História Between Two Lines - Princesa do Pop

POV CAMILA

Meu corpo estava mole, como se alguém tivesse dormido a noite toda em cima de mim, vai ver que isso realmente aconteceu. Senti algo molhar a minha bochecha, até pensei em abrir os olhos, mas eu estava tão cansada e estava tudo tão escurinho, que na mesma hora eu desisti. Mas para a minha agonia, novamente senti algo babar o meu rosto. Franzi as sobrancelhas, me virei na cama ficando de bruços, com a parte esquerda do meu rosto encostada no travesseiro e a parte direita livre. Algo de textura mole raspou por toda minha coluna, fazendo um arrepio tomar conta do local, me remexi tentando espantar o que fosse, aquilo não iria me tirar do meu soninho gostoso... Novamente um molhado em minha bochecha, passei a mão no local e a senti molhar.

Cacete! O que estava acontecendo? Uma goteira? Mas eu não tinham pingos, era até algo gosto de sentir, só o final que me deixava babada que estava me irritando, parecia que estavam encostando uma lula em meu rosto. Está bem, isso foi nojento.

Mais um arrepio, mais algo molhado em meu rosto, não tive muita escolha, eu tinha que acordar para ver o que estava acontecendo. Abri minha boca em um bocejo preguiçoso, passei mão direita em meu rosto, em seguida cocei meus olhos com a mesma.

"- Ela está acordando, ela está acordando, tia Lou."

"- Está sim, pequenino, mas fala baixinho para ela não se assustar."

Eu conhecia aquelas vozes, eu conhecia muito bem as duas vozes. Abri meus olhos com muita preguiça e presenciei o baixinho me dando um beijo molhado na bochecha, sorri com a cena fofa.

- Bom dia, tia Mila.

- Bom dia, baixinho. - Respondi com a voz mais rouca possível, fechei os olhos e deixei escapar um sorriso.

"- Bom dia, dorminhoca."

A voz de Lauren se fez presente novamente, olhei sobre o ombro e vi minha bela namorada completamente vestida, diferente de mim, que estava de sutiã e calcinha, com a parte da cintura para baixo coberta pelo lençol. 

- Bom dia, princesa. - Respondi, voltando a fechar os olhos.

"- Que bom dia chato. Acorda logo tia, Camz."

"- Tia Camz? Ei, rapazinho. Só eu posso chamá-la assim."

Sorri com a infantilidade de Lauren. Era engraçado como ela virava uma criança ao lado de Sofi e Rafa, era como se ela tivesse a mesma idade deles, ou até menos. 

Consegui abrir os olhos, me virei na cama e os fitei. Rafa estava sentado de perninha de índio olhando para Lauren que estava sentada sobre os joelhos do outro lado da cama, com uma rosa em sua mão.

- Desculpa, tia Lou. - O baixinho fez um biquinho e abaixou a cabeça.

- Ei, mas você pode chamá-la de Mila, Kaki, Camila, Karla. Só Camz que não pode, eu não deixo.

- LAUREN! - A repreendi. - Isso é para mim? - Aprontei para a rosa.

- É sim, - Estendeu a rosa, a peguei e levei até o nariz, para inalar todo seu aroma. - mas tem mais coisa, como você diz que prefere os chocolates, porque rosa não dá para comer, então roubamos um bombom da caixa de doces da sua mãe... - A interrompi.

- Jauregui, olha o que você está ensinando ao menino.

- Ninguém viu, tia Mila. Pode ficar tranquila. - O baixinho me deu um piscada.

- Exatamente, pequenino. Ninguém viu. Ah, preparamos também essa bandeja de café da manhã.

Lauren se curvou em direção ao criado-mudo e pegou uma pequena bandeja que não sei como, suportava tanta comida, como bananas, três xícaras que me pareciam ser de achocolatado, algumas torradas e alguns tipos de pastas. Me sentei na cama, dando espaço entre nós três para que ela pudesse colocar a bandeja. Coloquei a rosa entre meus cabelos e minha orelha direita.

Passamos alguns minutos comendo e rindo das palhaçadas que Lauren e Rafa faziam com a comida. Eu já não tinha mais dúvidas, Lolo seria uma linda mãe, atenciosa, brincalhona, cuidadosa... Ela seria a mãe que todo filho desejava ter.

- Camz, hoje vou ter ensaio, vamos fazer ensaio vocal cedo e de noite vamos ensaiar as coreografias. Eles querem aproveitar que Alexa e eu não temos aula para ensaiar o dia todo, já que o show é no final de semana que vem. Você podia ir para o ensaio a noite, depois da gravação. - Lauren passou o guardanapo em sua boca.

- Por mim está perfeito. - A observei enquanto ela colocava a bandeja em cima do criado-mudo. - Ei, - Olhei para o lado e vi um baixinho com a boca toda suja de chocolate. - alguém comeu meu bombom.

- Desculpa, tia Mila. Eu ia comer só a metade, mas não aguentei, estava delicioso. - Rafael falava com a boca toca suja e cheia de chocolate.

- Amor, depois eu pego outro para você.

Lauren percebeu meu olhar fuzilador para o baixinho e por um minuto me tornei como eles, uma criança. A morena puxou meu rosto com cuidado para fitá-la, seus olhos verdes clarinhos fizeram me perder por toda aquela atmosfera, uma carícia tranquila e leve se fez presente em meu rosto, minha respiração estava leve, podia sentir meu coração batendo, era audível, uma pequena aceleração se fez presente. 

PUTA MERDA! Olha o que essa mulher me fez com apenas um olhar, maldito olhar que me tira do chão, que me tira da minha zona de conforto, que faz meu coração bater errado mesmo já o conhecendo tão bem.

"- Beija! Beija! Beija." - A voz do baixinho me fez sair de meus pensamentos.

Lauren me olhava a espera de uma resposta, dei um sorriso tímido, o que para ela foi o suficiente. Com calma ela inclinou seu corpo em minha direção, virou seu rosto para encaixar melhor no meu, meu olhar desceu até os seus lábios e assim que eles se encostaram nos meus, meus olhos se fecharam. 

Um beijo calmo, sem movimento, os lábios se encostando em um selinho, apenas nos permitindo conectarmos, um beijo doce, inocente, mas intenso, sentimental, um beijo que poucos costumam dar, que poucos costumam se permitir. 

Para minha surpresa ou não, senti meu corpo cambalear para trás, fazendo com que o de Lauren caísse ao meu lado, um pequeno peso em cima de nos, um bracinho fofo e pequenino envolvia o meu pescoço e um outro o de Lauren. Abri os olhos fitando o baixinho jogado em cima de nós, rindo sem parar. Lauren se afastou um pouco, virou Rafa de barriga para cima e começou uma sessão de cosquinhas. Virei de lado na cama e me permiti observá-los.
 

[...]

Senti meu rosto virar em um ângulo de noventa graus, não estava doendo, mas uma pequena ardência se fazia presente, em seguida meu corpo foi jogado no sofá e um outro corpo estava sentado em cima do meu quadril, mãos puxavam meus cabelos com certa urgência, mas com um cuidado enorme.

- CORTA! - Marlene gritou. - Perfeito.

Priscilla se levantou de cima de mim e estendeu a mão, a peguei e com sua ajuda me levantei do sofá, logo um rapaz novinho com um jeitinho afeminado se fez presente e começou a ajeitar o meu cabelo.

- Oh, droga, você se cortou! - O rapaz disse já saindo.

- Foi só um arranhão. - Priscilla segurou o meu queixo, virando o meu rosto para ela, parecia analisar o local. - Me desculpa! - Soltou o meu rosto.

- Isso faz parte. - Sorri de lado.

- Meu Deus, que cena foi essa? - Rodrigo deu um selinho em Priscilla e voltou a nos olhar. - Eu juro que tudo parecia muito real. Vocês mandaram muito bem. - Ele deu mais um selinho nela, olhei para o relógio em meu pulso e já marcavam dezenove e quarenta.

- Ai, caramba! Está tarde, preciso encontrar Lauren.

- Oh, que linda. - Priscilla me olhava sorrindo. - Vocês formam um belo casal.

Se aquilo tivesse sido dito a duas semanas antes, seria algo fofo de sua parte, mas naquele momento me soou tão falso, tão intrigante que me deu vontade de socar a cara dela, mas eu não iria fazer isso, não iria tirar minhas conclusões assim e agir da forma que eu tanto julgavam Lauren.

Respirei fundo, lancei meu melhor sorriso, me despedi de todos, fui até o camarim apenas para me trocar e logo já estava caminhando para a saída da Warner. Como estava sem carro, iria pegar um táxi, mas uma buzina insistente me surpreendeu. Um enorme carro prata parou ao meu lado e o vidro se abaixou.

- Ei, Cabello. Entra ai. - Ryan tinha um ray-ban em seus olhos e um sorriso malandro no rosto. Abro a porta e entro no carro. - Você tem um jantar hoje.

- Jantar? Como assim? Eu não posso, tenho um compromisso em uma hora.

- Eu prometo que não vai demorar. Consegui um cantora pop para jantar com você. Um pouco de Marketing com pessoas certas nesse mundo é sempre bom.

Ryan piscou para mim - digo isso porque a lente do seu ray-ban não era tão escuras, dava para ver perfeitamente os seus olhos. Passou a mão na marcha e deu partida.
 

[...]

Eu deveria estar a quase vinte minutos sentada naquela droga de cadeira. A única coisa que eu pedi foi água, já que beber eu não podia por conta da mal influência. Entrei no twitter para passar o tempo, mas definitivamente não tinha nada para fazer, entrei no tumblr e comecei a reblogar algumas coisas do tipo: "Não vejo a hora de estar ao seu lado." "Minha vida seria mais fácil se eu pudesse gritar ao mundo o seu nome." Lolo com certeza iria comentar depois sobre isso e se o chatinho do Ryan visse o meu tumblr, provavelmente me perguntaria para quem seria essas diretas e eu mentira, não queria ele pegando no nosso pé

"- Ela chegou."

"- Mentira?"

"- Droga! Alguém vá até a porta e veja se está tudo bem."

"- Precisamos de mais segurança."

Um pequeno murmurinho me fez parar de fitar a tela do iPhone e olhar em volta para ver o que estava acontecendo. Um rapaz de terno preto falava alguma coisa em seu rádio, ele parecia preocupado, outro rapaz caminhava rapidamente em direção a porta principal para logo abri-la.

PUTA MERDA! Como assim eu estava no mesmo restaurante que ela, não que eu não tivesse me acostumado com famosos, paparazzis, fãs, mas era ela. E ela estava completamente linda, usava uma saia branca rodada, uma blusa curta - que não chegava a ser um cropped - da mesma cor que a saía, apenas com uma listra preta no meio e um scarpin preto. A loira de olhos claros veio caminhando em direção a nossa mesa, acompanhada por alguém que eu não fiz questão de olhar.

- Boa noite, Tay. - Ryan se aproximou da loira e deu um beijo em cada bochecha. - Bom, essa daqui é a Camila Cabello. E Camila, você já deve ter escutado falar de Taylor Swift. A princesa do pop.

- C-laro q-que eu c-conheço. - Gaguejei que nem uma idiota, denunciando todo o meu nervosismo.

- Imagina, o Ryan só diz isso para encher minha bola, mas é um prazer te conhecer, Camila. - Taylor se inclinou em minha direção e me deu um beijo na bochecha, senti meu corpo congelar.

- Eu sou sua fã, amo suas músicas. Você é incrível. - Falei de forma atropelada, juntando quase todas as palavras.

- Você que é incrível. Adoro a sua série.

Taylor se sentou em frente a minha cadeira e eu acabei fazendo o mesmo, mas diferente dela que tinha um elegância surreal, eu quase derrubei o copo de água que ainda estava pela metade em cima da mesa. Arrumei o copo de vidro, me ajeitei na cadeira e quase corei quando vi que Taylor e Ryan me observavam. Ah, e um rapaz de terno que havia acompanhado Taylor.

- Eu preciso dá uma saída, mas ficam a vontade meninas. - Ryan lançou seu sorriso de sempre. - E eu fico com isso. - Ele tirou o celular de minha mão e deu uma piscada.

Eu ia abrir a boca para dizer algo, mas Ryan foi mais rápido e logo saiu, me deixando bufando, com as sobrancelhas franzidas, o fuzilando, mesmo que pelas costas.

- Fiquei muito feliz com o convite de Ryan, tenho certeza que vamos nos dar super bem. - Virei toda a minha atenção para a loira que tinha os olhos brilhando.
 

POV LAUREN

Camila estava atrasada treze minutos, o que eu achava estranho, ela não era disso, o ensaio começaria em três minutos, marcamos vinte minutos antes para que a gente pudesse comer algo juntas. Liguei... Liguei... E só dava caixa postal, liguei para Sinu e ela disse que Camila ainda não havia voltado.

Olhei para o celular pela milésima vez, chequei o whatsapp e nada. Nada de Camila. Um murmurinho se fez presente, as meninas estavam voltando do lanche, me ajeitei no chão, porque eu já sentia formigamento nas pernas por estar a mais de quatorze minutos sentada em cima delas. Senti a presença de alguém ao meu lado, eu já sabia quem era, então não fiz nem questão de olhar.

"- Sua namoradinha te deixou plantada?"

Eu demorei anos para descobrir como a voz da Alexa era irritante, ou vai ver que eu sabia, mas tentava ignorar o fato. Revirei os olhos, me levantei e caminhei em direção a porta da sala de ensaio, mas fui impedida por um indivíduo baixinho que me segurou pelo braço esquerdo, me virei e fitei a mulher em minha frente.

- Está tudo bem, Laur? - Ally tinha um olhar preocupado.

- Está sim. - Forcei um sorriso e voltei a caminhar em direção a sala.

Assim que entrei, olhei para o celular mais uma vez, digitei seu número e tentei mais uma vez, mas como era de ser esperado... Caixa Postal.

E novamente um murmurinho se fez presente, as meninas e o nosso coreografo entraram na sala para começar o ensaio. Soltei um suspiro e caminhei até o meu lugar.
 

[...]

POV CAMILA

O jantar foi bem agradável. Diferente do tempo do lado de chora, que chovia sem parar, uma tempestade que fazia um barulho infernal. Taylor me contou como começou a carreira, todos os prêmios que ela já havia recebido, alguns eventos que sempre tinha que ir, loucuras de fãs... Essas coisas que todo fã quer ouvir, ainda mais vindo do seu próprio ídolo. 

Caminhamos até a saída do restaurante, mas fomos impedidas de sair por um bando de paparrazis, que mesmo com toda chuva não saíam do local. Flashes e mais flashes invadiam o local, tentando capturar qualquer imagem que fosse de Taylor e provavelmente sua nova amiguinha, vulgo eu.

- É, Camilinha! Bem vinda a loucura dos paparazzis.

- Isso está sendo emocionante. - Sorri para Taylor que piscou para mim.

- Opa, Ryan chegou. Nossa deixa.

Um rapaz de terno abriu a porta e eu pude sentir o vento gelado bater em meu corpo, me fazendo arrepiar na mesma hora. Ryan se aproximou com um enorme guarda-chuva, que sinceramente me parecia mais um guarda-sol daqueles que usamos na praia. Taylor se segurou em meu braço e juntas saimos pela porta do local. Fechei meus olhos no mesmo momento. Flashes e mais Flashes fizeram minha visão embaçar, pressionei os olhos algumas vezes na tentativa de acalmar minha visão, o que estava sendo difícil, porque os flashes não paravam. Ryan nos guiou até o seu carro, um rapaz abriu a porta para gente e logo entramos.

- Então? Vamos comemorar? - Ryan sugeriu.

- Não vai dar, eu tenho compromisso. Acho melhor eu pegar um táxi para não atrasar vocês.

- Que isso, Camilinha. O Ryan te leva.

- Perfeito então! Ah, Ryan, meu celular. - Estendi a mão e o meu novo assessor me estendeu o celular.

PUTA QUE O PARIU! Trinta e sete ligações perdidas da Lauren. Ela devia estar super preocupada comigo, eu tinha esquecido de ligar para ela, fiquei tão distraída com tudo que achei que chegaria a tempo. Eu estava completamente atrasada, digamos que um pouco mais de duas horas. Enquanto Ryan seguia o caminho, tentei retornar a ligação de forma inútil, pois sempre caía na caixa postal.
 

POV LAUREN

Meu celular tocou e fiz exatamente o que eu tinha feito das últimas sete vezes, desliguei a ligação. Eu não estava com cabeça para falar com Camila, não depois de ver as fotos dela com a Taylor Swift em vários sites de fofocas. Porra! Eu super preocupada com ela, achando estranho dela simplesmente ter sumido e o que ela faz? Ela sai para jantar com Taylor e Ryan. Ótimo, Camila! Eu lutando para controlar o meu ciúme e você me dando motivo para deixar ele voltar.

Estava guardando meu celular na mochila, mas ele tocou novamente, fitei a tela e o nome de Camz estava estampado, me lembrei da nossa manhã junta, um sorriso fraco brotou em meu rosto, por alguns segundos pensei em deixar de lado tudo que estava acontecendo - eu estava virando bipolar -, mas foi apenas por alguns segundos. Passei o dedo no ícone vermelho.

"- Não vai atender?" - A voz de Ally se fez presente.

- É o sapo azul. - Olhei para a pequenina e forcei um sorriso.

- Mais um motivo para atender. 

Ally em momento algum olhava para a tela do celular, estava me fitando com seu olhar mais sincero. Eu acho que eu até queria que ela olhasse e visse que era Camz, de repente assim eu sentiria coragem de contar a ela o que estava acontecendo, mas esse não era o tipo de Ally, ela iria esperar que eu estivesse a vontade e contasse pela minha própria boca. O problema é que eu tinha medo, medo do que Allyson iria pensar, do jeito que ela reagiria, ela era a única pessoa que eu realmente confiava, não que eu não confiasse em Keegan, mas ele era homem, era diferente e também tinha Verônica, mas a gente passou por tanta coisa difícil que eu não me sentiria a vontade.
Peguei o celular e guardei na mochila, coloquei-a nas minhas costas, apenas em um lado do ombro. Olhei para a pequenina.

- Hoje não. - Dessa vez não forcei nenhum sorriso.

- Quer conversar?

Quero Ally, quero dizer que eu estou completamente apaixonada pela Camila, que eu não sei mais como esconder isso do mundo, que eu não vejo a hora de gritar para todos que estamos juntas, que Camren é real.

Olhei em volta e todos já haviam ido, só restavam Ally e eu. Sentei no chão sem dizer nada, Allyson fez o mesmo, deitei minha cabeça em seu colo, Ally encostou na parede, enquanto acariciava meu cabelo, fitei o tento, separei meus lábios algumas vezes a procura das palavras certas, mas nada saía. Posso dizer que ficamos durante alguns segundos ou até mesmo minutos, em um silêncio insuportável, justamente pelo meu medo de falar algo errado e Allyson me rejeitar. Fechei os olhos, soltei um suspiro.

- Nunca me senti tão entregue a uma pessoa. - Foi a primeira frase que consegui dizer, ainda de olhos fechados. - Isso me assusta as vezes.

- Abri os olhos e voltei a fitar o teto. - Não é como se eu fosse me decepcionar com essa pessoa, mas sim comigo mesma. O meu temperamento me assusta, meu ciúme é doentio, Ally. As vezes eu simplesmente não consigo me controlar, tenho medo de acabar fazendo alguma besteira.

- Você está amando, Lô. Está conhecendo o amor. Eu sei que você saiu com vários garotos, mas tudo era apenas paixão, algo de momento, entende? Agora é diferente, você está amando de verdade, uma paixão duradoura, uma chama que não apaga assim tão rápido, e de repente nem vá apagar nunca. - A pequenina abaixou o olhar me fitando, retribui. - Lô, eu não sei quem é essa pessoa, o que esse garoto fez com você, mas eu posso te garantir que nunca te vi tão feliz, nunca vi esses olhos verdes tão intensos. O medo vai estar sempre presente, mas não deixe que ele atrapalhe vocês. Sobre sua insegurança, se esse menino está com você não é por causa de uma máscara que você está usando, mas sim por causa daquela Lauren ciumenta que você sempre foi. Você é assim, Lô. Você quando gosta de algo, gosta de verdade, você se entrega, você sente ciúmes, isso é normal. É lógico que não vai dar a louca por aí, mas não pense que sentir ciúme é ruim, estranho seria se você não sentisse ciúme das pessoas que você ama.

- Obrigada, Ally! Te amo. - Sorri.

- Também te amo. Agora me faz um favor? - Apenas assenti com a cabeça. - Agradece a essa pessoa, diz que eu gostaria de agradecer por ele te fazer tão feliz.

Eu não consegui dizer nada, meus olhos simplesmente se encheram de lágrimas, um nó se brotou em minha garganta, uma vontade louca de chorar. Allyson beijou minha testa e se despediu. Me levantei, respirei fundo e caminhei em direção ao estacionamento. Todos os carros que costumavam ocupar o pequeno estacionamento já não se encontravam ali, apenas o meu. Entrei nele, joguei minha mochila no banco de trás e dei partida.

A chuva lá fora começou a cair sobre a janela do carro, um barulho irritante, liguei o limpa-vidros com o objetivo de enxergar o que vinha pela frente, já que a chuva estava atrapalhando, dei a volta para entrar na pequena estrada e assim que ia mudar a marcha para elevar a velocidade algo me chamou atenção. Ela estava completamente molhada, sua calça jeans branca estava suja, seu cropped deixava nítido seu corpo arrepiado. Ela gesticulava com os braços algo que eu não conseguia entender, o segurança do prédio parecia estar irritado. Abaixei o vidro para tentar escutar algo.

- Senhorita Cabello, não tem ninguém no prédio, o ensaio acabou a meia hora, não posso deixá-la passar.

Continuei observando os dois por alguns segundos. Camila passou a mão no rosto, cravando os dedos em seus cabelos completamente encharcados por conta da chuva. Ela juntou as mãos em forma de preces e ele apenas negou com a cabeça, a morena girou sobre os calcanhares, fitou o chão e deu um chute em uma poça de água, seu rosto foi se levantando, até seu olhar se encontrar com o meu. Tivemos uma troca que eu nunca tivemos antes, uma troca estranha, eu podia jurar que minhas sobrancelhas estavam franzidas. Continuei a encarando, levei minha mão até um botão perto da porta e levantei o vidro do carona. Peguei meu celular, desbloqueei-o e lá estava a foto de Camila e Taylor abraçadas sorrindo, saindo de um restaurante. Bloqueei a tela, encostei a cabeça no encosto do banco, curvando-a para atrás, fechei os olhos e soltei um suspiro.