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História Between the Stars - Between the Stars


Escrita por: Kvothez

Notas do Autor


Olá, pessoas! Antes de mais nada, gostaria de dizer que essa fanfic é recheada de referências das mais diversas possíveis. Indo desde referências da Mitologia Árabe até referências da Mitologia Nórdica e por isso quero alertá-los de que não mantenho a total fidadelidade das suas respectivas mitologias, até porque dentro das suas próprias estórias outras mitologias não se encontram. E se tantos autores aclamados podem fazer referências a mitologias que não se cruzam uma mera escritora coadjuvante como eu não precisa sofrer retaliação por isso. Digo isso, pois amantes de uma mitologia específica, por vezes se sentem incomodados com a deturpação e infidelidade que as pessoas fazem com a mitologia que tanto amam.

As referências estão enumeradas e nas notas finais vocês podem conferir seus significados, caso não saibam de antemão o que significam.
Enfim, espero que gostem da minha fanfic, uma boa leitura!

Capítulo 1 - Between the Stars


Moira ainda estava na sua jornada que perdurava-se por alguns tantos anos... quantas Luas e quantos Sóis sumiram no horizonte desde sua partida? Ela não lembrava, mas tão pouco fazia questão de lembrar, a verdade é que ela só se preocupava com o destino que aquela longa caminhada a levaria. Por quantos lugares ela havia passado? Quantas pessoas conhecera? A vantagem de quem tem muita experiência em vida é poder conhecer mais do mundo que a maioria. Certa vez, um Djinn¹ lhe prometeu um desejo. Se ela pudesse desejar de verdade... mas não, ela sabe que não poderia, até porque Djinn’s aliciam as pessoas com a dádiva de um desejo e no final lhe roubam anos de vida equivalentes a proporção do desejo. Moira teve a oportunidade de conhecer um Djinn na sua árdua jornada, mas por toda experiência que lhe cabia, a jovem sabia como lidar com qualquer nefasto Djiin. Quando eles ofereciam algum desejo bastava dizer “Meu desejo é tudo o que você não pode desejar”, isso compelia qualquer Djiin, era seu ponto fraco e fazia-os envelhecer quase até a morte, dependendo de quantas vidas eles haviam usurpado durante suas existências malignas. Moira havia aprendido sobre o ponto fraco dos Djinn’s com um honroso Centauro chamado Quíron² que foi seu primeiro objetivo na sua longa caminhada.
Moira só tinha um único e grandioso desejo: tocar as estrelas, e ela aprendera que esta era uma das tarefas mais penosas, duras e difíceis no mundo, pois mesmo caminhando por muito e muito tempo, ela jamais conseguiu encostar nas estrelas e este era seu único desejo na vida. O majestoso centauro Quíron de Tamed foi o primeiro a lhe dar uma resposta de verdade. Ele não sabia como tocar as estrelas, porém ele sabia quem tinha as respostas que a pequena Moira buscava. Procurar um certo féerico³ da floresta de Elba se mostrou tão difícil quanto tocar nas estrelas, Moira aprendeu isso da pior maneira possível. Quantos passos aquela menina pálida com os cabelos acobreados havia dado? Seria um número um tanto interessante de se somar, mas o fato é que este número teve de cessar quando Moira chegou à floresta Elba, assim ela pensou.

– Olá, o que faz aí pintando máscaras? – Indaga Moira curiosa.

– Eu preciso pintar para viver. – Responde uma jovem de joelhos, sem tirar o olho da sua máscara, como se fosse à coisa mais óbvia do mundo.

Moira não satisfeita com a resposta volta a indagar aquela que estava de joelhos:
– Como pintar máscaras poderia lhe ajudar a sobreviver?

A jovem de longos cabelos loiros que passavam a cintura havia bastante tempo levantou a face mirando Moira e conforme apontou para cada máscara ela citava também sua função. – Essa aqui é uma máscara para momentos difíceis. Ela é muito útil, pois me ajuda a ser forte quanto preciso. Fiz ela depois que um velho passou pela floresta. Ele era calmo e paciente, era claro que ele seria uma ótima escolha para pintar, melhor que a máscara anterior, sabe? Humanos anciões possuem uma sabedoria que muitos seres feéricos com centenas de anos jamais puderam ter, deve ser porque estão perto do fim.

– Você o matou?! – Moira pergunta Moira um tanto exasperada já ficando em alerta por puro reflexo. A pequena certamente não tivera muitas experiências boas na vida.

A jovem que até então estava de joelhos sorri e senta no gramado envolvendo os braços nas pernas. – Não sua tola, eu pinto, não está vendo? Eu desenho o rosto daqueles que vi e deposito suas emoções nas máscaras e quando as visto, eu adquiro os sentimentos que eu desejo do humano pintado. Compreende?

Moira faz que sim com a cabeça, então, a jovem esbelta foi dizendo a emoção preponderante de cada máscara que ela havia feito. E por último, ela tirou a própria máscara que cobria seu rosto, o que fez Moira se sobressaltar, pois a jovem visivelmente parecia não ter nenhuma máscara, o que fez a pequena Moira raciocinar que as máscaras na verdade encarnavam no rosto da bela loira.

– Essa é a máscara da beleza. Me faz, obviamente ficar mais bela. – Explica a jovem féerica.

Moira olha perplexa para aquela que estava a sua frente. A mulher que estava a sua frente há um minuto já era linda e agora, sem máscara possuía uma beleza etérea que ela jamais poderia imaginar existir no mundo. Mas será... que aquela feérica já tinha visto sua própria imagem antes?  – Qual seria seu nome? – Indaga Moira.

– Ah, eu não poderia revelar o meu verdadeiro nome. Nomes são importantes sabe? Eles dizem muito do que somos e podem ser uma arma se usados contra nós⁴, mas pode me chamar de Eveline.

– Eveline, alguma vez você já viu sua própria face? – Questiona delicadamente Moira.

– Claro que não! – Fala Eveline quase como se aquela pergunta fosse um desaforo. – Sabe, eu sou uma pessoa muito ocupada, preciso colher emoções e aparências, se não como posso viver? Você por acaso vive sem suas emoções? Então, como eu poderia viver sem as minhas?! É por isso que nunca paro de coletá-las. Minhas máscaras tem durabilidade, e se então minha máscara da felicidade for roubada ou eu acidentalmente cair com ela e quebrá-la? Jamais conseguiria ser feliz!

– Desculpe-me. – Moira não fala nada durante alguns minutos, estava com receio de ser dispensada por Eveline, por isso ficou ali, do seu lado, por uns minutos vendo-a pintar descontraidamente outra máscara, até que tomou a palavra de novo. – Mas você precisa comer e beber, nunca olhou para seu reflexo em um rio?

Eveline, mais uma vez levanta seu olhar e o direciona para Moira. Ela já havia colocado a máscara de beleza de novo. – Alguns seres féericos não comem. Alguns vivem de luz, outros da escuridão ou dos elementos da natureza ou da felicidade ou até mesmo da infelicidade. Já eu, sou alimentada pela luz do Sol, aliás, muitos féericos o são. Sol é uma grande fonte de vida. – A jovem loira sorri quando toca no nome do Sol, então prossegue. – Mas bem, nunca vi um rio, apesar de terem muitos aqui perto, nunca precisei de um, afinal. – Depois de alguns segundos ela conclui. – Não sabia que eles tinham a função de refletir nossa imagem.

– Pois tem. Eles são essenciais para as pessoas normais, além de serem uma fonte grandiosíssima de alimentos. Gostaria de ir comigo até um rio próximo? – Convida Moira esperançosa.

Moira pode ver que Eveline refletiu por alguns instantes sobre, parecendo bastante em dúvida se valeria a pena gastar alguns minutos da sua vida com outra tarefa se não pintando suas adoráveis máscaras e foi por isso que Moira se mostrou surpresa com a resposta daquela feérica tão excêntrica:

– Alguns minutos, de certo, não prejudicarão meu grande trabalho. Mas receio... assustar-me com minha imagem? Talvez não seja melhor que eu jamais me surpreenda com o desagrado de mim mesma? Curiosidade certamente não é uma virtude.

– Isso depende da dosagem, tudo em excesso é ruim. – Moira sorri para Eveline e a pega repentinamente da mão e a conduz até um rio. Era fácil saber onde havia rios, em um paraíso rico de fauna e flora, era só seguir os animais que eles levavam a fonte de água mais próxima.

– Aqui. Você só tem que olhar para água e ela refletirá sua imagem, mas primeiro você tem que tirar a máscara da beleza. – Sugere sabiamente Moira.

Desde que chegara ao rio, Eveline não falara absolutamente nada, e parecia ter os olhos vidrados na imensidão cristalina do rio. – É tão lindo. – Quebrou o silêncio com os olhos um tanto lacrimosos. – Será que se eu pintar o rio, eu me tornarei um só com ele?

– Nem tudo que admiramos precisa fazer parte da gente, Eveline... Tem coisas que bastam serem admirados. Compreende? – Indaga espontaneamente à ruiva.

A feérica tocou seus dedos na água e deixou algumas lágrimas escorrerem pela sua face silenciosamente, por mura admiração.

– Vamos, encare sua verdadeira face, eu estou aqui, não precisa ter medo. – Moira repousa sua mão com ternura no ombro da féerica.

Eveline, então, pausadamente retira sua máscara da beleza e com os olhos fechados encara o rio, então aos poucos abre seus olhos. – Eu... eu sou bonita?! – Sorri a feérica um tanto desvairada quebrando o silêncio e a tensão.

– Claro que sim! – Contrapõe sua mais nova amiga, categoricamente.

Ainda contemplando sua imagem, Eveline indaga. – Eu posso ter algo que é só meu, que eu não precise pegar de alguém é isso?!

Moira se abaixa para ficar na altura do olhar da feérica mais bela que ela já havia visto, então retira uma mecha de cabelo do seu olho e responde com sinceridade afável:

– Simplesmente não dá para copiar todas as emoções do mundo sabe? Em alguma parte de você, a alegria de finalmente poder se vislumbrar parte exclusivamente de você. Nenhuma outra pessoa, afinal, poderia ficar feliz por um ganho próprio como este, não se for alguém desconhecido...  e lá no começo, mesmo antes de coletar qualquer emoção oriunda de um humano, a iniciativa de fazer isso partiu unicamente de você, de uma vontade própria.

Eveline estava estática e lívida encarando Moira. De repente, com uma expressão decidida, ela começa a tirar uma máscara, depois outra... e assim sucessivamente, até que não restou mais nenhuma máscara para retirar. Moira, ficou ao seu lado, presenciado cada máscara sendo retirada e cada vez que sua nova amiga fazia isto, ela estremecia. Deveria ser um choque tremendo, perder tantas coisas que fizeram parte de Eveline por tanto tempo, pensou a jovem ruiva.

– Como se sente? – Indaga Moira, quebrando o silêncio que se estendia depois de alguns minutos, após a decisão da féerica.

Eveline estava mais séria, mas ao mesmo tempo com um olhar sereno. – Tão mais leve, é como se eu enxergasse o mundo de outra forma. Então, afinal, eu tinha sentimentos, emoções e até uma beleza própria! Mas a beleza não importa, afinal. A máscara que eu vestia antes me fazia linda, mas não me fazia plena.

Moira sorri por ver que a nova amiga estava bem. Ela estava preocupada que ela pudesse ter tido algum colapso depois de perder tantas coisas que sempre fizeram parte dela. – Eveline, posso perguntar algo?

– Responderei quantas perguntas quiser, desde que elas estejam no meu poder de entendimento, é claro. – Contrapõe gentilmente à bela feérica.

Estou procurando um feérico ou uma feérica dessa floresta que possa dizer aonde posso encontrar o velho druida⁵ de Aran. Saberia me dizer aonde posso encontrar o feérico com estas respostas?

– O velho druida de Aran da província de Zair? Qualquer féerico de Elba sabe sobre ele é claro, mas a questão é como você sabe sobre ele? Nenhum humano normal sabe sobre ele...  – Eveline olha a amiga dos pés a cabeça para se certificar se ela era normal mesmo. – Você com certeza não é feérica, mas algo me diz que você possui alguma peculiaridade...

– Eu tenho um sonho. Um grande sonho e não vou sossegar enquanto não o realizar. – Contrapõe Moira categoricamente.

– E que sonho seria este? – Pergunta Eveline.

– Tocar as estrelas. 

A feérica replica gesticulando com os dedos no queixo, pensativa. - Hmm... você tem um sonho um tanto grande demais, diria utópico se não conhecesse o velho druida de Aran, qualquer feérico desta floresta sabe disso. Mas o que ganharia tocando as estrelas? 

Moira hesitou antes de dizer, mas Eveline ganhara sua confiança e não era uma das tantas pessoas ruins que conhecera em vida. Então, poderia contar-lhe. – Meus pais. Eles sempre disseram que lá é onde os sonhos podem ser realizados. Diziam que era o melhor lugar do mundo.

– Ah, sim. O druida disse que era! – Afirma a feérica e acrescenta. – De toda forma, eu prefiro viver na floresta de Elba a viver lá, amo esse lugar. E agora que descobri que posso viver da minha maneira sem depender dos outros finalmente posso encontrar a plenitude que eu não conseguia saciar copiando tantas emoções e aparências por tanto tempo. – A feérica se deixa cair de costas na grama.

– Então de fato existe um meio de tocar as estrelas! – Moira não consegue esconder seu entusiasmo.

– Creio que sim, o druida já deve ter falado isso algumas vezes quando passou por aqui... – Replica Eveline.

Sem querer se prolongar demais, a garota vai direto ao ponto. – Sabe como posso encontrar ele?

– Ele mora no centro do mundo, perto da grande árvore. Pessoas normais não conseguem chegar lá se não com a benção de um féerico confiado do druida. A propósito, ele é o guardião da grande árvore. E é claro, eu concederei minha benção para que chegue lá. É um lugar inacessível e encantado, pessoas quando passam por lá só vislumbram um lugar deserto e sem vida o que é um tanto irônico tendo em vista que é o lugar mais rico tanto em flora quanto em fauna que existe neste mundo.

Moira fascinada pelo que Eveline lhe diz não consegue conter sua alegria e parte para um abraço carinhoso na feérica que estava deitada, o que para ela foi um tanto esquisito. Embora, ela conhecesse muitos humanos, ela jamais tocou em nenhum, sempre mantendo distância deles e se certificando de gravar suas imagens para reproduzi-las nas suas máscaras depois. Foi por isso, que ela descobrira um novo sentimento com o calor daquele abraço que até então lhe era desconhecido, de modo que era mesmo verdade, nem todos os sentimentos do mundo poderiam ser copiados.

Já era noite, por isso Eveline convidou sua recém-feita amiga para dormir aquela noite com ela o que fora feito na copa de uma das árvores da floresta de Elba. Eveline também descobriu que poderia comer. Embora não precisasse, ela descobriu que comida era definidamente uma das melhores coisas que existia, um prazer que ela nunca mais se desvincularia.

Na manhã seguinte, Moira se despediu da mais bela feérica que ela havia conhecido e finalmente partiu, depois de receber a benção que garantiria que ela pudesse entrar nos domínios onde se encontrava o maior druida do mundo. Eveline, por outro lado ficou observando a mais recente amiga ir embora com pesar. Seria uma bela recordação ter uma máscara, talvez ela devesse ter pedido sua aparência emprestada para uma... Moira seria perfeita para máscara de sabedoria e maturidade.

[...]

Outros tantos passos dados, outra longa viagem. Mas essa era a última... Moira ansiava para que fosse. Ela já estava andando há tanto tempo... ela estava tão cansada...

Um sussurro.

Uma voz.

– Ei, acorda, menina. Não é bom dormir no chão nu, você pode adoecer.

Moira tinha a visão turvada e enxergava um vulto embaraçado diante dos seus olhos. Sua voz parecia distante e esganiçada e aos poucos tanto sua imagem quanto sua voz começaram a ganhar nitidez.

– Tome aqui beba. – Disse a voz com lucidez.

A jovem ruiva bebeu aquilo que lhe foi oferecido e um minuto depois já estava o suficientemente bem. Ela olha para o céu. Estava escuro, já era noite. Mas aonde será que ela estava? Então a menina presta atenção na pessoa que havia lhe acudido. Era um homem bastante velho que agora atiçava o fogo das brasas que pelo visto aquecia tanto ele quanto ela.

– Tome, você não deve comer há dias, além disso vai te esquentar. – O senhor alcança algo para Moira que ela não reconheceu de imediato, e assim que segurou quase queimou as mãos, estava bastante quente. Eram batatas e logo ela se pôs a comer uma.

– Obrigada por me ajudar. Eu devo... ter desmaiado? – Inicia a conversa a jovem ruiva ainda com a boca cheia.

O velho termina de comer sua batata e só então responde:

– Sim. Eu tive que te carregar até aqui, foi por sorte que eu te encontrei, o lugar no qual você desmaiou era repleto de animais selvagens. Era perigoso ficar lá.

Embora Moira achasse que não precisava ser acudida, ela agradece a bondade do homem. – Obrigada, mas eu preciso ir... já estou me demorando demais, preciso chegar ao meu destino logo, por isso se o senhor me der licença... – Mas Moira não consegue terminar sua fala, pois é interrompida.

– Fique onde está. O lugar no qual você tem que ir não irá fugir, por isso acomode-se menina. Ai, ai, estes jovens de atualmente...
Moira obedece ao senhor, mas replica ao se sentar:

– Eu não diria que sou tão jovem assim.

– Passar por muitas coisas e ter muitas experiências certamente amadurecem as pessoas. – O senhor então mostra um sorriso gentil e Moira se desarma. Ele certamente não parecia uma má pessoa, aliás, foi ele quem a ajudou quando havia desmaiado, de modo que não havia teria motivo para desconfiar dele.

– Certo, acho que posso ficar mais um pouco antes de partir. – Moira pega mais outra batata e olha para o redor admirando o cenário lindo daquela noite. As estrelas estavam excepcionalmente lindas e resplandecentes. “Eu ainda haverei de lhes tocar”, pensou com determinação. Ainda admirando o cenário daquele lugar misterioso, sua visão é direcionada a uma certa árvore, mas não uma árvore qualquer, mas sim uma árvore gigantesca que se perdia nas nuvens. Era a maior árvore que ela havia visto em toda vida.

– Por Tehlu⁶, que árvore colossal é essa?!
– Bem, se espera que seja grande, afinal é a árvore que sustenta o mundo, a nossa grandiosa Yggdrasil ⁷. – Explica o senhor com sabedoria.

– Não me diga que eu cheguei... ao centro do mundo?! – Indaga Moira com apreensão e ansiedade, pulando instantaneamente da pedra onde estava sentada.

– Certamente que sim. – Responde sorrindo o velho.

– Eu procuro um ancião druida que guarda essa árvore, o senhor poderia me ajudar a encontrá-lo?! – O tom de voz de Moira era quase de suplicação, mas ela se conteve o suficiente para não parecer estar desesperada.

– Claro, mas receio que não precisemos encontrá-lo... – Contrapõe o ancião com uma pausa para tomar um hidromel e fumar seu cachimbo que faziam desenhos com a fumaça. Não era algo que poderia ser visto todo dia. – ...pois sou eu quem procura.

 Moira por um segundo inteiro para de respirar e então volta à razão. Ela então pensa com arrependimento sobre a maneira rude com quem tratou o maior druida do mundo. “Como fui tola”, mentaliza a jovem.

– Receio que você não tenha idade para beber hidromel ou fumar. Aceita chá de hibisco? – Oferece o senhor.

A jovem de cabelos acobreados franze o cenho com a afirmação do druida, mas aceita de bom grado.

– Ocorreu uma ideia a Moira e ela resolveu tirar sua dúvida.  – Por acaso o senhor sabe por que estou aqui?

O ancião afirma com a cabeça.

– Então, poderia me ajudar?! – Clama um tanto exasperada a jovem.

– Se acalme menina. Na verdade, não é difícil alcançar o seu sonho. Ele está diante dos seus olhos. Você simplesmente só precisa escalar esta árvore, ela é ligada ao céu. Assim, você conseguirá tocar suas sonhadas estrelas.

Moira não conseguiu conter sua felicidade deixando um sorriso largo tomar conta do seu rosto. No mesmo instante ela se levanta e quando vai fazer menção de ir em direção a Yggdrasil para escalá-la, novamente o druida lhe repreende. – Você certamente não se importa de esperar mais um pouco depois de tanto tempo. Estou errado?

A jovem contém sua felicidade, afinal não era justo fazer desfeita com a pessoa que tornaria seu sonho realidade.

– Sabe, o que é propicio em fogueiras como essa? – Indaga o ancião com serenidade.

Moira apenas responde que não e o homem contrapõe. – Histórias é claro. – Sorri ele.

A jovem captou que não sairia dali, enquanto o druida não tivesse satisfeito com sua companhia. “Ele deve ser uma pessoa muito solitária, pelo jeito”, pensou a jovem. Então ela relaxa e resolve ceder às vontades do ancião. – O senhor gosta de contar histórias? Acho que estou disposta a ouvir uma, faz um tempo que não ouço alguma.

Em resposta, o druida toma mais um gole do seu hidromel e traga a erva do seu cachimbo, então acena com a cabeça e começa a contar à história que estava com tanta ânsia de contar:

“Há muito tempo atrás, um anjo de Tehru estava triste, pois invejava os humanos. Ele era imortal em carne, poderia viver para sempre, mas se morresse, sua existência se dissiparia. Já os humanos, quando morriam em carne, tinham suas almas guardadas pela eternidade. Para ele, essa era a imortalidade de fato. Por outro lado, havia uma humana que desejava mais do que tudo ser imortal em carne. Ela adorava a vida material e por isso desejava mais do que tudo viver para sempre com seu corpo. Por casualidade, um dia esses dois indivíduos se encontraram e resolveram fazer uma troca. Graças a um Djiin isso foi possível, o anjo de Tehru lhe concedeu muitos anos de vida, coisa que não seria possível a um humano normal, com isso, ele ganhou um corpo humano e uma alma imortal, já a humana se tornou um anjo de Tehru e obteve a imortalidade da carne...”

– Então eles conseguiram ser felizes? – Interrompe Moira interessada na história.

– Eu não diria isto. Eles acabaram se apaixonando, afinal. E por causa das suas escolhas ficaram fadados a viverem separados e eles só poderão se encontrar de novo depois da morte do anjo de Tehru que se tornou humano, ou seja, quando ele alcançar a velhice e padecer pela idade.

– Então ele morreria e viveria como um espirito no mundo espiritual ao lado da amada que se tornou um anjo de Tehru, estou certa? – Indaga a jovem um tanto curiosa.

– É por aí. – Contrapõe o ancião.

– Mas e se ele tirasse sua própria vida, ele não haveria de alcançar sua amada mais cedo? – Questiona a jovem.

– Você certamente tem o poder de acabar com qualquer história. – Afirma o senhor sorrindo e logo acrescenta. – Mas não. O anjo de Tehru que se tornou humano resolveu cumprir com seu destino. Não seria justo aos olhos dele chegar àquilo que mais desejava pelos meios mais fáceis. Se ele desejou uma alma imortal, que ele arque com a vida dura de humano primeiro, para que depois seja recompensado com a eternidade e seu amor. Mas a vida de humano foi um tanto árdua para ele, tendo em vista que resquícios da sua divindade ainda eram presentes, de forma que ele viveria mais do que um humano normal, por alguns séculos.

–O senhor parece conhecer bem essa história. – Admira-se a ruiva.

– Eu conheço muitas histórias, minha jovem, mais do que a maioria sonharia em conhecer. – Replica o senhor.

Conversando por mais uma hora, finalmente o ancião cede. – Creio que não devo mais te segurar, pois eu não tenho poder de fazer isso para sempre, embora eu preferisse que ficasse.  Estava me sentindo solitário ultimamente. Muito obrigada pela companhia, ela é deveras agradável, menina. Então, quer que eu te acompanhe até a árvore?

– Não seria um incomodo? – Responde a jovem, feliz em saber que sua companhia satisfazia alguém.

– Claro que não. Eu sou o guardião da Yggdrasil, afinal. É meu dever zelar por ela. Espero que você não inflija nenhum dano à árvore, enquanto subir é claro. – Afirma o senhor.

Exalando confiança a jovem responde:

– Pode deixar. Não farei nenhum mal à árvore.

Assim, a passos lentos, a jovem e o velho rumam para maior árvore do mundo, que ficava no centro da Terra e era guardada pelo mais sábio dos druidas. 

– É aqui que nos despedimos. Foi um prazer conhecê-la. – O druida faz uma reverência contida para jovem, enquanto se apoia em sua bengala.

– O prazer é todo meu. Espero que nos vejamos algum dia. – Moira faz outra reverência em resposta ao do velho postado em sua frente, então finalmente começa a trilhar o caminho pelo qual estava destinada há tanto tempo, só que dessa vez, ela não precisaria caminhar, mas sim escalar.

[...]

Lá estava Moira, há horas escalando Yggdrasil. Porém, ela não estava nenhum pouco cansada, bem pelo contrário, cada vez que subia mais ela ficava mais e mais motivada. A menina já havia passado as nuvens e se encontrava a poucos metros das estrelas... estava quase lá... faltava um pouco... ela chega ao topo da árvore, então estende suas mãos para as estrelas que estavam tão perto dela... e em um suspiro Moira cai.

De braços abertos, Moira recebe a imensidão do vento e do ar. Então, fecha os olhos e começa a se recordar de algumas coisas da sua vida... seus pais falando sobre as estrelas... sua aldeia sendo incendiada a mando do rei, por causa de uma peste que havia se alastrado naquela região... ela vendo a pessoa que amava sendo queimada... e ela simplesmente não cedendo as chamas. O fogo não lhe fazia mal algum tão pouco o tempo ou qualquer calamidade nos vários séculos que ela viveu. Mas todas essas lembranças que a perseguiam e a atordoavam por tanto tempo estavam prestes a cessar.

Então, antes mesmo da jovem Moira de cabelos acobreados tocar no chão, sua alma já estava entre as estrelas, junto com seus pais e o jovem que amava na sua adolescência há tanto tempo atrás.

[...]

O velho Druida de Aran da província de Zair, se aproxima do corpo que jazia não muito longe da imponente Yggdrasil, mas ele não olha para o corpo sem vida estendido ali, mas para o céu e para imagem da pessoa que estava sendo refletida por segundos ali. “Finalmente você conseguiu o que queria menina, em breve estarei com você e com minha amada. Aliás, você vai conhecê-la em breve, afinal, anjos de Tehru sempre recebem os recém-chegados”. O ancião então sorri para o céu e recebe um sorriso de volta.

E como o céu é um para todos, Quíron o centauro de Tamed e Evaline a féerica de Elba, alegram-se, pois sua amiga finalmente conseguiu conquistar seu sonho.

 


Notas Finais


¹ Djinn: Traduzido no ocidente como Gênio, são os conhecidos gênios das lampâdas. Os Djinn's na verdade vem da Mitologia Árabe e podem ter uma natureza boa ou ruim.
² centauro Quíron: Os centauros são da Mitologia Grega e Quíron tem sua própria estória. Ele era um centauro, considerado superior por seus próprios pares. Ao contrário do resto dos centauros que, como os sátiros, eram notórios por serem bebedores contumazes e indisciplinados, delinquentes sem cultura e propensos à violência quando ébrios, Quíron era inteligente, civilizado e bondoso, e célebre por seu conhecimento e habilidade com a medicina. (tirei esse trecho do wikepédia).

³ Feérico: Um ser que faz parte do mundo da fantasia. Pode abranger, por exemplo, fadas, sátiros, elfos...

⁴ "Nomes são importantes sabe? Eles dizem muito do que somos e podem ser uma arma se usados contra nós". Já vi em diversos lugares essa referência, sobre nossos nomes serem importantes e dizerem muito de nós e poderem ser usados contra nós. Não pesquisei muito muito a fundo a qual cultura/mitologia pertença essa crendice, mas posso dizer que já li sobre no mangá XXX Holic e nos meus livros prediletos da saga "Matador do Rei", do Patrick Rothfuss.

⁵ Druidas: Pertencem a cultura celta são uma classe diferente de médico-sacerdote-historiadores. Em rpg's frequentemente eles se apresentam como magos.

⁶Tehlu: Eu precisava inventar um Deus para estória e dei o nome dele de Tehru em homenagem ao Deus do meu livro preferido que agora vocês devem saber que é "A Crônica do Matador do Rei".

⁷ Yggdrasil: Uma árvore colossal que pertence a Mitologia Nórtica. Por acaso eu não tinha pensando na árvore mitológica quando criei essa estória. Mas vi que a semelhança dela e o da minha estória eram bastante grandes e por isso resolvi aderir ao nome. Se quiserem pesquisar sobre ela, vão em frente. Se eu disser o que ela é, farei um textão :v

Minhas realmente notas finais sobre minha fanfic: A ideia geral dela foi escrita em 2014 quando eu precisava fazer um trabalho no ensino médio. Fiz ela bastante rápido. Originalmente é uma estória bem curta que eu amadureci. Nela, Moira não tinha nome e era uma criança que queria tocar nas estrelas a todo custo e ela conseguiu o que queria, mas aí parei e pensei "Estamos falando de uma criança que poderia superar a tragédia que ocorreu com ela e seguir com sua vida. Preciso amadurecer essa ideia. A protagonista da estória deve ser uma pessoa imortal que não conseguia morrer de nenhum jeito e dessa forma, seu sonho era exatamente morrer, depois de viver longos séculos sendo hostilizada e sem as pessoas que ama". Ah, eu escrevi como Moira sendo ruiva, mas era pra ela ter cabelos loiros bem escuros, mas achei que pra estória ia se encaixar melhor que ela fosse ruiva, de toda forma, eu considero ela como uma loira com os cabelos escurecidos :p
Ah, quase ia me esquecendo. Talvez eu devesse solucionar mais questões, mas por hora queria dizer que da floresta de Elba onde Eveline mora até o centro do mundo, onde o druida mora,leva 10 anos caminhando, tempo que Moira demorou. Devem imaginar que não há transportes em uma fantasia épica e é por isso que demorou tanto tempo, de toda forma, Moira era imortal e o tempo não era problema para ela, ignorando o fato que psicologicamente ela estava exausta. Outra coisa, na estória a Yggdrasil anulava os efeitos divinos e encantados de qualquer ser. Por isso o druida morava perto dela, para que sua vida ficasse mais curta, embora a árvore não conseguisse anular completamente sua vitalidade fazendo-o viver ainda mais que um humano normal. No caso de Moira, a árvore anulou toda imortalidade dela, mas Moira precisava estar em contato com ela por bastante tempo e por isso teve que escalá-la por horas.
Enfim, obrigada por lerem minha estória <3

Para quem leu a fic antes do dia 28/11/2016, eis o que aconteceu com Moira:

Um guri curioso sobre o passado de Moira resolveu me perguntar sobre e como acho que vocês também gostariam de saber, vou falar um pouco sobre ele.
Então, como puderam notar, Moira foi agraciada com a benção de ser imortal, ocorre que para ela, essa benção era dispensável.
Moira morava em uma pacata vila que infelizmente foi alastrada por uma peste, e para que essa peste não se alastrasse ainda mais pelo país, o rei resolveu queimar o foco da doença que era justamente a vila onde Moira morava. Por isso, em um dia normal, sem resquícios de chuva ou tormenta, a cidade foi incendiada e todos nela morreram, com exceção de Moira que se tornou imortal, depois que o Deus que era cultuado na sua vila viu o que aconteceu com a vila e teve misericórdia da jovem que ainda não tinha sido queimada.
Chocados que Moira não conseguiu morrer queimada, morados das vilas próximas acharam que ela era uma bruxa somado ao fato dela ser ruiva (antigamente acreditava-se que pessoas ruivas eram bruxas e por esse simples motivo, muita gente morreu por causa da cor do cabelo), por isso ela foi hostilizada e tentaram queimar ela mais uma vez na fogueira, o que não deu certo e nesse meio tempo a jovem conseguiu fugir. Ocorre que para onde ela iria, sua fama já estava consolidada como bruxa, foi ai que ela resolveu começar sua busca pelas estrelas.


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