História Bittersweet - SUGA - Ela tinha voltado?

MIN HEE P.O.V

Estacionei meu carro a um quarteirão de distância da cafeteria onde eu trabalho, peguei minha mochila e caminhei em direção à praça que ficava logo à frente. A temperatura havia subido, sendo assim decidi tirar minha jaqueta, joguei-a no canto do banco de madeira enquanto me sentava logo ao lado, procurando na minha bolsa pelo sanduiche que eu tinha feito de manhã.

Enquanto eu desembrulhava o meu almoço, os momentos no estacionamento da faculdade começaram a passar na minha cabeça. Por que caralhos aquele cara tinha me virado do nada e tentando entrar no meu carro? Se aquilo é uma nova maneira de tentar um assalto, esse mundo está perdido!... Mas, de alguma forma, você realmente sentia que faltava algo, como se ele estivesse sendo sincero, e você devesse se lembrar dele.

Não, não, impossível! Não tinha como ele ser alguém que você conhecia há 11 anos!  Além do fato de que eu não tinha nenhum amigo, ou sequer colega em quem eu confiasse ou gostasse 11 anos atrás, eu morava em Daegu, e não aqui em Seul...

- Aff esquece, ele deve ser apenas mais algum louco fanático.

Rapidamente você terminou o seu sanduíche e guardou o pote na mochila, pegando sua jaqueta, e levando-a de volta ao carro, e então caminhando em direção ao estabelecimento no qual você passaria suas próximas 6 horas servindo café.

- Pelo seu sonho Sofie, pelo seu sonho! Você consegue, Fighting! – Disse a mim mesma, enquanto eu passava pela porta de vidro, fazendo com que o sininho tocasse, e a outra garçonete já me cumprimentasse e me estendesse meu avental.

SUGA P.O.V

Eu e o Jin estávamos já caminhando de volta ao dormitório, quando uma army nós reconheceu, e explodiu em gritaria. Alertando todos os cidadãos que estavam a um raio de no mínimo 5 km.  Em um piscar de olhos, nós já estávamos cercados de todos os lados, sendo fotografados e puxados de um lado para o outro.

- Ahhhh Suga oppaaaaaaa!! – Gritou uma garota enquanto me arrastava pra perto dela já segurando seu celular no alto, pronta para uma selca. Já acostumado com a situação, fingi um sorriso, apesar da raiva que já estava me tomando.

A minha direita ouvi o Jin ligando para o Manager e informando o que havia acontecido e que estávamos no campus de alguma faculdade. Não demoraria muito agora para que os seguranças e a van chegassem. Droga, eu tinha esquecido que as aulas voltavam hoje, nós devíamos ter evitado vir por aqui.

Enquanto eu e o Jin esperávamos, tentamos controlar a situação, sorrindo, dando autógrafos, e acenando para a multidão, foi quando a avistei. Ela estava se enfiando pelo meio da multidão. Ela se tornou uma fã? Não, impossível, ela jamais ouviria qualquer música que eu fizesse! E Ela tinha ido embora da Coreia, ela foi embora depois do que eu fiz pra ela!

Quando ergui meu olhar novamente ela já não estava mais vindo em nossa direção, ela já tinha se virado e caminhava de volta para fora do tumulto.

- Min Hee …..Park Min Hee – Sussurrei para mim mesmo, conforme me lembrava do meu passado, da minha infância, e as cenas dos xingamentos, empurrões, socos, risadas, e ameaças passavam pela minha cabeça.

Rapidamente a notícia da tentativa de suicídio e da mudança voltou pra mim cabeça, a tentativa de suicídio que eu tinha causado, a depressão que eu tinha causado, o sofrimento agudo que era minha culpa.

Com a curiosidade, culpa e ansiedade crescendo dentro de mim, poderia mesmo ser ela? Ela estava viva? Ela estava bem? E ela tinha voltado? Depressa me virei e olhei para o Jin.

- Eu preciso da sua ajuda. – Ele me olhou curioso, provavelmente nunca tinha me visto dessa maneira. – Eu preciso sair daqui rápido. – A confusão tomou lugar no seu rosto.

- A van já deve estar chegand...

- Não, agora...eu acho que vi alguém que eu conheço na multidão. – Ele me observou se decidindo.

- Tudo bem. – Fiquei surpreso com quão rápido ele concordou. – Prepara sua máscara e seu óculos. – disse ele, num tom extremamente baixo. – Um, dois....três!

No “três” ele saiu correndo, fazendo com que toda a multidão começasse a surtar e disparasse atrás dele, rapidamente se esquecendo de mim, o perseguindo. Enquanto a multidão passava, abaixei minha cabeça, puxando o boné, e colocando minha máscara e meus óculos.

Olhei em volta andando pelo estacionamento, procurando a garota, fazendo o máximo para me lembrar o melhor do rosto dela que eu não via a anos, tentando reconhecê-la. Meus olhos se focaram na garota colocando a mochila no banco traseiro de um jeep vermelho, já se preparando para ir embora. Apressei meus passos, quase correndo, enquanto cruzava o estacionamento, chegando bem na hora. Sem ter tempo para pensar, e precisando saber se era ela e sem a deixar ir embora, segurei-a pelo braço e a virei, obrigando ela a me olhar.

Pousei minhas mãos sobre os ombros dela, impedindo-a de se mexer, eu ainda não conseguia acreditar. Era ela! Ela tinha voltado! As memórias do que eu fiz a ela ainda a passar pela minha mente, junto com a culpa e as noites que eu passei relembrando o que eu tinha feito.

- Você?..... É você mesmo? – Perguntei, mais para mim, do que para ela. Ela me olhou, finalmente seu rosto estava tomando expressão depois dos segundos sem reação, provavelmente ainda em choque pelas minhas ações.

A multidão de fãs voltou a gritar, fazendo um escândalo extremamente alto. Provavelmente Jin havia se cansado de correr e parado para descansar. Os gritos praticamente me ensurdecendo, eu sentia meus tímpanos doendo. 

Voltando o meu olhar da multidão para ela na minha frente, percebi que ela estava gritando alguma coisa em...português? E não parecia ser algo muito educado. Percebendo os gritos dos fãs ficando mais altos, virei para trás para olhar novamente, e vi que eles realmente estavam se aproximando.

Sem tempo para me esconder, e precisando saber se era ela, comecei a empurrar ela para dentro do carro, entrando também. Ela começou a chutar e socar em todas as direções, tentando se desvencilhar de mim. Eu tentava desviar dos seus socos e chutes sem direções, mas ainda estava sendo atingido várias vezes.

- MAS QUE PORRA VOCÊ TA FAZENDO?  SAI DAQUI CARALHO! – Ela gritou, dessa vez em coreano. Enquanto continuava me socando com seus punhos desastrados.

Desviando das várias direções em que os braços e pernas dela estavam sendo jogados, tentei fechar a porta, mas a força não foi muita e a porta apenas encostou. Com ela ainda se rebatendo, voltei a minha atenção pro seu rosto.

- Esper...- A minha fala foi cortada no meio, quando eu senti o ar saindo do meu pulmão, depois de um soco extremamente forte na minha barriga. Eu comecei a me a sentir irritado conforme ela continuava me socando e chutando, sem sequer me deixar explicar. - – CALMA, EU POSSO EXPLICAR, SE VOCÊ SIMPLESMENTE PARAR DE M...- Um chute forte me atingiu, me empurrando de cima dela em direção a porta, fazendo com que esta se abrisse e eu caísse no chão áspero.

- SAI DAQUI SEU LOUCO TARADO IDIOTA!!! – Ela esbravejou para mim.

- VOCÊ NÃO ME RECONHECE? – Eu gritei, tentando fazê-la me ouvir apesar da multidão. Eu já tinha me levantado e estava caminhando de volta para o carro. Ela rapidamente saiu do banco do passageiro onde eu a havia empurrado sem querer e foi para o banco do motorista, pronta para fechar a porta.

Eu corri, e meio desajeitado segurei a porta, puxando com toda a minha força, tentando impedir ela de fechar.

- COMO EU PODERIA TE RECONHECER PORRA? AGORA SOLTA A PORTA CARALHO! – Ela vociferou.

- SE VOCÊ SE ACALMAR PARA EU EXPLICAR O QUE TA ACONT...- Antes que eu pudesse terminar a frase, a minha visão se escureceu, e uma dor profunda correu pelo meu rosto, enquanto eu era arremessado novamente ao chão. Um soco???

Eu rapidamente tirei a máscara e levei minha mão ao meu nariz, e senti o sangue escorrendo. Enquanto eu me distraia com a incrível e enorme quantidade de sangue que estava escorrendo pelo meu queixo e caindo no chão, ela já tinha fechado a porta e ligado o carro. Ela rapidamente deu partida, se afastando rápido de mim.

Era ela, definitivamente era ela.

- Park Min Hee. – eu sussurrei para mim mesmo, ainda pasmo com tudo que tinha acabado de acontecer.

Assim que o carro dela virou a esquina, sumindo do meu campo de visão, a van preta entrou no estacionamento indo em direção ao Jin, que esticava seus braços, tentando tornar possível vê-lo em meio a balbúrdia.

Limpando o sangue que ainda escorria com a manga da minha blusa e recolocando a minha máscara, fui em direção a van. Os seguranças já tinham descido e escoltavam o Jin até a van pelo espaço que haviam aberto entre a multidão. Corri até eles e fiz um aceno com a cabeça, sendo rapidamente reconhecido.

Me sentei ao lado do Jin, que me olhou perplexo enquanto eu retirava a máscara e deixava as manchas de sangue e o sangue que escorria, agora em pouca quantidade, à mostra.

- O que aconteceu? – Ele praticamente gritou, fazendo com que o Manager, que estava sentado na frente, ao lado do motorista, virasse para lhe dar uma bronca, mas ele parou automaticamente e ficou me observando, a boca ainda aberta.

- Tá tão ruim assim? – perguntei, enquanto tirava meu celular do bolso para olhar o reflexo.

Meus olhos quase saltaram quando eu olhei o estado do meu rosto. Uma grande mancha com tons de roxo, verde, azul, vermelho e amarelo já se formava na minha bochecha com um corte inchado. Droga, ela devia estar usando um anel. A essa altura o Jin já tinha arranjado um lenço, o qual eu usei pra limpar o sangue que já estava secando e depois coloquei no nariz.

- Vocês acham que vou precisar ir pro hospital? – Perguntei, ainda olhando o reflexo do corte. Merda, parecia que ia infeccionar.

- Não, se formos ao hospital vamos causar um grande tumulto. Vamos ao dormitório, e lá chamamos alguém para fazer a limpeza e o curativo. – Ele rapidamente digitou uma mensagem no celular. Seu olhar se ergueu pra mim de novo. – Mas como você acabou assim?

- Sei lá, acho que a mão de alguma fã que usava um anel afiado me atingiu no meio da multidão. – Ele não pareceu acreditar na minha mentira mal contada, mas aceitou.

- Oks, eu já te livrei dos compromissos por 3 dias. É isso o que você tem para se recuperar e voltar com o seu rosto sem sequer um arranhão. Machucados e pus não são os ideais para propagandas.

- Pode deixar  - disse, colocando o celular de volta no bolso. Se bem que eu não tinha tanta certeza que aquilo sararia em apenas 3 dias.

Após várias voltas por vários quarteirões, para o caso de se alguma fã estivesse seguindo a van, paramos em frente ao prédio onde ficava o dormitório. Eu e Jin entramos rapidamente, logo seguindo para o elevador.

- Foi uma garota? – Perguntou Jin enquanto a porta se fechava.

- O que?

- Foi uma garota de quem você foi atrás e que te socou? – Eu olhei pra ele, tentando entender onde ele queria chegar.

- Foi. – eu afirmei após um tempo.

A expressão séria dele logo foi substituída por uma alegria extrema e uma risada escandalosa escapou dos seus pulmões.

- Yahhh – Eu vociferei, mas ele continuou rindo.

A risada dele já estava me dando enjoo, rapidamente atravessei pelo corredor e abri a porta, me jogando já sem forças no sofá. O Jin ainda ria enquanto tirava a jaqueta.

- Dá pra parar? – Perguntei o encarando.

O Jungkook e o V que estavam largados no chão jogando vídeo game, e o Jimin que estava voltando da cozinha com uma lata de refrigerante me encaravam, mais especificamente o monte roxo que estava surgindo na minha bochecha. O Jhope logo apareceu, seguido do Namjoon.

- O que caralhos aconteceu com o seu rosto? – Perguntou o Namjoon, quebrando o silêncio.

- Ele levou um soco de uma garota! – O Jin praticamente gritou. Fazendo a sala explodir em risada e gritaria. As zoeiras se estenderam por alguns minutos, enquanto eu lentamente me afundava mais e mais no sofá.

- Foda-se, eu tô indo pro meu quarto. – disse enquanto me levantava e ia à direção do meu quarto, deixando pra trás eles que ainda estavam se esgoelando de rir.

Assim que me joguei em minha cama, as memórias de hoje começaram a correr pela minha mente, misturadas as memórias de 11 anos atrás.

A forma como eu ria enquanto ela chorava, ainda jogada no chão, segurando o seu joelho ralado e sangrando. O medo de mim no seu olhar. A forma como eu a havia empurrado.

Ela recuando, enquanto eu a xingava de vira lata, escrava, idiota, e todos os palavrões que uma criança de 11 anos poderia saber.

As vezes em que eu colocava meu pé na frente do dela, fazendo-a tropeçar. Os socos que eu tinha dado nela. Os tapas, os cuspes, etc.

O choro dela inundava minha mente. A culpa gritando violentamente.

- Eu sinto muito... – minha desculpa covarde escorreu pelos meus lábios soando como um sussurro.

E então, a lembrança de quando descobri que ela havia tentado se matar voltou. Na hora, na época, eu não me importei. Mas conforme os anos foram passando, eu entendi, eu pude entender o que tinha feito, o que eu tinha causado pra ela.

- A dor que ela sentiu deve ter sido tão grande. – sussurrei para mim mesmo. – E eu fui a causa.