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História Bite - Capítulo 5


Escrita por: txemin

Capítulo 5 - Capítulo 5


Fanfic / Fanfiction Bite - Capítulo 5

Minhas mãos tremem e meu estômago dá algumas cambalhotas. Estou tão nervoso. Por onde começar? Nunca estive em uma situação como essa.

Não quero assustá-lo, não quero que ele pense que irei iludi-lo para usá-lo e depois “jogar fora”. Quero que acredite em mim, mas como falar sobre algo que nem eu acredito ser possível? Na verdade, não sei em que acreditar.

Aproximo-me do Jeon, pego suas mãos sentindo um "choque" passar entre elas novamente sem desviar o olhar. Jungkook não se move apenas suas bochechas ficam um pouco rosadas devido à aproximação.

– Semana passada quando Hoseok-hyung veio aqui ao meio dia, ele me perguntou se você era mesmo um ômega.

O mais novo arregala os olhos surpreso.

– Como assim?

– Ele sentiu apenas o cheiro do Tae.

– A marca! Por isso que os alfas no shopping se aproximavam de mim e perguntavam se eu era um beta! Na hora pensei que fosse por causa do cachecol enrolado no meu pescoço.

Faço uma careta ao me lembrar do dia.

– Eu sinto seu cheiro, era isso que meu hyung queria que eu te contasse. – Digo sem o encarar.

– Como assim sente?

Fito-o e respiro fundo.

– Lembra sobre o "choque elétrico" que Yeol e o alfa sentiram quando juntaram suas mãos porque eram almas gêmeas? – Jungkook afirma. – Não sei você, mas eu senti isso. – Sinto minhas bochechas e orelhas quentes, Jungkook também está corado e agora encara nossas mãos. – O seu cheiro me atrai desde o primeiro dia. Sinto que devo protegê-lo e cuidar de você; fico nervoso quando você está perto; sinto coisas que nunca senti antes e que ainda não consigo entender por ser tão repentino. – Vejo que continua com o olhar fixo em nossas mãos sem demonstrar uma única reação. – Não quero que pense que estou dizendo isso para tirar proveito de você, não quero que pense...

– Shh... – Jungkook levanta seu olhar para mim e coloca um dedo sobre meus lábios.

Será que ele ficou ofendido?

O Jeon aproxima seu rosto do meu e leva a mão, que antes estava com o dedo sobre meus lábios, para minha nuca. Um arrepio percorre por toda minha espinha ao sentir seu toque suave. Sem quebrar o contato visual, coloco minha destra em seu queixo findando a pequena distância ao puxá-lo para mim. Meus lábios pousam suavemente sobre os seus, meu coração bate descompassado com o nervosismo. Seu cheirinho de morangos está tão bom. Coloco uma de minhas mãos em sua nuca ao abrir levemente minha boca e pedir passagem com a língua para aprofundar o beijo.

Jungkook não demora a corresponder e começamos um beijo calmo, cheio de incertezas e certezas. Incertezas com o que nos espera no futuro e certeza do momento, do agora, das sensações. Nossas línguas entram em sincronia, seu gosto é exatamente igual ao seu cheiro me deixando perdido.

Solto um suspiro ao sentir meus fios da nuca serem puxados levemente pelos seus dedos.

Interrompemos o beijo ao escutar um barulho de palmas ao nosso lado.

– Saímos por alguns minutos e é assim que vocês ficam?

– Fique quieto. – Falo para meu hyung sem deixar que Jungkook se afaste, juntando nossas testas. Sua respiração bate muito próxima de meu rosto, me perco em seu cheiro, mais uma vez, antes de me afastar delicadamente e olhá-lo nos olhos.

– O que você disse sobre se sentir atraído, sobre o cheiro e sobre o choque elétrico, eu também sinto o mesmo. – Jungkook diz em um fio de voz. Suas bochechas estão completamente coradas e a respiração descompassada. Não devo estar muito diferente.

– Sério mesmo que vocês vão ficar nos ignorando? – Taehyung chama nossa atenção.

Viro-me para meu primo mostrando a língua para ele.

– O beijo foi lindo, mas tem mais uma lenda para ler. – Hoseok informa e pega o livro abrindo em alguma página. – Pode deixar que eu leio, depois vocês continuam com os beijinhos. – Sorri malicioso me fazendo rir.

Junto minhas mãos com as de Jungkook recebendo um aperto nelas antes de prestar atenção em meu hyung.

  ''Em uma tarde de primavera onde as flores davam vida a pequena casa de madeira do pequeno vilarejo de Yangdong Folk, a ômega Seugi estava escorada na janela da casa observando a cena deslumbrante da natureza enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Ela havia chorado por horas. Sua dor era tão profunda que o jardim com vida que seu appa plantara não parecia mais belo aos seus olhos. Sem seu appa e seu irmão mais novo tudo perdia sentindo, tudo perdia cor. A dor em seu coração era horrível. O mundo para ela havia acabado. Como viveria sem sua família? Como viveria nessa casa, sem escutar as risadas contagiantes de seu irmão ou ter as brigas que tinha com seu progenitor? Ela perdera tudo, não tinha ninguém. Nem mesmo sua omma que falecera há alguns anos.

Na noite do dia anterior, a ômega estava sozinha em casa a espera de seu appa e de seu irmão que tinham saído para acampar.

As horas passaram. A comida que tinha feito esfriara. E nada de eles chegarem em casa.

Seugi acabou cochilando na sala até escutar batidas fortes vindo da porta. Aprumou seu vestido que ficara desarrumado, ajeitou seus cabelos e fora atender quem estivesse batendo. Ao abrir a porta, encontrou um homem de terno e gravata segurando um envelope.

“Sinto muito, senhorita.”  O homem estendera o envelope para que a ômega o pegasse.

Suas mãos estavam trêmulas, seu coração estava acelerado e um pressentimento muito ruim apoderou seu ser. Respirou fundo tentando controlar seu nervosismo pegando o envelope estendido.

Sem delongas, abriu o envelope retirando o conteúdo de dentro. Eram duas fotos. As piores fotos que já vira em toda sua vida. Largou-as no chão e soltou um grito de dor. Começara a chorar descontroladamente. O tempo passava e a dor que sentia só piorava. Não viu o momento em que o homem fora embora.

Aquelas fotos mostravam os corpos de seu appa e de seu irmão sem vida. Seu appa estava com marcas roxas no pescoço e manchas de sangue no peito. Seu irmão estava no mesmo estado. Foram brutalmente assassinados.

Após dois anos, Seugi se mudara para a capital da Coréia do Sul e lá tentou recomeçar sua vida. Agora adulta, dividia um apartamento com um beta que fizera amizade facilmente e cursavam juntos a faculdade de Artes. Fora difícil para Seugi seguir em frente, mas com o tempo a dor foi sumindo restando apenas as boas lembranças.

“Você é forte querida, lembre-se disso.” Foram as últimas palavras de sua omma antes dela falecer.

Certo dia ao chegar ao apartamento, sentiu um cheiro forte de canela. Inspirou algumas vezes o cheiro delicioso e foi para a cozinha pensando que seu amigo estivesse cozinhando algo.

Encontrou a cozinha vazia. O cheiro ficava mais intenso indicando vir da parte de trás do cômodo, onde ficavam os quartos.

Parou na frente da porta de seu quarto e ao entrar no mesmo, encontrou um rapaz alto vestindo roupas pretas virado de frente para si segurando um porta-retratos.

– E-eu vou chamar os guardas! – A ômega ameaçou gritar por ajuda.

– Oh! Desculpe, estou esperando pelo meu primo, o Chan. – O rapaz largara o porta-retratos em cima da cama assustado.

Ao analisá-lo, a ômega sentiu suas pernas fraquejarem. Que lindo. De cabelos pretos, seus olhos tinham a tonalidade de um azul claro, sua pele era morena e seu cheiro era indescritível. Canela.

– Eu sou Seugi, divido o apartamento com o Chan. – Conseguira dizer sem falhar a voz.

O alfa sorriu para a ômega e estendeu a mão.

– Zhang, não sei se meu primo avisou, mas vou passar esse fim de semana aqui. – Ela o cumprimentou e logo soltou o aperto por sentir algo incomum passar entre suas mãos, como um choque.''

Hoseok para a leitura.

– Só? – Pergunto esperando o desenrolar da história.

– Na verdade tem a continuação, só que é óbvio o que acontece. – Meu hyung dá de ombros e coloca o livro em cima da mesinha de centro.

– Como óbvio? – Taehyung pergunta sem entender.

– Os dois são almas gêmeas por se sentirem tão atraídos pelos cheiros um do outro. O choque que sentem é um sinal de que as almas se encontraram e como o alfa vai ficar no mesmo lugar que Seugi, é óbvio que irão se apaixonar e ficar juntos e que ele será a nova família dela. Fim.

– Que insensível. – Taehyung diz descrente me fazendo rir dos dois.

– Hyung, você acha que eu e Jimin-hyung somos almas gêmeas? – Encaro Jungkook surpreso.

Meu hyung coloca uma mão no queixo como se fosse difícil pensar.

– Eu não acho. Eu tenho certeza.

 

Jungkook 

Sinto minha respiração falhar e meu coração bater descompassado ao ouvir a resposta de Hoseok-hyung. Aperto a mão de Jimin e olho para ele vendo que está sorrindo.

– Almas gêmeas, uh?

Ao invés de responder, perco-me ao olhar os lábios cheinhos de Jimin. Tão convidativos. Uma semana havia se passado desde o quase beijo no jardim. Ainda me pergunto como tive coragem para me aproximar tanto como naquele dia, mas o cheiro estava tão convidativo e meus instintos gritavam por uma aproximação. Hoje não foi diferente, ainda mais com ele revelando a mesma conexão que sinto. E beijá-lo foi a melhor coisa que já fiz. Sabe aquele típico frio na barriga? Clichê, eu sei, mas foi assim que me senti ao beijá-lo pela primeira vez. Foi tão... certo. Parecia que nossas bocas tinham o encaixe perfeito e sentir seu cheiro tão próximo me fez querer beijá-lo ainda mais.

– Vamos, TaeTae, não quero ser ignorado e ficar de vela.

– Depois quero ter uma conversa com vocês dois. – Jimin responde sem quebrar o contato visual e se aproxima aos poucos de mim, colocando sua mão quentinha sobre a minha bochecha e fazendo um carinho nela com o polegar.

Escuto os passos se afastarem e sem delongas, Jimin diminui a distância restante e junta nossos lábios em um simples selar. Meu coração acelera e todos os pelos do meu corpo se arrepiam. Levo minhas mãos aos seus cabelos macios e iniciamos um beijo sem malícia alguma, apenas trocando carinhos e tendo noção de todas as novas sensações.

Interrompo o beijo por falta de ar, e assim como a primeira vez, Jimin mantém nossas testas unidas e o olhar fixo no meu.

– O que acha de um encontro?

Encaro-o confuso antes de responder.

– Como?

– Vamos almoçar fora, deixarei um bilhete avisando que saímos. – O alfa desliza sua mão pelo meu braço fazendo círculos imaginários no mesmo enquanto espera uma resposta.

– Agora?

Jimin sela mais uma vez meus lábios.

– Agora.

***

O silêncio no carro é completamente reconfortante. É a primeira vez que ando de carro com Jimin sozinho, fora a vez que me abrigou e me levou para seu apartamento. Sinto arrepios ao me lembrar daquele dia. Acordei assustado e todo dolorido. Senti-me humilhado enquanto corria pela rua para longe daquele lugar, daquele pesadelo.

– Está tudo bem? – Jimin afaga meu joelho fazendo meu coração aquecer instantaneamente com seu carinho. Aceno positivamente com a cabeça enquanto tento secar disfarçadamente uma lágrima que persistiu em cair.

– Tá sim, obrigado. – Consigo sorrir.

– Espero que goste do lugar, eu ia com a minha avó lá.

Em dez minutos, chegamos ao local. Sorri maravilhado com o que vi.

Mesmo simples, é extremamente belo e aconchegante.

Há uma barraca pequena com duas pessoas atrás dela: uma preparando as comidas e outra cuidando do caixa. E ao redor, há mesas de madeira espalhadas por um gramado verde e fofo em frente a um pequeno lago. O lugar está praticamente vazio, então escolho o lugar mais perto do lago.

Enquanto Jimin faz os nossos pedidos, aproveito para absorver da brisa fresca brincando com meu rosto, o cheiro delicioso que emana da comida e o som do canto dos pássaros. Ao redor do lago há algumas pequenas flores que alternam entre as cores amarelo e roxo. O clima não está quente, mesmo com o sol em quase seu ponto mais alto. O céu está em um azul bem clarinho possuindo algumas nuvens. O dia parece estar ao nosso favor.

– Pronto, espero que goste. – A voz de Jimin me trás de volta para a realidade enquanto ele senta na cadeira a minha frente.

– O cheiro é maravilhoso. Como sua avó descobriu esse lugar?

O alfa olha pensativo para o lago. Seus cabelos balançam por conta do vento. Simplesmente belo.

– Eu descobri, na verdade. – Seus olhos permanecem fixos no lago como se visse nele alguma lembrança. – Quando eu era mais novo, eu e minha avó passeávamos aqui pelo bairro e teve um dia que minha avó trouxe o cachorrinho dela junto. Eu queria tanto levá-lo na coleira que fiquei insistindo até que ela me deixasse guiá-lo. Assim que peguei a coleira o cachorrinho correu que nem um louco até parar aqui. Decidimos parar para tomar água e acabamos provando da comida que é uma delícia. Nunca trouxe ninguém aqui. – Jimin pega em minha mão apoiada na mesa voltando sua atenção para mim. – Eu tenho medo, Jungkook.

– É lindo aqui, nem sei como lhe agradecer por me mostrar um lugar que é tão importante para ti. Medo de quê? – Questiono em um fio de voz.

– Medo de te perder, medo de que algo ruim aconteça e que você se machuque novamente. Eu sei que é tudo novo e rápido, assim como sei que o que sentimos é forte...

– Ei, eu estou aqui, sim? Não vamos nos preocupar, vamos apenas aproveitar o momento, está bem? – Ofereço-lhe um sorriso.

Jimin deixa um selar em minha mão. Minhas bochechas coram instantaneamente.

Começamos a comer em um silêncio gostoso a comida deliciosa, aproveitando dos sons envolventes do ambiente. Assim que terminamos, permanecendo no mesmo lugar, lembro-me de fazer uma pergunta ao alfa.

– Na empresa eu sei que você administra, mas trabalham com o que?

– Com a fabricação de móveis rústicos e sob medida.

– Deve ser interessante criar algo assim.

– É sim, uma pena que eu não tenho criatividade para isso. – Um bico se forma em seus lábios. Aigo, como um alfa pode ser manhoso e fofo ao mesmo tempo? – Quer sorvete?

– Vendem sorvete aqui?

– Caseiro, e tem de chocolate e morango, qual vai querer?

– Chocolate!

– Já volto.

Observo Jimin se afastar, perdendo-me mais uma vez em meus pensamentos. Engraçado como meus pais, que me criaram desde que nasci, nunca me tratarem com carinho, ou me levarem para passear em um parque ou comer sorvete. E Jimin, um alfa que conheci há uma semana, demonstrou acolhimento para um completo estranho sem pestanejar. O mundo seria melhor se houvesse mais pessoas como ele.

Percebo uma menininha se aproximar de Jimin quando este vira para caminhar em minha direção com os dois sorvetes em mãos, um de chocolate e outro de morango. Ela estica os bracinhos curtinhos apontando com a mão para o sorvete de chocolate. O alfa se agacha até a altura da pequena e lhe oferece o sorvete de morango. Ela cruza os braços e com um bico emburrados nos lábios, indica o sorvete de chocolate. Jimin entrega então o sorvete de chocolate para a criança que deixa um beijo estalado em sua bochecha e sai correndo na direção de uma mulher que deve ser sua omma, essa briga com a menina e grita um pedido de desculpas para Jimin.

Rio me divertindo com a cena extremamente adorável até perceber pequenos pontos pretos atrapalhando minha visão. Sinto uma ardência terrível e começo a gritar de dor.

***

 

Taehyung 

– Hyung, você pode, por favor, soltar a minha mão? – Eu estava muito envergonhado. Nunca quis tanto poder enfiar a minha cabeça em um buraco e jamais tirá-la dali. Sério.

Fazia pouco tempo que Hoseok me puxou pela mão e me trouxe para a cozinha para darmos privacidade ao meu primo e a Jungkook. Hoseok não me soltou enquanto o mesmo ficou espiando Jimin e Jungkook na sala.

Mas não é apenas por isso que estou morrendo de vergonha. Quem dera se fosse apenas por isso. Além de estar com vergonha, minha mente está uma bagunça. Que ótimo, hein, Taehyung? Por que eu não fiquei no Japão ao invés de vir pra Coreia do Sul? Por quê? Provavelmente eu não estaria passando por isso.

Eu com toda certeza não estaria passando por isso.

Na semana passada, eu estava tranquilamente andando pelo centro depois de fazer algumas compras e tomando um delicioso café preto. Olhava distraído as lojas, parando vez ou outra para analisar os produtos postos.

Entretido em morder o canudo e olhar as vitrines, acabei esbarrando em alguém. Eu realmente ainda não sei como, mas para o meu azar, o líquido quente e escuro fora derramado na pessoa a qual eu esbarrei e ainda por cima, acabamos caindo no chão.

Comigo por cima de Hoseok. Sim. O melhor amigo do meu primo.

Meu rosto virou um tomate, prendi a respiração, mas para me ajudar ainda mais, parecia que meu corpo inteiro tinha congelado. Não conseguia me mover. Fiquei estático olhando para a face de Jung Hoseok. E devo admitir, ele é muito lindo. No momento eu só conseguia alternar meu olhar para seus olhos e para sua boca. E o cheiro. Que cheiro maravilhoso. Era um misto de fragrâncias entre o perfume do alfa, o aroma dos seus cabelos e o hálito quentinho de menta.

Por fim, depois do que pareceu ser uma eternidade, o mais velho me ajudou a levantar e aos poucos consegui recobrar meus sentidos, na verdade, consegui me recobrar do choque.

Trocamos os números, eu com a desculpa de que se eu precisasse ligar para ele caso Jimin me pedisse teria seu número salvo, e desde então passamos a conversar por mensagem. E onde entra a minha confusão mental? Um dos motivos tem nome e sobrenome.

Min Yoongi.

O alfa baixinho de cabelos platinados que trabalha para a família Park como motorista.

Vejo-o todos os dias. Ele está sempre engravatado, a posto para servir quando requisitado. Sua expressão parece estar sempre impenetrável, apesar de ter uma aparência doce. O alfa instigou minha curiosidade, e em quase todos os dias da semana eu me propus a ajudar a cozinheira dos Park’s para preparar o almoço sabendo que o Min ficava junto dos outros empregados na cozinha durante esse horário. Não consegui descobrir muito, já que quase nunca abria a boca para falar nada.

Pelo menos ele falou comigo uma vez. Não foi uma conversa, pelo menos ele me notou. Não de um jeito muito bom, mas notou.

Eu derrubei, sem querer, um pouco de suco em sua calça social enquanto ajudava a cozinheira a arrumar a mesa para os empregados almoçarem. Pelo visto, derramar bebidas em alguém significa que irei me sentir atraído pela pessoa. Há.

Estou exagerando, eu sei.

Não sei quantas vezes eu pedi desculpas, só sei que escutei sua voz grave me dizendo “Não precisa se desculpar, Senhor Kim, irei trocar de calça”.  Não sabia se sorria por finalmente ter conseguido alguma aproximação ou se chorava por ele me chamar de senhor. Sou dramático, admito.

E sim, eu estava atraído de mais por ele assim como estou atraído por Hoseok.

Onde fui me meter? Por que não fiquei no Japão mesmo?

Jung é uma pessoa tão animada e extrovertida. Fazia tanto tempo que eu não ria até lágrimas escorrerem por minha face.

É errado eu me sentir tão atraído por dois alfas completamente diferentes? Sendo que com um deles eu mal tive contato...

Parece que os deuses decidiram fazer um complô contra o meu destino e o do meu primo. Por que sorte não é com a gente.

– Oh! Desculpe, TaeTae, nem percebi. – Hoseok finalmente solta o aperto e anda pela cozinha de cabeça baixa, concentrado, talvez esteja pensando em algo. – Acabei de escutar meu dongsaeng convidando Jungkook para sair, deveríamos fazer o mesmo. – Ele para de andar e se vira para mim.

– O que? Sair? Ti-tipo um encontro? – Sinto minhas mãos suarem, devido ao nervosismo.

Hoseok ri baixinho e se aproxima até chegar com a boca perto do meu ouvido. Arrepio-me inteiro.

– Se quiser que seja um encontro, então será um encontro. – Sussurra e se afasta com um sorriso esperto nos lábios.

Devo ir? Ó céus, é óbvio que eu quero ir! Qual o problema? Certo? Não tem problema, é só um encontro. Vamos eu e ele e conversaremos como duas pessoas normais.

– Tudo bem.

Hoseok abre um sorriso maior ainda, parece contente com a minha resposta.

– Tudo bem em ser um encontro?

Eu juro, juro mesmo que tentei e sempre tento não corar. Mas foi impossível. Devo ter corado até a raiz de meus cabelos. O que o nervosismo não faz com a pessoa, não é mesmo?

Minhas pernas parecem gelatina, apoio-me na parede tentando sustentar o peso de meu corpo.

– Tudo bem. – Sério mesmo que respondi só isso? Vendo pelo lado bom, não gaguejei.

***

 

Jimin 

Que garotinha adorável. Eu até ficaria admirando a cena da pequena criança levando uma bronca de sua omma, porém um grito de dor fez com que toda a minha atenção voltasse para Jungkook.

Ele está de olhos fechados, com a face vermelha e com as duas mãos pressionando o peito direito. Corro em sua direção, extremamente aflito, já que o lado direito é o mesmo lado da marca. Só pode ser isso.

– Jungkook, onde dói? – Afago seus cabelos e pergunto para ter a certeza de que é o que eu estou pensando.

– A marca... Dói tan-tanto hyung... – Vejo algumas lágrimas escorrerem belo seu belo rosto

Eu preciso tirar o ômega daqui o mais rápido possível. O alfa que o marcou só pode ter entrado no cio, por isso que está doendo tanto a marca. E com certeza que o alfa irá procurá-lo para se satisfazer. Não posso deixar Jungkook em um local de fácil acesso. Com a marca ligando-os é muito fácil que o alfa o encontre. E eu jamais deixaria que algo assim acontecesse à Jungkook.

Com as mãos trêmulas, pego o ômega no colo levando ele o mais rápido possível para o banco traseiro de meu carro. Fecho a porta para abrir a minha e entrar no carro para enfim dar partida e ir ao meu apartamento.

– Hyung, por que meu corpo está quente? – A voz de Jungkook sai abafada. Olho para ele pelo retrovisor vendo que está com os lábios comprimidos e de olhos fechados. Ainda mantém as mãos pressionando em cima da marca.

Solto um longo suspiro para manter a calma e me focar no trânsito. Sinto nojo desse alfa, e pena de Jungkook. Ele não merecia estar passando por isso. Eu não merecia estar presenciando isso, sem querer ser egoísta. Eu sei que para Jungkook deve estar sendo horrível o que seu corpo está sentindo, afinal, o alfa clama por seu corpo. Mas meu alfa, meu lobo interior, sente-se ofendido, já que finalmente encontrei minha alma gêmea e querendo ou não, Jungkook está marcado por um alfa e mudar isso... Não é tão simples assim.

– Seu alfa está no cio, Jungkook. – Aperto minhas mãos no volante ao escutar um soluço vindo do ômega.

– Eu não quero isso, Jimin, como faz pra parar?

– Já estamos chegando em casa, se quiser eu tenho remédio para dopá-lo. Ainda bem que o cio de um alfa dura um dia. – Digo essa última parte mais para mim do que para Jungkook, como se essas palavras pudessem me tranquilizar de alguma forma. Ledo engano.

Quase choro de alegria ao finalmente chegar ao apartamento. Depressa, estaciono o carro na garagem, desafivelo o cinto de segurança e abro a porta para tirar Jungkook do carro e levá-lo para dentro do apartamento, onde é mais seguro.

Envolvo delicadamente um braço envolta de suas costas e com o outro envolvo suas pernas para pegar o ômega no colo. Tranco o carro e ando em direção ao elevador que por sorte está com as portas abertas.

Sinto Jungkook se encolher em meu colo, todo o seu corpo está quente e o ômega continua a chorar baixinho. Ao mesmo tempo em que a raiva que eu sinto pelo alfa ganha proporções ainda maiores, recordo-me da semana passada com Jungkook em uma situação muito parecida com a de agora.   

Por que o destino gosta tanto de brincar com as pessoas? Por que eu não conheci Jungkook em outro momento sem que ele estivesse marcado? O dia de hoje estava perfeito, finalmente pude provar de seus lábios e sentir seu gostinho de morango. Levei-o em um lugar muito importante para mim onde me trouxeram boas recordações e pude me abrir um pouco mais com ele ao compartilhar uma lembrança minha com minha avó. Se eu tivesse conhecido Jungkook antes disso tudo acontecer com ele, quem sabe teríamos comido sorvete juntos e nos deliciado com o dia maravilhoso, podendo conhecer um pouco mais sobre o outro e quem sabe trocar mais alguns beijos.

Mas quem sabe, se eu não tivesse conhecido e encontrado o Jeon naquele momento e naquele estado, eu jamais teria encontrando minha alma gêmea. Talvez, nossos destinos jamais fossem cruzados e seríamos para sempre completos estranhos.  Nem quero imaginar isso.

As portas do elevador finalmente abrem ao chegar a meu andar. Toco a campainha e logo a porta é aberta por uma das empregadas. A beta arregala os olhos e oferece-me ajuda.

– Vá buscar um remédio para dopá-lo. Rápido!

Deito Jungkook no sofá e com uma mão acaricio seus cabelos tentando passar algum conforto enquanto com a outra enxugo suas lágrimas.

– Vai ficar tudo bem, Kookie, vai passar. – Ao invés de uma resposta, Jungkook me puxa para perto de si. Ajeito-me no sofá para que eu possa deitar ao seu lado. Passo os braços envolta de sua cintura enquanto o ômega esconde seu rosto em meu peito abafando o choro. Selo sua testa e levanto o olhar ao notar a aproximação de um alfa, um de meus seguranças.

– Desculpe incomodar senhor, mas seu primo pediu que avisasse que ele e Hoseok estão almoçando fora.

Preciso ter uma conversa com meu primo ou com Hoseok. O que está acontecendo entre esses dois?

– Obrigado, eu quero que fiquem atentos a qualquer barulho hoje e peça ao porteiro ligar antes de deixar qualquer pessoa subir, a não ser meu primo e Hoseok ou alguém que ele já conheça.

– Sim, senhor. – O segurança se curva e pede para que outro segurança fique no seu posto enquanto liga para o porteiro.

Parece loucura o alfa vir até o meu apartamento buscando Jungkook? Parece. Mas como essa marca é diferente e com certeza alguma ligação entre eles deve ter, não é certo arriscar com a segurança do mais novo. Tá aí uma coisa que eu não vi nas lendas do livro. Uma explicação para isso. Hoseok leu a ultima lenda e interrompeu. Tenho que me lembrar de ler aquele livro ou falar com meu hyung.

Jungkook me aperta ainda mais contra si enquanto outro soluço escapa por seus lábios. Parte-me o coração vê-lo dessa forma.

– Senhor, aqui está o remédio. – A emprega volta com um comprido e um copo em mãos.

– Obrigado. – A beta se curva e volta para seus afazeres.

Sento-me no sofá e ajeito Jungkook em meu colo.

– Acredito que só isso irá aliviar a dor. – O ômega assente e pega o comprido, ingerindo-o e tomando a água em seguida.

***

Depois de ajeitar Jungkook em sua cama, busquei o celular que havia deixado no carro e voltei para o quarto do mais novo me sentando em uma poltrona que fica de frente para a cama, digitando o número de Hoseok.

– Chim?

– Hyung, o que tinha naquela última lenda?

– Ah sim, a lenda. Eu ia terminar de te contar depois, mas não quis estragar o clima entre você e o Jungkook.

– Devo me preocupar?

– Não sei, acho que sim.

– Conta logo hyung, pelo amor.

– Lembra daquela lenda sobre o alfa que marcou o melhor amigo? A mesma marca que o Jungkook tem?

Antes de responder vejo Jungkook se remexer na cama soltando um resmungo.

– Lembro, e não explicou nada de diferente sobre a mordida.

Escuto um suspiro do outro lado da linha.

– Nessa última lenda, Seugi e Zhang, que são almas gêmeas, acabaram se encontrando e depois de algumas semanas, Zhang a pediu em casamento. Eu sei que é estranho e tudo mais, mas enfim, a ômega aceitou o pedido e no mesmo dia tiveram sua primeira noite juntos. Zhang ia marcá-la, porém ela quis que a marca no pescoço fosse feita apenas na noite após o casamento e o alfa sentia a necessidade de marcá-la em algum lugar, as presas estavam pra fora. Ele a marcou no peito direito e sentiram uma conexão diferente. Com o passar dos dias, além de perceberem que outras pessoas não sentiam mais o cheiro da ômega, perceberam que o desejo para fazer sexo havia aumentado. A transa era muito mais intensa e satisfatória para ambos. Até que dois dias antes do casamento o alfa entrou no cio. Eles estavam no mesmo apartamento e a sensação que a ômega teve foi que seu próprio cio havia chego. Depois disso, teve o casamento e o alfa marcou a ômega unindo suas almas.

– E-então...

– O que eu estou querendo dizer, é que essa marca serve apenas como um atributo sexual, aumentando o desejo de ambos.

Minhas mãos estão frias, meu corpo sua frio. E eu pensando que a situação não podia piorar.

– Hyung, o alfa do Jungkook está no cio.

A linha fica muda por um instante. A tensão é tão grande que chega a ser palpável. Se eu e Jungkook somos mesmo almas gêmeas, eu preciso marcá-lo logo. Quero nem pensar se o cio de Jungkook chegar e ele ainda tiver aquela marca daquele alfa nojento. O cio de um ômega dura uma semana.

– Que merda. Você o dopou?

– Sim. Ele sentia muita dor e estava febril. – Olho preocupado para o arroxeado que se contorce na cama por um momento até parar e voltar a “dormir” tranquilamente.

– Eu e Tae estamos voltando.

– Falando nisso, onde vocês foram? – Quero me distrair um pouco e como não posso fazer nada ainda para ajudar Jungkook, além de não deixar o alfa se aproximar de si, decido por tocar finalmente nesse assunto.

– Saímos para almoçar.

– Sei, e não podiam almoçar aqui em casa?

– Aish, Jimin, eu só queria comer em algum lugar diferente, não posso?

Controlo o riso antes de responder. Meu hyung está mentindo.

– Jung Hoseok, eu te conheço bem demais. Anda logo e desembucha. Ou melhor, coloca no viva voz que eu sei que Taehyung está ai do seu lado.

– Não, eu falo com você. Não quero tornar isso ainda mais vergonhoso. – Meu hyung sussurra essa última parte fazendo com que a minha tentativa de segurar o riso seja falha.

– Fala logo.

– Semana passada, seu primo derrubou café em mim e acabamos caindo na calçada, trocamos os números e começamos a conversar por mensagem. Gostei dele, gostei muito e ele é lindo. Mas...

Por essa eu não esperava.

– Mas o quê? O quê você anda escondendo de mim?

– Aish, não estou escondendo, é que você esteve ocupado de mais cuidando do Jungkook que eu não quis te atrapalhar com as minhas confusões.

– Não fale besteira, hyung! – Tive que controlar o tom de voz para não acordar o Jeon.

– Enfim, eu acabei conhecendo em uma boate um alfa. E esse alfa é o motorista da sua família. – Hoseok diz apressado e quando eu entendo que ele está falando de Min Yoongi, não consigo segurar o riso.

Ri tanto que minha barriga chegou a doer e algumas lágrimas escorreram por meu rosto. Escutei alguns xingos vindos de Hoseok.

– Calma, hyung, não estou rindo porque está afim de um alfa! – Digo enquanto tento recuperar o fôlego checando se não acordei Jungkook.

– E do seu primo também. Está rindo por que então?

Ah, não vou contar que Taehyung também mostrou interesse pelo Min. Que esses três resolvam essa bagunça sozinhos.

– Vai ter que descobrir sozinho. – Respondo me divertindo com a situação escutando Hoseok proferir mais alguns xingamentos. – Mas você conversou com o Min ou se aproximou dele de alguma forma?

– Minha vontade é de não responder essa. –Faço uma expressão confusa mesmo sabendo que meu hyung não pode ver. – Eu o vi em um canto bebendo algo sozinho, dispensando quem se aproximava e não posso negar que o achei muito bonito. Ele viu que eu estava olhando para ele e não desviou o olhar. Decidi me sentar do lado dele, mas assim que me sentei ele se levantou. E desde então ele e seu primo estão fazendo uma bagunça na minha cabeça. Estou ficando louco, só pode.

Mais uma vez fiz um esforço enorme para controlar o riso e falhei miseravelmente.

– Por isso não quis contar.

– Eu ia brigar com você por não querer me contar, se não fosse tão engraçado.

– Isso, vai rindo da desgraça alheia.

– É que eu sei de coisas que você não sabe.

– Não vai contar para o seu melhor amigo? – Pede com uma voz manhosa me fazendo revirar os olhos.

– E qual seria a graça?

Vá à merda. – E desliga.

Sei que Hoseok não está bravo, posso dizer que está envergonhado.

Deixo o celular ao meu lado e encosto minha cabeça na poltrona, tentando relaxar. Permito que minha mente se esvaia e sem que eu perceba, minha pálpebras começam a pesar.

Não sei como, mas acabei dormindo na poltrona e acordando com alguém chacoalhando meu braço. Pareceu tanto que apenas fechei meus olhos por míseros segundos.

– Hyung, não está mais doendo. – Sou desperto pela voz rouca de Jungkook e, lentamente, fito-o atento.

– Está melhor?

Ajeito-me na poltrona sentindo uma leve dor no pescoço ficando de frente para o ômega que está sentando na beirada da cama.

– Tô sim, obrigado. E acordei agora a pouco, fui à cozinha tomar água e encontrei Taehyung e Hoseok dormindo abraçados no tapete da sala. – O Jeon tomba a cabeça para o lado com uma expressão confusa. Rio baixinho ao pensar no que esses dois fizeram durante a tarde.

– Eu preciso te contar uma coisa.

Conto a Jungkook sobre o que Hoseok-hyung me contou. Ao chegar ao final, Jungkook arregala os olhos e aperta firme minhas mãos.

– Meu cio vem essa semana.



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