Havia acabado de colocar Crys para dormir. Shawn tinha saído com os meninos que tinham acabado de chegar em Miami. Desci as escadas com um cobertor e me instalei na sala ligando a televisão, estava passando um filme qualquer lá e fiquei tentando prestar atenção.
A porta foi aberta com certa brutalidade e escutei uma risada.
- Shawn? – perguntei preocupada, me levantei e andei até a entrada.
A porta não tinha sido aberta com força e sim, Shawn tinha caído no chão e tava rindo. Não acredito que deixaram ele encher a cara.
- Vida – falei fechando a porta e me abaixando do seu lado – O que fizeram com você?
- Oi meu anjo – disse com a voz embargada – Você é muito seeeexyyyy.
- Por Deus – falei tentando levantar ele.
Com muita dificuldade e quase caindo com o Shawn umas três vezes. Coloquei ele sentado no sanitário e tirei sua camisa, ele ficava rindo atoa, levantei ele e tirei suas calças e fui ligar o chuveiro.
Voltei para o quarto e peguei uma toalha limpa, quando voltei ele já tomava banho enquanto resmungava algumas coisas e ria. Entrei no box e pedi pra ele abaixar um pouco, esfreguei minha mão com xampu em sua cabeça e enxaguei. Nunca mais vu deixar Shawn sair com os amigos dele.
Percebi que tinha um corte em cima da sua sobrancelha. O que aconteceu?
Enxuguei ele e vim pro quarto puxando o mesmo. Peguei uma calça de moletom e vesti ele, peguei um pente e penteei seus cabelos, mas ele os bagunçou de novo. Deitei meu marido na cama e o cobri vendo ele pegar no sono. Sentei-me na janela observando a calmaria da rua e suspirei fundo.
Shawn não pode nem pensar em sair mais com seus amigos, beber pode se tornar um mal hábito e ele pode até ficar agressivo. Não quero que ele bata na Crys ou em mim, eu não sei como ficaria. Shawn não combina com o perfil de agressivo, mas só de pensar. Já é a quarta vez nessa semana e realmente estou ficando com medo.
Ainda bem que o Nash e o Cam chegam amanhã. Vão ser minha salvação.
Escutei barulhos de pássaros e uma claridade atravessando meus olhos, sinto alguém me pegar no colo e minhas costas se chocam levemente em algo macio, minha cama. Sou coberta e recebo um beijo na testa junto com um sussurro que não entendo.
- Acorda mamãe, acorda – gritava Crys pulando na cama – Tá nevando, ta nevando.
Olho pra ela que estava com um suéter de vaquinha, uma calça jeans e pantufa nos pés e com cabelo descabelado.
- Vou demitir seu pai – falei e ela riu – Olha seu cabelo.
- Não demite ele não mama – disse e se aproximou – Papai não ta bem hoje não – sussurrou em forma de segredo.
- Vamos arrumar esse cabelo vaquinha – falei correndo com ela nas minhas costas pro quarto da mesma.
Me joguei na cama com ela e andei até sua cômoda. Penteei seus cabelos e fiz duas trancinhas deixando cair sobre seus ombros.
- Passa perfume – pediu pegando o vidro em forma de borboleta.
- Só um pouquinho – falei e ela assentiu, dei uma borrifadinha no ar e ela correu atravessando a cada de perfume.
Desci as escadas com a mochila da Crys, ela implorou para dormir na casa da vovó, quer dizer, da minha mãe e a Dona Sinu já estava esperando no meio da neve.
Despedi-me delas e esperei até o carro partir. Sinto alguém atrás de mim e me viro fechando a porta. Olho para Shawn e ele estava com o olho roxo. Automaticamente levo minhas mãos à boca.
- Shawn – comecei me aproximando – Céus.
- Levei um soco ontem – acho que eu percebi, sabe, seu olho está igual à um repolho roxo.
- Você não pode mais sair com os meninos – falei e ele semicerrou os olhos.
- Por que não? – sua voz estava vazia.
- Você chega bêbado toda noite em casa e eu tenho que ficar cuidando de você – falei e ele se aproximou de mim, era o que eu mais temia.
- E daí? – rosnou.
- Eu não quero você chegando bêbado em casa toda noite e ainda mais sabendo que brigara – soltei com raiva.
- Você nem sabe o que o cara falou – disse embolado. Por Deus.
Ele se aproximou em passos duros.
- Não me bata, por favor – falei baixo sentindo meu corpo desabar com as lágrimas.
- Eu nunca vou bater em você – disse após um silêncio longo, como se ele estivesse processando meu leve surto – Nunca anjo.
Ele me envolveu em seus braços me puxando pra ele.
- Eu tenho medo de um dia você chegar agressivo – falei entre os choros e sito seu peito tremer – Eu tenho medo de você agredir a Crys ou... ou a mim.
- Nunca – ele chorava também – Minha situação está tão ruim assim?
- Você estava grunhindo pra mim agora pouco – falei e ele me abraçou mais forte.
Ele ficou em silêncio me abraçando forte, estávamos chorando como se algum ente querido estivesse morrido. Nossas discussões sempre acabavam assim. Em lágrimas de ambos e a dor no peito quase rasgando a pele.
- Não vou sair com ninguém hoje de noite – falou depois de longos minutos em pleno silêncio – Vou ficar aqui em casa, com você.
- Eu não quero te prender Shawn – falei fungando.
- Você não está me prendendo – falou passando a mão em meu cabelo em forma de carinho – Eu meio que estou fugindo, só queria esfriar a cabeça. As coisas pra mim estão difíceis.
- Por que você não fala o que é? – perguntei ficando sentada no chão de frente pra ele – Podemos enfrenar isso juntos, somos uma família Shawn.
- Não é tão simples como parece – pegou em minha mão e deixou um beijo em cima da mesma – Vamos tomar café, fiz ovos com bacon.
Ele se levantou junto comigo e me abraço enquanto íamos para a cozinha. Dava pra ver em seus olhos que o problema era maior do que pudesse aguentar, por isso bebia para a sanidade dele ir embora. Dói-me o peito de vê-lo sofrendo e não poder fazer nada e muito menos sequer saber o motivo.
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