Terminamos de fazer os arranjos e o buque bem a tempo do almoço, saímos com minha avó para almoçarmos, decidimos dar um passeio pela cidade, apenas para cumprimentar algumas amigas de minha avó, eu e Iris resolvemos deixa-la conversando com elas, enquanto voltávamos para a loja.
Decidimos pegar um caminho mais comprido, não tínhamos pressa para voltar, afinal é verão e praticamente eu e Iris estamos indiretamente de férias.
A caminho mais longo passa pela entrada de um pequeno anfiteatro com vista para o mar, assim que passamos perto da entrada, ouvimos o som de um violão, pessoa batendo palmas em som ritmado, castanholas e pisadas fortes no chão.
Sabíamos de que se tratava.
Atravessamos o arco e eis que vemos Amanda no palco, dançando flamenco ao som do violão e das palmas, ela dançava com um pouco de dificuldade devido ao vestido que lhe prendia as pernas, mas ela ainda assim dançava bem.
Aqueles homens e mulheres deviam fazer parte da família dela, eu nunca os vi, será que vieram para vê-la dançando?
Amanda terminou sua dança com uma pose clássica de uma dançarina de flamenco, uma mão na cintura e a outra no alto.
-Isso foi...
-Terrível! -Uma idosa me interrompeu, ela estava sentada na escada - Você precisa bailar com el corazón!
-Pero abuela, yo no puedo com este vestido, ele prende minhas pernas. -Amanda protestou.
Ao lado da idosa se encontravam Ana, Louis e Matt que provavelmente estavam assistindo a dança de Amanda.
-Deixe de ser frouxa! -Disse a avó. -Vou te mostrar!
A velha espanhola deixou a bengala na escadaria e subiu no palco, ela soltou alguns passos fortes e movimentos das mãos, ela com aquela idade fez muito melhor que Amanda, bem em minha opinião pelo menos.
-Viu como não é difícil? -A avó perguntou- É apenas questão de praticar, realmente é uma vergonha uma espanhola não saber dançar flamenco!
-Mas abuela -Disse Amanda -Eu preciso dar um jeito nesse vestido, não vou conseguir dançar com ele!
-Senhora -Disse Louis se levantando – Será que eu poderia ajustar o vestido da Amanda? -Ele pegou a bengala e entregou para a idosa. -Pelo menos deixa-lo um pouco mais livre, depois ela pode voltar e praticar.
A idosa suspirou.
-Está bem-Disse ela -Vamos voltar para casa, depois retornaremos e Amanda irá praticar até ela aprender ou os pés delas sangrarem.
Amanda estremeceu com a ideia, mas aceitou.
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Entramos no quarto de Louis, ela pegou um banquinho de ébano e pediu para que Amanda subisse no mesmo.
-Então... -Disse Iris- Quem era a chupadora de limão?
-Ela é minha avó – Disse Amanda um pouco indignada -Ela só tem esse humor quando o assunto é flamenco, ela tem um estúdio de flamenco em Madrid, ela é muito exigente neste assunto, mas não se preocupem, depois que o festival passar ela vai voltar ao normal e depois de uma semana, ela retorna com meu avô e meus tios para Madrid.
Louis tirou do armário uma caixinha rococó com uma caixa de costura em estilo vintage, de lá ele tirou uma tesoura.
-Não se mexa -Disse Louis- Vou me livrar desta cauda de sereia, e vou colocar babados pretos tanto na saia quanto na manga, e ainda se quiser posso colocar algumas rosas vermelhas.
-Melhor, cravos vermelhos -Disse Amanda -O cravo é a flor nacional da Espanha.
-Amanda, você sabe muito bem que cravos vermelhos significam ai meu pobre coração -Eu disse.
-É apenas um significado -Ela disse em resposta- Eu não estudo a linguagem das flores.
-E elas falam? -Matt perguntou.
-Não nesse sentido, mas cada uma tem seu significado e seu jeito. -Eu respondi.
-A flor nacional da França é a iris -Disse Louis -Mas eu realmente amo o crisântemo.
-Crisântemo significa estou apaixonado -Eu disse- E íris significa mensagem.
-Gente eu sou mensageira -Disse Iris dando pulinhos.
-Só se for das más notícias -Disse Ana.
Iris bufou com a atitude da namorada, mas logo depois a abraçou.
-Eu bem que gostaria, que o Alex fosse o crisântemo -Disse Iris.
-O que quer dizer? -Eu perguntei.
-Quero dizer que gostaria que você se apaixonasse -Disse Iris- Eu quero te ver fazendo um casamento celta, ou melhor wicca, bem não importa, eu quero ver você se casando.
-Quem liga -Eu disse- Vamos logo com o vestido, deveríamos voltar logo a loja, e nem vem me deixar ir sozinho, você vai vir comigo Iris!
Louis por fim cortou o fio da cauda de sereia, o vestido se abriu em um instante.
-Minhas pernas estão livres agora -Disse Amanda dando uma rodadinha em cima do banco- Você consegue fazer todas aquelas melhorias no vestido até o final de semana Louis?
-Definitivamente, é minha paixão costurar -Disse Louis.
-Achei que você e seus pais pintassem quadros -Eu disse.
-Pelos menos é o que eles querem, não que eu não goste de pintar, mas prefiro deixar isso como hobby e não como profissão -Disse Louis enquanto pegava uma fita métrica e media Amanda- Eu quero ser estilista, eu vim da capital da moda, de lá que vem muitas tendências, se eu quisesse ser pintor eu teria nascido em Florença na Itália, afinal lá é o berço renascentista.
-Não há um berço próprio para a arte -Disse Ana -Cada cultura tem seu jeito de se expressar.
-Concordo com Ana -Disse Matt- Cada cultura tem seu estilo, claro menos que você queira pintar no estilo renascentista, fora isso, arte é arte.
-De qualquer forma eu não quero virar pintor ou escultor -Disse Louis- Quero essas coisas como um hobby. -Ele media e anotava em um caderno – Bem, eu já terminei as medidas, prometo fazer o meu melhor.
-Eu vou ir com o vestido do jeito que está para praticar., no final do dia eu venho entregar para você ou caso você não esteja, vou deixar com seus pais.
-Por falar em praticar -Eu disse – Que tal a noite irmos para escola, eles abrem a sala de dança para praticar, fora que eu já enviei mensagens para os garotos com quem eu vou dançar Sirtaki.
-Eu ainda preciso ensaiar Tchaikovsky -Disse Ana.
-Qual obra? -Eu perguntei.
-Quebra nozes -Ela respondeu- Eu pretendo dançar a dança da fada açucarada.
-Você já não é doce o suficiente? -Amanda perguntou- Só não derrete na chuva porque é de carne.
-Não seria dissolver? -Matt perguntou.
-Cala a boca amor -Amanda disse em resposta- Não venha me corrigir numa hora dessas.
-Se não? -Matt desafiou.
-Eu faço greve de sexo -Ela ameaçou.
-Mas nós nunca fizemos -Matt disse.
-E nem vamos se você continuar sem fazer se você continuar me corrigindo na frente de nossos amigos.
-Eu não ligo -Matt retrucou mostrando a língua- Não queria mesmo.
-Deixa ele Amanda -Eu disse- A maioria das vezes ele vive fazendo cu doce para você.
-Ei! -Matt exclamou.
-Não podemos esquecer de que ele é um pau mandado -Disse Ana.
-E sem falar que ele bebe chá de mindinho levantado -Disse Iris -Coisa mais fresca isso impossível.
-Eu to aqui! -Matt exclamou mais alto.
-É -Disse Iris- Nós sabemos e não ligamos nem um pouco, ainda vai chegar sua vez de jogar uma verdade na nossa cara.
-Tá legal sapateira -Matt retrucou para Iris.
-Obrigado querido -Iris disse sem se importar com a ofensa.
-Podemos ir logo antes que isso termine em briga? -Ana perguntou. -Da última vez que Iris e Matt começaram com indiretas, Iris arrancou um tufo de cabelo do Matt.
-Foi a era negra das toucas -Disse Amanda- E elas eram tão fora de moda, mas ainda assim eu amo esse lindo.
Amanda e Matt esfregaram os narizes, que nojo, coisa mais melosa, eu preferia ver briga.
Agradecemos a Louis e saímos da casa do mesmo.
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O dia se passou, eu e Iris cuidamos da loja, não tivemos nenhum cliente interessante.
Após fecharmos a loja e jantarmos, tomamos rumo para a escola de Ánemos.
A escola Atena, é muito pequena, composta por apenas 6 salas de aula, uma sala de dança, outra de artes, uma quadra pequena para praticar vários tipos de esportes e uma horta, um refeitório muito pequeno e uma horta.
Assim que eu, Iris e Anastácia entramos na sala de dança já demos de cara com algumas garotas do grupo dedaleiras.
Nós três decidimos ignora-las, mas uma delas veio em nossa direção.
-Ora essa -Disse ela, seu nome era Lívia -Vejam só meninas se não são as duas lésbicas ridículas, acompanhadas do eterno virgem.
Eu não me ofendia com isso, mas fingia me ofender, pois assim ela não mudaria a provocação.
-Viu só gente -Disse Iris- Fica falando tanto no demônio que ele acaba aparecendo.
-Engraçadinha -Disse Lívia.
-Obrigado, é uma das minhas qualidades -Iris disse- Já você não é nem um pouco engraçada, mas é bonita, isso eu respeito.
-Eu sei que sou bonita -Respondeu o demônio em forma de uma garota chamada Lívia- Pena eu não poder dizer o mesmo de você.
-Faça como eu, minta descaradamente -Disse Iris dando de ombros- Mesmo porque beleza um dia vai embora e o que fica é caráter, uma coisa que você provavelmente nunca vai ter, e nem vai se importar de ter ou não ter.
-Não fale assim com ela -Disse uma das garotas- Ela é legal.
-Dá licença que a conversa ainda não chegou no rebanho -Disse Iris- Eu estou falando com a pastora, mas pelo visto ela deve estar de saída, a menos que ela queira ficar aqui para receber uma voadora.
O rebanho não disse nada, Lívia, ou melhor, a pastora apenas empinou o nariz e saiu.
Esperei alguns minutos até os garotos com quem eu iria dançar Sirtaki chegaram, eu não os considerava amigos, mas eram legais, são como posso dizer, colegas.
Passamos duas horas praticando o Sirtaki, precisávamos fazer passos inteiramente iguais, mas por fim melhoramos muito durante aquelas duas horas, até que então chegou a hora da escola fechar, assim que saímos de lá encontramos Louis.
-O que faz aqui? -Iris perguntou.
-Vim ver a escola onde eu vou estudar no outono -Ele respondeu- E claro vim ver o Alex.
-E quanto a mim e a Ana? -Iris perguntou fazendo bico.
-Ah claro vocês duas também.
-Deixa de ser falso, pode dizer que eu sou irritante -Disse Iris.
-Você é irritante -Disse Ana.
-Não você, ele! -Iris exclamou.
-Eu já respondi por ele -Disse.
-Palhaça -Disse Iris- Vai dormir na minha casa hoje?
-Talvez Iris, eu precisava terminar alguns vitrais para os meus avós, mas eu vou para te alegrar.
Iris deu pulinhos e beijou Ana, era realmente fofo ver as duas, Iris é inquieta como um filhotinho de gato, já Ana era calma como... como... ora como as Magnólias, flores que só se movem através do vento, um equilíbrio único.
Eu e Louis deixamos as duas sozinhas.
-Por que veio me ver? -Eu perguntei.
-Bem, na realidade, porque você é um amigo -Louis respondeu- Eu me dou mais bem com você do que com todos.
-Sei como é -Eu disse- Me dou bem mais com Iris e Amanda do que com Ana e Matt, mas não deixo de conversar com eles.
Segui conversando com Louis até a casa dele.
Paramos na porta.
-Mal posso esperar para te ver dançar. -Disse Louis- Já me lembro de ter visto Sirtaki algumas vezes, mas nunca na própria Grécia e dançada por um grego.
-É um pouco complicado, mas não é difícil -Eu disse- Eu estou um pouco nervoso, mas espero conseguir, acho melhor eu voltar para casa.
-Bem, te vejo amanhã? -Ele perguntou.
Eu assenti, ele sorriu e entrou.
Com isso eu fui para casa, tomei um banho e literalmente capotei na cama.
Estava exausto de tanto dançar, mas estava ansioso para o festival, afinal não é todo dia que pessoas novas vão te ver dançar uma clássica dança grega.
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