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História Best Fake Smiles - Divergências


Escrita por: duduaguilera

Capítulo 2 - Divergências


Fanfic / Fanfiction Best Fake Smiles - Divergências

Se domingo comumente é um saco imagine uma segunda-feira. São 6h30 e eu estou deitado na cama, já vestido, pensando no que rolou ontem. Pensando em Cameron. Não! Me recuso a perder meu sagrado tempo pensando nele. Pego o travesseiro e o uso para abafar o meu grito silencioso de raiva.

Desço as escadas para tomar o café-da-manhã que já está na mesa. Minha mãe me criou sozinha e quase nunca fala sobre meu pai. Ela se limita a dizer que ele era um bom homem e que era o amor da vida dela. Rogers Mendes. Um militar que morreu de forma honrosa no campo de batalha. Minha mãe ainda estava grávida quando recebera a notícia de que meu pai não voltaria para casa naquele natal de 1998. Posso imaginar a dor que deve ter sentido. E, contudo, ela nunca deixou de me dar a devida atenção e cuidado.

– Bom dia, meu amor! – diz ela sorrindo.

– Bom dia.

– Cadê o seu ânimo, querido? – diz em um tom animado demais para tão cedo – É segunda-feira!

– Qual é mãe? Todo dia é um dia animado para a senhora – digo em um tom de deboche. Às vezes não entendo como posso ser filho dela. Ela é tão... alegre. Tão diferente de mim. Mas admiro a tentativa dela e retribuo com um sorriso abafado – Te amo, mãe!

Ela sorri.

 

***

 

Chego no colégio e vou direto para a lanchonete. Maia ainda não chegou porque se atrasou e perdeu o ônibus. Vou até o balcão para fazer meu pedido.

– Oi Shawn – diz Gregg com um sorriso quase que invasivo. – Qual o pedido de hoje?

– Um suco de laranja, como sempre – tento retribuir o sorriso.

Gregg é um dos caras mais lindos que já conheci. É um ano mais velho que eu, portanto já terminou o ensino médio. Ele começou a trabalhar na lanchonete do colégio há pouco mais de um mês. Comecei a frequentar essa lanchonete por causa dele, ou melhor, por causa da Maia que estava afim dele. Não faço ideia do motivo dela ter desencanado dele.

– E aí, tem aula do que hoje? – disse ele forçando um diálogo.

– Química – reviro os olhos.

– Por que essa cara? Química é bacana. Era minha matéria favorita – aquele sorriso de novo. – Parece clichê, mas quando você terminar o ensino médio vai sentir falta de tudo, inclusive de química. Vai por mim.

– Eu duvido muito. Não vou sentir falta de nada disso. Vai por mim.

Ele estava pronto para rebater, mas Maia chega.

– Amigo, você não vai acreditar – ela simplesmente ignora Gregg que sai de cena para não atrapalhar a conversa – Eu já estava quase indo dormir e ele me ligou. Podia ter mandado mensagem. Ficaria menos nervosa. A voz dele é tão linda! Vamos nos encontrar no intervalo.

Maia com certeza ganha da minha mãe no quesito "ânimo exagerado logo pela manhã."

– Bom dia para você também, Maia! – me atrevo.

– Bom dia Sr. Branquelo. – diz de forma artificial – Mas voltando a falar sobre mim e o Colton. Amigo, eu estou muito nervosa!

– Se acalma, não é como se fosse seu primeiro encontro! – argumento.

– Eu não consigo! Só vou me acalmar quando beijar aquela boca linda. Ai meu Deus! Será que vamos nos beijar? Vou retocar a maquiagem, já volto – e sai em direção ao banheiro antes que eu diga qualquer coisa.

– Vocês não têm nada haver um com o outro – opina Gregg voltando à conversa.

– O que quer dizer com isso? – retruco curioso.

– Ela tem uma voltagem bem superior... diferente da sua – ele vê que ainda não entendi e continua, meio nervoso. – Ah... ela é animada e você é calmo, sabe? Mais centrado.

Respondo com um sorriso. Ele devolve o sorriso. Me pergunto se ele está flertando comigo. Não. Sem chances. Será?

 

***

 

A aula já começou e Maia ainda não voltou. O professor Wilson, já está em sala, sentado, organizando seu material. Fico de olho na porta esperando Maia, mas quem chega é Cameron.

– Com licença, Professor. Posso?

– Entre Sr. Dallas, entre logo! – diz o professor impaciente.

Ele me olha. Eu olho para ele. Como eu odeio quando isso acontece. Ele desvia o olhar e segue para o fundo da sala.

Química é a única matéria que temos na mesma sala. Apenas duas aulas na semana. O engraçado é que nenhum dos amigos populares dele está nessa sala. Ele podia mudar na secretária, e ficar com o bando dele, mas já estamos na metade do segundo semestre e ele ainda não fez isso.

Meu celular vibra e recebo uma mensagem de Maia:

"ENCONTREI O COLTON NO CORREDOR E VAMOS MATAR AULA, JUNTOS. QUE ROMANTICO! ESTOU COM ELE NA ARQUIBANCADA DO ESTÁDIO DE FUTEBOL. BEIJOS!"

Legal.

– Bom. Eu quero que vocês façam duplas – Droga! – Vocês deverão resolver algumas questões que irei entregar, juntos.

– Posso fazer sozinho, professor? – pergunta uma garota com uma maquiagem terrivelmente colorida demais.

– Eu disse duplas. É importante treinar a harmonia com seus amados colegas.

A menina solta um "merda" e o professor a olha dando um sorriso maquiavélico. Credo. A sala toda rapidamente faz as duplas e ele começa a entregar a atividade.

– Sr. Mendes – diz ele ao chegar à minha mesa. – Dupla. Duas pessoas.

– A Maia não pôde vir hoje, professor, aí eu...

– Como eu disse, dupla – Interrompe ele com o mesmo sorriso do mau – Sente-se lá atrás com o sr. Dallas que também parece não entender as minhas regras.

Cameron me olha e abaixa a cabeça.

– Professor, eu prefiro não fazer com ele. É complicado...

– E eu preferia estar aposentado, Sr. Mendes. Mas a vida é como um rio do qual não podemos escolher a direção da correnteza, então faça-me o favor de seguir a correnteza e sente-se com o Sr. Dallas.

Não tenho saída então me dirijo até o fundo da sala. Cameron dá um aceno breve com a cabeça e eu sento do seu lado. Anos evitando contato com ele, interrompidos por uma atividade de Química. Como eu odeio Química.

Eu estou com a atividade nas mãos, então tento resolver as questões sozinho. Cameron não se atreve a opinar em nada, o que deveria ser positivo, porém não entendo nada de química. Eu não quero e não irei pedir ajuda para ele, e ele sabe disso. Ele se apoia em um de seus braços, e observa a minha tentativa de resolver uma equação... cálculo... – o que é isso, meu Deus? – Droga! Pensei alto.

– Reações de ionização – diz Cameron respondendo como quem quer ajudar.

– Eu sei – respondo friamente.

Ele respira alto demais.

– Deixa eu te ajudar – diz ele já puxando a atividade para ele. – Seu forte nunca foi química.

Minha vontade de responder alguma coisa é grande, mas não tenho argumentos. Cameron Dallas. O meu primeiro melhor amigo. O primeiro cara por quem me apaixonei. Ao meu lado.

– Isso é tão fácil – diz dando uma leve risada. Atrevido!

– ...

– Como sua mãe está? – Não acredito que ele está puxando uma conversa comigo. Eu odeio ele.

– Bem.

– Que bom.

– É.

Silêncio. Que bom que ele entendeu. Ele sempre entendeu bem a minha necessidade de silêncio.

Minha avó morreu quando eu tinha doze anos. Enfisema Pulmonar. Uma das possíveis consequências do uso de cigarro. Foi minha primeira grande perda. Cheguei do enterro já no pôr-do-sol e Cam estava lá, sentado na escadaria da porta de minha casa, me esperando. Ele queria saber se eu estava bem. Minha mãe deixou que ele passasse a noite conosco. Subimos até meu quarto. Queria fingir que tudo estava bem. Ele tinha trazido alguns mangás para lermos juntos. Sentamos no chão com as costas na lateral da cama e ficamos ali, lendo. Chegou um momento que não consegui mais me conter e comecei a chorar. Desabei. Eu esperava que Cam falasse alguma coisa dessas que as pessoas se utilizam para fingir que está tudo bem, mas não. Ele só envolveu os braços em meus ombros. Silêncio. Ficamos ali um bom tempo abraçados. Minha mãe entrou no quarto para deixar alguns biscoitos assados, mas não interrompeu nosso momento. Ela também sabia do que eu precisava.

Toca o sino do intervalo.

– Antes de saírem tenho um comunicado a fazer – diz professor Wilson enquanto recolhe as atividades. – O trabalho bimestral serão questões, que enviarei semanalmente por e-mail, e valerá 1/3 da média final. E deverá ser feito com a mesma dupla da atividade de hoje – respiro fundo. – Tenham um ótimo começo de semana.

Espero todos da sala saírem, inclusive Cameron, para falar com o professor.

– Profe...

– Não, sem chances Sr. Mendes. – Responde categoricamente.

– Mas Professor, e a Maia? Com quem ela vai fazer esse trabalho?

– Não acho que ela seja a única a faltar na aula de hoje, então não se preocupe com ela – Aquele sorriso maquiavélico de novo.

Saio da sala quase bufando e encontro com Cameron na porta. Parece que ele estava me esperando. Sigo sem falar nada na direção do meu armário.

– Foi mal por isso – ele diz me acompanhando.

– Tanto faz Cameron.

– Bom. Vamos mandar bem nesse trabalho – ele sorri.

Interrompo minha caminhada, paro e me viro para ele.

– Por favor, para com isso!

– Isso o que? – diz ele.

– Isso! Para de falar comigo. Eu não quero saber da sua vida patética. Muito menos fazer parte dela. Somos colegas de turma e só. Me deixa em paz! – Algumas pessoas agora estão olhando para nós, simplesmente saio e ele não me segue.

Chego no meu armário, jogo meus livros dentro e bato a porta. Penso que talvez tenha sido cruel demais com Cameron. Não consigo evitar. A presença dele já me tira do sério. Respiro fundo e abro a porta do meu armário e cai uma foto no chão. Provavelmente estava preso em alguma aresta do meu armário, que é o mesmo há anos. Eu e Cam, em um parque de diversões. Outono de 2012.

 

***

 

 

As aulas já acabaram e já estou indo embora. Está garoando. Estou indo pegar o ônibus. Nenhum sinal do Cameron desde o incidente no corredor. Também nenhum sinal de Maia, que não apareceu nem na segunda aula. Começo a ficar preocupado. A última vez que vi Colton foi no domingo, na praça. E se ele sequestrou ela?

O celular vibra:

"OI BRANQUELO. ESQUECI DE TE AVISAR, MAS O COLTON, VULGO MEU PRÍNCIPE, ME TROUXE PARA CASA DEPOIS DE SAIRMOS PRA TOMAR SORVETE NO PARADISE. DEPOIS APAREÇO NA SUA CASA PARA TE ATUALIZAR DE TUDINHO. BEIJOS! "

Estou perto de perder minha melhor amiga. E porfim acabo perdendo o ônibus. Resolvo ir caminhando para casa.

– Ei! Shawn – Viro e vejo Gregg em cima de uma moto. – Quer uma carona?

Penso em dizer não, mas acabo cedendo.

O bom de um passeio de motocicleta é que não existe como manter um diálogo. Então passamos o caminho até minha casa sem dizer qualquer palavra.

– Chegamos – diz ele ao parar a moto em frente de casa.

Desço da moto e entrego o capacete para ele.

– Obrigado, Gregg. Sério – dou um sorriso.

– Não precisa agradecer – ele continua ali, imóvel.

– Ah... até amanhã, então!

– Até – Ele sorri, e bota o capacete.

Subo as escadas e da varanda vejo ele indo embora. Suspiro. Reparo no meu suspiro e me repreendo. 


Notas Finais


Espero que tenham gostado. Tentarei atualizar os capítulos pelo menos três vezes na semana. Deixem seus comentarios aí que ajuda bastante. Até a próxima!


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