A primeira vez que ela chorou tinha sete anos. E sei que isso pode parecer normal ou até mesmo estranho -de acordo com a interpretação de cada um- mas é a mais concreta verdade.
Claro que isso não é algo que a orgulhe, não há motivos para isso.
Mas se lembrar de algo tão simples e ao mesmo tempo tão importante a faz voltar no tempo, quando se mudou para a pequena cidade em algum lugar dos Estados Unidos, chamada Hananoshi (que só pelo nome se percebe a influência japonesa). Foi quando as verdadeiras mudanças começaram a acontecer.
E se lembrar do começo de vários de seus problemas e soluções nem sempre é fácil. Mas as vezes, voltar nos faz ver o quanto crescemos. Então eu diria que tudo começou com uma ensolarada tarde de Julho.
Ah sim.
Julho, o mês onde as criança não precisam se matar para aprender terríveis fórmulas matemáticas ou ler textos com palavras um bocado difíceis. É a pausa anual das crianças, adolescentes e até mesmo dos professores -que obviamente se cansam de tanto gritar tentando muitas vezes em vão chamar atenção daqueles mesmos bagunceiros.
O sinal finalmente tocou.
E em algum lugar no Texas; a pequena Samantha Wright Brown, ou Sammy como gostava de ser chamada, estava preparando com todo cuidado algo que chamava "primeiro avião movido a bicicleta" ou nas siglas P.A.M.B.
Como toda menina -ou menino- da sua idade, Sammy era um tanto hiperativa e para muitos professores, uma verdadeira peste de maria-chiquinhas. Era como se tivesse um par de pilhas recarregáveis -carregadas apenas com a simples motivação para bagunça- nas costas; em um único dia já foi para diretoria 4 vezes: por pintar o cabelo de um menino de azul (que em sua ingênua opinião estava a irritando), por jogar um vidrinho de cola inteirinho na mochila de alguma menina fresquinha, por entrar na sala com um monte de sapos que achou num brejo e -por incrível que pareça- por conseguir com uma simples bolinha de gude quebrar duas janelas e três lâmpadas.
Mexeu com Samantha Wright, se prepare mentalmente para o troco.
Sammy sempre ansiava pelos três corridos mêses de férias, pois apenas ai ela poderia parar para fazer o que ela verdadeiramente gostava: tentar criar um avião que, com ajuda de Deus e sei mais o que, voaria. E isso poderia acontecer em apenas alguns dias.
Seu inocente sonho de ser igual a seu herói (seu próprio pai), a fazia ir o mais longe que podia. Theodore Wright Brown Jr era um renomeado piloto de aviões no Texas, principalmente durante a guerra entre Estados Unidos e Rússia (20XX). Ganhando vários emblemas e medalhas pelo incrível trabalho e dedicação, qual motivo maior para interressar nossa pequena amante de aventuras?
Com poucos dias para seu também esperado aniversário, a garota ansiava não só pela chegada do pai, que estava fora devido a uma série de problemas que ela não entendia, mas também para rapidamente finalizar seu projeto. Queria mostra-lo a seu pai e receber a incrível recompensa, coisa que esperava a muito tempo: ser reconhecida não só como uma boa filha mas também como uma grande futura copiloto.
E para isso, teria de trabalhar dia e noite se fosse preciso.
Uma pena para nossa jovenzinha de 7 anos, pois é preciso muito mais do que sonhos e boa vontade para realizar projetos tão grandes.
"Theo! -gritava da garagem para seu irmão, debruçado sobre a janela da sala a observando- Quantas vezes já não disse pra tirar esse urso besta de cima da bancada? Quer que eu cole ele junto com o P.A.M.B?"
Sentada sobre os joelhos, Sammy passava cola sobre todo acento da enferrujada bicicleta (pequena demais para ambos Wright), se preparando para colar o que seria a carcaça do avião: nada mais nada menos que uma grande caixa de laranjas toda cortada e decorada na aparência do grande avião 27WB. Coisa que ela levou três dias para fazer.
"... "-seu irmão, ao contrário de Sammy, nunca disse uma palavra desde que nasceu. Tentar entender o que ele queria dizer apenas o encarando também não ajudava nada: está sempre sério e sem expressão. Uma estranha habilidade de sua irmã era 'ler' sua mente, sabendo exatamente o que ele queria dizer. Uma ligação entre irmãos? Quem sabe.
"Não me venha com essa cara de que não sabe nada! Sei que isso não apareceu magicamente aqui."
"..."
"*Atira o ursinho pela janela* não preciso disso!"
Theo apenas desvia, enquanto Sammy continua seu incessante trabalho. Não seria seu irmão que a impediria de terminar ainda hoje.
Louise Wright L. Brown -ou mamãe como era chamada pelas crianças- aparece então, com uma grande bandeja cheia de cookies e duas canecas cheias com chocolate quente.
"Tenho uma ótima notícia! -diz enquanto entrega a bandeja nas mãos da menor- parece que seu pai conseguiu terminar a tempo."
"Quer dizer que..."
"Exatamente! -Sua mãe disse, ficando tão animada quanto a filha- seu pai pode chegar hoje ou amanhã!"
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