Não há nenhuma luz entrando no quarto, e eu não gosto de escuro. Então ouço gritos. Eu não acho que eu estou tendo alucinações, parece real. Em seguida, uma batida, seguido por um carro arrancando.
Fiquei ali, um braço algemado à cama, o resto do meu corpo livre. Eu penso sobre a morena e sua pergunta. — Por que ele te ajuda? — eu não sei do que ela falou. Era o homem que eu vi, o que não fala? Eu não tinha certeza se ele era real ou não. Eu nem sequer acreditei que ela era real até que eu senti o chuveiro e provei a comida.
O trinco da parta esta se movendo, logo ouço o clique que anuncia que a porta foi aberta, um filete de luz passa pela mesma e eu olho para cima, esperando que seja a figura escura, mas não é. É figura pequena, que coloca a cabeça pra dentro, olhando ao redor, avaliando tudo. Seus olhos param quando estão em mim. Ele me olha nos olhos, e, em seguida, entra, fechando a porta e acendendo a luz.
Ele é pequeno, possivelmente com oito a dez anos de idade. Ele caminha para mim, parando na única cadeira que não esta tão longe da minha cama e se senta. Ele vê me algemada à cama e parece preocupado, seus olhos logo volta aos meus.
— Você é ruim? — pergunta ele, sua voz suave. Eu não sei como responder a essa pergunta, então eu escolho não fazer. Ele é inteligente, ele lê o meu silêncio.
— Sr. E.N.D ele não é ruim. Ele cuida de mim, me trata bem, — continua ele, olhando para a porta como se ele estivesse esperando ficar em apuros a qualquer minuto.
— Sr. E.N.D? — eu pergunto a ele.
— Sim, E.N.D. O homem que é dono desta casa. O homem que algemou você. — ele aponta para o meu pulso, me dizendo o óbvio.
— Você pode me ajudar a sair daqui? — eu puxo o meu punho, querendo quebrar as algemas para que eu possa me libertar. Ele nega compulsivamente.
— Quer um pirulito? — pergunta ele, me ignorando, tirando um pirulito do bolso. Eu não posso dizer que não, minha fome está sempre presente. Ele entrega para mim, e eu, basicamente, tomo de sua mão, jogando o papel longe e o empurrando na minha boca.
— Eu tenho que ir. Vejo você mais tarde, Sra. Algemada, — diz ele, de pé e correndo para fora da porta. Ele não tranca quando ele passa. Eu puxo o meu pulso, tentando me soltar. Nada funciona, não posso me mover.
— Quem abriu a porta? — uma voz pergunta, me assustando, com pirulito ainda na minha boca, eu olho para ele.
Ele balança a cabeça para si mesmo como se ele não precisasse que eu respondesse, como se ele já soubesse.
Ele está vestido do mesmo jeito que me lembro dele. Eu pensei que os seus olhos fosse coisa da minha cabeça. O olhando vejo que é lindo de parar o coração. Seus cabelos exóticos puxados para o lado me chamam atenção, suas roupas escuras, apenas uma camisa branca.
— Por favor, me deixe ir, — eu peço e seus olhos se atiram aos meus. Eles são tão únicos, diferentes. Ele parece como ele soubesse meus segredos mais obscuros, mas espero que ninguém saiba. Ninguém precisa saber desses segredos. Nem eu quero me lembrar deles.
— Você vai sair e se drogar novamente, Lucy? — essa pergunta me assusta, eu não uso esse nome a anos. As pessoas que me conhecem por ele, não me reconheceria agora.
— Como você sabe quem eu sou? — ele entra no quarto, o que parece ser em câmera lenta. Como se ele tomasse conta de cada passo. Meus pulsos arranham contra as algemas que me amarram, quero ficar o mas longe dele, longe do que ele traz, sentimentos.
— Seu nome não é Lucy? — pergunta ele, quase na minha frente agora.
Eu nego.
— Não, meu nome é Ashley — eu minto. Esse é o meu nome de rua. Como os traficantes de drogas me conhecem, e as putas me chamam.
— Não minta pra mim Lucy. — sua voz é suave, mas tão dura. Eu não acho que um homem como ele precise levantar a voz, já autoridade suficiente sem isso.
— Se eu te contar a verdade, você vai me deixar ir? — ele pondera a minha pergunta, não me dando uma resposta de imediato. Ele me encara como se já soubesse todas as respostas.
— Sim, mas somente a verdade. — ele diz, e eu aceno um sim com a cabeça, mas logo a tombo de lado, tentando pensar em uma mentira, mas até onde eu posso realmente mentir? Ele parece me conhecer. Quanto é que ele realmente sabe? Quanto posso mentir?
— Pensar em uma mentira não vai ajudar. — ele diz e então, me puxa para que meus olhos se encontrem com os dele.
— Eu era conhecida como Lucy antes... antes... antes que eu fosse quebrada — eu espero que isso seja o suficiente. Eu o olho novamente e vejo que espera que eu continue. Respiro fundo e torna a falar.
— Eu comecei a me drogar para atenuar a dor, entorpecer tudo, há um limite de dor que uma pessoa possa suportar ate que esteja realmente quebrada. — termino de falar e ele dá um passo para frente. A princípio pensei que fosse me tocar, ele poderia realmente me machucar se quisesse, mas ele não o fez, ele estendeu a mão e soltou algemas, as deixando cair no chão, e sai porta a fora.
Fico sentada esfregando o meu pulso. Querendo saber por que, de repente, ele simplesmente me deixou ir embora. É uma armadilha? Para onde eu vou? Onde estou? Eu uso o banheiro, e quando eu termino, vou até a porta e dou passo para fora daquele quarto, continuo andando, olho para cima e há uma escada, eu a subo, a porta está aberta e o cheiro de comida flutuando para baixo faz meu estômago resmungar alto.
Desço novamente ate a porta do quarto onde estava e noto outra porta de frente para a minha, será a porta para a liberdade? A abro e bingo é a porta da liberdade, então contemplo minhas opções. Eu poderia simplesmente sair, mas para onde eu iria? Quem iria me querer? Eu nem sei onde estou. Eu olho para trás até as escadas. Música está tocando, é uma música sombria, triste. Eu me aproximo, o cheiro da comida e o som me levando.
Eu tomo as escadas devagar, não tenho certeza do que estou fazendo. O pensamento de comida me empurra mais rápido, levando todos os pensamentos racionais do meu cérebro.
Ele está no fogão, ainda vestido como ele estava antes, botas em seus pés, ele não olha para mim, nem me nota, mesmo quando o chão range sob os meus pés.
Ele continua a cozinhar, com a música alta, eu fico lá, vendo o que ele está fazendo. Ele é tão silencioso e forte, a maneira como ele se mantém é diferente da maioria dos homens. É assustador e emocionante ver suas mãos movimentando no fogão, então ele para e a música é desligada, em seguida, ele fala me fazendo pular. Me surpreendo tanto que o meu coração dispara com tanta força que eu tenho que colocar a mão sobre o peito pra se ele ainda esta lá.
— As bebidas estão na geladeira — diz ele e liga a música de volta. Ele sabia que eu estava lá, mas optou por não me reconhecer. Ao contrário, ele me assustou pra caramba.
A geladeira está bem perto dele, então eu opto por caminhar ao redor do balcão. Ele está no meio, o fogão que ele cozinha tem uma ilha em frente a ele. Eu passo por ambos para que eu possa acessar a geladeira. Eu abro e só vejo água, nada mais. Eu pego duas garrafas, colocando uma perto do fogão e, em seguida, recuo, colocando alguma distância entre nós. Eu tenho a chance de olhar ao redor. A casa é colorida, tem palavras grafitada em todos as paredes e isso me faz sorrir. Eu amo grafite.
Ele me pega olhando, diretamente para suas paredes. Eu acho que eu vejo um sorriso, mas se foi tão rapidamente, que é como nunca esteve lá. Ele coloca um prato na minha frente com frango e legumes. Meu estômago ronca. Ele ouve e aponta com a cabeça para o sofá, pegando seu próprio prato que contém a mesma comida, porém mais cheio.
Ele carrega o seu prato para o sofá, se senta e coloca um filme na televisão. Ele não assiste, é apenas um ruído para encher a sala, muito parecido com sua música que está desligada agora.
Eu como rápido, mastigando o mais rápido possível para devorar o máximo que eu puder. Logo meu prato está vazio, e o homem ao meu lado ainda está comendo, com metade de seu prato ainda cheio. Ele desliza para mim, se levanta e leva o meu prato de volta para a cozinha e eu como o dele também.
— Onde estamos? — eu pergunto, terminando a minha última colherada. Ele coloca seu prato na pia, olhando para mim, se inclina sobre o balcão, e cruza as pernas.
— Magnólia — ele responde, e eu largo meu prato, que despedaça no chão. Ele observa atentamente a minha reação.
Eu deixei este lugar anos atrás, e nunca mais pensei em voltar, mas aqui estou eu na casa de um estranho.
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