História Bittersweet - SUGA - Por favor... fique bem

MIN HEE P.O.V

Um barulho alto soava pelo apartamento. Abri meus olhos com dificuldade, a luz que passava pela cortina os fazendo arder. O meu despertador gritava estrondosamente. Forcei meu corpo para fora do colchão, cada músculo parecia prestes a se romper. Minha cabeça pesava, e o barulho irritante e contínuo me dava vontade de arremessá-la contra a parede.

Cambaleei até a fonte do som e encontrei, jogada no meio do corredor, minha jaqueta. A tela do me celular brilhava, ainda no bolso. Sem pensar, me agachei no chão, minha mão esticada em direção ao brilho. Senti uma dor profunda no meu joelho. Apesar da bandagem que cobria o machucado, era possível ver os tons de amarelo e roxo que circundavam o local.

Sem tempo a perder, desliguei o despertador e voltei para meu quarto. Na minha porta estava colado um post-it rosa, “precisei ir mais cedo para o trabalho, boa aula <3”. Alívio, pelo menos assim ela não veria meu joelho estourado.

Terminei de me vestir, peguei rapidamente minha mochila e corri para fora do apartamento, torcendo para não me atrasar para a aula.

Eu dirigia com dificuldade, sentindo como se o sol da manhã estivesse me cegando. Os raios que refletiam no para-brisa pareciam queimar minha visão. O barulho dos carros e das pessoas conversando, fazia com que minha cabeça latejasse.

- Droga! – Disse, olhando para a tela do meu celular. O visor estampava 7:57 no seu centro. Eu estava atrasada!

Já não aguentando mais a sensação horrível que dominava meu corpo, adentrei em uma viela com meu carro. Peguei minha carteira e meu celular e desci do carro, caminhando em direção à loja de conveniência.

O pequeno frasco parecia destacar-se na prateleira, como se pequenos raios emanassem dele.

- Amém! – Disse, pegando-o e indo para o caixa.

Paguei os 1.900 wons para o caixa, jogando as moedas de troco em meu bolso enquanto caminhava para fora da loja.

Arranquei o pequeno lacre do líquido para curar ressaca e em um único gole, esvaziei a garrafinha. Virei-me para voltar ao carro, me surpreendendo ao dar de cara com concreto. Um poste.

- Essa foi por pouco! – Soltei, enquanto o contornava. – Espera! – Gritei, espantada.

Parei de andar e voltei para onde estava antes, encarado o poste. Várias propagandas estampavam o poste, uma colada sobre a outra, mas a mais recente ainda intacta. Um pôster.

- Suga??? – Eu encarei o garoto de cabelos rosa na foto. Realmente parece! Apesar do cabelo rosa e das roupas coladas, o garoto é extremamente parecido o Suga! – Ahhh, mas é impossível! O suga jamais usaria cabelo rosa....né??!! – Eu olhei a foto mais atentamente.  

O garoto sorria de um jeito fofo, tinha bochechas fofas, e usava roupas fofas. O Suga não costumava sorrir, não tinha bochechas fofas, apesar de parecer uma criança, e usava roupas desleixadas. Apesar de parecerem muito, eram opostos!

- Não pode ser ele! Eu devo ter passado tanto tempo no Brasil, que peguei a doença de “asiático é tudo igual”!! – Olhei mais atentamente, minha testa quase batendo no poste de tão próxima. – Nãããoo! – Disse, enquanto voltava a contornar o poste.

– Massss... – Voltei para frente da foto. Droga, eu não ia conseguir deixar aquilo passar. – Só para matar as dúvidas. – Disse, tirando uma foto do garoto do pôster.

----

Eu caminhava pelo campus vazio, o que me fazia sentir pior pelo atraso. Mas outro assunto também preenchia minha mente.

- EU ME RECUSO A SEQUER CONSIDERAR A IDEIA!! – Gritei comigo mesma, sabendo que já há estava considerando. – O garoto da foto parece àqueles gatinhos brancos, peludos e fofinhos que você quer abraçar! Já o Suga seria daqueles gatos pretos, super independentes e indiferentes que fogem do seu carinho!! – Eu olhei para o prédio que este se aproximava, droga, seria vergonhoso. – Que tipo de ser humano chega atrasada na segunda semana de aula??

Eu estava entrando no prédio quando vi Lisa vindo em minha direção, ela digitava em seu celular, sem me notar.

- Boo!! – Exclamei, tentando assustá-la, mas ela apenas me ergueu um olhar de tédio. – Você podia ao menos fingir... – Disse, tendo meu ego ferido pela minha falha.

- Eu acabei de te enviar uma mensa... – Meu celular apitou a interrompendo. – ...gem.

- Por que você está aqui fora? – Perguntei, curiosa.

- Aula de observação da natureza. Você deu sorte, ninguém nem vai notar que você chegou agora!

- Aleluia! – Disse, sentindo meu ombros ficarem mais leves pelo fato de não ter  toda a sala me encarando enquanto eu tentava justificar o atraso.

- Sua cara tá horrível! – Lisa disse, brincando.

- Olha quem fala! – Retruquei. – Como vocês podem beber tanto??!

- Coréia! – Ela me respondeu. – Ahhh, ontem você foi embora com o Suga?? Quando nós vimos, vocês já tinham ido embora! – Eu ia responder, mas ela voltou a falar. – Dongyul ficou um pouco preocupado, mas com certeza você estaria mais segura com o Suga do que com ele...

- Err...acho que sim. – Disse, meio sem jeito pelo o que ela havia dito do Dongyul. – Mas o Dongyul não parece ser ru...- Fomos interrompidas por outros alunos, que nos chamavam para a aula.

----

Eu estava colocando meu avental, quando avistei por sobre o balcão o Suga sentado em uma das mesas. Ele usava uma mascara preta e boné. O que é isso? Estava fugindo do FBI???

- YAAA!! – Gritei, me aproximando dele. Ele ergueu o olhar da tela de seu notebook, que estava em sua frente. – COMO VOCÊ OUSA ME ABADONAR?? – Eu perguntei, tentando amedrontá-lo, mas não pareceu ter efeito.

- Parece que você conseguiu chegar bem, não?! – Ele disse, encaixando um headphone em seus ouvidos.

- Ahhhhhh, mas não!! – Disse, enquanto puxava o headphone para baixo, fazendo-o escorregar por seu pescoço e parar nos seus ombros. – Como você sabe que eu estou bem??! – Ele me olhou de cima a baixo.

- Você está viva não??

- Seu filho da puta! – Sussurrei em português, fazendo com que ele me erguesse um olhar de divertimento. – Eu poderia ter sido assassinada, sequestrada, estuprada, assaltada, esfaq... – Fui interrompida pela risada dele. O fitei com meu olhar mais ameaçador.

- Se queria tanto que eu te levasse para casa, podia ter pedido. – Ele respondeu, jogando a cabeça de lado em um ato provocador.

- AAAaaaaa auto estima demais para um coreba da língua queimada! – Respondi, logo me lembrando do pôster. – Ahhh, você já teve cabelo rosa?? – Ele ergueu o olhar da tela do notebook, surpreso pela mudança súbita do assunto.

- Err....não?? Eu acho...Talvez?? – Ele parecia perdido. – Mas, por que?

Eu estiquei meu braço, fazendo com a tela do meu celular que estampava da foto do pôster ficasse a poucos centímetros do rosto dele. Suga foi um pouco para trás, assustado com a aproximação repentina.

- É você?? – Perguntei, me inclinando sobre a mesa, para me aproximar dele. – Não é né?? Ou é? É muito parecido, mas muito diferente também! É realmente você?? Sim ou não??

Ele alternou a sua visão, do celular para mim, e de mim para o celular, e assim em diante.

- Você acha que esse sou eu?? – Ele perguntou, me observando entendiado.

- Se eu achasse alguma coisa eu não estaria aqui te perguntando! – Respondi, puxando meu celular de volta e olhando a foto.  Puta que la mierda, é realmente parecido!

- Não sou eu. – Ele disse, enquanto mexia em seu notebook.

- ....É seu irmão gêmeo? – Perguntei. Fala sério, o garoto era tipo um clone que deu errado!

- Não! – Ele respondeu, enquanto me encarava confuso.

- Então...irmão mais novo? – Perguntei.

- Não.

- Parente próximo? – Ele me fitou, irritado. – Oks, oks. Parei! – Eu o observei, enquanto digitava algo em seu notebook, o rosto quase que completamente tampado. – Mas qual é a desse disfarce?

- Não gosto de me sentir observado quando estou trabalhando. – Ele explicou.

- Ahhh, mas...por que você está trabalhando aqui?? – Perguntei.

- Por que você não está trabalhando??? – Ele retrucou.

Eu olhei para as outras duas mesas que tinham clientes, ambos com copos cheios e aparentemente satisfeitos. Voltei meu olhar para o Suga, que já tinha parado de digitar, aparentemente tinha desistido e admitido derrota para minha presença. Ele suspirou.

- Minha casa está... em reforma. Então vou ter que trabalhar aqui por um tempo.

- Ahhh, e o que você faz? – Disse, me esticando em direção à tela do computador. Ele se jogou em minha frente, tentando me impedir.

- Yaaa!! Isso é pessoal!! – Ele soltou, enquanto eu empurrava sua cabeça e conseguia uma visão parcial do visor.

- First..Love?? – Eu empurrava meu corpo em direção a tela, enquanto ele tentava me impedir, se colocando na frente e me desviando. Senti uma dor aguda no meu joelho e parei de me mover. Deixando o Suga vencer, aceitando apenas a informação que eu já tinha.  –Yaaaa!!! Isso é uma carta de confissão???? – Ele me pegou pelos ombros e me sentou na minha cadeira de novo, enquanto meu olhar se fixava nele, meus olhos com certeza brilhavam de curiosidade.

- Eu pareço o tipo de garoto que escreveria uma carta para se confessar?? – Ele disse, enquanto se sentava novamente. Ele parecia meio cansado.

- Er...de certa perspectiva...sim – Ele me olhou bravo.

- Não é uma carta de confissão, é meu trabalho. – Ele me direcionou um olhar intenso. – E é pessoal! – Disse, enquanto cerrava os olhos.

- Veja como um pagamento pelo abandono ontem! – Disse, enquanto me levantava e ia para o balcão, fugindo do provável sermão.

Enquanto prepara um café para um dos clientes da mesa, senti o olhar do Suga sobre mim. Será que eu exagerei??? As vezes era muito pessoal! Droga Min Hee, se comporte melhor!

Entreguei o café para a moça, que o pagou e saiu do café. Fui para o canto em direção a minha bolsa. Meu joelho latejava sem parar.

- Merda, eu devo ter batido contra a perna da mesa! – Disse, enquanto engolia a pílula para dor.

----

- Bem, até que tudo correu bem. – Sussurrei, enquanto abria a porta do apartamento. Minha mãe entrou na sala logo atrás de mim.

- Arggggg, odeio época pré-comeback!!! – Ela disse, se alongando.

- Hahahhaa Boa sorte! – Respondi, dando tapinhas em suas costas, tentando motivá-la.

Adentrei em meu quarto e joguei a mochila em cima da cama. Alguns pacotes de ataduras, band-aid’s, pomadas, e algumas bandagens para dor muscular caíram do bolso da frente.

- Isso não estava ai antes. – Eu disse, confusa, enquanto apontava para os itens. – Quando eu fui pegar o comprimido não tinha nada diss.. – Me Lembrei do Suga me encarando. – Mas...ele não percebeu, e mesmo se percebesse, ele não saiu da cafeteria, não teria como ele ter comprado tudo isso!  - Forcei minha memória. – Ele realmente não saiu, então não tem como ser ele, por que ele andaria com tudo isso na bolsa??! Não... Aff, deixa para lá! – Disse, pegando as bandagens para usá-las.

SUGA P.O.V

- Merda! – Esbravejei, arremessando a caneta que eu segurava em direção a parede. – Eu não queria mentir... – A memória das várias mentiras de hoje vindo em minha mente. – Eu sou realmente...uma pessoa horrível.

O sono já estava me afetando, fazendo com que eu não conseguisse me concentrar para trabalhar nas músicas.

- Eu não sei mais o que eu devo fazer!! – Gritei. – Se eu a acompanho, eu me sinto culpado! Se eu não a acompanho, eu me sinto culpado! Se eu minto para ela, me sinto culpado! Se digo a verdade, me sinto culpado! – Ela está me deixando louco. – Droga, eu mal pude piscar o olho de preocupação durante a noite.

Olhei para minha mochila jogada no canto do estúdio. O bolso da frente, onde acostumava estar as bandagens e remédios para os treinos de dança, estava completamente vazio. “ela estaria muito machucada?”, “se eu estivesse lá, eu poderia ter impedido?”, “a dor que ela esta sentindo hoje é culpa minha também?”, as perguntas bombardeavam minha cabeça.

- Por favor...fique bem. – Sussurrei, torcendo para que ainda pudesse cuidar dela de longe.