História Black - Recomeço

[CINCO ANOS DEPOIS] 

Eu acordo suando como na maioria das noites. Aquela noite nunca me deixa. Sempre lá, me puxando para trás. Aquela noite foi um dos pesadelos que eu não posso deixar de reviver de novo e novo. Mesmo quando eu olho minha filha, que tem os olhos verdes de Natsu, eu penso naqueles olhos verdes assombrados e como eles foram sempre tão fechados para o resto do mundo. Como ninguém queria ter nada a ver com ele. Ele é ruim, eles diziam. Ele é mau, ele não pode amar. Eles estavam todos errados. Nenhum deles o conhecia, nenhum deles se importava com ele como eu. 

Ele era apenas um pesadelo que eles contavam para seus filhos, exceto que ele é meu pesadelo todas as noites desde quando eu o vi cair. Cair naquela escuridão. Sabendo que não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso, nada que eu pudesse ter feito para impedir essa noite. De alguma forma tenho vontade de pressionar o rebobinar, para voltar e assim nós nunca voltaríamos para lá, ainda estaríamos seguros. 

Gray entra na minha casa com Romeo junto dele. Gray se tornou a figura paterna de Nashi, já que o meu Natsu não podia ser. Não há nada entre Gray e eu. Na verdade, eu nunca parei de pensar em Natsu. Eu não posso, ele tem uma grande parte da minha alma. E o pensamento de ter outro homem me tocando apenas me causa angústia, uma agonia extrema. 

— Você não ensinou qualquer um de seus maus hábitos a ele né? — eu digo para os garotos. Romeo se aproxima e beija a minha bochecha. 

— Não, mãe. Tio Gray estava me ensinando a atirar. — eu pego a faca que eu estou usando e aponto para Gray. Ele segura as mãos para cima e começa a balançar a cabeça. 

— Eu disse que teria volta — Romeo grita enquanto ele se afasta. Eu abaixo a faca e volto a cortar os legumes. 

— O que teria volta Gray? — pergunto. Estes dois são terríveis. Nem quero imaginar Max mais velho. 

— Eu disse à garota que ele gosta que ele queira beijá-la. 

— Você o quê? — ele sorri como se ele estivesse orgulhoso. — Gray... — eu o advirto, e ele encolhe os ombros, sabendo que ele está errado. Gray é agora o Presidente do Coffin Soldiers MC. Eles mudaram muito e não se parecem nada como antes. Inferno, é um clube inteiramente diferente. Eles fazem caridade, correm para doar dinheiro para as crianças doentes e terem casacos para o Natal. Eles têm dias em família agora na sede do clube, que agora é a antiga casa de Natsu. Levei anos para ser capaz de ir para aquela casa, até mesmo pensar naquela casa. Ele a mantém do mesmo jeito, as paredes, o seu quarto. Embora Gray se recuse a mudar o quarto, eu ainda não entrei lá. 

Sua boca nunca cicatrizou corretamente, ele ainda está marcado profundamente. Eu tenho certeza que há mais, mas ele só não fala sobre isso e eu não me intrometo. Ele tem seus próprios demônios e eu tenho os meus. 

— Onde está minha princesa? — ele murmura para Nashi que eta sentada no sofá assistindo televisão. Ela ouve e se vira, sorrindo brilhantemente e se joga em seus braços. — Cade Max Lucy - ele pergunta com Nashi em seus braços, Max o aceitou facilmente depois que perdemos o Natsu. Nós não vemos muito o Sting, ele finalmente conseguiu o pagamento da sua herança e deixou o país. Ele liga uma vez por ano em seu aniversário, envia um presente, é até onde o seu grau de ser pai vai. Isso não me incomoda, eu acho que ele está melhor sem este homem. Mas um garoto precisa de um pai. Inferno todos eles precisam de um pai,  é aí que eu sou grata por ter Gray. Ele faz essas coisas para eles, mesmo que suas palavras sejam duras. 

— Se você estiver pensando em namorar um menino, você o traz para mim. — ele diz a Nashi. Ela diz que não é algo que ela vai fazer. Então ele fez uma descrição do que ele iria "dizer" e fazer com o garoto quando ela quiser namorar. Que, espero que demore muito, por que por Deus ela tem cinco anos.

Erza e Jellal estão em seu terceiro filho. Erza é uma dona de casa e está enlouquecendo Jellal. Ela quer mais um filho, mas ele diz que tem o suficiente. Ele me disse sobre aquela noite, sobre como ele ajudou Gray, mas não me deu muitos detalhes porque os detalhes que ele mencionou foram duros o suficiente. 

Vejo Leo ocasionalmente, e ele está agora casado. Na verdade, ele se encontrou com Aries do meu trabalho, e eles estão juntos há dois anos. Eu agradeço a Deus por ele, assim como por toda a ajuda que ele me deu. Eu não quero saber onde eu estaria sem nenhum deles. 

Gray sugeriu que para o aniversário de Nashi hoje que fôssemos para o lago. Eu balancei a cabeça para ele quando ele sugeriu isso, mas isso vai me ajudar. É um lugar que eu posso falar com ele. Eu nunca voltei nesse lugar antes. Não tem nada além de memórias e fantasmas.  

* * *
  

Parece exatamente o mesmo, a única diferença é que a grama está mais alta. Eu ando para o local na cerca que ele cortou tantos anos atrás e faço o meu caminho através dela. 

Ando até o local exato. Aquele que as memórias me assombram. Me sento, não querendo ficar de pé. Meu corpo começa a tremer, meu coração assumindo e desejando que ele estivesse aqui comigo. 

Eu o sinto, eu sinto como se suas mãos estivessem em mim, me confortando com toda sua força. Me fazendo se sentir inteira, colando todos os pedaços do meu coração despedaçado. Meus olhos se fecham e eu o levo, eu demoro tanto quanto o meu sentimento e esperança me permite.

Ele está lá, em minha mente. Sorrindo para mim. Ele pisca e ele faz comigo o que ele fez todos aqueles anos atrás. Me faz querê-lo e depois sentir falta dele ainda mais. 

Nem todos os relacionamentos terminam do jeito que esperamos. Alguns acabam em tragédia, e o meu foi assim. Mas no final eu tive um milagre. Uma grande família. Uma que me amava como um todo, e eles estão consertando todos os pedaços quebrados de mim. Eles simplesmente não podem reparar a minha alma que chora por uma única pessoa. Eu acho que está tudo bem, está tudo bem que não possa ser corrigida. Eu não quero que isso seja corrigido. Eu quero isso para ele. Eu quero me lembrar dele, de qualquer maneira que eu possa. 
Ele foi isso para mim. Ele não era apenas um amor, um amor que eu sempre quis. Ele era... Ele era o que minha alma queria, o que ela desejava, e agora ela sangrava por ele. E isso nunca vai parar. 

Zeref Pov's On

Eu a vejo, observo como ela anda pela rua, balançando seus quadris, seu longo cabelo loiro fluindo no vento. Algo me puxa, eu não sei o que. Porque cada vez que vejo essa mulher loira, algo em mim muda,  algo se agarra em mim. Eu não acho que é algo que vá entender. Nunca. 

Ela puxa minha mão e a leva aos lábios. Beijando-a enquanto nós nos sentamos no carro, me viro para ela e pergunto por que seus olhos são a única coisa que eu mais gosto sobre ela, o resto nem tanto. O castanho brilha, ela os fecha e se inclina em seu assento. 

Me lembro de acordar cinco anos atrás com aqueles olhos olhando para mim. Algo sobre a cor me chamava, mas eu não tinha ideia do porquê. Eu nem sequer me lembrava de quem eu era ou onde estava. Ela me disse que meu nome era Zeref, e que eu tinha tido um acidente, mas algo parecia errado. Algo parecia estranho, só que eu não a questionei - não podia, porque eu não tinha memória. 

Mas quando olho para a rua e vejo uma certa loira caminhando com a mão na mão de uma criança pequena, eu me pergunto por que eu sinto alguma coisa, sinto como se algo estivesse muito errado, e que algo está faltando.