Pov Lauren
Eu havia passado a noite sentada na sacada da sala na companhia de duas garrafas de whisky. A quantidade de álcool não tinha sido o suficiente pra me deixar bêbada, mas bastou para bagunçar um pouco mais a minha cabeça. O meu celular não parava de tocar e receber mensagens, eu simplesmente não queria manter contato com ninguém, a minha presença já era o meu próprio carma.
A campainha tocou suave e só então eu senti o frio daquele inverno. Passei as mãos pelos braços, coloquei a touca do moletom e caminhei até a porta olhando a hora no relógio, eu tinha perdido a total noção do tempo.
- Dinah...
Ela entrou me dando um abraço quente.
- Te acordei?
- Na verdade eu não dormi...
Ela me olhou e em seguida olhou pra porta da sacada aberta.
- Você bebeu aquelas duas garrafas sozinha?
- Não fizeram efeito!
Ela riu e fechou a porta acabando com o vento frio que vinha de fora.
- A mãe da Camila está na cidade...
Franzi o cenho.
- Desde quando?
- Hoje. Acordamos com ela chegando... A Camila pareceu não gostar da surpresa.
- Estranho... Ela venera a família!
- Alguma coisa mudou.
- A Camila mudou muito desde que terminamos, mas não acredito que ela teria alguma mudança com relação a família dela... Talvez ela só não queira continuar recebendo pressão de todos que estiveram a nossa volta.
Dinah assentiu e eu deitei no seu colo.
- Você está bem?
- Eu estou tentando entender a noite passada. Me entender, entender a Camila. Eu já fiz isso tantas vezes, não sei por qual motivo eu ainda insisto!
Dinah passou o polegar na maçã do meu rosto e desviou os olhos de mim. Ela cedeu espaço para o silêncio como se soubesse que era exatamente aquilo que eu precisava, e foi.
- E Keana?
- Não sei... Desliguei o celular, não quero ninguém insistindo e forçando uma situação. Ás vezes eu a acho parecida demais com a Camila.
- Entendo.
- Eu não... Você sabe por que a Camila me ligou?
Perguntei. Ela franziu o cenho e soltou um som nasal.
- Achei que você tivesse ido por ir, por procura-la, não fazia ideia que ela tinha te ligado.
Respirei fundo e fechei o olhos tentando afastar a ideia de continuar aquele assunto.
- Eu estava levando Keana pra casa e ela me ligou, disse que não era pra eu questiona-la, mas que precisava me ver, então fui até o apartamento dela. Não entendi quando cheguei lá vi aquela festa, me questionei se era pra me provar alguma coisa ou...
- Não!
Ela me interrompeu e eu me levantei do seu colo.
- O que?
- Eu dei a ideia de fazermos alguma coisa e chamarmos alguns amigos, vinha há dias falando isso pra ela. Queria vê-la se divertindo, fazendo novas amizades...
- É, mas na hora eu não sabia desse detalhe. A ideia de vê-la mudando após o nosso termino é o que me atormenta inteira. Eu me senti magoada, me sinto magoada e não faço me compreendo.
O telefone da loira começou a tocar e ela se afastou para atender.
Assim que a Camila me ligou, fui direto para o apartamento dela, onde Alfred me recebeu com um sorriso animado e deixou que eu entrasse sem rodeios. Eu estava nervosa, nós duas não tínhamos o mínimo de contato e então, a sua ligação denunciava algo errado.
O elevador chegou até a cobertura e pude ouvir o barulho de música e pessoas falando ao mesmo tempo. Pensei em dar dois passos pra trás e ir embora, mas ela abriu a porta adivinhando a minha presença naquele exato momento.
- Lauren...
Semicerrei os olhos e ela veio na minha direção com um copo de bebida na mão. Ela estava um tanto quanto vacilante, mas por telefone, eu não tinha notado a sua embriaguez, talvez eu jamais tivesse ido.
- Eu não sei porque você me ligou, mas não acho que precise de mim neste momento.
Ela olhou pra trás e segurou a minha mão nos afastando do corredor e caminhando até as escadas de emergência. Camila virou o corpo pra mim e nos encaramos por segundos. Os seus olhos me queimavam, a nossa respiração estava descompassada por vários motivos, e a saudade me consumiu por ter passado tantos dias sem olhá-la de tão perto, sem dividir a química que sempre exalava quando estávamos frente a frente.
- Camila...
- Shiii.
Ela repousou o seu indicador nos meus lábios e eu me calei engolindo a seco.
- Não deixa esse momento acabar!
Fechei os olhos sentindo a sua pele na minha. Ela se aproximou mais e a sua boca me beijou suave. Eu retribuí o beijo e apaguei qualquer lembrança ruim naquele momento, mas senti o meu rosto molhar involuntariamente pelas minhas lágrimas.
- Ei!
Ela colocou suas mãos uma em cada lado do meu rosto e me olhou.
- Isso não muda muita coisa.
Segurei suas mãos e as tirei de mim.
- Lauren...
- Eu não sei o que está acontecendo aqui. Você não é mais a Camila que eu conhecia!
Ela arqueou a sobrancelha.
- Mas não é essa a Camila que você queria?
Eu mordi os lábios e abaixei a cabeça. A sua pergunta me dava a resposta do que eu não podia responder, ou não conseguia. Abri a porta saindo das escadarias e entrei no elevador sob o olhar da Dinah no corredor.
Toda vez que começo a acreditar em qualquer coisa que você diz, lembro-me de que eu deveria estar superando você.
Cheguei na faculdade duas horas antes na tentativa de estudar pra prova que teria. Sentei no jardim e me encostei em uma arvore, respirei fundo e aproveitei o enorme vazio e silêncio pra me concentrar em alguma coisa além de toda confusão que estava a minha volta. No meio do livro entre anotações, havia uma foto com uma dedicatória da Keana; passei alguns minutos olhando sem sentir muita coisa, eu parecia ter congelado por dentro.
- Por que eu tinha certeza que você estaria aqui?
Olhei pra cima reconhecendo a voz da Keana. Ela jogou a sua bolsa no chão e sentou ao meu lado.
- Oi...
Selei nossos lábios e ela olhou pra frente a fim de não me encarar.
- A Camila uma vez deixou escapar que você sempre vinha estudar no jardim do campus quando estava nervosa, ansiosa ou fugindo de alguma coisa. E acho que é de mim que você está fugindo.
- Não estou fugindo de você, Keana.
Ela me olhou arqueando a sobrancelha.
- Não?
- Ok... Isso não é com você. Acho apenas que eu preciso ficar sozinha!
Ela permaneceu sentada ao meu lado e em silêncio. As pessoas já se aglomeravam no campus e eu tinha a impressão que todos percebia a situação embaraçosa que eu estava. Olhei a frente e vi Verônica entrar apressada e logo atrás, Lucy estava parada observando a namorada até sumir do seu campo de visão, ela respirou fundo e olhou a sua volta até deixar os olhos cair em mim.
- Laur, eu posso falar com você?
Olhei pra Keana e ela assentiu deixando um beijo antes de sair ainda em silêncio. Lucy se sentou e ficou esperando que a morena se afastasse o suficiente de nós.
- Eu atrapalhei alguma coisa?
Olhei pra ela e neguei para logo oferecer um sorriso sincero.
- Só não estamos bem... Eu não estou bem e isso refletiu em nós.
- Eu juro que não queria atrapalhar!
- Para, Lucy! Você até me salvou de ter que passar mais um minuto com ela do meu lado sem trocar uma palavras. Mas... O que houve? Por que a Vero entrou sem nem olhar para os lados?
Ela respirou fundo e jogou suas costas pra trás até se encostar na mesma árvore que eu estava.
- Viemos brigando o caminho todo, agradeci por ter visto você aqui, precisava conversar.
- Será que eu sou a pessoa mais indicada pra dar conselhos amorosos?
Ela riu empurrando levemente o meu ombro, arrancando depois de horas, um riso meu, leve e divertido.
- Você é a pessoa mais maravilhosa que eu conheço, Laur!
Suspirei e deixei meus pensamentos me levarem longe.
- É engraçado...
- O que?
- Te conheço desde pequena, lembro de você na aula... É incrível como o mundo dá tantas voltas e pessoas como você continuam aqui. A mesma faculdade, o mesmo curso, Eu, você e a Vero;
- E a Camila...
- E a Camila...
Repeti.
- A Camila sempre quis essa faculdade e o curso dela. A Vero veio porque estávamos no auge da paixão quente e louca, mas pelo menos ela se apaixonou pelo curso.
Assenti e ficamos em silêncio, era um espaço que estávamos dando uma pra outra.
- Eu não sei o que houve e se você não quiser contar, tudo bem, é o teu espaço, mas pensa na situação e tenta relevar, certos detalhes não valem a pena e trazem arrependimentos. Vocês duas se amam!
Ela me olhou e deu um meio sorriso.
- Isso serve pra você também?
- Depende da situação, talvez em todas...
Lucy tirou os seus olhos de mim e segurou o meu braço com certa força, tentei olhar para a mesma direção que ela e entender o que estava vendo.
- Não é a Keana?
- Aonde?
- Indo pro estacionamento... Laur, se vocês brigaram, vai atrás dela.
- Ela só deve ter esquecido alguma coisa no carro...
Ela arqueou a sobrancelha.
- Na minha opinião ela tá indo embora!
Assenti contrariada, coloquei o livro dentro da bolsa e levantei. Eu me sentia culpada por não dar o meu melhor pra Keana quando ela só queria entender a minha mente, e me culpava por prende-la na minha vida a ponto de fazer ela sofrer.
Antes que eu chegasse até ela, uma mão pequena e delicada segurou o meu braço impedindo um passo a mais.
- Camila, que susto!
A morena me olhou e soltou o meu braço.
- Preciso conversar com você.
- Agra não dá, Camila! E a gente já conversou no sábado.
Tentei olhar pro estacionamento e enxergar a Keana, mas foi em vão.
- É exatamente sobre isso. Eu tive um apagão de memória da bebida, não sei... E comecei a ter flashs, mal pude dormir essa noite!
- Não aconteceu nada... Nada Camila!
Ela me olhou vacilante e eu desviei o olhar. Sem pensar e sem dar espaço para que ela dissesse alguma coisa, completei o caminho até o estacionamento em passos largos. Keana estava encostada no seu carro falando distraída ao celular, ela me olhou assustada e rapidamente desligou deixando toda sua atenção em mim.
- Você não vai entrar?
A morena olhou no relógio e negou.
- Não, eu vou pra casa.
- Keana, queria me desculpar.
Ela respirou fundo e se aproximou colocando uma mecha do meu cabelo para trás.
- Fiquei te observando de longe, Lauren, você estava conversando com a Lucy, parecia mais animada e aberta. Mas se você não pode confiar em mim, isso não vai dar certo.
Assenti e olhei a nossa volta. A maioria dos alunos já estavam dentro do campus, o estacionamento estava vazio com exceção de nós duas.
- Você tem razão... Não vamos classificar como um erro, e eu não quero cometer um com você por ainda gostar de alguém ou não saber o que eu sinto...
A vi olhando pra cima contendo um choro ressentido. Eu tinha um nó na garganta que podia me fazer vacilar a qualquer momento por gostar de que estava bem a minha frente, porém, tudo o que eu vinha fazendo, era abrir um caminho que a faria sofrer. Eu queria contar a ela sobre o meu beijo com a Camila e sentir qual seria a consequência, mas por outro lado, não valia a pena.
- Eu vou pra casa!
- Keana... Espera!
Ela parou na porta do carro e negou.
- Aqui não, Lauren. Pode ficar mais um tempo sozinha, é isso o que você quer esse tempo todo. Foi um acaso no momento errado!
Ela entrou no carro e eu fiquei parada até ela ir embora. Pensei em fazer o mesmo, mas naquele momento estava bem a minha frente todos os fatos. Eu não sabia se tudo era definitivo, mas no fundo de toda verdade, eu só precisava de um pouco de silêncio e carência.
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