História Beta - Camélias e Lírios {Pt.3}

(Narrativa na terceira pessoa)

— Hyung... — engoliu em seco. — É seu primeiro cio.

— Sim, Jungkook. – Jimin usou um tom até então desconhecido para o beta, algo mais sensual e arrastado. — E que bom que está aqui.

O alfa aproximou o rosto do pescoço de Jeon, causando um frio intenso no outro arrepiando-o completamente, piorando a situação quando a ponta de seu nariz passou pela pele macia. Sem perceber, o beta fechou os olhos e ofegou. Jimin sorriu com a entrega do beta.

— Jimin... Você precisa de um ômega... — Jungkook tentou argumentar, porém o mesmo não se convencia daquilo.

— Não. — a fala veio como um rosnado — Preciso de você.

Isso fez o coração do beta acelerar fazendo seu sangue ferver em adrenalina, qualquer argumento que preparava para usar sumiu, alguma parte sua acreditou no que o alfa disse e o olhou encarando os olhos escurecidos, firmes e incontestáveis dele. Realmente gostava de Jimin, muito. Mais do que pudesse imaginar. O fato de estar aceitando facilmente aquele argumento o deixava perceber isso e a sensação de desespero por tal coragem de se apaixonar por um alfa acometia seu interior, mais o misto de que talvez ele fosse correspondido, porque, ali estava ele dizendo que o queria.

Jimin pôde ver todos os pensamentos que corriam na mente do outro, conhecia as inseguranças, o que era real para ele e desejava a todo custo que o beta desistisse dessa idéia de que ele era descartável. Mas o cio não o deixava pensar muito sobre isso. Ele desejava aquele corpo, o calor o torturava e a sensação pulsante entre suas pernas era demais. Antes que Jeon pudesse pensar em fugir, o Park desistiu de resistir aos impulsos e entregou-se ao desejo que exprimia seu ser.

O beijo foi repentino, o alfa espremeu seu corpo ao encontro do castanho, seus lábios iam em um ritmo urgente, a pele e os cabelos do outro eram apertados em suas mãos. O ar que soltava e buscava entre o beijo era quente, seu corpo ainda pingava pela temperatura e o melhor era que não havia sido rejeitado por mais que isso não fosse o impedir.

Jeon não conseguiu recusar os lábios grossos e macios do alfa. Estava submisso ao cheiro, as vontades, aos toques, aos sons que saiam do outro. Cada espaço, a pele e o arfar que Jimin descobria ou arrancava de si, faziam com que estivesse mais entregue. Não notou quando ajudou o moreno a tirar a camisa e muito menos o impediu de tirar a sua. Os lábios... Aqueles lábios em sua pele faziam o sentir em um sonho. Jamais se imaginou em uma situação assim e menos ainda com seu amigo, mas aquilo parecia certo. Não parecia?

O rosnado de Jimin seguido por uma mordida um pouco mais forte fez Jeon acordar de um transe. Certo que ele desejava e queria muito aquilo, mas o Park agia assim só por estar no cio. Ele tinha que impedir que tudo aquilo fosse mais adiante, para não magoar o amigo. Tentou se levantar, mas foi impedido e mordido de novo, soltando um gemido não apenas de dor.

— Ji-Jimin. — chamou o outro ainda sentindo os beijos em sua pele, descendo por seu abdômen, fazendo-o respirar fundo para se controlar. — Você não quer isso. — Jimin tocou no cós de sua calça de moletom e o beta gelou. — Vamos, perceba!

— Cale a boca, Kook. — a voz rouca do alfa soou no quarto.

Jimin virou o beta com tudo na cama e encostou seus corpo novamente, pressionando sua ereção nas nádegas do outro, o ato o fez gemer apertando os dentes e Jeon não passou longe disso, mas achava que o alfa estava sendo precipitado demais e que se arrependeria depois. Por ele, ajudaria o amigo como pudesse, mas alfas no cio precisavam de ômegas, ou jamais estariam satisfeitos. E ele era apenas um simples beta.

As emoções afloraram em si e ele quis chorar por constatar aquilo naquele momento. Não era culpa de Jimin. Ele apenas não era suficiente e por mais que levasse aqueles sentimentos recém descobertos pelo alfa, ele nunca seria o suficiente para Park Jimin, ele não servia nem ao menos para um mero cio, para ser usado e descartado. Então não faria aquilo, por mais que seu corpo desejasse e seu interior se contorcesse correspondendo às vontades do outro.

Jimin se afastou com intuito de tirar sua roupa e Jungkook aproveitou para rolar para o lado e praticamente cair no chão, fugindo do alfa em seguida, sem pensar duas vezes. Saiu do quarto, encontrando a porta da sala do monitor da ala deles e pediu que chamassem uma enfermeira.

Rapidamente uma equipe chegou, contiveram Jimin o dopando e o levaram para os quartos dedicados aos cios. Provavelmente ele passaria uns dias ausente. Jeon voltou ao quarto e quando foi ao banheiro surpreendeu-se com as marcas de mordidas que tinha, não pareceram tão dolorosas quando feitas, mas ele sabia que precisaria passar algo ou inflamariam.

O quarto vazio, escuro e silencioso. Por uns dias Jeon sabia que ficaria sozinho e já começava a pensar em como encararia o alfa após tudo que aconteceu. O beta tocou seus lábios, fechando os olhos ao recordar-se do beijo. Foi bom, muito mais do que bom por mais atrapalhado que tenha sido de início para si, mas Park soube o guiar e Jeon sabia que agora ficaria mais difícil para si. Havia experimentado o que desejava sem ao menos ter noção desse sentimento.

Como seria o convívio com o alfa após tudo isso?

{β}

Taehyung sorria enquanto duas ômegas o puxavam pelos braços para o refeitório, claro que estava preocupado com seus amigos. Jimin não estava na aula e Jeon apenas disse que ele entrou no cio, e se calou prestando atenção em todas as aulas daquela manhã. Sabia que o beta teve problemas pelas claras olheiras que ele apresentava, mas não teve tempo de enchê-lo de perguntas, pois as duas colegas de sala o encurralaram repentinamente na porta da sala quando saia, alegando que o alimentariam.

Para ele era normal que insistissem assim em cuidarem de si, às vezes permitia por puro capricho e diversão, e em outras apenas queria ficar com seus amigos. Mas como havia passado por assuntos estressantes, decidiu deixar que brigassem por si. Depois ele próprio iria sugerir que apenas parassem de discutir e aprendessem a dividir.

Taehyung tinha esse comportamento mulherengo por pura diversão. Não se orgulhava dele, pois o lembrava muito como seu próprio pai é, mas não conseguia demonstrar muito seu verdadeiro lado, sentia que se o fizesse o achariam fraco e iriam rir da sensibilidade que ele tem. Sua mãe era uma mulher delicada, bonita, sensível, amorosa e não estava ali por ter sido fraca. Tudo bem que ele se culpava pelo que aconteceu, achava que poderia ter feito algo, mas queria que sua mãe mesmo sendo ômega fosse mais firme e decidida, assim talvez ela pudesse estar com ele hoje.

Já estavam chegando ao refeitório, seria mais um dia divertido, mas nem tudo é como parece ser e, assim que Taehyung colocou os pés dentro do refeitório, as ômegas o soltaram e um líquido foi derramado sobre si, tinha duas cores: preto e verde, pelo cheiro Tae soube que era tinta. O alfa já respirava de forma alterada ouvindo os risinhos do refeitório todo e tudo piorou quando algo branco foi derramado grudando em si. As risadas aumentaram e ele ouviu alguém bater palmas, rindo de forma exagerada.

— Oh! Olhem que gatinho bonitinho. — Mingyu disse, entrando em seu campo de visão. — Sabe Taehyung, você não pode chegar em um colégio achando que manda em algo aqui. Quem sabe assim você aprenda a não mexer com ômegas que tem dono.

Todos riam. Até mesmo a ômega que havia o trancado no quarto com ela no cio. Óbvio que Tae era sensato e fugiu, mas pelo jeito a mesma não contou a história direito para o alfa que a marcou.

— Bem que dizem o quanto seu pai é um cafetão bem sucedido. O filho não saiu diferente, hum?! — Mingyu riu novamente em seguida, fazendo cara de escárnio. — Sua mãe teria vergonha do que você é… — Tae não deixou que o alfa terminasse e mesmo pingando tinta, o Kim fechou o punho e acertou o rosto do outro alfa. O silêncio foi completo desta vez. Ambos se olharam e Taehyung partia para cima de Mingyu novamente e descontaria sua raiva em cima do alfa, se Hoseok não surgisse repentinamente e, sem se preocupar com a sujeira que seria, agarrou os braços de Taehyung por trás, o impedindo de continuar.

— TaeTae, por favor! Você não é ele... — Hoseok dizia baixo apenas para o alfa ouvir.

Taehyung rosnou alto e ouviu-se em todo o recinto, soltou-se de Hoseok e virou as costas para o local, indo para seu quarto com o ômega o seguindo. Não diziam nada e quase corriam, em poucos minutos Tae abriu a porta de seu quarto, sujando tudo que tocava e assustando Yoongi que estava no quarto para deixar suas roupas de ginástica. O Jung meio ofegante entrou logo depois, ouvindo a porta do banheiro bater, fazendo os dois no quarto pularem. Suspirou um pouco aliviado.

— Avise o Tae para limpar essa maldita bagunça. — Yoongi falou sem prestar atenção no ômega.

— Eu irei limpar... — ouviu-se coisas sendo quebradas dentro do banheiro. — É. Eu realmente limparei.

— Virou empregado dele agora? — o loiro bufou.

— Sabe, seria mais justo você perguntar o que aconteceu e talvez ser só um pouquinho ser menos frio e entender que as pessoas também têm problemas. — Hoseok nem acreditava no que estava falando e tentou conter suas palavras, mudando de assunto. — Onde estão as coisas de limpeza de vocês?

— No banheiro. — Yoongi o olhou largando suas coisas. — Não me importo com aquilo que não me interessa, mas pelo jeito Kim Taehyung lhe interessa muito.

— Quando sua mãe for assassinada, seu pai for um cafajeste de primeira e você assistir tudo desde criança, me importarei com você também, Min Yoongi. — o ômega tampou os lábios, não acreditando que havia falado da vida do amigo.

Acabou ficando parcialmente aliviado quando ouviu mais coisas serem quebradas, Tae provavelmente envolto em ódio nem o ouviu e isso era bom, talvez o alfa não o perdoasse por contar suas confidências assim. Enquanto isso Min paralisou com a notícia, fazendo um silêncio constrangedor surgir.

— Acho melhor você sair daqui. — o moreno não olhava para o alfa. — Quando ele sair do banheiro, ainda estará impossível de controlar e precisarei trancar tudo antes que ele vá matar o imbecil do Mingyu.

Yoongi realmente não sabia muito sobre nenhum de seus colegas. Ouvir aquilo assim vindo logo de Hoseok o fazia perceber o quanto é insensível. Ele deveria sair como foi lhe aconselhado, mas queria ficar. Não que ele sentisse algo em especial por Taehyung, mas ele meio que entendia um pouco o alfa agora. Ele odiava os próprios pais por serem tão mesquinhos e o deixarem sempre de lado sempre que viável. Min era o filho exemplar para muitos, mas apenas os empregados sabiam sobre suas crises quando ele quebrava tudo toda vez que sua mãe dizia que ele devia sorrir mais, ou quando seu pai dizia que um Min deve ser superior, demonstrando educação e obediência, o fazendo rir como um louco. Por isso estava em um internato novamente, porque seus pais não queriam lidar com ele e seus problemas.

O ômega havia lhe dito que todos tem seus problemas, mas ele não parou para pensar que talvez, assim como é para ele, essas cargas são pesadas demais. Um pouco envergonhado do quanto ele estava sendo mesquinho…

Mes-qui-nho.

A palavra rodou em sua cabeça, ele não quer se parecer com os pais, tudo menos isso. De cabeça baixa recolheu suas coisas e se retirou do quarto.

{β}

Yoongi estava com uma aula vaga, o professor que coordenava as atividades esportivas havia se ausentado por motivos de saúde e a escola estava arrumando um novo. Até lá eles teriam essas aulas vagas. Procurou por JB pela escola, o encontrando na sala de TV folheando um livro, sentou-se ao lado do alfa.

— Quer saber o que aconteceu? — JB não tirava os olhos das folhas.

— Sim, por favor. — Yoongi suspirou.

— A ômega de Mingyu encurralou Tae no quarto ontem, todos podiam sentir o cheiro dela de longe, e sendo espalhado pelo Tae correndo do quarto, pulando a janela enquanto fugia das amigas da vadia.

— Não sei como Mingyu ainda acredita na fidelidade daquela menina. Idiota foi ele de ter marcado ela tão cedo assim. — Min riu um pouco, sarcástico.

— Você ainda não quis marcar ninguém né, Yoongi? — foi então que JB tirou os olhos do livro, dando um sorriso um pouco triste para o colega. — Quando tiver de resistir a isso, quero saber se sua idéia mudará. — suspirou.

— Prometo contar caso continue a mesma. — Min riu com o outro, o acompanhando.

— Não espere algo diferente. — Yoongi apenas concordou e JB voltou ao assunto. — Mingyu juntou a gangue dele e deram um banho de tinta e penugem branca no Tae hoje. Mas o pior foi o que disse do pai e da mãe dele. Eu sei que a senhora Kim é falecida porque me lembro de meu pai me levar no enterro dela, Taehyung não era assim naquela época, fico feliz de reencontrá-lo tão diferente daquela criança retraída, fechada e tristonha.

Yoongi sabia que provavelmente era normal que Taehyung estivesse em luto quando a mãe morreu, mas conforme JB explicava, ele entendeu que aquele estado durou um ano. Ninguém ao certo sabe como ou porquê o alfa mudou, mas todos se alegraram quando a personalidade brilhante de Tae retornou, porém veio acompanhada de mudanças drásticas.

Não era certo julgar pessoas mortas e menos ainda falar dos mais velhos como se tivesse algum direito, mas algo no loiro fez com que ele fervesse ressentimentos por Tae. Ninguém além dele podia insultar aquele maldito alfa folgado. Ele não permitiria que humilhassem alguém assim sem motivos certos, e menos ainda mais alguém que não merecia.

— JB, você pode me ajudar com algo? — Yoongi tinha o olhar perdido.

— Bem, ao que noto você está bolando algum plano maléfico para ajudar seu amigo. — sorriu, fazendo o outro alfa sorrir junto. — Gosto disso. Só me diga o que devo fazer.