História Black Gentleman - Prólogo

Conte a minha mãe, conte ao meu pai
Eu fiz meu melhor que pude
Para fazê-los perceber que esta é a minha vida agora
Espero que entendam
Eu não estou com raiva, eu estou apenas dizendo
Algumas vezes "adeus" é uma segunda chance
 

O vento uivava acompanhando a melodia que ecoava entre as espessas paredes de gesso daquela sala. As luzes estavam apagadas mas um enorme globo espelhado girava no centro do lugar. Haviam muitas pessoas ali, todas perdidas em seus próprios devaneios. Algumas até mesmo embriagadas, mas todos contagiados pela energia envolvente da música.

Um pouco distante da pista de dança algumas mesas de vidro estavam alinhadas, bem arrumadas e forradas com seus tecidos na cor vinho, as cadeiras de cristais deixavam tudo mais elegante. O buffet não muito distante da área dos convidados já se encontrava quase escasso. O delicioso ponche de groselha e rum já teria acabado há muitos minutos atrás. Arranjos muito bem posicionados em pilares de mármore com os mais belos lírios e rosas azuis adornavam o lugar.

O ambiente estava excepcionalmente belo. Como esperado de uma festa sediada pela Carmen Frufru. No chique sofá de canto camurça marrom estava Denise, já fora de si, beijando Xaveco como se fosse a última vez que o veria. Seus cabelos loiros estavam soltos e lançados sobre seus ombros nus deixando-a mais madura. As curvas bem delineadas pelo vestido tubinho preto colaboravam para que parecesse mais mulher. 

Todos estavam se divertindo muito. E tantas pessoas distraídas tornavam o plano de Cebola Menezes ainda mais fácil. No centro da pista encontrava-se Mônica Sousa conectada com o ritmo da música eletrônica. Trajava um vestido curto de malha vermelho com mangas longas que acentuava suas curvas bem formadas. O salto preto era discreto assim como a maquiagem, com exceção do batom cor vinho que realçava seus lábios. Bailava com movimentos que eram sensuais e precisos. Atrás de si com as mãos firmes em sua cintura estava Cebola, que colava seu corpo no dela e acompanhava os passos. Volta e meia dava-lhe beijos e mordidas na orelha, o que aquecia seu corpo e a deixava cada vez mais excitada com a dança.

A música mudou e essa foi a oportunidade que o garoto esperava. Ele tomou a mão de Mônica e a conduziu para um lugar restrito, esta já dopada pela droga que teria bebido sem perceber, o seguia sem hesitar. Passaram sem ser percebidos e quando Mônica se deu conta, já estava em um quarto no fundo do corredor do segundo andar da mansão. Cebola a agarrava e a beijava de maneira feroz, ela rendia-se aos beijos até o momento em que percebeu suas intenções.
Um grito abafado.
Um choro involuntário.
Um fio de sangue.
Uma dor insuportável.
Uma violência que nunca teria presenciado.
Um trauma que jamais iria esquecer.
E o medo crescente de ali morrer.

Ele a deixou, atônita, perdida, assustada. Não tinha forças, não queria ter. Mas precisou se erguer mais uma vez. Precisava fugir. As pernas trêmulas mal aguentavam o peso de seu corpo. Abriu a janela daquele quarto horrível e olhou para baixo e para os lados. Não pensou, nada importava agora. Agarrou-se a um cano de ferro fixo na parede e escorregou. O impacto de encontro ao chão não era nada comparado à dor que sua alma sentia.
Ela correu para longe.
Correu sem olhar para trás.