História Between Two Lines - Carinhoso

Segunda estava começando. E o jeito que Gregg agiu não saia da minha cabeça. Tá que ele era ciumento, mas ele nunca foi tão longe. Deve ter sido na hora da raiva. Era melhor eu esquecer isso. Eu tinha outra coisa para me preocupar. Senhorita Bitcherse! Terminava e começava a semana com a aula dessa mulher.
 

Me levantei da cama, tomei um banho, me arrumei e fui para a sala. Sofi estava sentada no sofá assistindo desenho. Estranhei! Geralmente essa hora ela estaria na cozinha lanchando com a mamãe. Fui até ela e sentei do seu lado.
 

- Não vai lanchar pra ir pra escola, Sofi? - Perguntei.

- Não, Kaki! Hoje papai tá de folga e vai me levar pra passear e mamãe tá fazendo bolo de chocolate - Ela me respondeu sem me olhar.
 

Fiquei ali um pouco assistindo desenho com ela. Até que o cheiro do bolo chegou na sala. Aquele cheiro não era de bolo de chocolate apenas, era bolo de cenoura com calda de chocolate. Droga! Assim eu não resistia e acabava saindo da dieta. Fui para a cozinha acompanhando aquele cheirinho. Mamãe estava tirando o bolo da forma.
 

- Que cheirinho bom! - Disse.

- Bolo de cenoura, filha! O seu preferido! - Mamãe sorria.

- Mas eu tô de dieta! - Fiz bico.

- Que dieta o que, Cami! Você tá muito magrinha. Trate de comer, vem - Mamãe passou por mim - Vou chamar a Sofi.
 

Mamãe saiu e eu fiquei ali olhando aquele bolo. Ele me olhava pedindo para ser comido. Tentei resistir mais um pouco. Fechei os olhos e me imaginei comendo aquele bolo. Sofi chegou correndo e logo depois mamãe. Continue em pé enquanto elas sentaram.
 

- Vem, Kaki! O seu pedaço tá aqui. Senta do meu lado - Sofi disse enquanto mamãe colocava um pedaço no prato.

- É... - Fiquei encarando aquele pedaço.

- Bom dia, família - Papai apareceu na cozinha, beijou a minha testa, a testa de Sofi e deu um selinho na minha mãe.

- Não vai comer, filha? - Papai me perguntou enquanto sentava.

- Tudo bem, mas só um pedaço - Fui até a cadeira e sentei.
 

Ficamos ali conversando enquanto saboreávamos o bolo de cenoura. Devo ter comido uns três pedaços de bolo. Me despedi de todos eles e fui em direção a porta, abri e finalmente estava na rua. Comecei a pensar em todo aquele bolo que eu tinha comido, devia ter engordado horrores. Continue andando e finalmente cheguei no colégio. Assim que passei pelo portão o sinal bateu. Fui direto para sala, não vi ninguém de conhecido no caminho. Quando entrei na sala a senhorita Pieterse estava arrumando alguns papeis. Passei sem falar nada, não queria chamar a atenção dela. Sentei na minha cadeira e Verô veio me cumprimentar.
 

- Mila, o que é isso? - Ela apontou para um roxo no meu braço.

- Bati, mas não é nada - Respondi olhando para frente, Verô ia falar algo, mas a senhorita Piterse foi mais rápida.

- Buenos días, gente! - A senhorita Pieterse guardou os papeis - Vamos a empezar con la señorita Cabello! Puede venir!

- Oi? - Perguntei assustada.

- Pode vir aqui pra frente! - Ela disse sem paciência.

- Como assim? - Continue sem entender.

- Camila vem logo, não vamos perder tempo! Como eu disse na sexta, hoje começaremos a aula com você. Pode vir até aqui e começar com a sua música! - Ela apontou com a mão para o meio da sala.
 

¿Qué Te Pasa, Mujer? Qual era problema dessa mulher, comigo? Não é possível. Mas não tinha jeito, tinha que ir. Fui andando lentamente sem acreditar no que estava acontecendo. Parei em frente a todos. Olhei em volta da sala e todos me olhavam, provavelmente esperando eu começar. Comecei, cantando bem baixinho.

- Que teeentacióóóón. Tu me inspiras y yo siento tu actitud... Oh,  Ouu... - Continuei olhando em volta, respirei fundo, fechei os olhos, coloquei a mão para frente como se tivesse quase tocando em alguém e dessa vez cantei com um pouco de atitude - Hay que sensacióóóón. Desesperó y tu con esa lentituuuuud... Oh, Oh, Oh Oh Oh Oh Oh Uuuu.

- Se moverán diez mil siluetas bajo la luz... Uuuuuuz... - Verônica se levantou e continuou cantando.

- Pero nadie va impotaaar... me tan solo tu Uuuuuu... - Um menino lá do fundo completou.

- Vamos amaaaar...nos y bailar hasta quemarnos aaaaal soool - Agora um coral de alunos cantavam e dançavam pela sala. Alexa era a única que permanecia sentada me fuzilando com o seu olhar - Nada va impedir que gane tuuu...  aaa...mor. Yo voy a desafiarte a que bailes conmigo hoy. No esperes maaas, nooo. Quiero estar perdida en tu miraaa...daaaa... - Todos cantavam juntos.

- Vai, Mila - Verô gritou e todos apontaram para mim.

- Libre entre tus brazos... hechizaaa...daaa... - Cantei enquanto todos olhavam para mim e logo olharam para a porta.

- Yo voy a desafiarte a que baaaaileees conmigo hoooooy - Lauren entrou na sala cantando.
 

Lauren parou na minha frente sorrindo, eu apenas a olhava. Ela estava com aqueles olhos que me hipnotizavam. Sorri enquanto admirava os seus olhos. Por alguns segundos tudo ficou mudo e eu pude escutar a nossa respiração, mas alguém resolveu falar.
 

- Muito bem senhorita Jauregui, mas acho que a senhorita errou de sala - A senhorita Pieterse olhava para Lauren séria. Eu apenas desviei o olhar e coçei a nuca.

- Desculpa, professora. É que essa música é muito importante pra mim! Foi a primeira música que eu escrevi. Ai, estava indo ao banheiro e quando escutei vocês cantando, não resisti - Lauren explicava com um belo sorriso no rosto.

- Tudo bem! Agora é melhor você voltar pra sua sala - A senhorita Pieterse pela primeira vez deu um sorriso, mas que logo sumiu.

- Tá certa! Desculpa novamente - Lauren desviou o olhar de Sasha Pieterse para mim, deu um sorriso de canto de boca e saiu. Fiquei a olhando sair.

- Bom, senhorita Cabello. A sua voz não é uma das piores e o seu espanhol não é tão ruim assim -Pieterse sorriu para mim.
 

Apenas sorri de volta, mas ela logo desmanchou o sorriso. Fui para minha cadeira com um sorriso de orelha a orelha. Sentei na minha cadeira e Verô logo veio me abraçar. O resto da aula até que foi divertido. A senhorita Pieterse nem pegou mais no meu pé. Finalmente o sinal bateu. Fomos para o intervalo. Pude sentir o sol queimando no meu rosto. Chegamos na nossa mesa e já estavam todos lá. Gregg se aproximou e me deu um selinho. Não consegui retribui, apenas forcei um sorriso.
 

- Bom dia, pessoal! - Verô cumprimento todos.

- Bom dia! - Responderam.

- Mila, o que foi isso? - Keegan perguntou segurando meu braço. Me afastei dele.

- Cai - Sorri de nervoso e olhei para Lauren que me encarava séria.

- Ué, você não tinha batido? - Verô me perguntou estranhando.

- Ela caiu e bateu. Foi isso, né bebê?
 

Gregg olhou para mim, apenas assenti com a cabeça. Lauren bufou e saiu que nem um furacão. Todo mundo olhou estranhando. Alexa ameaçou a ir atrás dela, mas Verô segurou pelo braço dela e olhou para mim. Eu permanecia onde estava, então Verô foi atrás dela.
 

- Garota maluca! - Gregg falou irritado - Seus pais me falaram que não vão estar em casa hoje. Pensei de ir lá ficar com você - Gregg fazia carinho no meu rosto.

- Tô cansada! - Desviei o rosto.

- Mas a gente pode ficar vendo um filme, sei la! - Ele insistiu e eu apenas assenti com a cabeça.

 

Já estava de tarde. Gregg devia estar chegando. Coloquei uma calça de moletom cinza e uma camiseta branca. Fiquei na sala assistindo televisão, alguns minutos depois a campainha tocou. Abri a porta, Gregg segurava uma sacola e uma caixa de papelão que parecia ser pizza.
 

- Trouxe pra gente! - Gregg me deu um selinho.

- Pizza? - Peguei a sacola com o refrigerante e fui andando para a cozinha.

- Isso mesmo e guaraná. O seu preferido - Ele fechou a porta e me acompanhou.

- Só vou comer um pedaço, tá? Tô de regime - Peguei alguns pratos.

- Você tá muito magrinha, sabia? - Ele me abraçou por trás - Tem que comer mais.
 

Me virei para ele. Ele me beijou me abraçando pela cintura. Apoiei minhas mãos no peitoral dele e ele colou nossos corpos. Finalizamos o beijo e fomos para a copa com os nossos pratos e copos. Ficamos ali comendo e conversando. Na verdade eu só tinha comido um pedacinho.
 

- Bebê, você não comeu nada. Daqui a pouco passa mal. Come mais um pouquinho.
 

Olhei para a pizza, ela estava sequinha, não tinha aquela coisa gordurosa em volta, mas eu sabia que de qualquer forma aquilo era ruim, eu iria engordar horrores, mas não resistir, acabei comendo com ele. Juntos comemos quase toda a pizza, sobrou apenas um pedaço. Lavamos a louça e já estava começando a anoitecer.
 

- Bebê, vou indo! Preciso fazer umas pesquisas pra amanhã.

- Tudo bem - Dei um selinho nele e fomos até a sala.

- Te amo - Ele me de um selinho.

- Também.
 

Gregg abriu a porta, saiu e fechou. Apenas observei ele da sala. Pensei em tudo que eu comi naquele dia. O delicioso bolo de cenoura, o tanto de pizza que eu comi, o refrigerante. Fui em direção ao banheiro. Me olhei no espelho e aquilo de certa forma me irritou. Peguei uma escova de dente, me agachei em frente ao vaso sanitário e... Vomitei. Alguém abriu a porta, olhei assustada.
 

- Camila, o que foi isso? - Gregg entrava no banheiro.

- Eu... - Me levantei do chão e fui lavar minha boca - meêê... seeen..ti mal. Enjoei, sei la! - Guaguejei na hora de responder e fui escovar os dentes.

- Mas pra que você estava com essa escova na garganta?

- É que eu... não estava conseguindo, sabe? Foi isso! - Limpei a boca na toalha dando as costas para ele.

- Camila você precisa ir ao médico.

- Só foi um enjoou, ok? Eu não tenho nada! E o que você veio fazer aqui?

- Eu esqueci meu celular, mas já achei. Só vim te dar um beijo.
 

Gregg me deu um selinho e novamente o levei até a porta. Dessa vez tranquei a porta. Suspirei, olhei para o teto. Que saco! Era só o que me faltava! O Gregg se metendo onde não devia. Estava difícil viver ali. Confesso que as vezes me dava vontade de abandonar tudo e voltar para Miami. Me joguei no sofá, mas logo o meu celular apitou. Whatsapp.
 

Lauren Jauregui: Queria conversar. Pode?

Camila Cabello: Posso! Tá, tudo bem?

Lauren Jauregui: Pode ser na sua casa?

Camila Cabello: Pode sim! Te espero então!

Lauren Jauregui: Abre a porta pra mim?

Camila Cabello: Ué, já tá aqui?

Lauren Jauregui: Tava só esperando o Gregg sair.

Camila Cabello: Tá bom!
 

Abri a porta e ela estava parada encostada no carro. Caminhou até mim, dei espaço para ela entra. Entrou sem falar nada. A olhei sem entender. Tranquei a porta.
 

- Não tem ninguém em casa, mas vamos pro meu quarto. Eles podem chegar e tals.
 

Ela apenas assentiu com a cabeça e fomos andando até o meu quarto em silêncio. Abri a porta, sentei na cama, ela entrou atrás de mim, fechou a porta e sentou do meu lado virada para frente e eu para ela. Ficou um silêncio então resolvi quebrar.
 

- Então?

- Camila, chega de segredos! Por que você tem medo do Gregg? - Ela se virou para mim, ficando de frente e falou sem pausa. Direto.

- Eu não tenho medo dele! - Eu estava nervosa com a pergunta dele.

- Então por que não conta pra sua mãe sobre isso que ele te fez? - Ela me olhava séria.

- Porque não tem nada a ver! Ele tava nervoso e perdeu a razão - Meu nervosismo só aumentava.

- Camila, chega de segredos! - Ela falou mais calma, mais atenciosa.

- Tudo bem! Chega de segredos! O que você tanto deve a Alexa? - Dessa vez eu virei para ela e a encarei.

- Eu não posso falar sobre isso! - Ela abaixou a cabeça e virou para frente.

- Por que que não? - Fiquei a olhando.

- Porque é complicado. Envolve várias pessoas. A única coisa que posso te falar é que a Alexa me ajudou muito... - Ela levantou a cabeça olhando para frente.

- Só que agora ela só te atrapalhar! Será que você não vê isso? O pior é que comigo você reclamou, brigou, se afastou... - Desabafei.

- Com você é diferente - Ela voltou a ficar de cabeça baixa.
 

O silêncio tomou conta. Comigo era diferente? O que ela queria dizer com isso? Por que comigo seria diferente? O que a Alexa tem que eu não tenho? Apenas o simples fato de que ela a ajudou alguma vez na vida dela? Isso eu também fiz, ué. A olhei séria, mas dessa vez com uma voz mais calma, perguntei.
 

- Por que que comigo é diferente?

- Porque sim, Camz - Ela me respondeu com a mesma calma.

- Por que, Lauren? - Toquei no queixo dela a fazendo levantar a cabeça. Ela me olhou e voltou a olhar para frente, tirei a mão do rosto dela.

- Não briguei com a Alexa, porque não ia fazer diferença. Eu ainda me sinto em divida com ela e é por isso que eu ainda ando com ela. A Alexa pode ser o que for, chata, implicante, mentirosa, manipuladora, mas se não fosse ela eu estaria perdida.

- Agora eu tenho duas perguntas! - Quando eu falei ela me olhou.

- Quais? - Ela me olhava com uma carinha triste.

- O que você fez, Lauren? - A olhava séria.

- Camz... - Ela tinha uma carinha de confusa, triste.

- Sem citar nomes - Continuei a olhando séria. Lauren abaixou a cabeça.

- Fiquei com uma pessoa que não devia e uma outra pessoa viu... Eu não quero falar disso - Ela falou baixinho.
 

Ficamos em silêncio. Fiquei pensando com quem ela poderia ter ficado, mas não vinha ninguém a cabeça. Keegan? Austin? Cody? Alguma das professoras? A senhorita Pieterse? Não! Não podia ser. Olhei para ela e a carinha dela triste me fez desistir desse assunto.
 

- E qual é a outra pergunta? - Ela me olhou de lado, mas ainda com a cabeça meio que abaixada.

- Por que que comigo é diferente?
 

Ela voltou a abaixar a cabeça. Fechou os olhos, parecia estar pensando. Eu resolvi dar um tempo para ela. Fiquei em silêncio, dessa vez quem abaixou a cabeça fui eu. Ficamos as duas sentada na cama com as cabeças meio abaixadas, ela virada para frente de lado para mim e eu sentada de lado na cama, virada de frente para ela.
 

- Porque eu me importo com você - Continue em silêncio. Ela tocou a minha mão devagar e a segurou levemente - Você é importante pra mim, Camz. E quando eu vi você beijando a Alexa me chateou, me magoou - Ela virou para mim na cama. Eu continue de cabeça abaixada. Ela olhava para a minha mão acariciando - Confesso que da Alexa eu esperava tudo. Se você não tivesse falado nada, eu com certeza teria achado na mesma hora que foi ela quem te beijou, mas como eu escutei o que você falou... Aquilo me doeu, doeu de verdade.

- Mas... - Levantei a cabeça a olhando, com um olhar triste.

- Mas não foi você. Eu sei. Eu tava cega, com raiva. Eu não sou de me apegar. Eu sou assim, Camz. Por isso não queria mais falar com você. A raiva tomou conta de mim.
 

Ela me olhava com um olhar triste, de quem estava magoada, de quem tinha muita coisa para me contar, mas que não podia, ou não conseguia. Abaixei a cabeça de novo, dessa vez eu fechei os olhos, não estava aguentando olhá-la assim. Aquilo doia. Senti sua mão acariciar o meu rosto e levantá-lo lentamente.
 

- Eu devia tá falando várias coisas, mas eu não consigo. Não sou assim!

- Shhh!
 

Fiz um som com a boca pedindo silêncio, franzinho as sobrancelhas. Voltei a ficar com o rosto normal, com os olhos ainda fechados, apenas sentindo o carinho dela. Acho que ela percebeu que só aquela ação bastava para mim. Senti ela se aproximar um pouco, sua mão tomava conta do meu rosto, com os seus dedos ela o acariciava. Um carinho bom, leve, quente, sua mão macia conectava os nossos corpos, sentia a sua respiração perto da minha. Suspirei sentindo cada movimento que os seus dedos faziam ao percorrerem o meu rosto. Fazia tempo que eu não sentia um carinho assim, mais calmo, mais intenso, mais "carinhoso". Eu podia ficar ali o resto da minha vida, era como se não existisse mais nada nem ninguém no mundo, mas a porta do meu quarto abriu com força, fazendo um barulho. Lauren soltou o meu rosto e se levantou da cama. Eu abri os olhos e olhei para frente.
 

- Kaaaaaki... - Sofi gritou, mas logo parou. Cruzou os braços e olhou séria para Lauren - Quem é ela?