História Bittersweet - SUGA - Ela...se lembra de mim???

SUGA P.O.V

- Você é esquisita..mestiça. – disse, me lembrando de não chamá-la pelo nome.

- Min Hee.

- O quê? – Então realmente...é ela. Apesar das minhas fortes suspeitas, a confirmação dela, de que era mesmo a Min Hee, tornava toda a coisa de certo modo...mais real.

- O nome da mestiça, Park Min Hee. – Ela disse.

- Suga. – Ela me olhou confusa  – O nome do desastrado com a língua queimada. – Completei.

A feição dela começou a mudar lentamente, fechando a boca e mudando o olhar de surpresa pra um “ahhhh”. Uma risada escapou dos meus lábios queimados e um sorriso de canto se formou, eu nem sequer me importei em impedi-los. Ela ao ver minha reação começou a rir também.

- Ahhh é – Disse ela, enquanto cortava o nosso contato e saia correndo da loja por uma porta, e logo então retornando pela mesma, com um pano em uma mão e um rodinho na outra. Ahhh sim, o café, tinha que limpar o café!

- Deixa que eu ajudo. – Eu disse, enquanto já me apressava e segurava o rodinho junto dela.

- Não precisa, pode se sentar. – Disse ela, segurando em minha mão e a empurrando pra baixo, fazendo-a escorregar pela madeira do rodinho.

- Eu insist...  – Disse, me lembrando da promessa de pagar pelos meus pecados.

- Pode se sentar, eu limpo, não é nada, sério. – Ela ergueu o olhar com confiança.

- Teimosa. - Sussurrei baixo para mim mesmo, enquanto com um suspiro a retribuía o olhar, fitando seus grandes olhos negros. Ela sorriu ao perceber meu olhar de desistência.

Eu lentamente retirei minha mão do rodinho e caminhei até uma das mesas. Sentei-me em uma cadeira cinza de ferro e me apoiei na mesa para dois, retirei meu celular do bolso e logo então já pluguei o fone.

Enquanto me concentrava com meus olhos fechados na batida da música, relembrando e tentando terminar meu rap, ouvi um barulho na minha frente. Abri os olhos lentamente, tentando me acostumar à luz novamente. Por entre os raios luminosos, percebi uma silhueta na minha frente.

- Você se veste como um badboy, tem voz de badboy, postura de um badboy, mas...parece uma criança...de alguma forma, você me parece familiar. – A silhueta falou, acenando com a cabeça para um copo de café.

Após alguns segundos as formas foram se tornando nítidas, e eu pude reconhecer a silhueta. Min Hee.

- Você é realmente bom em concentração. – Eu a observei, esperando pela continuação que eu sabia que viria. – Eu coloquei o copo na mesa há uns 4 minutos, mas você nem sequer percebeu. Eu achei que era porque a música estava alta e você não tinha ouvido, mas quando me sentei percebi que não estava alto o suficiente pra sobrepor o som do copo batendo na mesa, já que eu não conseguia ouvir daqui, e estamos há apenas uns 40 centímetros de distância... Então, você realmente estava concentrado.

- Eu gosto bastante de música. – Eu disse, retirando o fone e o guardando no meu bolso. Estiquei meu braço para pegar o café, que graças aos meus minutos de concentração na música que o fizeram ficar largado na mesa, já não estava tão quente ao ponto de me queimar novamente.

- Qual tipo?

- Você é sempre tão extrovertida e descarada assim? – Perguntei, mais em tom de brincadeira.

- Bem, eu cresci no Brasil, digamos que sou mais calorosa, mas também não tanto. Você de algum modo me parece familiar...Você...por acaso...já morou em Daegu?

Eu senti o café quente subindo pela minha garganta, comecei a tossir, tentando reprimi-lo e fazer com que ele voltasse ao estômago. A tosse ficando mais forte. Min Hee rapidamente se levantou e veio ao meu alcance, me levantando rapidamente da cadeira.

Nossos rostos estavam a poucos centímetros de distância. “Vira-lata”, “puta”, “idiota”... Traços cinza, os olhos dela possuíam alguns pequenos riscos cinza em meio ao negro profundo.

Ela...se lembra?

Ela...se lembra de mim?

Não sei se fui retirando dos meus devaneios pelas minhas fortes tosses enquanto lutava com o café engasgado em minha garganta, ou pelas mãos geladas dela, que erguiam meus braços. Eu senti a tosse ficar mais fraca e o café preso em minha garganta descer, o sufoco rapidamente sendo esquecido.

-Quando engasgar, você deve erguer os braços. – Disse ela, sorrindo com seus carnudos lábios rosa.

Ela... e a curiosidade...me atraíam.” Ela sabe quem sou eu?” essa pergunta ressoando em minha cabeça. Os centímetros entre nós diminuíam. Eu estava me aproximando?? Por quê???

“Ela me reconheceu??”, ”Se sim, ela me odeia??”, ”Se não, isso quer dizer...que ela não se lembra de mim??”, ”Ela pode ainda me odiar???”, “Quantas vezes ela chorou por minha causa??”, mesmo com milhares de perguntas gritando em minha cabeça, de certa forma eu estava calmo. Eu a observava, me aproximando mais a cada segundo.

Um estrondo alto soou no ambiente, fazendo com que eu me virasse automaticamente em direção à mesa. Uma música que eu reconhecia.

A tela do meu celular estava acessa, e nela estava estampada uma foto minha beijando uma garota, o nome Hee Young saltando na tela.

Rapidamente voltei as meus sentidos e estiquei minha mão até o celular que estava jogado sobre a mesa, o pegando e saindo da loja, apenas o atendendo quando já estava na calçada.

- Sim? – Perguntei, atendendo a ligação.

- Rude, como sempre. – Ela resmungou do outro lado da linha.

- Você anda carente demais pro meu gosto.

- Não sabia que você tinha gosto...e então? Eu me encaixo nele? – Perguntou dengosa.

- Não.

- Mas ainda assim...você está comigo.

- Achei que tinha deixado claro que você é apenas um passatempo. – Rosnei, já sem paciência para seus jogos psicológicos.

- Por enquanto. – Eu apenas suspirei, cansado de toda aquela enrolação. Ela estava começando a exigir demais de mim. – Vou a uma festa em uma boate, vai ser em alguns dias, e você vai como meu par.

- Eu tenho algum motivo para ir? – Perguntei irritado.

- Pelo que eu saiba não tem nenhum para não ir. – Respondeu ela, rapidamente desligando.

 - Direta e irritante como sempre. – falei sob o “bip” de ligação encerrada.

Quando voltei para dentro da cafeteria, MinHee já estava novamente atrás do balcão, atendendo o cliente que antes estava na mesa no canto. Assim que ela lhe entregou a nota fiscal e ele saiu, fui para o balcão. Apoiei meus dois cotovelos, e coloquei minha cabeça sobre minhas duas mãos unidas, sorrindo pra ela.

- Aonde você aprendeu aquilo?- Perguntei enquanto ela tirava o avental.

- Aquilo o quê?

- Aquele truque de erguer os braços.

- Ann, acho que com a minha mãe. – Ela disse, confusa.

- Ahhhh. – Eu percebi que ela se preparava para fechar a loja, então rapidamente retirei uma nota do meu bolso e estendi pra ela.

Ela pegou o dinheiro, me devolvendo algumas outras notas.

- Achei que fossem 2  cafés.

- Só um. – Disse ela.

- Mas eu derrubei um e você me deu outro.

- Nahhh – disse ela, enquanto inclinava a cabeça, dando um sorriso meio desleixado. – Você derrubou o café por erro meu. Agora estamos quites.

“Quites”, nós estávamos longe disso. Eu ainda devia muito a ela.

- Você...sabe que precisa sair né? – Disse ela, cutucando meu ombro com o dedo indicador e logo então apontando para a porta de saída.

- Ahhh, é. – Afirmei, enquanto caminhava em direção à porta.

Ela saiu logo depois de mim, fechando a porta, e apertando alguns botões em um controle que estava como chaveiro do molho enorme de chaves.

- Então, acho que isso é um adeus...Suga. – Disse ela, dando um tchauzinho com a mão esquerda.

- Eu acredito que seja mais um...Até logo, Min Hee. – Eu disse, enquanto sorria, a convencendo a dar um sorriso também.

- Descarado – Disse ela, logo se virando e se afastando, passo por passo.

Coloquei minhas mãos no bolso, caminhando até a praça que ficava do outro lado da rua. As lembranças do meu comportamento na cafeteria voltando a minha mente. Por que eu fiz aquilo?

- O que caralhos eu estava pensando?! – Resmunguei.

Me sentei em um dos bancos, e retirei meu celular do bolso, tratando rapidamente de mudar a foto de contato da Hee Young, a foto que ela aliás tinha colocado, sem meu consentimento ou sequer conhecimento.

- Essa garota está me dando nos nervos. 

Escolhi a foto de uma cabra velha, e rapidamente cliquei no confirmar, mudando a sua foto de contato.

- Essa lhe corresponde melhor. – Disse, sorrindo para a nova foto.

Ergui meu olhar da tela do celular, rapidamente focando em alguma coisa. A surpresa. Pude sentir meus olhos se arregalando de espanto, e minha boca se abrindo um pouco, um “wow" escorrendo por entre ela.

Min Hee estava sentada no banco na minha frente, um caderno no seu colo e um lápis na mão direita, uma mochila ao seu lado, e um olhar de frustação fixado no chão.

- Seria isto destino? – Perguntei me aproximando.

- Corre! – Disse ela, me encarando.

- O quê? – Ela é louca?

- Corre! – Ela gritou.

- Por que eu iria correr??

- Você precisa de uma razão pra correr? – Ela me questionou.

- Bem, normalmente...sim! – Exclamei.

- Ahhhhhhh – Ela grunhiu. – Por que ninguém aqui se movimenta?

- Se movimentar...é cansativo, e desnecessário! – Ela me fitou aborrecida.

- Frus-tan-te. – Soltou, voltando a fixar o olhar no chão.

- Por que você quer tanto que as pessoas se movam? – Perguntei, realmente curioso.

- Porque eu preciso. – Eu a encarei confuso. – Eu preciso desenhar pessoas se movimentando.

- Por quê?

- Faculdade de artes. – Ahhhh, agora sim fazia sentido.

- Então eu me movimento. – Falei sorrindo, a fazendo erguer o olhar do chão e dessa vez, fixando-o em mim.

- Ann? – Perguntou, confusa.

- Jogar basquete vale né? – Perguntei, observando a bola que estava jogada na quadra de basquete.

- Acho que sim.

- Então me desenhe. – Disse, pegando a bola e começando a batê-la no chão. – Aliás, eu sou um modelo e tanto, não me desenhar seria um desperdício. – Uma risada histérica saiu por seus lábios.

- Me doa um pouquinho dessa autoestima, por favor. – Disse ela, se virando pra mim e já segurando o lápis mais atenta.

- Então isso é um sim. – eu disse, me virando de costas pra ela e caminhando para dentro da quadra.

MIN HEE P.O.V.

- Suga...quem é você?? – Perguntei, ele já longe demais para ouvir o que eu dizia, saltando e arremessando a bola em direção à cesta, acertando na maioria das vezes. A minha mão se movimentando rapidamente, os traços se juntando no papel, e sua silhueta sendo formada.