História Bird set free - Alexa Ferrer

Lauren’s P.O.V

Hoje era quarta feira e eu havia acordado antes do nascer do sol para correr. Coloquei uma roupa de exercício, comi uma maçã e fui em direção ao parque. Fiquei um pouco mais de uma hora me exercitando e voltei para casa, já eram 06:15 e tinha que me apressar para ir pro colégio. Tomei um bom banho, lavando o meu cabelo o mais rápido que pude. Coloquei uma blusa do The 1975 preta com mangas até o cotovelo, uma calça jeans clara e o primeiro par de tênis que vi na frente, só joguei meu cabelo pro lado sem nem pentear, ainda bem que eu gostava de como ele ficava quando secava naturalmente, porque não daria tempo de secá-lo agora. Peguei minha mochila e desci as escadas correndo, provavelmente chegaria perto do horário e perderia a vaga que gostava nos fundos do estacionamento. A Lily estava na cozinha, me viu descer as escadas apressada e me ofereceu um café, eu não podia recusar, então ela colocou numa xícara e eu bebi em, tipo, dez segundos, acho que foi meu recorde. Desejei um bom dia para ela, peguei minhas chaves e o capacete, tirei a moto da garagem e fui pro colégio. Fiquei pensando sobre os meus dois primeiros dias durante o trajeto, não foram bons e nem ruins, há gente babaca como achei que houvesse, mas parece ter gente legal, como a menina que me ajudou na segunda, aliás, ela foi a única pessoa com quem conversei, eu gostava de ficar na minha quando estava em terreno desconhecido.

Cheguei no colégio e vi que as vagas que gostava estavam mesmo ocupadas, então estacionei no primeiro lugar que vi vazio. Já havia muitos alunos que conversavam na frente e nas proximidades do colégio, quando desci da moto e coloquei meus óculos escuros por conta da claridade e da super sensibilidade que meus olhos tinham, vários olhares se viraram para mim, como no primeiro dia ao entrar na sala, eu sabia que minha moto chamava a atenção, e eu também, por ainda ser um dos novatos e não saberem praticamente nada sobre mim – ainda bem, imagina como seria se já soubessem que sou uma Jauregui – era por isso que eu sempre tentava chegar o mais cedo que podia.

Entrei no colégio e fui direto para o meu armário pegar os livros que usaria durante a manhã, enquanto eu analisava meu horário para pegar os livros corretos, vi alguém se aproximar.

– Então, você é a novata do terceiro ano de que tenho ouvido falar? – uma garota que parecia ser patricinha veio me perguntando.

– Eu sou novata, mas se sou a que você ouviu falar eu não sei – respondi calmamente observando sua reação. Ela pareceu estar digerindo a minha resposta para poder responder.

– Atrevida, gostei de você. Meu nome é Alexa Ferrer – ela disse me estendendo a mão para cumprimentar – Lauren – eu disse apertando a mão dela.

– Lauren do que? – ela perguntou, percebi que era daquele tipo que o sobrenome vinha na frente da pessoa.

– Lauren, apenas Lauren – falei e ela me analisou, parecia refletir se me colocava numa categoria de alta ou baixa classe, como diziam. Deve ter ficado com a primeira opção porque continuou a falar.

– Gostei da sua moto, não é todo mundo que pode ter uma daquelas, você deve ser cheia da grana – minha intuição estava certa. Apenas acenei como resposta.

– Até que você é bonita Lauren – ela ainda continuava a me analisar – qual sua aula agora?

– Língua inglesa, e a propósito, eu estou atrasada – respondi já querendo sair daquele metro quadrado, estava começando a me sentir desconfortável.

– Que pena, tenho aula de biologia, mas a gente se esbarra por aí, “apenas Lauren” – ela disse virando as costas e dando um leve aceno, só depois notei que havia algumas pessoas observando a nossa conversa, que trataram de voltar a fazer o que faziam antes quando lhes lancei meu melhor olhar intimidador – o que eu achava fácil de fazer – e fui para minha aula.

Depois de cansativas quatro horas e meia de aulas de inglês e francês – que achei mais entediante ainda por ser fluente na língua e o professor começar com várias coisas que para mim eram bobagens – juntei meu material, o deixei no meu armário e fui em direção a lanchonete, teria aula de educação física à tarde e preferi ficar aqui do que ir para casa e voltar. Comprei um salgadinho e um copo de suco de laranja e me sentei em uma das mesas. Observei o lugar e vi que a garota do primeiro dia, Camila, estava sentada numa mesa do canto, lendo um livro – segunda vez que a vejo lendo em três dias – ela parecia concentrada e pude a analisar sem ser notada. Ela parecia ser mais baixa que eu, tinha traços latinos e um longo cabelo castanho escuro, era magra e tinha um estilo meio nerd. Ela era bem bonita. Acabei meu lanche e vi que ainda faltava uma hora para a aula começar, resolvi dar uma volta pelo colégio para conhecer áreas ainda não vistas por mim. Do lado oposto as salas de aula, no térreo, havia um gramado enorme, com grandes árvores que faziam sombra para os alunos que iam para lá relaxar entre o intervalo das aulas. Continuei andando e vi algumas pessoas escrevendo seus nomes em fichas pregadas numa parede. Esperei todos saírem e fui ver o que era, e notei que eram listas para inscrição em clubes e aulas extras. Fiquei logo interessada e fui ver as opções. Assim que vi que havia um time de voleibol eu coloquei logo o meu nome, era meu esporte preferido e eu o praticava na minha escola antiga, sem querer me gabar, eu era ótima. Li na descrição das atividades que cada aluno poderia se inscrever em até três atividades diferentes, eu escolheria mais uma, gostava de ocupar meu tempo livre, mas achei que três ficaria muito puxado. Dois clubes que me chamaram atenção foram os de música e de literatura. Eu amava as duas coisas. Depois de um momento de indecisão optei por literatura, já que música pra mim era algo mais, vamos dizer, íntimo. Vi que estava perto da minha aula de educação física começar, então peguei meu uniforme no armário e fui no vestiário da quadra me trocar. Havia umas duas pessoas na quadra, então me sentei no fim da arquibancada para esperar o início da aula.

Camila’ P.O.V

Hoje minha aula estava sendo um total tédio, matemática – especificamente a financeira, que estávamos estudando hoje – era uma das matérias que eu menos gostava, mesmo tirando notas altas, preferia a pura e simples geometria. O Harry estava com a cabeça abaixada, provavelmente tirando um cochilo – como de costume – e eu olhava a todo minuto pro relógio, parecia que as horas não passavam. Minutos depois, o que pra mim pareceram meses, o sinal tocou e todo mundo saiu mais feliz do que nunca. Cutuquei o Harry, que levantou o rosto todo amassado da carteira.

– Que horas são? – ele perguntou meio atordoado, o que era engraçado.

– Hora de ir embora, Hazza – esse era meu apelido carinhoso para ele, além de unicórnio. Parece que sua animação foi triplicada porque levantou rapidamente, pegou sua mochila e foi em direção a porta.

– Graças a meu bom Deus – ele disse olhando pro céu, me fazendo rir. Nós saímos e nos despedimos no fim do corredor, ele iria com a Ally novamente e eu ficaria para minha aula de educação física.

Guardei o meu material no armário, pegando um pacote de biscoitos que trouxe de casa e o livro que eu estava lendo no momento. Era “A última música” do Nicholas Sparks; eu havia começado a lê-lo há uns quatro dias e já estava terminando, e com certeza entraria na minha lista de favoritos. A lanchonete estava praticamente vazia e sentei em uma mesa para ler comendo meus biscoitos para esperar o horário da aula. Acabei esquecendo do tempo e quando vi já faltavam uns cinco minutos pro início da aula, corri para o meu armário, peguei meu uniforme e fui direto pra quadra, troquei minha roupa rapidamente e assim que saí do vestiário lá estava ela. Alexa Ferrer. Ela havia me visto e já tinha colocado o sorrisinho no rosto e caminhava em minha direção, sabia que estava bom demais para ser verdade.

– Camilinha, que saudade que eu estava de você – ela falou desdenhando – achei que quando eu voltasse esse ano você já estaria fora daqui, creio que ainda não viram que você não tem nenhuma classe pra frequentar esse colégio – Clarke e Alison, suas seguidoras fúteis, davam risadinhas enquanto ela falava. Eu simplesmente fiquei lá parada as vendo rirem de mim, eu nunca tinha reação ou sabia o que dizer para me defender. Ainda bem que o professor chegou na hora e iria dar início a aula.

– Bem alunos, digo olá aos que já conheço e desejo boas vindas a quem chegou aqui esse ano – ele falou se dirigindo especificamente a uma garota alta com mechas loiras e a Lauren, eu não a tinha visto e ela se aproximava vindo das arquibancadas – vamos começar com um pequeno jogo de queimado para aquecer – ai que ótimo, odeio esse jogo.

– Vou escolher duas de vocês para serem as líderes de cada time. Vejamos, Claire e você, qual o seu nome? – ele se dirigiu à Lauren, que respondeu seu nome – Ok Lauren, bem vinda a minha turma, vocês podem tirar par ou ímpar para começarem a escolher seus times – eu nem ligava para essa parte, sempre era uma das últimas escolhidas.

– Camila – ouvi meu nome e fiquei boquiaberta, a Lauren havia me escolhido de primeira para o time dela?

– A Camila? Ela é a pior jogadora que já existiu nesse colégio, só te avisando – Alexa disse arrancando risinhos de algumas pessoas, o que era comum, ela era uma espécie de abelha rainha, e suas operárias faziam de tudo para ela gostar delas.

– Eu escolho a Camila – Lauren repetiu, o que me fez sair do transe e ir para o seu lado do time. Depois de todas as alunas serem divididas, começamos a partida. Eu só sabia correr de um lado para o outro desviando das bolas que a Alexa mandava em minha direção. Claro que ela iria me marcar, sempre a escolhiam primeiro para todos os jogos, e perder pra Camila Cabello? Não seria uma opção.

Eu já estava cansada, a Lauren era realmente boa naquilo e estava ganhando sozinha pro nosso time, segurando as bolas e acertando nas adversárias. Num momento de descuido, vi a Alexa pegar a bola e jogar em minha direção, e então eu apaguei.