História Bizarre Triangle Love - Bizarre

Pov Camila

- Lauren?

Minha voz saiu surpresa quando abri a porta e a vi. Havia uma decepção daquelas que te pesam o corpo, que te fazem querer fugir, se esconder, ir pra qualquer lugar que tenha o poder de esvaziar sua mente e descarregar suas dores.

- Achei que não ia abrir a merda dessa porta. Não faço ideia de onde estão minhas chaves!

Ela levantou do chão onde estava sentada e entrou. Carregava uma garrafa de cerveja na mão e os seus passos leves e tortos, denunciavam sua embriaguez. Ainda assim, Lauren era a Lauren. Uma mulher bonita que sempre defendia sua opinião e lutava pelo o que queria.  Talvez ela tivesse razão quando me dizia que havia deixado muito disso para trás, apenas para me agradar.

Naquele momento, eu não sabia se havia dado toda a atenção que ela merecia por ser minha namorada. Não sabia se havia esquecido de lhe dizer que eu a amava por quem ela era.

- De novo...

Falei com os olhos fechado, querendo fingir que tudo aquilo não estava acontecendo

- Não acho que tenho cabeça pra brigar agora.

Ela se sentou no sofá tirando o coturno, e eu mordi meu lábio reprimindo  um choro que queria escapar da minha garganta. Eu tentava entender mais uma vez. Tentava encontrar o momento em que a gente se perdeu. Ou eu a perdi.

- Não vamos brigar, pode ser?

Seu hálito se deu mais próximo do meu rosto, suas mãos sedentas me arrastando pra uma parede qualquer e sua boca com sede no meu pescoço. Eu tentava escapar da força que ela impulsionava em mim, tentava me livrar dos seus lábios. Não podia permitir que mais uma noite se resolvesse daquela maneira.

- Lauren, não!

Ela parou por um momento me fitando e quando notei sua boca vindo mais uma vez na direção da minha,  sem pensar, num ato rápido e cheio de consequências que eu não podia fazer ideia de quais seriam, espalmei a mão no seu rosto para que imediatamente eu me repreendesse enquanto ela ainda de cabeça baixa, se recuperava ou entendia a veracidade do meu ato.

- Mas que merda, Camila! Que porra foi essa? Você por acaso pode me dizer que porra você fez?

Ela gritava  visivelmente irritada, furiosa e totalmente descontrolada.

- Quem você pensa que eu sou pra fazer isso?

Seu tom agora era de total decepção mas nada comparado a decepção que eu sentia. De mim. Dela. De nós.

- Quem você pensa que EU sou, Lauren? Quem? Por que você tem insistido em fazer tudo isso comigo? Eu tenho aguentado,  passado por cima, me feito de cega pra não fazer o seu descaso comigo, uma merda de motivo para o fim. Todos os dias você tem uma festa com as suas amigas, ou um trabalho da faculdade que te ocupada muito a ponto de você sempre chegar embriagada e aí sim lembrar que eu existo ou que sou mulher pra transar com você. Ou isso era assim,  porque nas últimas semanas você chega e não me procura, muito certamente, outra te satisfez o bastante.  O que aconteceu hoje?  Elas não quiseram você? 

Descarreguei parte de tudo o que vinha pensando sobre suas atitudes,  era difícil fazê-lo e eu fiz, me afundando no meu próprio medo de perdê-la, de aceitar que tudo o que era pra ser bom e perfeito, se tornou pesado. Ela, mais uma vez estava sentada no sofá,  com a cabeça baixa e as mãos no cabelo.

- Você tá louca? Eu nunca!  Nunca te traí.  Mas que merda!

Com um movimento rápido, Lauren se levantou e foi até a cozinha, me deixando no mesmo lugar, apenas a observar seus movimentos traiçoeiros.

- Merda, merda, merda!!

Com os estilhaços de um copo quebrado na sua mão, eu fechei os olhos com força tentando me manter calma o suficiente pra ir até lá. Perceber que havia sangue o bastante e que ela poderia piorar as coisas, deixou o meu coração pequeno.  Por motivo nenhum no mundo, eu poderia vê-la sentir dor, eu a amava.

- Chega Lauren!

Segurei sua mão sangrando e ela me olhou no mesmo momento.

- Fica com a mão assim,  eu vou pegar o álcool pra limpar.

- O que?  Não,  você não vai colocar álcool aqui né?!

Virei as costas porque eu sabia que iria vacilar,  porque ela ainda era a menina de 15 anos que eu me apaixonei,  ainda tinha a essência que eu tanto amei quando ela me deu o primeiro beijo. E agora estava tentando esconder tudo isso com a imagem de uma Lauren mais madura.

- Se não quer ver,  fecha os olhos...

Pedi assim que voltei pra cozinha com o álcool em mãos. Como um gato medroso, ela fechou os olhos fazendo uma careta antes mesmo de eu encostar

-Ai Camz,  dói muito!!!

- Eu já terminei, calma...

Ela abriu os olhos e encontrou os meus marejados,  ou definitivamente,  um oceano de lágrimas. Impossível de controla-las.

- Eu  não merecia nem que cuidasse disso pra mim...

As costas da sua mão vieram até os meus olhos na tentativa de me fazer parar de chorar. A sua voz rouca e de um arrependimento visível, me deixavam ainda mais sensível e vulnerável.

- Não chora por favor...

Eu não podia ficar ali, eu me jogaria nos seus braços,  eu sabia, ela sabia e talvez por esse motivo,  nos levantamos no mesmo momento

- Eu só quero saber por que?

- Porque eu mudei, Camz, eu sei que mudei, cresci e não foi e não é algo que eu me orgulhe 100%. Mas eu mudei. E você?  Você continua pura, inocente, responsável e tudo isso foi desencontrando.  Eu quero sair, viver, curtir, beber. E você quer ficar em casa assistindo filmes, ou quer visitar nossa família,  cuidar da sua irmã, estudar... Você está sempre focada nos seus projetos, e eu acho isso incrível, mas... Eu... Não sou assim, Camila, eu definitivamente não quero ser assim. Mas que fique claro que eu amo muito a sua pureza e tudo o que você é

- Eu entendo que todas essas festas, suas amigas e bebidas estejam sendo melhores pra você. Mais interessantes. Começamos tão cedo e você pode estar enjoada de mim.

- Não!! Eu me embriago desejando que você pudesse ao menos estar comigo. Na hora, percebo que mais uma vez você estava ocupada demais sendo politicamente correta!

- Então eu realmente não entendo o motivo pelo qual se apaixonou por mim. Eu sou assim e isso te incomoda! Não faz sentido você dizer que ama.

Ela não respondeu, deixou que o silêncio me fizesse entender que ou ela não tinha um jeito certo de dizer que não me amava mais ou que não sabia como explicar a razão pela qual se apaixonou por mim.

- Lauren... Meses atrás, eu iria amar ter essa conversa, iria amar que você notasse que algo daria errado e pedisse pra eu mudar, porque eu juro que eu era capaz de fazer o mundo girar ao contrário se você achasse o certo, mas a única coisa que você fez, foi mais uma vez deixar essa merda de silêncio entre nós. Agora eu já não posso fazer muita coisa a não ser acabar com tudo isso de uma vez.

Ela levantou os olhos e eu não me atrevi a olhá-los, só de sentir que eles estavam em mim, eu já vacilava entre fazer ou não. Respirei fundo, busquei coragem em mim de um lugar qualquer e tirei a nossa aliança. Ela era linda e lembro-me do dia em que a Lauren me deu, achei que nada no mundo poderia estragar a felicidade que ela construiu em mim com o seu amor.

- Lauren... Tira essa venda dos meus olhos. Eu fico nervosa.

Falei tateando a mão pela venda que cobria os meus olhos. Ouvia a risada da Lauren perto de mim e seus movimentos me chamavam a atenção.

- Não, Camz. Não te deixa nem um pouco nervosa, o fato é que a senhorita é curiosa, mesmo!

Ela riu mais uma vez selando nossos lábios e tirando devagar a venda. Ela tinha um sorriso muito lindo e cheio de esperança. Seus olhos brilhavam como uma criança que ganha todos os presentes da sua carta pro bom velhinho.

No jardim da sua casa, algumas luzes acesas, uma mesa redonda com dois lugares feitos e uma comida maravilhosa.

- Quero uma noite maravilhosa para nós. Uma noite que você jamais vai esquecer!

- Já está sendo, Lolo. Desde o momento em que você apareceu assim, linda para me buscar.

Ela me ofereceu sua mão para que eu pegasse e caminhamos até a mesa. Atrás de toda a felicidade bem clara no seu rosto, tinha um pequeno nervosismo que me deixava ainda mais curiosa sobre aquela noite.

- Você não vai se sentar?

- Sim... Claro...

De costas pra mim, ela respirou fundo e olhou pro céu antes de se virar

- Camz... Você sabe que eu te amo, não sabe? Desde que eu te conheci!

- Claro, Lauren. E eu também amo você!

- Certo... Então...

- Você tá me deixando nervosa...

Ela sorriu e se ajoelhou na minha frente.

- Você aceita ser minha namorada? Assim... Pra sempre!!

Na sua mão, uma caixa de veludo, preta, tinham duas alianças bem postas. Seus olhos iam das duas peças aos meus olhos. Suas mãos tremiam e eu achava graça no seu jeito. Me apaixonava a cada segundo, ainda mais.

- Sim!!! Sim!!! Sim!!!

Pulei no seu pescoço e caímos na grama. Ríamos de felicidade. Comemorávamos aos beijos.

Seus olhos ainda observavam meus passos.

- O que você tá fazendo? O que significa isso?

Seu desespero aparente na sua voz quando me viu colocar a aliança na mesa de centro da sala, me fez tremer. Arrepiar a espinha.

- Boa noite Lauren.