História Bird set free - Meu amor

Camila’s P.O.V

Meu sono não foi nada tranquilo. Pesadelos me rodearam durante toda à noite, o mais angustiante foi ouvir novamente o grito da Lauren pelo meu nome segundos antes do acidente, nesse momento acordei ofegante com lágrimas já correndo pelo meu rosto, sentei abruptamente na cama com os joelhos em meu peito, abraçando minhas pernas, iniciando um choro silencioso.

– Mila? – a porta foi entreaberta e ouvi a voz da minha irmãzinha me chamando.

– Oi, princesa – falei secando meus olhos e sorrindo de leve para a Sofi, que fechou a porta atrás de si e se aproximou da cama.

– Não chora – ela disse e me abraçou, encaixando o rosto da curva do meu pescoço, era impossível fazer o que ela me pedia. Ficamos nessa posição por alguns minutos, até que nos separamos e minha irmã me encarou, secando mais uma lágrima que insistia em cair. Sabe quando dizem que crianças são como anjos, que sempre sabem quando algo está errado e que só um abraço delas é capaz de fazer você se sentir um pouco melhor? Eu tinha a certeza disso agora. Olhei pela janela e vi que estava amanhecendo, eu provavelmente havia dormido cerca de meia hora, já que eu havia chegado muito tarde.

– Vamos dormir mais um pouco? Está bem cedo ainda – falei para a Sofi que bocejava e esfregava seus olhos, ela assentiu e então eu a peguei em meus braços a levando até seu quarto – você ta pesada, o que anda comendo? – falei e ela soltou uma risadinha, a porta de seu quarto estava aberta então entrei e a coloquei na cama, a cobrindo com a coberta.

– Mila... ela vai ficar bem – a pequena disse entre um bocejo fechando seus olhos e caindo no sono instantaneamente, eu sorri e depositei um beijo em sua testa, saindo logo em seguida. Voltei para meu quarto, tomei um banho e vesti uma roupa simples qualquer, me olhei no espelho e vi meus olhos inchados e vermelhos, passei uma maquiagem leve só para amenizar a situação um pouco e desci, indo até a cozinha.

– Bom dia, hija – meus pais já estavam sentados na mesa conversando sobre algo e vieram me cumprimentar com um abraço assim que me viram entrar no cômodo.

– Conseguiu dormir? Ainda é bem cedo – minha mãe perguntou e eu só neguei com a cabeça, sentando e os encarando, não sentia vontade de comer nada. Depois de muita insistência tomei um copo de suco com uma fina fatia de bolo. Recolhi os pratos, lavei a louça, tudo feito num silêncio angustiante mas que eu não queria quebrar. Com tudo arrumado eu fui até a sala e sentei no sofá, olhei pra tela apagada do meu celular por alguns instantes, inspirei fundo e a desbloqueei, eu tinha medo de ter alguma mensagem negativa. Nada. Bem, era melhor nada do que algo ruim. Mandei uma mensagem para meus amigos mas ninguém me respondeu, eles deveriam estar dormindo ainda. Abri a conversa com a Normani e ela estava online, então a perguntei como estavam as coisas, ela disse que estava tudo como horas atrás e que estava indo para casa agora descansar, agradeci e bloqueei a tela novamente, não sabendo se ficava aliviada por não ter havido alguma piora ou triste por não ter havido melhora. Fiquei ali mais alguns minutos mas parecia que a hora não passava, eu não iria para a aula hoje, teríamos só essa semana antes das férias de inverno começarem então faltaria esses dias, eu estava louca para ir logo ao hospital mas meu pai pediu para eu esperar mais um pouco, já estava impaciente e ansiosa andando de um lado para o outro quando ouvi um latido, olhei para a porta e vi o Nick lá, pedindo para passear. Meu coração deu um aperto, eu havia adotado ele junto da Lauren e só de olhar para aquele cãozinho as órbitas verdes da morena invadiam meus pensamentos, queria tanto poder olhar para aqueles olhos agora. Peguei a coleira, coloquei no pescoço do Nick e saímos para passear pela rua, foi até bom para clarear um pouco as ideias. Voltamos para casa cerca de vinte minutos depois, o soltei e ele foi tomar água e descansar, chamei pelo meu pai e disse que já iria ao hospital, ele me deu dinheiro para a passagem e um extra para caso eu quisesse comer algo, me despedi dele com um beijo na bochecha e saí, indo até o ponto de ônibus perto de casa. Era sete e meia da manhã e a condução estava cheia, fiquei em pé apoiada num assento e cerca de quarenta minutos depois eu desci a alguns metros do hospital, caminhei rapidamente e adentrei o lugar, avistando a dona Clara cochilando numa cadeira próxima a recepção com Michael do seu lado mexendo no celular, me aproximei e ao me ver ele se levantou, me cumprimentando com um abraço e passando para mim toda a situação, falando baixo para não acordar a esposa.

– A cirurgia ainda está em andamento, já faz mais de cinco horas, Camila, eu... não sei o que pensar – Mike disse passando a mão pela testa limpando o suor que havia ali, meu coração apertou novamente e sentei ao seu lado, não tendo nada o que fazer a não ser esperar. Uma hora e alguns minutos depois eu vi o médico da Lauren saindo de uma sala e vindo em nossa direção, a cara dele não era uma das melhores e meu estômago revirou só de olhar pra ele.

– E então, doutor? Como ela está? – Clara, que havia acordado minutos antes, perguntou ansiosa.

– A cirurgia foi longa mas acabou com sucesso – ele disse e soltei o ar, mas ele não mudou sua cara nada boa – fizemos a tomografia e infelizmente há um coágulo no cérebro, a cirurgia precisa ser feita mas é muito delicada e pode haver sequelas, como ela não saiu do coma este pode se prolongar e talvez se tornar irreversível – ele disse e meu mundo caiu novamente, dona Clara iniciou um choro desesperado e Michael tentava consolá-la.

– Não tem outra opção para que esse coágulo seja retirado? – perguntei e Carl balançou a cabeça negativamente.

– Infelizmente não, ele está num local delicado do cérebro e não podemos esperar a situação dela estabilizar mais, a cirurgia precisa ser feita agora ou será tarde demais – ele disse e eu assenti com a cabeça, digerindo – eu farei todo o possível, vocês podem aguardar aqui ou irem descansar, esse tipo de cirurgia demora cerca de oito horas para ser concluída, vou preparar agora mesmo a Lauren e iniciar logo em seguida – Carl disse se retirando logo depois de agradecermos. Depois de muita insistência e relutância consegui convencer a Clara a ir para casa descansar, Michel perguntou se eu ficaria bem e eu disse que sim, então ele levou a mãe da Lauren alegando voltar logo. Normani apareceu com a Dinah meia hora depois e ficamos conversando sobre coisas aleatórias. Na hora do almoço fui até o restaurante do hospital comer alguma coisa com as meninas, Michael já havia voltado e tinha nos obrigado a ir fazer uma refeição. O fim da tarde já se aproximava e nada de notícias da Lauren, todas as minhas unhas já haviam sido roídas e eu batia o pé no chão freneticamente. Pouco tempo depois Carl apareceu e segurei a respiração novamente quando ele começou a falar.

– Tenho uma notícia boa e uma nem tanto – ele disse parecendo escolher qual falar primeiro – a cirurgia saiu como planejávamos, nada errado aconteceu, porém ela não respondeu a alguns estímulos permanecendo no coma que pode durar alguns dias ou ser... irreversível – ele terminou e a família Jauregui iniciou um choro de cortar o coração, eu estava em choque e a ficha ainda não havia caído.

– Nós... podemos vê-la? – perguntei e ele assentiu, nos conduzindo por um corredor à esquerda. Passamos por algumas salas até chegarmos em uma com um grande vidro.

– Os enfermeiros estão acabando de colocar o medicamento e limpando alguns curativos então vocês só podem ver daqui, vou dar privacidade – ele disse e saiu. Eu me aproximei do vidro e encarei a morena deitada, imóvel, com perna e braço enfaixados, sua cabeça havia sido raspada para a cirurgia e estava coberta com um grande faixa e esparadrapos.

– Meu amor... – sussurrei para mim mesma encostando a testa no vidro gelado e iniciando um choro silencioso.