História Best Gift - The birthday

Fazia uns quatro meses que eu havia finalmente conseguido entrar na minha tão sonhada faculdade de artes cênicas. Pensei que seria fácil fazer amizades por lá, mas ao contrário disso eu fiquei um bom tempinho sozinha até conhecer a melhor garota do mundo, também conhecida como minha atual melhor amiga.
Eu e Bex passamos três meses maravilhosos fazendo bagunça pela universidade e pelo resto da cidade, era incrível o jeito como nos tornamos íntimas rápidas, era como se uma completasse a outra.
Eu via na Bex a melhor amiga de todas, fazíamos tudo juntas, nunca estávamos separadas. E era só isso até um dia algo começar a despertar dentro de mim, quer dizer, eu diria que eu já sentia isso desde que a conheci, mas só percebi naquele dia, quando estávamos explorando um parque de diversões abandonado.
•••
- Anda, Aurora, ninguém vai aparecer aqui! - Bex me chamou esticando o braço de cima de um dos brinquedos.
- Eu sei, mas será que é seguro? - perguntei receosa.
Bex revirou os olhos.
- Anda logo medrosa. - ela me puxou pelo braços e gargalhou do grito de susto que eu soltei.
Entrei em um dos carrinhos do brinquedo, parecia um daqueles que rodava em torno de si mesmo e dos outros carrinhos. Exatamente o que eu sempre tive medo de ir quando pequena!
Bex saiu a passos equilibrados pela engrenagem até onde estavam os botões de ligar.
- Você não vai fazer isso, né? - perguntei preocupada e ela deu um de seus sorrisos sapecas.
Engoli em seco e apertei as mãos sobre o assento olhando apavorada para Bex que ligava alguns botões. Assim que o brinquedo começou a rodar ela voltou correndo até onde eu estava e ficou em pé no banco com as mãos para o alto, os olhos fechados e um sorriso no rosto enquanto gritava com o vento batendo em seu cabelo curto.
Eu ria da reação dela e tentava me distrair do medo daquilo despencar, meu cabelo balançava com o vento e ia parar todo no meu rosto, não estava enxergando nada até sentir uma mão colocando as mechas atrás da minha orelha, era ela um pouco abaixada olhando pra mim, sorri e ela retribuiu.
- Quer fazer o favor de se divertir senhorita? - Bex me desafiou.
- Eu já estou me divertindo... - falei dando de ombros e ela arqueou uma sobrancelha.
- Não, não está, me dê as mãos. - a garota pediu e eu segurei suas mãos mesmo que com medo.
Ela me puxou pelas mãos e eu levantei um pouco desequilibrada, quando tombei um pouco para o lado senti sua mão me segurando pela cintura e nós duas gargalhamos da situação.
Depois de estar tudo sob controle eu apenas me concentrei no vento forte que se formava pela velocidade do brinquedo, esticamos nossos braços -de mãos dadas- e ela fechou os olhos, resolvi fazer o mesmo e naquele momento senti minha alma livre.
Quando percebi já estava gritando e rindo junto a ela e me imaginava uma criança feliz num dia de parque aberto, era maravilhosa a sensação!
Depois de alguns minutos, quando já estávamos ficando tontas resolvemos nos sentar no banco e quando passou por perto dos botões do brinquedo Bex esticou o braço apertando o que desligava, aos poucos o brinquedo foi parando e eu me sentia totalmente tonta.
Assim que ele parou por completo Bex se levantou e pulou do carrinho para o chão, fui fazer o mesmo, mas pela tontura fui com tudo em direção do chão. Isso se não fosse por Bex correr me segurar antes, eu encarei desnorteada seus olhos azuis esverdeados que me fitavam demonstrando preocupação, mas logo em seguida ela alternou seu olhar para os meus lábios que estavam a pouca distância dos dela, e eu acabei por fazer o mesmo.
Senti meu coração acelerar naquele momento e um arrepio tomar conta de todo o meu corpo, um desejo diferente me dominou e eu precisei me afastar dela com certo receio de que fosse a decisão que eu realmente queria ter tomado!
•••
Hoje era meu aniversário, estavam todos os parentes e amigos reunidos na casa dos meus pais, eu havia chamado Bex que por um acaso ainda não tinha aparecido.
Eu não gostava muito de admitir, aquele sentimento me assustava desde o episódio no parque, mas eu precisava falar isso pra ela e seria hoje. Havia me arrumado, colocado meu vestido preferido, tudo pra ela, apesar de saber que Bex não ligava muito para aparência, eu queria parecer sexy pra ela, desejável, talvez por medo da rejeição. Caramba, eu tinha medo dos meus sentimentos e dos dela também?
Estava conversando com minhas primas Willa, Carlson e Kiana quando a vi adentrando a sala de estar, com a calça preta rasgada que eu amava tanto e a regata também da cor preta contrastando perfeitamente com o casaco vermelho e o coturno que ela usava do mesmo modelo que o meu.
Sorri ao vê-la e na mesma hora que nossos olhares se cruzaram eu senti meu coração disparar como sempre acontecia, naquele instante minhas pernas bambearam e era como se eu tivesse perdido o dom de andar. Bex sorria esperando que eu fosse falar com ela, mas eu não conseguia!
Quando consegui me mover por dois passos senti alguém me cutucando e me virei vendo Sean, meu antigo vizinho desde a infância, antigo melhor amigo também.
- Sean!! - falei empolgada o abraçando.
- Quanto tempo Aurora, como vai a faculdade? - ele perguntou interessado com um sorriso.
- Ótima! É como um sonho realizado. - contei animada.
- Bom saber, sempre soube que você conseguiria ruivinha. - Sean riu me dando um soquinho de leve no braço e me fazendo rir também. - Mas devo admitir que estou morrendo de saudade. - o garoto deu de ombros revirando os olhos.
- Fico feliz em saber que não sou a única. - arqueei a sobrancelha com uma expressão de brava e nós dois rimos em seguida. - Ahm, Sean, quero que conheça alguém... - foi quando me lembrei de Bex.
- Tudo bem, só um minuto. - ele pediu antes de ir correndo para onde Willa o chamava.
Apesar de todo mundo sempre ter achado que eu tinha algo com ele, eu por outro lado sempre percebi o interesse dele na minha prima e vou dizer que apoio demais!
Virei-me novamente e vi Bex recostada na parede mexendo em seu celular, soltei um longo suspiro e fui até ela. Quando percebeu minha presença a garota tirou os olhos do celular e os direcionou pra mim me analisando de cima abaixo, como eu bem queria, e eu sorri ao ver sua expressão, ainda mais quando mordeu os lábios.
- Você sempre adora me enlouquecer, não é mesmo Aurora?! - Bex sorriu de lado arqueando uma sobrancelha e eu ri quando na verdade meu coração tinha quase saído pela boca.
- Como disse? - me fingi de desentendida e ela negou com a cabeça.
- Nada. Quero dizer, feliz aniversário gatinha! - a mesma se auto corrigiu me dando um abraço.
- Obrigada! - sorri em agradecimento e após sair do abraço ela me entregou um embrulhinho de presente. - Ei, não precisava. - falei surpresa.
- Claro que precisava, anda, abre! - Bex incentivou parecendo animada, o que aumentou meu sorriso.
Já estava me preparando para abrir o laço quando ouvi meu pai me chamando, ignorei a primeira chamada como se aquilo fosse adiantar.
- Aurora, é hora do parabéns minha filha! - ele exclamou indo até mim. - Anda! - pressionou.
- Ok. - assenti enquanto ele se afastava.
Voltei meu olhar para Bex e o alternei entre ela e seu presente em minhas mãos, o pequeno embrulho estava me deixando tentada e eu precisava o quanto antes de um tempo a sós para falar com ela, mas se demorasse mais um pouco era capaz do meu pai tacar o bolo em mim!
Sorri para Bex, sem dizer nada, e fui em direção a mesa do bolo onde todos já estavam esperando, me posicionei atrás da mesa e as luzes foram apagadas sobrando apenas o brilho das velas. Eu ainda segurava fortemente o embrulhinho de Bex nas mãos quando começaram a cantar parabéns.
Dava para vê-la atrás de algumas pessoas, batia palmas e sorria para mim, mas seu sorriso estava um pouco distante. Sean chegou ao meu lado e me abraçou forte, permaneceu abraçado a mim até o final do parabéns e ainda por cima pegou um pouco do glacê do bolo passando no meu nariz, murmurei em reclamação e nós dois gargalhamos.
- Com quem será... - Carlson começou a cantarolar a bendita musiquinha que sempre me assombrava.
Em toda aniversário a mesma coisa.
- Vai depender se o Sean vai querer! - assim que todos terminaram de cantarolar ele riu mais uma vez me abraçando.
- Todo ano a mesma coisa, acho que já estamos bem casados. - ele afirmou e eu acabei por rir.
Quando voltei meu olhar para Bex ela já não estava mais sorrindo, sua expressão era séria e aquilo me preocupou no mesmo momento.
- Esse é o melhor casal com toda certeza! - Kiana exclamou batendo palmas e as pessoas vibraram. Willa, ao seu lado, já não parecia tão animada assim.
- Por que o casal não se beija pra uma foto? - uma das minhas tias incentivou.
- Claro, já estamos acostumados com isso. - Sean brincou e todos vibraram novamente.
Bex não havia entendido que era brincadeira, quando voltei a olhá-la ela estava me encarando com um olhar triste de decepção.
- Bex... - murmurei baixo, com uma enorme tristeza se formando em meu peito.
- Como é amor? - Sean perguntou confuso me encarando.
Naquele momento Bex negou com um gesto de cabeça várias vezes e saiu dali correndo indo em direção à porta, a abriu rapidamente sumiu dali. Entrei em desespero no mesmo momento e me soltei de Sean.
- Bex! - dessa vez gritei e saí correndo de trás da mesa.
Todos me olharam confusos, alguns tentaram me segurar e perguntar do que eu estava falando, mas não dei ouvidos e me desvencilhei deles enquanto corria até a porta.
A abri com certa brutalidade e vi Bex já no final da escadaria dali, minha respiração já estava ficando descompassada.
- Bex! - gritei novamente e ela me ignorou por completo.
Desci as escadas o mais rápido possível e quando já estava a alcançando resolvi melhorar meus métodos de chamar sua atenção.
- Rebecca!!! - berrei com todas as minhas forças e ela se virou para trás, incrédula.
- Agora você apelou, sabe o quanto eu odeio que me chamem pelo nome! - Bex retrucou caminhando em minha direção surtada.
- E você sabe o quanto eu odeia que me ignore! - rebati bem irritada.
- Ah é? Foi bom sentir na pele o que você fez comigo a festa inteira? - ela questionou me deixando sem reação.
- Eu te ignorei? - perguntei pasma.
- Mas é claro! A propósito, me desculpe por sair no meio da festa e te atrapalhar de beijar seu príncipe encantado. - a garota praticamente cuspiu as palavras.
- Bex, ele não... - tentei dizer.
- Quer saber? Eu sou muito idiota por ter achado que tinha alguma chance! - a mesma prosseguiu e se virou novamente voltando a andar.
- Sim, você é muito idiota! - concordei, totalmente incrédula com as conclusões que ela havia tirado.
- Eu não devia ter vindo à sua festa, estou bem arrependida. - ela afirmou em voz alta, caminhando de costas pra mim.
- Ótimo! Quer saber do que eu estou arrependida? - perguntei em tom alto, mesmo sabendo que ela não responderia. - Ter perdido a chance de te beijar naquele parque! - gritei o mais alto que podia, sabendo que até minha família deveria ter ouvido, mas não ligava no momento.
Bex parou de andar no mesmo momento e se virou para trás com uma expressão de completa surpresa.
- Como é? - ela perguntou incrédula enquanto andava em minha direção.
- Desde aquele dia no parque eu não consigo mais parar de pensar em você Bex, e eu nunca me senti tão atraída assim por alguém, eu não tenho e nem quero ter nada com o Sean porque ele não é você! - eu dizia aquilo tudo com coração descompassado e a respiração acelerada, minhas mãos tremiam e suavam frio, ainda não acreditava que havia criado coragem finalmente.
- Você... - Bex chegou até poucos centímetros de distância de mim e eu senti minhas pernas bambearem. - Você não perdeu a chance! - ela completou abrindo um enorme sorriso que fez meu coração se aquecer e na mesma hora retribui o sorriso.
Puxei Bex pela gola de seu casaco e juntei nossos lábios rapidamente, ela complementou o beijo com urgência e o intensificou colocando as mãos em minha cintura e apertando a mesma com leveza. Soltei um gemido cortado entre o beijo que fez as duas rirem um pouco, mas logo voltamos a nos beijar com mais vontade ainda.
Bex foi me empurrando até eu me recostar sobre a parede que tinha ali perto, como estava de noite a rua se encontrava vazia e ninguém poderia reclamar. Ela começou a depositar beijos em meu pescoço e subiu uma das mãos até meu ombro descendo lentamente a alça de meu vestido, quando percebi que um calor enorme estava subindo por mim decidi afastá-la um pouco.
- Bex, a gente ta na rua. - sussurrei soltando uma risadinha envergonhada que a fez rir.
- Culpa sua de ter me provocado colocando esse vestido! - ela rebateu me causando ainda mais risadas de vergonha.
- Você é muito pervertida garota. - dei um tapinha em seu braço e ela gargalhou.
Ficamos em silêncio por um tempinho sustentando uma troca de olhares profunda, isso até ela voltar a me beijar.
- Também preciso dizer uma coisa. - Bex interrompeu o beijo e eu a encarei receosa. - Eu amo você Aurora, com todas as minhas forças! - assim que ouvi aquelas palavras era como se eu tivesse perdido o dom da respiração.
Abri o maior sorriso do mundo e a abracei dando-lhe um longo selinho.
- Eu também amo você Rebecca! - afirmei e ela fez careta.
- Não me chame mais assim, nunca te pedi nada. - a mesma implorou e nós duas rimos.
- Ei, espera aí. - mostrei o embrulhinho que ainda estava na minha mão e ela sorriu.
- Vai abrir agora? - perguntou sarcástica e eu revirei os olhos rindo.
Abri a caixinha e meus olhos brilharam ao ver o que tinha dentro, tirei o colar da caixinha, que tinha dois pingentes, um escrito em dourado "Living Intensely" e outro com as máscaras do teatro.
- É perfeito! - exclamei e ela sorriu.
- Quer que eu coloque pra você? - perguntou e eu assenti.
Virei-me de costas e lhe entreguei o colar que ela logo colocou em meu pescoço e depositou um beijo ali também me fazendo arrepiar. Voltei a virar de frente pra ela e ficamos sorrindo feito bobas de mãos dadas.
E ali, naquele momento, eu sentia que aquele havia sido o melhor aniversário da minha vida, o melhor dia, e eu não queria sair dos braços de Bex nunca mais! Era onde eu pertencia, à ela.