História Beyond The Woods - Capítulo 1

Jimin praguejou assim que pôs os pés fora de casa, para ele deveria ser proibido por lei ir à escola em dias tão frios como aquele. A cidade pequena cercada por bosques e montanhas tornava tudo ainda mais gelado, naquele que estava sendo considerado um dos invernos mais rigorosos já registrados na região.

Depois de muito relutar e convencer-se de que faltavam poucos dias para o fim das aulas e para as tão esperadas férias de fim de ano, Park tomou folego e pôs-se a andar. Tentava manter quente as mãos dentro do grosso moletom cinza, enquanto sua touca o protegia dos flocos de neve que começavam a cair, mas sempre xingava baixinho conforme o vento soprava mais forte. Não era como se Jimin odiasse clima frio - longe disso - era sua época preferida, o que não entendia era ter que deixar o conforto de sua cama e enfrentar um dia de aulas chatas.

Não, não era nenhum nerd, nem tão pouco da ‘turma do fundão’, estudava apenas o necessário para ser aprovado e para tentar algum dia ir para uma faculdade na capital, detestava essa cidade pequena demais, cheia de pessoas com mentes pequenas demais.

Foi tirado de seus devaneios quando sentiu braços lhe envolverem os ombros e agradeceu internamente pelo calor que se instalou na região mesmo sem ainda ver de quem se tratava.

- Bom dia Jiminie! O dia está lindo não é mesmo? – Disse o moreno de sorriso exagerado.

- Bom dia Hyung, e não, não está nada lindo! – Riu anasalado - Como consegue estar tão alegre a essa hora, com esse frio? – Falou em tom de falsa indignação.

- Ah, você sabe, eu sou assim... Além do mais o Yoongi dormiu lá em casa ontem e você sabe... – Tirou os braços dos ombros alheios e soltou um suspiro feliz lembrando-se da noite anterior fazendo com que uma leve fumaça saísse por seus lábios e riu da inocência do amigo ao ver as bochechas do menor tornarem-se rubras.

- Poupe-me de suas aventuras sexuais Hobi! – Disse encarando os próprios pés e dando um tapa no braço alheio. Claro que sabia o que o seus Hyung faziam, claro que sabia como sexo funcionava, apenas não gostava de falar sobre o assunto tão descaradamente.

- Aish! Isso doeu! Eu sei que você ainda não faz isso, mas vai me dizer nunca bateu umazinha?! – Praticamente gritou – Aiii, Para! Para! Descul- ai! – Tentava se defender enquanto recebia uma serie de tapas do baixinho que o olhava indignado e ainda mais vermelho não crendo que o amigo havia dito aquilo em voz alta. – Tá bom, Desculpa Sr. “Sou puro”, mas não tem ninguém aqui! – riu ao constatar o quão vazia estava aquela rua em questão, e pensou que daria um ótimo cenário de filme de terror.

- Ótimo, porque se você fizer outra gracinha desse tipo vou poder esconder seu corpo e não haverá testemunhas! – Ralhou em um tom que não soou nem um pouco ameaçador visto que sua boca formava um biquinho que foi encarado como extremamente fofo pelo acastanhado ao seu lado. – E para sua informação, eu nunca fiz isso ai que você falou! – Mentiu sem encarar o amigo.

Mentiu porque não queria ouvir mais piadinhas sobre o assunto ou explodiria de vergonha. Mentiu porque não havia sido ‘umazinha’, mas sim ‘algumazinhas’, e se fosse parar pra pensar nem sabia o porquê fazia, mas culpava o tedio por cada uma das vezes que o fez.

- Você é mesmo uma gracinha Park Jimin – Conhecia o mais novo o suficiente para saber que mentia - Se eu já não tivesse o meu branquelo eu com certeza te beijaria agora mesmo! – Fez um biquinho exagerado segurando as bochechas alheias e logo riu alto ao ver a cara do baixinho virar outra carranca avermelhada soltando-a.

- CALA A BOCA, SEU IDIOTA! – Ralhou fechando as mãos gordinhas em punhos.  

- Vem calar Jiminie! – Sorriu malicioso e foi se afastando devagar até iniciar uma breve corrida até a entrada da escola que já podia ser vista daquele ponto.

- Jung Hoseok seu babaca pervertido, me espere! – Gritou correndo atrás do amigo.

Chegaram totalmente ofegantes ao portão da escola, Park ainda estava vermelho por causa das brincadeiras do amigo, no fundo sabia que a intenção do mais velho era fazê-lo esquecer do frio, o que de fato funcionou, devia admitir que não existia um ser como ele.  Quem em sã consciência acorda e fica feliz mesmo tendo que sair naquele frio? Seria esse o efeito que o amor tem sobre as pessoas? Bem, Jimin acredita que nunca descobrirá.

Todos se direcionaram às suas respectivas salas quando o sinal anunciou o início das aulas. Jimin revirava os olhos a cada segundo, definitivamente não entendia nada de Física, a única coisa que conseguia pensar era ‘onde vou usar essa merda em minha vida?!’. O dia seguiu dessa forma e o último tempo estava sendo igualmente tedioso, não suportava Literatura. Mas logo foi tirado de seus pensamentos por aceno de mão usado pra chamar sua atenção.

- Ele não é um tanto sinistro? – Hoseok perguntou virando-se em sua cadeira para ficar de frente para Jimin.

- Ele quem Hyung? – Fez uma expressão confusa prendendo o riso já que a pergunta foi dita totalmente do nada.

- O novato – Fez uma careta encarando o rapaz do outro lado da sala enquanto apontava para o mesmo com o lábio inferior.

- Não sabia que tínhamos um novato – Jimin agora olhava curioso para o rapaz indicado.

- Ah! É verdade, você não veio ontem... – Deu um tapa na própria testa ao lembrar da falta do amigo no dia anterior - Ele é novo na cidade, a família dele comprou aquela casa da colina...

- Aquela casa da colina?! – Sussurrou olhando para o novato que tinha sua atenção voltada à aula.

- Sim! Não é mesmo sinistro? – Por pouco seus olhos não saltaram das orbitas com a ênfase que dera na frase o que fez Jimin rir anasalado das reações exageradas do mais velho.

- Sr. Jung e Sr. Park, gostariam de partilhar com o restante da turma o que tanto cochicham? – A professora chamou a atenção de ambos fazendo com que todos os encarassem, incluindo o novato.

Jimin abaixou a cabeça já sentindo as bochechas esquentarem, odiava ter toda essa atenção negativa voltada à sua pessoa. Sentiu alguns olhares pesarem sobre si e um em especial o fez correr a sala com o canto dos olhos e parou ao ver que o novato o encarava e quando seus olhares se cruzaram um frio estranho atravessou a coluna de Park. O novato possuía olhos negros e profundo e um sorriso de canto que Jimin julgou indecifrável, como se estivesse gostando de ver o menor com vergonha. O que o fez corar ainda mais.

De repente a sala foi preenchida por gargalhadas, Hoseok havia contado mais uma de suas histórias sem pé nem cabeça para livrar-se da bronca, sabia que nem mesmo a professora se segurava e a mesma já estava a rir alto. Quando tornou a olhar em direção ao novo colega de classe, o mesmo já não o encarava mais e em questão de segundos o som estridente do sinal preencheu o ambiente, indicando o final do dia letivo.

- Terra chamando Park Jimin! – Hoseok abanava as mão em frente ao rosto de Park que parecia hipnotizado.

- Hã? Oi Hyung... O que houve? – Falou voltando sua atenção ao rapaz à sua frente.

- Como o que houve?! O sinal tocou, já podemos ir embora... – Respondeu e observou o moreno que passou a guardar de forma afoita os materiais em sua bolsa deixando algumas coisa caírem no chão - Tá tudo bem Minie? – Jung perguntou um tanto preocupado com o nervoso do mais novo – Amanhã ninguém vai lembrar disso seu bobo, relaxa, tá? – Concluiu que o nervoso alheio fora causado pela bronca que haviam levado e quis tranquilizar o amigo – Vem, eu te levo pra casa.

O caminho era apenas preenchido pelo zumbido do vento, estavam em um silêncio confortável, Hoseok novamente pusera seu braço em torno do pescoço de Jimin que por sua vez circundou a cintura do mais velho com seu braço direito, seguiram todo o trajeto assim sem dar importância para os murmurinhos maldosos e olhares tortos das pessoas na rua, Jung pouco ligava para fofocas, só queria proteger do frio aquele ser frágil ao seu lado e Park tentava retribuir do mesmo modo.

- Chegamos, pequeno. – Hoseok falou se separando do mais novo e dando empurrõezinhos nos ombros de Park – Vai, entra logo ou vai congelar!

- Tá, tá, já ‘tô’ entrando! – Levantou as mãos em rendição e foi em direção a porta – Erh... Obrigado pelo seu calor Hyung... – Coçou a nuca e corou ao notar quão estranha a frase havia soado, mas quis mesmo agradecer ao amigo pelo esforço em mantê-lo aquecido e ao ver que um sorriso malicioso se formava no rosto do acastanhado rapidamente bateu a porta sem dar chances de ouvir a resposta do garoto do lado de fora, sabia que com certeza seria uma piadinha pervertida e não estava afim de cortar o clima agradável que se formou no caminho.

- Então tá, até amanhã Jiminie. – Riu anasalado negando com a cabeça. Como alguém conseguia ficar com vergonha tão facilmente, era o que lhe passava pela cabeça enquanto seguia para sua casa que ficava a dois quarteirões dali.

- Vovó, cheguei! – Jimin deu um sorriso carinhoso vendo a senhora sentada assistindo um programa qualquer de culinária. Foi em direção à mesma e depositou um beijo terno em sua testa o que a fez sorrir imediatamente.

A senhora Park Min no auge de seus 58 anos desenvolveu alguma espécie de problema psicológico após a morte de seu marido, afinal não é fácil perder alguém depois de 30 anos vividos juntos. E mesmo depois de 4 anos terem se passado, todos os dias ela se arrumava, e sentada no sofá esperava seu amado voltar, e no fim de cada dia, ele nunca voltava. No início foi difícil para Jimin conforta-la, devido à sua pouca idade, mas com o tempo foi aprendendo a lidar com a situação. Apesar de tudo a Sr. Park tinha uma aura bastante alegre e isso iluminava os dias de Jimin. Saber que mesmo não sendo neto dela de fato - por infortúnio do destino nunca pôde gerar filhos – não o incomodava, ela o havia acolhido quando fora abandonado por seus pais em frente à sua casa durante uma forte nevasca quando tinha poucos dias de vida, havia dado seu sobrenome à ele e desde então todo o amor que durante anos guardara foi e ainda é entregue a Jimin.

- Ah, meu querido, não te vi chegar. Vou preparar o jantar, tome um banho quente, huh? – Retribuiu o beijo recebido e foi em direção à cozinha.

- Já volto! – Largou a mochila e metade das roupas no sofá e correu para seu quarto louco para se jogar embaixo da agua quente.

O jantar ocorreu calmo, com um Jimin tagarela contando sobre seu dia e uma Vovó coruja ouvindo tudo atentamente e por vezes rindo das gracinhas do jovem. Jimin ganhava seu dia a cada sorriso dado pela senhora.

- Boa noite vovó, eu te amo. – Falava suavemente enquanto abraçava a mais velha.

- Boa noite, meu anjo, eu também te amo. – Retribuiu.

Depois de alguns minutos rolando de um lado para o outro, logo foi embalado nos braços de Morpheus* e levado para um sono profundo calmo.

Assim que acordou e fez suas higienes, Jimin desceu as escadas seguindo o cheiro que vinha da cozinha, seu prato já estava posto com um bilhetinho em cima:

“Bom dia Min Min, precisei ir ao mercado. Coma bem, use roupas quentes e boa aula! - Vovó”

Sorriu ao ler o apelido que recebera quando criança e que a muito não era usado. Tratou de devorar tudo rapidamente, afinal já estava atrasado, e atrasaria todos os dias enquanto sua cama fosse tão quente, pensou. Já na rua, se encolhia conforme o vento passava, ora ou outra olhando para trás na esperança que o seu Hyung aparecesse, mas depois de um tempo pensou notou que o mesmo não apareceria e apertou o passo quando sentiu os primeiros flocos de neve cair sobre si.

Se direcionou à sala de aula antes mesmo do sinal tocar, e ao entrar estranhou a mesa a sua frente vazia. Ótimo! Além do frio ainda vou ficar sozinho, ralhou em pensamento. Podia ser seu lado egoísta falando mais alto, porem odiava ficar sem seus amigos, pegou o celular para mandar uma mensagem xingando Hoseok e questionando a sua ausência, mas ao desbloquear o ecrã do aparelho notou que haviam duas mensagens do garoto citado.

Hobi Hyung [08:02 A.M]

“Bom dia bebezão, Yoongi está doente, por isso faltou à aula ontem. Vou passar o dia com ele, não poderei ir hoje. Desculpa te deixar sozinho”

Hobi Hyung [08:03 A.M]

“Ah! Espero que esteja com roupas quentes, não quero que fique doente também. Se cuide Chimchim! Sinta a minha falta :)”

O que o amor faz com as pessoas, pensou. E negando com a cabeça digitou a resposta, ainda chateado por ter que – mesmo com a sala lotada – ficar sozinho o dia inteiro, mas não transpareceria isso para o mais velho.

“Tá frio aqui sem você Hyung. Mas eu vou ficar bem. Melhoras pro branquelo aí! Até logo :) Ps: Não sou um bebezão! ¬¬’”

A resposta não tardou a chegar e Jimin não conseguiu conter o sorriso ao ler.

Hobi Hyung [08:07 A.M]

“Claro que é! Você é o meu bebezão >.<”

Se tais mensagens fossem vistas por alguém que não os conhecessem, diria certamente que eram um casal apaixonado. Jimin guardou o aparelho no bolso da calça, ficara tão distraído que nem notara quando o sinal tocou e que a turma já preenchia o local e que do outro lado da sala um tal “garoto sinistro” o encarava com outro daquele sorriso indecifrável e por alguns segundos se perdeu encarando aquelas orbes negras que parecia absorver qualquer luz a sua volta, um outro arrepio estranho percorreu toda a sua coluna.

- Okay crianças, hoje eu preciso que formem duplas para treinarmos conversação. Por favor sem barulho, apenas sentem-se com um colega – A professora de Inglês praticamente gritou enquanto gesticulava em frente ao quadro negro o que fez Jimin desviar seu olhar para a mesma. –Meu Deus, não arrastem as cadeiras! – Pôs os polegares nas têmporas.

Jimin riu contido da figura cômica que a Professora Song se transformou em meio a algazarra que a sala virara, mas logo um semblante mudou pra uma carranca nervosa quando lembrou que sua dupla havia faltado. Maldito seja Jung Hoseok!, ralhou.

- Park, querido, porque ainda está sozinho? – A Professora apertava as bochechas de Jimin enquanto fazia biquinho, com quem falava com uma criança de dois anos de idade.

- Ehr.. É que o Hoseok Hyung faltou hoje e... – Tentou explicar-se, mas foi interrompido.

- Não tem problema! Olha só, o novato está sem dupla também – Apontava para o garoto do outro lado da classe que já os encarava – Vai lá, meu docinho, ajuda ele a se enturmar! Quem sabe não se tornam amigos, huh? – Com um sorriso exagerado adornando seu rosto, a Sr. Song praticamente me empurrava pela sala em direção ao garoto. Ela era mesmo uma figura, Jimin pensava.

- Prontinho! – Juntou as mãos em frente ao corpo e sorria exageradamente quando ambos já estavam sentados lado a lado, como se tivesse acabado de concluir uma obra-prima. – Duplas formadas, agora podemos começar! – Deu alguns pulinhos e voltou para a frente do quadro negro.

 Jimin virou para encarar pela primeira vez aquele ser misterioso de perto e notou que o mesmo já o olhava.

- Ehr.. Olá... Então... Sou Park Jimin e... a professora... acho que somos uma dupla – Sorriu nervoso e praguejou-se por não conseguir manter o contato visual por muito tempo e por gaguejar tanto, já sentia suas bochechas esquentarem enquanto encarava as próprias mãos que suavam. Parecia uma maldita menininha virgem. Mas que merda, é só um novato! xingava-se mentalmente.

- Olá, é um prazer te conhecer Park Jimin, eu me chamo Jeon Jungkook. – Dirigiu sua voz pela primeira vez ao baixinho desde que chegara na turma.

E quando a voz grave e macia do rapaz adentrou seus ouvidos, Park virou-se levemente para encara-lo e, mesmo ainda corado, permitiu-se apreciar aquele sorriso – nunca antes visto – tornou a pensar que algo naquele sorriso não condizia com aqueles olhos profundos demais, então Jimin se deu conta que talvez o tal “Garoto Sinistro” não passava de um adolescente normal que queria se enturmar, mas era tímido demais para dar o primeiro passo. É, talvez, possamos ser amigos Jeon Jungkook.