História Bird set free - Um dia após o outro

Camila’s P.O.V

O meu primeiro dia de aula estava acabando, e até que foi razoável, principalmente pelo fato da ganguezinha de metidos que implicavam comigo não terem aparecido no colégio. Até agora os professores eram os mesmos do ano passado, então não tive nenhum problema em me adaptar a alguma nova forma de ensino. Quando o sinal bateu, peguei minhas coisas e fui para perto do portão principal esperar a Ally e o Harry, nós não íamos embora juntos, porque eles moravam de um lado da cidade e eu do outro, mas esperávamos uns pelos outros pra contar como foras as aulas sempre que tínhamos matérias diferentes no dia. No intervalo, os dois me importunaram para irmos à lanchonete, eu não estava nada afim, não queria encontrar a Alexa no primeiro dia de aula, mas depois de tanto insistirem eu fui, o que foi bom já que ela não tinha dado sinal de vida – poderia ser assim o resto do ano –. Avistei meus amigos se aproximando e já fui de encontro a eles.

– E aí, como foi a aula hoje? – perguntei realmente interessada na resposta deles.

– Um saco – disse a Ally revirando os olhos – um tédio total – complementou o Harry. Era difícil ser a nerd do grupo sozinha.

Andamos para a saída e nos despedimos, seguindo rumos diferentes. Geralmente eu ia para casa a pé, só pegava um ônibus quando estava cansada, como hoje tive poucas aulas caminhei até a minha casa. Quando cheguei vi minha mãe e Sofi na cozinha, a pequena já tinha voltado do colégio.

– Kaki, Kaki, como foi no colégio? Eu aprendi um monte de coisa nova e já fiz vários amigos, tem uma professora que me deixa comer doce de uma aula pra outra e eles colocaram balanço no parquinho – Sofi não parava de falar, visivelmente animada, e não pude deixar de sorrir.

– Que bom que se divertiu maninha, o meu dia foi bom também, mas claro que não chega nem aos pés do seu – falei bagunçando o cabelo dela. Dei um oi pra minha mãe e subi pro meu quarto, tomei um banho, vesti uma roupa confortável e desci pra almoçar. Minha mãe já estava me esperando para comer, o meu pai trabalha durante o dia inteiro e não vem almoçar em casa, sempre leva uma comida que minha mãe faz logo cedo. Sentei e começamos a comer, Sofi já havia comido e estava vendo desenho na TV.

– E então mi hija, como foi seu primeiro dia de aula? Tem muita gente nova? – minha mãe me questionou e minha mente viajou automaticamente para aquele par de olhos verdes.

– Ah mãe foi normal, um pouco chato porque o Harry e a Ally ficaram numa sala diferente da minha hoje, e só vi uma garota nova – falei tentando demonstrar pouco entusiasmo. Minha mãe assentiu e acabamos nossa refeição em silêncio. Lavei a louça e subi pro meu quarto para rever a matéria de hoje, um tempo depois peguei meu celular e fiquei um pouco no whatsapp conversando no grupo que a Ally fez – que só tinha eu, ela e o Harry – eu não gostava muito de usar esses aplicativos e não tinha nenhuma rede social, só conversava com eles mesmo e com alguém da família que resolvia aparecer só para encher o saco. Dormi um pouco e desci para ajudar minha mãe com o jantar. Eu tinha uma aptidão quase nula para a cozinha, então quando digo “ajudar”, quero dizer cortar legumes e lavar a louça que ela ia sujando para não acumularem. Meu pai chegou bem na hora que acabamos de colocar a mesa, ele me fez a mesma pergunta que minha mãe sobre meu dia de aula e dei a mesma resposta. Minutos depois já estava tomando banho para deitar, vesti uma calcinha e um blusão velho – era acostumada a dormir assim – desci, tomei um copo de água, dei boa noite aos meus pais e subi pro meu quarto. Fiquei vendo alguns vídeos de música no celular até pegar no sono.

(...)

Já estava no segundo andar do Midtown high school com a Ally esperando o início da aula de biologia. O Harry não teria aula com a gente agora e íamos nos encontrar no intervalo como sempre. Biologia era uma das minhas matérias preferidas e o primeiro tempo passou rápido. Desci com a Ally para o térreo onde ficava a lanchonete e o Harry já nos esperava por lá.

– E aí unicórnio – ele amava e odiava ao mesmo tempo que eu o chamasse assim, dependia do seu humor diário.

– Vou deixar passar hoje Camilinha – é, o seu humor estava bom – eu tive aula com uma garota nova hoje e meu deus, se eu gostasse da fruta com certeza me interessaria nela – Harry sendo Harry.

– Quem é essa? – Ally perguntou curiosa, eu também queria saber, tinha que ser muito linda pra chamar atenção até do Harry.

– Uma tal de Lauren, não sei o sobrenome, só sei que ela era de Miami e se mudou pra cá – ela de novo.

– Ah, eu tive aula com ela ontem, a ajudei a encontrar a sala e tal – Harry voltou toda a sua atenção pra mim.

– Você teve aula com a senhorita aluna nova gostosona e não falou nada pra gente? – ele perguntou parecendo incrédulo – Ela é legal? – continuou perguntando.

– Achei que não fosse importante, ela me pareceu legal, mas só nos falamos o necessário então não tenho nenhuma opinião concreta sobre ela – respondi dando uma mordida no meu sanduíche que minha mãe tinha feito.

– Hum, vou aceitar sua resposta – ele falou comendo uma coxinha que havia comprado. Continuamos a nossa conversa, falando sobre como foram as nossas férias. Ontem não tivemos tempo de falar sobre isso porque os dois teriam aula de educação física e tiveram que ir ao vestiário colocar o uniforme. Ally tinha ido passar as férias com sua família no Texas, onde ela nasceu, eles tinham uma rede de shoppings pelo estado e aproveitaram para ver como tudo estava indo. Já Harry havia ido para Paris, a família Styles era uma família de estilistas bem reconhecida por aqui, alguns famosos usam a marca deles nas suas vestimentas. Os sobrenomes eram algo que as pessoas consideravam importantes por aqui, e Cabello? Não tinha nada que interessasse a ninguém.

O sinal tocou para voltarmos para as últimas aulas, eu teria geometria junto com o Harry, e a Ally teria história, então nos separamos no corredor e fomos para as respectivas salas. Depois de três longas aulas, o sinal bateu e o Harry nunca me pareceu mais feliz.

– Graças a Deus, não suportava mais, por que a gente tem que estudar geometria mesmo? – ele parecia verdadeiramente indignado então nem o contrariei argumentando com meus mil motivos para estudarmos aquilo – Mila, hoje vou com a Ally, o pai dela vai me dar uma carona, ainda bem, porque o tédio das aulas de hoje me cansaram de verdade – eu ri da cara que ele fez e nos despedimos. Como ainda estava um pouco mais cedo que o de costume, resolvi olhar o quadro de atividades extras para me inscrever em algo. Nos outros dois anos eu não havia feito nada, mas como esse era meu último ano antes da faculdade, resolvi analisar as possibilidades. Esporte não era comigo, nem música, muito menos teatro, era tímida demais para isso, o que mais se encaixava comigo era o clube de literatura, eu amava ler. Peguei uma caneta e coloquei meu nome numa lista que tinha um total de três pessoas – acho que não era um clube muito popular – e vi que os encontros já começariam na próxima semana. Guardei a caneta e peguei um ônibus para ir pra casa, amanhã teria aula de educação física no período vespertino, teria que ficar direto no colégio desde a manhã, e como falei, esportes não eram comigo, teria que me preparar psicologicamente, mas nada como um dia após o outro.