História Bird set free - Primeiro dia - parte 2

Camila’s P.O.V

Era ela, a garota que estava conversando com o Jamie, bem ali na minha frente. A fitei rapidamente e concentrei meus olhos nos dela, eram de um verde profundo e enigmático, nunca antes visto por mim.

 – É... você está bem? – a garota se dirigiu a mim, me tirando de um estado de transe vergonhoso que provavelmente durou demais.

– Si..sim, eu estou b..bem, me desculpe – desde quando você gagueja Camila?

– Então, você pode me ajudar, por favor? – a morena me questionou novamente, fiquei um pouco perdida, nunca ninguém tinha me pedido ajuda desde que estudo aqui.

– Claro, do que você precisa? – estava agradecendo a Deus por ter me recomposto e conseguido formular uma frase decente.

– Bem, eu sou nova aqui no colégio e queria saber onde posso pegar os meus horários e senha para o armário, mas fiquei meio que perdida – disse ela com uma expressão no rosto que aparentava ser um leve constrangimento.

– Você está no lugar certo, aqui é a secretaria – falei apontando para a porta na nossa frente.

– Muito obrigada, será que, se não for pedir demais, você poderia me acompanhar? É que provavelmente não saberei a minha sala e você parece ser bem familiarizada com tudo aqui e, bem, poderia me ajudar novamente – agora sim com certeza ela estava constrangida, aposto que não mais que eu, era raro eu conversar com alguém no primeiro dia de aula e em todos os outros, mesmo que assim, brevemente.

– Tudo bem, vamos – abri a porta e entramos na secretaria, falei à Anna que a garota nova – que a propósito nem perguntei o nome – queria o seu horário e senha do armário novo. Ela estava numa briga com seu computador, que parecia ter enguiçado de vez, e então deu um pendrive para que a menina ainda desconhecida imprimisse o que precisasse em algum dos computadores do canto, enquanto continuava na brava tentativa de fazer aquele eletrônico funcionar. No minuto seguinte a morena já estava com o que precisava em mãos.

– Aqui diz que minhas primeiras aulas são de química, seguidas de física, ótimo – e revirou os olhos – sabe onde fica as salas do terceiro ano?

– Você é do terceiro ano? Eu também sou, e as suas aulas de hoje batem com as minhas, acho que vamos para a mesma sala – falei para a garota que pareceu aliviada.

– Que bom que não terei que andar por esses corredores sozinha – e deu um breve sorriso, que fez seus olhos ficarem apertadinhos, era fofo. Fui caminhando em direção à sala já conhecida por mim, com a garota do meu lado. Resolvi não fazer nenhuma pergunta sobre o Jamie, eu não sabia nem seu nome e poderia estar sendo invasiva. Vários olhares se viraram para nós – mais especificamente para ela – já que era novata e realmente muito bonita. Enquanto andávamos, pude fitá-la sem que me notasse. Ela era uns bons centímetros mais alta que eu, com uma pele pálida e cabelos negros como a escuridão, do mesmo tom que todas as peças de roupa que ela usava. Seu andar era imponente, e notei que ela não era só muito bonita, ela era magnífica.

Alguns metros a frente, avistei a sala que seria a nossa durante as segundas feiras, a adentrei acompanhada da menina, ainda não havia ninguém dentro.

– Muito obrigada de verdade, te devo uma – ela falou com um pequeno sorriso – Ah, nós nem nos apresentamos, meu nome é Lauren – e estendeu a mão para mim – Prazer, meu nome é Camila Cabello – e apertei a mão dela de volta.

Lauren’s P.O.V

Camila parecia ser uma menina legal. Eu estava totalmente perdida tentando encontrar o lugar para pegar meus horários quando a encontrei e ela me ajudou, vimos que tínhamos algumas semelhanças no horário, inclusive nossas aulas hoje eram as mesmas.

Quando entrei na sala vi que não havia ninguém ainda, o que era bom, já que gostava de me sentar no fundo, o lugar preferido da maioria das pessoas. Coloquei minha mochila em cima da carteira, não fui no meu armário guardar nada, já que tinha trazido todos os livros comigo porque não saberia que aula teríamos hoje, peguei meu iPod e comecei a ouvir algumas músicas enquanto o professor/professora não chegava. A tal de Camila estava sentada na primeira mesa da fila, absorta num livro, então nem cogitei ir lá puxar algum papo, já a havia atrapalhado demais hoje. Os alunos começavam a chegar, alguns me encaravam curiosos, outros faziam comentários com os amigos me fitando, e eu só pensava na vontade louca que estava de usar o banheiro. Já havia se passado 15 minutos do horário da aula começar e nada do professor chegar, então levantei e fui tentar encontrar o banheiro, depois de alguns metros andados e curvar feitas pelos corredores – aquele colégio era realmente enorme – eu o encontrei. Fiz o que tinha de fazer e quando fui voltar pra sala, quem disse que eu lembrava do caminho? Dei duas ou três voltas a mais que antes e finalmente encontrei a sala, a porta estava fechada, e vi pelo vidro que uma senhora, provavelmente a professora, já estava de pé falando algo com os alunos. Merda.

Tomei coragem e bati na porta, a professora fez sinal para que eu a abrisse, e todos me olharam, me senti um pouco desconfortável, não gostava da atenção voltada pra mim.

– Desculpa, fui usar o banheiro e acabei me perdendo – disse me dirigindo à professora, ouvi algumas risadinhas mas nem liguei.

– Sem problemas, jovem, vejo que você é nova aqui, meu nome é Daniele, gostaria de se apresentar pra turma? – odeio apresentações.

– Bem, eu me mudei de Miami pra cá há duas semanas e meu nome é Lauren... Lauren – eu não gostava de falar meu sobrenome para as pessoas de cara, odiava quando vinham falar comigo ou queriam minha amizade somente pela minha condição financeira e pelo impacto que o nome Jauregui traz pro mundo.

– Seja bem vinda Lauren, sente-se para que possamos prosseguir com a aula – fui direto para meu lugar sem olhar para ninguém, provavelmente ainda estariam me encarando, analisando e julgando como sei que a maioria das pessoas faz. Quase duas horas depois o sinal tocou, e Daniele falou que só faria a lista de frequência em duas semanas, que era quando o sistema estaria pronto e liberaria a lista de todos os alunos. Normani era uma filha da puta de sorte, não levaria nenhuma falta.

Fiquei na sala de aula durante o intervalo, não costumava sentir fome a essa hora e nem estava afim de conhecer a lanchonete, deveria estar um verdadeiro formigueiro com todo mundo se reencontrando, conversando sobre as férias e blá blá blá. Um garoto e uma garota vieram chamar a Camila para ir, ela ficou relutante mas no fim acabou cedendo e os três saíram, me deixando sozinha naquela sala enorme. Minutos depois o professor de física chegou, se apresentou como Arnold e deu duas horas de aula que pareciam uma eternidade para mim, essa definitivamente era a matéria que eu mais odiava.

Quando o sinal tocou, suspirei aliviada e esperei todos saírem da sala para eu poder me encaminhar para a saída. Fui devagar até o local que havia deixado a minha moto mais cedo, tinha um pessoal nas proximidades que ficou um pouco espantando ao ver que aquela moto era minha quando eu peguei o capacete e a liguei. Saí do estacionamento ainda sob olhares curiosos e dirigi até a minha casa. No caminho fui pensando em como o meu primeiro dia tinha sido relativamente tranquilo e desejei que os outros dias do ano também fossem assim. Mal sabia o que me esperava.