História Bird set free - Esgotada

Camila’s P.O.V

Hoje acordei de péssimo humor. O dia ontem tinha sido uma verdadeira merda. Primeiro, a Alexa me marcou – como de costume – durante a educação física e acabou acertando uma bola em mim como um tiro de canhão, o que me rendeu um belo de um hematoma. Segundo, meu pai me falou que haviam o demitido do emprego, o que nos deixaria numa situação bem parecida de quando morávamos em Cuba. Acabei dormindo pessimamente mal essa noite, preguei o olho somente instantes antes do meu despertador começar a tocar. Levantei e fui fazer minha higiene matinal, fiquei algum tempo olhando meu rosto no espelho para analisar a situação, estava levemente inchado e o hematoma roxo estava marcante um pouco abaixo do meu olho. Que ótimo. Ao sair do banheiro fui direto para a cozinha, meu pai estava lendo uns anúncios no jornal enquanto minha mãe preparava o café.

– Bom dia filha – disse meu pai ao me ver, não sei o que tinha de bom para ele.

– Apenas dia – respondi ranzinza. Ele me fitou com um olhar repreensivo, que mudou para preocupação.

– Como está se sentindo? Seu rosto parece menos inchado – ele disse me analisando. Respondi com um muxoxo, não estava afim de falar sobre minha situação facial.

– Bem, vou colocar uma roupa mais social para tentar encontrar algum lugar que esteja oferecendo emprego – ele falou, se levantando e colocando seu prato na pia.

– Papa, eu poderia arrumar algo para trabalhar, em algum supermercado ou lanchonete, tenho certeza que pelo menos um estará contratanto – falei esperançosa, mas meu pai já foi logo balançando a cabeça em negação.

– Não Camila, você vai continuar focada nos seus estudos, é seu último ano e logo irá para uma faculdade, pode deixar que eu e sua mãe nos viramos, nós sempre demos conta juntos não foi? Dessa vez não será diferente – ele disse dando um abraço de lado na minha mãe – ontem mesmo já entrei em contato com alguns lugares que estavam com vagas abertas e hoje vou entregar meu currículo e fazer algumas entrevistas, e aproveito e dou uma volta por perto para ver se consigo alguma coisa. Não se preocupe mi hija, tenho esperanças que em pouco tempo já estarei no ramo de novo – ele falou dando um leve sorriso, só aquilo foi necessário para minha esperança permanecer intacta. Ele me deu um beijo na testa e foi se trocar, coisa que também fui fazer. Vesti um vestido soltinho, calcei um vans vinho que havia ganhado de presente do Harry, coloquei um laço preto no cabelo, peguei minha mochila e desci as escadas, peguei um pote com salada de fruta que minha mãe havia feito para eu comer no intervalo, me despedi dela – meu pai já havia saído – e fui para o colégio.

Assim que cheguei, a Ally e o Harry vieram ao meu encontro com cara de preocupados.

– Mila do céu, você ta bem? – Hazza me abraçou e ficou na expectativa da minha resposta.

– Calma, eu tô bem, foi só uma bolada gente, não fui atropelada por uma manada de elefantes ou coisa assim – falei tentando amenizar a situação e acalmá-los ao mesmo tempo.

– Como assim nada? Eu vou matar aquela vadia da Ferrer – agora era a Ally que se exaltava, o que era uma coisa rara. Ontem eu havia mandado uma mensagem para eles dizendo o que tinha acontecido, eles xingaram tanto a Alexa que já estavam surgindo palavrões que eu nem conhecia.

– Esquece isso ok? Pode ter sido sem querer – falei sem nem acreditar no que disse, claro que não foi sem querer, eu só não queria que meus amigos se envolvessem nos meus problemas, eu nunca os deixava fazer isso.

– Sem querer? E desde quando a Alexa faz algo sem querer? Conta outra – o Harry disse revirando os olhos. Depois de dizer de mil e uma formas que eu estava bem, fomos aos nossos armários e nos dirigimos para a sala, teríamos os três aulas juntos, pela primeira vez esse ano.

Após as três primeiras aulas, estávamos indo para a lanchonete quando lembrei que havia esquecido a minha salada de fruta na bolsa, eu deixaria para lá mas estava realmente com fome e não havia trazido nenhum dinheiro para comprar algo para comer – estava economizando o máximo possível – então falei para meus amigos irem caminhando na frente enquanto eu voltaria para pegar meu lanche. Caminhei até o meu armário, o abri e peguei minha mochila, tirando o pequeno pote de dentro, a guardando e fechando a porta em seguida. Quando me virei, a Alexa estava lá me olhando com aquele sorrisinho debochado que era sua marca registrada.

– Camilinha, como está seu rosto? Espero que eu não tenha te acertado forte demais – ela disse com uma falsa preocupação estampada na cara. Eu não respondi nada, só abaixei a cabeça e comecei a andar, eu não queria mais confusão com ela, mas parece que ela não queria o mesmo. Ela esticou o braço impedindo minha passagem.

– Já está indo? Mas eu queria tanto bater um papo com você – ela começou com seu joguinho estúpido – a garota nova parece ter um bom nível social, e é bonita, o que poderia agregar no meu pequeno time, então, seria bom não bancar a coitadinha pra cima dela para ela ter pena de você, ok? – aquilo era uma ameaça?

– Eu não banquei a coitada, você me acertou uma bola na cara e eu desmaiei, Alexa, DESMAIEI – aumentei meu tom, coisa que eu nunca fazia com a Ferrer, mas odiei a ideia dela querer se vitimizar enquanto eu era a vítima da história, e odiei ainda mais ela pensar em brincar com a Lauren, ela tinha me ajudado ontem quando ninguém mais o fez e eu havia realmente gostado dela.

– Camila Cabello gritando comigo? – Alexa disse enquanto se aproximava de mim, o que fez meu corpo inteiro entrar em alerta, as poucas pessoas que passavam por aquele corredor pareciam ver e ignorar a cena, óbvio que ninguém se meteria em nada que a Alexa estivesse envolvida – Você está lembrada de que os Ferrer são donos da maior agência de modelo da América? E os Cabello, o que são? Um bando de pobretões que têm uma filha que estuda num colégio particular por caridade – ela sussurrou essa última parte com o rosto bem próximo do meu. Meus olhos encheram de lágrimas, mas eu não choraria na frente dela.

– Isso é seu lanchinho? – ela disse olhando pro pote na minha mão – ai que fofa, a mamãe Cabello manda suprimento pra filha porque não tem dinheiro para dar pra comprar comida de verdade – ela disse debochada dando mais um dos seus risinhos sarcásticos.

– Bem, já que você parece não estar muito afim de conversa, eu vou indo, se cuida Camilinha e não esqueça do que eu te falei – ela disse dando as costas para mim, agradeci mentalmente porque não sabia o quanto mais iria aguentar, mas ela parou e se virou uma última vez – a propósito, você está mais bonita assim, roxo combina com seu tom de pele – ela disse apontando para meu rosto, deu um último sorriso e saiu. Esperei ela virar o corredor e caminhei o mais rápido possível em direção ao banheiro, eu não estava nada bem e não iria para a lanchonete assim. Entrei numa cabine e me tranquei lá, com tudo o que a Alexa me disse invadindo minha cabeça, eu estava esgotada, e então desmoronei como nunca mais tinha feito.