não fosse por você.

                - Mas você me protegeu de Frollo, hoje. Então, estamos quites. – ela dizia aquilo com tanta naturalidade, que nem parecia haverem se transcorrido fatos tão desagradáveis!

                - Talvez. – concordou ele. Mesmo no escuro conseguia ver os olhos dela, brilhando como os de um gato, tão bonitos... Talvez fosse a última vez em que a veria, depois de tudo aquilo... A ideia fazia doer seu coração, mas sabia que seria o sensato, como Grigoire dissera: Frollo não apenas odiava, mas desejava a cigana, e faria qualquer coisa para possuí-la e depois mata-la... Até mesmo levantar falsas acusações de feitiçaria, e conseguir “testemunhas”... Ela PRECISAVA ficar fora da cidade! Era doloroso, mas necessário, e foi na certeza de que ela não retornaria que ele tomou uma decisão – Esmeralda, você pode me odiar, pode nunca mais querer me ver, depois disso, mas... Tem uma coisa...

                Ela o fitou com receio, mas não houve tempo de reagir antes que o braço dele a trouxesse para junto de si, a mão livre enlaçando-se aos cabelos negros, os lábios dele pressionando-se sobre os seus. A princípio ela enrijeceu nos braços do homem, estática pelo susto, mas então fez exatamente o contrário do que ele esperara: correspondeu. Ah, droga! Pretendera assustá-la, mas agora estavam ambos entrelaçados num beijo que só fazia se aprofundar!

                Foi com surpresa que ele sentiu a moça tomar a iniciativa de intensificar o que faziam, deslizando a língua delicadamente pelos lábios de Aaron, que os entreabriu e retribuiu. Suas bocas dançavam juntas, explorando-se, tocando-se... Ele sentia o hálito de menta da jovem, e ela saboreava o gosto de cravo – cara e fina especiaria – no do homem. Sentia os braços musculosos envolverem sua cintura, e tudo o que queria era perder-se naquele beijo para o resto da vida. Era a primeira vez que beijava um homem, e nunca mais haveria de beijar outro que não fosse Aaron! Pois não tinha dúvidas: ninguém mais a faria sentir aquele misto de frio e calor, ansiedade e calma, receio e desejo ao mesmo tempo!

                Separaram-se apenas quando o ar lhes faltou, e ele esperou alguma reação agressiva dela... Um tapa, um olhar zangado... Mas o que ouviu foi exatamente o contrário:

                - Se isso foi uma tentativa de me mandar embora, você falhou estrondosamente. – e riu-se - poderia ser até um incentivo para eu retornar mais vezes...

                - Está louca? – havia certa zanga na voz dele. Não era para ela ter gostado! Ele era deformado, um assassino! – Não deve nem pensar em voltar!

                - Nossa... Meu beijo foi tão ruim, assim? – perguntou, marota, e Aaron meneou a cabeça... Com dezesseis anos, não podia esperar que Esmeralda agisse como uma adulta.

                - Não se trata disso, Esmeralda: Frollo vem com frequência à Catedral, e mesmo pelos subterrâneos você pode correr o risco de ser atacada... – ele se afastou, mesmo que relutante – não. Não deve nem pensar em retornar!

                - Frollo acha que é dono da cidade, mas não conhece metade dela. – disse a moça – posso vir pelas catacumbas!

                - E ser atacada?

                - Acha que nunca fui? E todos encontraram a ponta da minha adaga! – ela se zangou: Aaron duvidava de sua capacidade de se manter a salvo?! – cuidei perfeitamente de mim mesma, por vários anos!

                - Cuidou tão bem que agora está na mira de um inquisidor inescrupuloso!

                - Por ajudar VOCÊ! – esbravejou ela – como pode ser tão ingrato?!

                - Pelo amor de... Estou tentando proteger você, garota!

                - Não preciso de proteção!

                - Repita isso se Frollo puser as mãos em você.

                Ela estremeceu ao lembrar-se do olhar com que o sacerdote a fitara... Se ele a capturasse, Esmeralda usaria o próprio punhal para se matar. Aaron tinha razão, e ela detestava admitir isso... Cabisbaixa, perguntou:

                - E o que faço, Aaron? Fingir que nada aconteceu, que esses dias nunca existiram?

                - Se for para mantê-la segura, sim. – ele segurou o rosto dela entre as mãos – eu não suportaria vê-la sofrer tudo o que fazem com uma moça, nas prisões.

                - Então, é isso? – perguntou ela, cruzando os braços – o que acabou de acontecer não significa nada?

                - Eu estava tentando assustar você, para que se mantivesse longe daqui.

                Esmeralda sentiu seus olhos arderem, e devolveu com certa raiva:

                - Olhe em meus olhos, e diga que não sentiu nada! Olhe para mim e diga que não sente nada por mim, além de gratidão e vontade de me proteger! – pego de surpresa por aquela explosão, Aaron não a encarou, e ficou em silêncio – você se importa comigo. Isso tem de significar algo!

                - Você mesma disse: fazer o que é certo não precisa ter significado. E o que fiz foi tentar assustá-la para mantê-la fora da cidade, onde é seu lugar.

                Ela baixou o olhar: não choraria diante dele! Não podia chorar! Não podia... Contudo, uma lágrima solitária escorreu por seu rosto, e aquilo cortou o coração de Aaron como uma facada:

                - Esmeralda... Eu não disse que não gostei do que houve entre nós, nem que não senti algo... Mas só a ideia de perde-la... – ele acariciou o rosto dela – eu sou a morte, para você. Seu lugar é com os outros ciganos, longe de mim, da Catedral e de Frollo.

                - Então venha comigo!

                - Para onde? Para junto dos ciganos, dos proscritos e pagãos aos quais prendi e torturei? Acha que isso seria possível? – ele meneou a cabeça – algumas coisas não estão destinadas a ser. Você precisa ir. Precisa partir, ou será presa, torturada e morta, e não haverá nada que eu possa fazer, além de partilhar de seus tormentos. Poupe-nos de um destino horrível, e vá para seu pai. Não retorne. Eu não tenho nada para lhe dar, além de morte e dor.

                Compreendendo as palavras dele, ela anuiu: ela certamente sentia algo, ou não se preocuparia daquele modo com ela!  Mas também era verdade tudo o que dizia... Talvez devesse ouvi-lo. Mesmo porque ela sabia que, se fosse presa, Aaron a defenderia, e teria o mesmo destino que o dela: forca, ou fogueira. E não conseguia imaginar a hipótese de isso acontecer. Não por sua causa!

                - Eu irei embora. – disse, enfim – mas deixe-me lhe pedir algo...

                - Sim.

                - Um último beijo, para guardar para sempre na lembrança.

                Uma mistura de tristeza profunda, saudades e carinho preencheram o peito do organista quando, delicadamente, ele a puxou para outro beijo. Não foi feroz como o primeiro, mas suave, delicado... Um beijo de despedidas, repleto de carinho.

                Quando seus lábios se separaram, Esmeralda lançou um último olhar para aquele do qual nunca esqueceria, e disparou como um vento suave pelo túnel escuro. Não queria que ele visse as outras lágrimas que derramava. E Aaron ficou um pouco aliviado, pois assim também ela não veria as lágrimas que escorriam pelo lado não mascarado de seu rosto...


Notas Finais


Não me matem! Não me matem! Juro que eles vão se rever!


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