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História Beyond Two Souls - Artifícios Divinos


Escrita por: iKnight

Notas do Autor


Olá queridxs!
Quanto tempo não apareço aqui, mas estamos sempre trabalhando para atualizar essa história.
Fiquei muito feliz com a recepção que o outro capítulo teve e fico mais feliz ainda que vocês estejam gostando da história.
Então, sem mais delongas, aqui está o novo capítulo.

Capítulo 10 - Artifícios Divinos


Tsunade se direcionou ao palanque com uma expressão taciturna. Embora quisesse e devesse exalar completa confiança, a situação estava muito caótica para que ela conseguisse controlar suas expressões faciais.

Um palco tinha sido montado no meio da praça de Konoha, em razão do Festival, e agora seria usado para um dos momentos mais decisivos da história. A expectativa abarcava todos os cidadãos como um campo magnético os puxando cada vez mais próximos.

Ninguém ousava dizer nada e esperavam ansiosamente o discurso da Hokage. Os quatro outros Kages encontravam do lado direito do palco de madeira usando os trajes típicos de sua posição enquanto os Doze Guardiões, com exceção de Ino, ficavam do lado esquerdo. Esses-últimos sem realmente saber do que aquilo tudo se tratava.

- Cidadãos das Cinco Nações. – A loira começou o discurso, que havia sido improvisado na última hora, ao se aproximar do microfone. Se alguém não estava prestando atenção antes, definitivamente naquele momento estava. – Sejam bem-vindos ao nosso ducentésimo quinto Festival dos Kages!

A população vibrou após as palavras da Hokage quase esquecendo dos eventos que precederam aquele dia. Quase.

Tsunade limpou a garganta e esperou que o povo se aquietasse um pouco antes de continuar seu discurso.

- Como todos sabem.... Este não é um Festival típico. – A Hokage disse olhando rapidamente para os Kages ao redor e deixando que apenas o silêncio sobre caísse na população. – Eventos atípicos ocorreram nesses poucos dias de início do festival e rumores circulam pelas ruas de Konoha, mas não se preocupem... – Ela pigarreou antes de prosseguir. – Tudo está sob controle.

Murmúrios começaram a surgir entre a população e logo aqueles pequenos suspiros tornaram-se uma avalanche, preenchendo todo o local. As pessoas conversavam entre si, indignadas, ainda buscando respostas e outras apenas tentavam prosseguir com o ritmo do Festival.

Com uma ameaça pairando sobre o ar, porém, ninguém esperava que apenas as poucas palavras da Hokage bastavam. E ela sabia muito bem disso.

A loira deixou que as pessoas falassem mais um pouco. Respirou fundo e olhou, pela última vez para os outros líderes ao seu lado, e por fim direcionou seu olhar para Sakura que estava no meio da multidão. Seus olhos se encontraram por pouco tempo, mas o segundo tornou-se eternidade.

Por mais que não gostasse de estar fazendo tudo aquilo, saber que Orochimaru estava à espreita e pronto para atacar a qualquer instante era motivo suficiente para que continuasse com aquele show de horrores. Não gostava da opção dada pelos Kages, mas era o melhor que podia fazer naquele momento.

- Por favor, se acalmem. – Embora ela tenha desejado que sua fala saísse um pouco mais branda, havia rigidez em cada sílaba e quase instantaneamente a conversa cessou. Novamente as atenções estavam todas nela. – Sim, é verdade que Orochimaru está de volta.

Mais uma vez, os murmúrios tomaram forma. Todavia, a Hokage não deixou que aquilo passasse de míseros segundos. Logo, retomou a palavra.

- Infelizmente, ele escapou da prisão a qual fora colocado anos antes. Mas não há motivos para se desesperarem... porque nós somos o povo escolhido. – O silêncio que se abatia sobre as pessoas era colossal e toda e qualquer atenção era direcionada para a mulher que sibilava ao microfone. – Nós somos o povo abençoado. Os Deuses sabiam de nossos infortúnios e nos enviaram Doze Escolhidos para lutarem por nós!

Quando falou isso, a população vibrou poderosamente. A atmosfera do lugar mudava a cada instante, a cada palavra que Tsunade soltava. O discurso tinha sido construído meticulosamente não para dar explicações, mas para inflar o que havia de mais poderoso naquele povo: fé.

No mundo cósmico, não havia dúvidas sobre a existência de um deus. Ou melhor, deuses. Existiam doze provas vivas que não apenas eram tangíveis, mas que conversavam e andavam em meio a população. Eles eram a personificação do divino ao mesmo tempo que reais.

- Não importa a ameaça, nós podemos vencê-la! – Tsunade voltou a entoar seu discurso inflado fazendo a população vibrar novamente. – Mas, em face dos nossos eventos mais recentes... haverá algumas alterações no cronograma do Festival desse ano.

Uma mistura de comoção e agitação tomava conta do povo novamente, porém a Hokage sabia muito bem o que estava fazendo. Naquele momento, ela tinha embebido as pessoas em suas palavras e transformado o caos em harmonia.

- O Torneio dos Campeões continuará em seu horário normal, mas será um pouco diferente esse ano. Teremos uma edição especial esse ano! – A Hokage entoou enfaticamente enquanto fazia uma pausa estratégica deixando que as pessoas se expressassem. – Esse ano, os campeões disputarão com os nossos Doze Guerreiros.

Assim que soltou essa notícia, um estardalhaço voltou a se formar. As pessoas pareciam dividas quanto a esse fato. Os Doze Guardiões eram a elite de guerreiros das Cinco Nações e a tradição dizia que eles não eram autorizados a lutar naquele tipo de competição, para alguns, era quase uma desonra. Contudo, muitos achavam que seria bom ver os presentes dos Deuses em ação.

Do outro lado, os Guardiões tentavam manter-se estáticos, mas nem mesmo eles estavam esperando pela notícia. Se entreolharam brevemente, alguns mais preocupados que outros, quase que perguntando silenciosamente se alguém sabia o que estava acontecendo.

- Não se preocupem! – A Hokage retomou a palavra. – A participação é completamente voluntária. Qualquer guerreiro ou guerreira que quiser participar do Torneio pode se inscrever na Cúpula. Mas não se esqueçam... essa pode ser uma das maiores honras que vocês podem ter, a oportunidade de lutar lado a lado, aos presentes dos Deuses e provar que você também pode ser um escolhido, provar que os Deuses nos agraciaram mais do que podemos ver com os nossos olhos mortais.

Àquele ponto, Tsunade estava inebriada pelas próprias palavras. Ela não acreditava no que saía de sua boca e com tanta facilidade, porém lá estava ela: usando e abusando de uma habilidade que nem mesmo ela sabia que possuía.

A população parecia estar em favor do evento. A tradição e comum que fossem para o espaço. Era momento de inovar e não havia nada melhor do que provar sua força através do divino.

- E como nossa tradicional queima de fogos não ocorreu no dia planejado, nós a transferimos para o último dia do festival juntamente com a coroação do Torneio dos Campeões. – Ela falou animando mais a população ao mostrar o grande prêmio do Torneio: a espada do Primeiro Hokage. – Vocês estão prontos?

Foi o que bastou para pôr fogo em toda a população.

O povo estava convencido e momentaneamente estavam cegos e alheios ao que verdadeiramente acontecia.

O mundo já estava em chamas, mas ninguém notou.

 

***

Sakura escutava atenta ao discurso da Hokage enquanto se misturava a multidão. Mantinha uma postura rígida e uma expressão taciturna, algo que a acompanhava desde que havia voltado à cidade, e continuava com o olhar fixo no palanque a sua frente.

Não sabia o que viria daquele discurso. Mas não imaginava que fosse algo bom.

A população estava imersa nas palavras de Tsunade, buscando ávida por respostas e explicações. Mesmo que houvesse uma dúvida geral se o Alto Conselho iria revelar alguma coisa importante, as pessoas tentavam se agarrar desesperadamente a algo.

- O Torneio dos Campeões continuará em seu horário normal, mas será um pouco diferente esse ano. Teremos uma edição especial esse ano! – Tsunade fez uma longa pausa e olhou para Sakura no meio da multidão. – Esse ano, os campeões disputarão com os nossos Doze Guerreiros.

Sakura apenas abaixou a cabeça e cruzou os braços contra o corpo entendendo muito bem aonde aquilo tudo iria levar. Era um plano corajoso, mas inegavelmente ruim. Nada daquilo adiantaria de muita coisa, a ameaça estava bem a frente deles e eles sequer conseguiam notar.

A Haruno olhou atentamente para o palanque e observou meticulosamente a reação dos Doze Guardiões. A julgar pelo olhar de dúvida e pura confusão, nem mesmo eles tinham sido informados do que iria acontecer.

Ao observar a comoção do povo e o olhar de poder que Tsunade emanava do palco, Sakura apenas quis dar meia volta e sair daquele local. E assim o fez, caminhou lentamente entre as pessoas tentando sair da confusão e ir para um lugar em que ela não tivesse que escutar discursos inflados quando sentiu alguém agarrar seu braço.

Kakashi fazia uma leve pressão no braço da rosada e mantinha seu clássico olhar calmo. Ela apenas o observou por alguns instantes quando ele a soltou.

- Precisamos conversar. – Ele disse colocando as mãos no bolso da calça e saiu andando. A princípio, Sakura achou tratar-se de algo mais intimista, porém localizou rapidamente outros membros do alto escalão de Konoha ao seu redor.

Não se tratava de uma conversa amigável. De maneira “secreta”, ela estava sendo escoltada. Apenas bufou cansada de toda aquela situação e começou a andar atrás de Kakashi que desviava com maestria da população animada.

Assim que se afastaram da multidão, as pessoas que a escoltavam fizeram-se mais presentes a cercando como se ela fosse fugir.

- Então... do que isso se trata? – Perguntou analisando bem a situação em que se encontrava e depois voltando a encarar Kakashi que mantinha a expressão neutra. Bem, o mais neutro que aquela máscara conseguia transmitir.

- Com a... Animosidade dos eventos recentes, a administração da cidade achou melhor que mantivéssemos a situação em total controle. – Quem respondeu a pergunta não foi Kakashi, mas outro homem com olhos esbugalhados e uma expressão meio morta.

- Então vocês querem me interrogar? – Ela perguntou enquanto observava os quatro homens se alinharem a sua frente. Eles não eram exatamente força policial e também não era Anbu, o que levava Sakura a acreditar que aquilo era muito mais profundo do que eles gostariam de deixar transparecer.

- Nós apenas queremos fazer algumas perguntas. – Gai falou, entrando no meio da fala de Yamato. – Garantir que Konoha está a salvo e que você não tem ligações com Orochimaru.

- Depois de tudo o que aconteceu... Os Kages precisam de uma prova que podem confiar em você do mesmo modo que a Hokage confia. – Shikaku disse jogando o resto do cigarro, que estava em sua boca, no chão e amassando com o pé.

Do mesmo modo que a Hokage confia.

Essas palavras a acertaram em cheio. Demorou apenas mais de uma década e um suposto suicídio para que Tsunade finalmente confiasse em sua “filha adotiva”.  

Sakura podia notar a seriedade não apenas em Shikaku, mas nos outros membros ao seu redor. Inclusive Kakashi. Ela entendia a posição deles, embora achasse tudo aquilo uma grande perda de tempo.

Teria que manter a fachada que havia construído. Teria que provar sua inocência. Precisava que aquelas pessoas confiassem nela da mesma forma que, supostamente, Tsunade o fazia.

- Para onde vamos? – A rosada perguntou com um leve sorriso nos lábios.

***

- Isso é ridículo! – Yugito foi a primeira falar jogando parte das suas coisas no sofá vazio. Ela não estava simplesmente brava, ela estava furiosa. E isso nunca era uma coisa boa vinda da representante da Casa do Dragão.

Os outros entraram no cômodo e fecharam a porta, alguns mais calados que outros. Havia algo não dito no ar, algo que ainda não havia sido identificado muito bem. Uma espécie de sentimento se abatia sobre eles, embora não se soubesse claramente o que era.

- Agora a gente tem que encarar mais essa bomba. – Neji disse sentando-se em um dos sofás vagos enquanto colocava as mãos no rosto.

- Eles nem se deram ao trabalho de nos avisar. – Yugito reforçou.

- Eu não sei porque vocês estão tão estressados. – Sai se manifestou de maneira alegre, mesmo que seu semblante usual fosse austero. – Não é como se não pudéssemos vencer ou coisa parecida.

- A questão não é ganhar ou perder... – Tenten respondeu sentando-se ao lado de Neji. – Eles estão nos usando para abafar a situação. Nós nos tornamos brinquedos em suas mãos.

- Sem ofensa Tenten, mas esse não é o nosso trabalho? – Hinata interveio recostando-se na parede e cruzando os braços contra o corpo.

- Não sabia que nosso trabalho era ser marionete de Kages. – Neji respondeu a prima sem olhá-la nos olhos.

- O que eu quero dizer é... Sim, eles estão nos usando. Mas é exatamente para isso que nós existimos: para servir a população. As pessoas estão com medo, uma guerra mundial pode estar começando e mesmo assim eles nunca perderam a fé em nós. – Hinata falou atraindo atenção e silêncio para si.

- A Hinata tem razão. – Temari quebrou o silêncio. – Nós não fomos criados e escolhidos para sermos simplesmente diplomatas ou atender a festas. Nós somos guerreiros.

- De qualquer forma, é errado. – Gaara entrou na conversa, mas irritado do que realmente aparentava. – Sim, nós temos que servir a população, mas não dessa forma. Nosso propósito é diretamente ligado aos Deuses. Nós deveríamos estar atrás de Orochimaru e não brincando de luta.

- Além disso, como nós vamos enfrentar essas pessoas? – Tenten voltou a falar. – Eles são guerreiros, mas o nosso poder...

- É tudo armado! – Sai disse. – Todo mundo sabe disso. E de todo jeito, eles só querem que a gente distraia as pessoas.

- Sai tem razão. – Shikamaru finalmente se pronunciou. Até o momento ele estava calado apenas encarando a janela com as mãos no bolso e um cigarro na boca. – Não sobre a parte da armação. O que os Kages querem é que nós mostremos que somos realmente poderosos, mostrar as pessoas que realmente podemos protege-las.

- Eles já acreditam nisso. – Naruto também começou a falar. Ele se encontrava ao lado de Sasuke em uma das paredes da grande sala em que se encontravam. Depois do discurso, todos decidiram ir ao prédio dos Kages em que havia uma sala reservada a eles.

- Eles acham que acreditam. – Shikamaru respondeu calmamente. – Mas são em tempos difíceis que a fé e a confiança são questionados o tempo todo. Se Orochimaru é tão forte quanto dizem, se nem mesmo o seu pai conseguiu pará-lo... Apenas isso, pode fazê-los mudar de ideia.

- E se os Kages acham que essa é a melhor forma de lidar com a situação, então que seja.  Hinata finalizou.

O silêncio se abateu novamente sobre o recinto. Ninguém ousou dizer nada por alguns momentos, considerando se aquilo realmente era o certo. Afinal, eles eram simples ferramentas nas mãos de homens e mulheres poderosos ou serviam ao propósito divino?

- De qualquer forma, nós precisamos nos preparar. – Sasuke quebrou o silêncio. – Não podemos esquecer que mesmo que os Kages queiram acalmar o povo com a nossa imagem, Orochimaru ainda está pronto para nos atacar a qualquer minuto.

- E nós estaremos prontos! – Lee disse com seu típico entusiasmo. Surpreendentemente, ele não tinha dito nada até o momento.

- Não, não estamos. – Naruto respondeu deixando que seu semblante e sua voz adotassem um tom taciturno. Lembrou-se mais uma vez da batalha na floresta, Kimimaro impossível de ser tocado, uma verdadeira força da natureza.

Você está utilizando de forças que não pertencem a esse mundo.

Sakura disse quando encostou os olhos em Kimimaro e a simples presença da garota indicava que a ameaça era muito maior do que conseguiam enxergar.

- Naruto está certo. – Sasuke falou mais uma vez. – Não estamos. Nós vimos o que Kimimaro foi capaz na Floresta Proibida, nós vimos a sua força. O que quer que Orochimaru está planejando...

- Nós precisamos ficar prontos. – Naruto completou a frase de Sasuke certo de que o amigo tinha a mesma visão que ele.

A grande questão que pairava no ar era: como diabos iriam fazê-lo?

***

Tinha sido trazida para um prédio afastado do centro da vila. Apesar de aparentar ser antigo, o edifício estava bem cuidado. Não havia nome e a fachada não era bonita, contudo ao entrar ela notou uma grande operação ocorrendo.

Pessoas andavam aceleradas pelas escadas e corredores apressados para chegar em um destino incerto. A princípio, ela achava que tinha sido montada em Konoha uma verdadeira ação policial. Todavia, logo notou que estava errado. Ali era a sede da ANBU.

Sakura estava em uma sala com paredes pretas e com uma única mesa branca no centro. A luz branca iluminava o local, porém havia uma aparência estranha quando os elementos se combinavam. A única coisa que destoava da atmosfera era o gigantesco vidro acinzentado que cobria uma das paredes.

Kakashi estava sentado à sua frente juntamente a Yamato. Apesar de não saberem, Sakura conseguia escutar tudo o que se passava do outro lado da parede. Shikaku e Gai estavam lá juntamente a alguns agentes ANBU e em poucos minutos os Kages aparecem, ansiosos para saber o que Sakura falaria.

Ela riu discretamente porque sabia que os dois “detetives” apenas aguardavam a chegada dos convidados de honra para começarem a fazer as perguntas de ouro. Tinham ficado em ligeiro silêncio até o momento.

Um sinal se acendeu acima do espelho duplo, Kakashi pigarreou e disse:

- Muito bem, vamos começar.

- Diga seu nome para o depoimento. – Yamato começou colocando o copo de água que ele bebia em cima da mesa.

- Haruno Sakura.

- Quantos anos você tem? – Yamato voltou a perguntar.

- Vinte e cinco. – Sakura respondeu com absoluta certeza, embora tecnicamente aquela informação não fosse verdade.

- Qual a sua relação com a vila de Konoha? – Yamato questionou estreitando os olhos como se procurasse nas micro expressões de Sakura alguma mentira. Embora, ele não fosse achar nada.

- Eu morei aqui por boa parte da minha vida.

- E por que você saiu? – Desta vez, quem perguntava era Kakashi e não Yamato. Talvez, ele estivesse encarregado das perguntas mais difíceis.

- Porque todo mundo aqui me tratava como um lixo. – Sakura respondeu deixando que o ressentimento transparecesse em sua voz. Normalmente, esse tipo de reação jamais ocorreria. Contudo, não estava em uma situação normal. Aquele lugar e aquelas pessoas, Konoha e seu povo, resgatavam nela sentimentos que ela não sabia que existiam.

- E como exatamente ocorreu essa fuga? – Kakashi perguntou logo em seguida da resposta.

- Eu simplesmente fui embora. Sai pelo portão da frente no primeiro dia do Festival dos Kages. – Sakura respondeu dando de ombros. Ela bem que gostaria que tivesse ocorrido daquela maneira. Ainda conseguia se lembrar da dor, de seu corpo sendo rasgado em partes, do temor ao cair naquele abismo.

- Então, um dia você simplesmente decidiu que iria deixar Konoha? – Yamato voltou a falar. – Isso não faz muito sentido, especialmente porque achamos traços do seu sangue na Floresta Proibida.

Sakura bufou como se estivesse irritada com a pergunta, mas a verdade era que apenas estava entrando na personagem. De fato, o sangue dela estava por toda a floresta e por isso tinha sido considerada morta. Não podia culpa-los, contudo não poderia dizer a verdade.

- Bem, quanto ao sangue não posso dizer nada. Estou bem à frente de vocês e completamente inteira. – Ela respondeu deixando que a irritação se tornasse calmaria. – Mas você não tem o direito de dizer que um dia eu ‘simplesmente’ deixei essa cidade porque como eu já disse todo mundo me tratava como um nada aqui. Eu apanhava todos os dias, eu era questionada todos os dias e nem mesmo na casa em que eu morava gostavam de mim. Melhor tentar as chances em outro lugar, não concorda?

Nenhum dos dois respondeu e um silêncio se abateu no recinto deixando todos desconfortáveis, porém logo Kakashi voltou a falar.

- E onde você foi depois que foi embora?

- Para o mundo humano. – Sakura respondeu sabendo que era parcialmente verdade. – Eu fiquei um tempo nas ruas até que a assistência social e a polícia local me acharam e me mandaram para um lar adotivo.

- E depois de todos esses anos... O que a fez voltar? – Kakashi questionou com uma calma inabalável e por um momento a Haruno achou que ele conseguia ver através de seus olhos, de suas mentiras tão bem contadas e trabalhadas. – Se ninguém gostava de você, como nos disse, o que a motiva a voltar?

Sakura deu de ombros novamente e disse:

- Talvez, dar um fechamento a toda a minha história. – Havia certa verdade em sua fala.

- Como você foi parar na Floresta Proibida? – Yamato perguntou bebendo um pouco mais de sua água.

- Eu literalmente caminhei até lá. – Sakura rebateu com um pouco de ironia e logo completou. – Não encontrei ninguém que conhecia e queria ficar longe do estardalhaço do festival, então comecei a caminhar e quando percebi estava no meio da floresta. Foi quando escutei alguém gritar e fui até lá e tudo o que aconteceu depois disso vocês já sabem.

- Na verdade, não sabemos. – Kakashi falou respirando profundamente. – Pode nos explicar, por favor.

- Hm... Ino estava em um altar de sacrifício, aquele tal de Kimimaro a feriu gravemente e a Hokage, Naruto, Sasuke e Inoichi lutaram contra ele.

- E tudo o que você fez foi ficar olhando? – Yamato perguntou como se estivesse ainda mais desconfiado de Sakura.

- E o que mais eu poderia fazer? – Sakura perguntou aproximando seu corpo da borda da mesa silenciando Kakashi e Yamato. E se os dois tivessem feito sua pesquisa, como ela acreditava que o tinham feito, eles sabiam que até o momento de seu desaparecimento ela não tinha demonstrado nenhum dom para as habilidades mágicas e divinas.

Sakura achou que o interrogatório tinha chegado ao seu fim quando Kakashi voltou a pronunciar:

- Qual a sua relação com Orochimaru?

- Nenhuma. – Respondeu tranquilamente. – Tudo o que eu sei sobre ele está nos livros de história e nos contos populares.

- Desculpe-me, senhorita Haruno, mas tudo isso me parece completamente estranho. – Kakashi disse descrente de tudo o que ela tinha dito até o momento. Lembrava-se de ouvir histórias e rumores sobre o Hatake, o quanto era poderoso e inteligente. Seu título fazia jus a sua pessoa, uma pena que ele também não era páreo para ela. – São muitas coincidências para uma noite só.

Os dois se encararam por um momento, incertos do que dizer em seguida.

- Você foi considerada morta por treze anos e simplesmente reaparece no mesmo dia que Orochimaru também. – Yamato disse com um tom de suspense. – Coincidências demais.

- Desculpe-me “agente” Yamato. – Sakura falou recostando-se na cadeira. – Mas quem decidiu me declarar morta foi o governo de Konoha. Mesmo sem o meu corpo, todos acharam que eu estava morta e quando eu volto... – Ela fez uma pausa estratégica. – Todo mundo quer apontar o dedo para mim, então vou repetir o que já deveriam saber: eu não sou aliada de Orochimaru.

Sakura enfatizou a última parte levantando-se abruptamente da cadeira, fazendo muito mais uma pose dramática do que qualquer coisa.

- E depois desse pequeno show eu tenho certeza de uma coisa.

- E o que seria? – Yamato perguntou.

- Voltar para essa cidade foi um grande erro. – Finalizou indo em direção a porta. No fundo havia uma pontada de felicidade dentro dela. Não imaginou que conseguisse atuar tão brilhantemente.

Assim que passou para o outro cômodo, encarou os Kages em seguida direcionando seu olhar para Tsunade. Havia pesar nos olhos da loira e Sakura estava adorando. Sem dizer absolutamente nada, ela saiu pelo corredor.

Não olhou para trás.

***

Sakura saiu do prédio sem grandes problemas, inegavelmente orgulhosa de sua performance. Eles nunca saberiam a verdade, porque não podiam, e mesmo que a dúvida de sua relação com Orochimaru ficasse no ar ela conseguiria lidar com aquilo. Acreditava que boa parte deles não concebia mais a ideia de ela ser uma aliada do Mestre das Cobras.

 Caminhou lentamente por ruas desconhecidas simplesmente tentando absorver toda aquela beleza natural. Tinha passado anos enclausurada em verdadeiros infernos, então ter a presença de árvores e ar puro era algo que fazia bem.

Mesmo que desde que tenha saído do prédio soubesse que estava sendo seguida.

Finalmente sentiu alguém agarrando o seu braço e a princípio acreditou ser Kakashi novamente. Ela bem sabia que ele mais do que qualquer um não tinha engolido metade do que ela tinha falado, mas se surpreendeu quando a figura de Gaara foi revelada.

- Eu preciso conversar com você. – O ruivo disse soltando lentamente o braço dela. Estavam ainda longe da cidade e Sakura sabia que não tinha ninguém os espionando, algo que era difícil de acreditar.

- Okay. – Ela respondeu ainda sem entender o que Gaara fazia ali.

- Eu achei que estava ficando louco quando eu te vi, mas agora tenho certeza que não. Depois de pensar muito, eu sei que não. – Ele começou a falar deixando que certo desespero transparecesse em sua voz.

- Do que você está falando? – Sakura perguntou com as sobrancelhas arqueadas genuinamente curiosa.

- Eu me lembro de você.

- Isso não é exatamente possível. Nós não nos conhecemos quando éramos mais novos e eu fiquei fora desse lugar nos últimos treze anos. – Sakura disse sentindo aonde aquela conversa levaria e logo começou a sentir certo nervosismo ao conversar com Gaara.

- Eu sei que não. – Gaara respondeu. – Há muito tempo parece que há um buraco na minha memória e quando eu te vi a sensação de estar faltando algo ficou ainda mais forte. Agora eu compreendo, finalmente eu me lembrei. – Existia uma felicidade contida em sua voz.

- Eu não sei do que você está falando. – Sakura fingiu desentendimento virando para o outro lado, porém Gaara a segurou pelo braço de novo.

- Quando eu tinha dezesseis anos eu quase morri. – O ruivo disse ainda sem soltar o braço dela. – Foi você que me salvou aquele dia Sakura. 


Notas Finais


Mais um final misterioso para nossa história! O que será que o Gaara quis dizer com tudo aquilo?
E em alguma outro capítulo eu perguntei se vocês preferiam capítulos mais longos e curtos. Devido aos comentário de vocês decidi deixar mais ou menos com essa quantidade de palavras para não ficar tão cansativo.
Qualquer erro me avisem para que eu conserte, por favor.
Comentário são sempre muito bem-vindos
Espero que tenham gostado!
Beijos e até mais!


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