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História Black Gentleman - Um


Escrita por: Sorani

Capítulo 2 - Um


MÔNICA

   Por trás das montanhas robustas o sol erguia-se para saudar as pessoas numa manhã de segunda-feira. Passarinhos cantarolavam simpáticas melodias e as folhas agitadas da copa das árvores diziam "bom dia". O relógio na parede tingida na cor gema marcava 5h:30. Mônica já se encontrava de pé, encarando o mundo iluminado lá fora pela sacada da sua janela. A brisa fresca do outono acariciava os seus cabelos e pele causando-lhe uma sensação boa e refrescante.

   No auge dos seus dezoito anos tomara a iniciativa de alugar um apartamento e finalmente ir morar sozinha, uma decisão que não foi muito bem aceita pelos seus pais. Mas ela precisava se policiar se quisesse realmente iniciar sua vida. Não poderia acolher-se debaixo das asas paternas para sempre. Estava a poucos meses de completar o colegial e naquele mesmo dia que iniciava ela iria a uma entrevista de estágio em uma cafeteria local. Sua mente estava tranquila. Sentia-se confiante e responsável. Planejava economizar dinheiro para matricular-se numa faculdade de advocacia. Tudo parecia estar correndo perfeitamente bem e Mônica certamente daria orgulho aos seus pais.

   Inspirou o ar para dentro dos pulmões e dirigiu-se ao banheiro. Já vestida em sua saia social preta e blusa de botões azul-marinho, caminhou até a cozinha e preparou um café bem quente com algumas torradas. Precisava estar bem disposta para a ansiada entrevista. Após alguns goles e mordidas, terminou seu café da manhã. Antes de sair deu uma breve conferida no espelho do seu quarto. Naqueles trajes não via mais uma garotinha. Via uma mulher formosa e madura. Apanhou sua bolsa e calçou os saltos saindo de casa e trancando a porta logo em seguida.

   Descia as escadas vagarosamente, os saltos medianos emitiam som pelos degraus. Seria uma boa andada até o ponto de ônibus mas tinha tempo de sobra para caminhar com calma. O síndico já se encontrava em seu posto e cumprimentou gentilmente quando Mônica atravessou o portão gradeado do condomínio. Por ainda ser cedo, as ruas estavam pouco movimentadas, apenas algumas pessoas caminhavam pelas calçadas e não viu muitos carros transitando também. Algumas mercearias já estavam abrindo suas portas, enquanto outras nem sinal.

   No ponto reconheceu alguém que arrancou-lhe um sorriso espontâneo. O jovem de cabelos negros e bagunçados estava sentado inclinado para frente enquanto dava pequenos goles em um copo grande de capuccino.

— DC! — Mônica chamou seu nome calorosamente indo direto ao seu encontro. Ele a checou da cabeça aos pés com um olhar minucioso.

— Bom dia, Mô. Caramba, você está linda. — Os dentes alinhados e brancos tornaram-se visíveis através de um sorriso meigo. Mônica colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha um pouco desconcertada, nunca sabia como reagir a elogios.

— São seus olhos.

— Que nada, até um deficiente visual notaria isso. — Do Contra soltou um riso — Onde vai?

— Tenho uma entrevista para estágio daqui a uma hora.

— Ah, é verdade. Lembro de ter a ouvido comentar.

— E você? O que faz de pé tão cedo? — Mônica indagou sentando-se ao lado do rapaz e cruzando suas pernas.

— Ah, sei lá. — Ele deu de ombros —Acordei cedo e como não conseguiria dormir de novo resolvi esticar as pernas. E tive sorte, acabei a encontrando.

— Você é um bobo, DC. — Mônica deu um leve empurrão em seus ombros arrancando mais um sorriso do amigo — Escuta, DC...

— Sim?

— Você... Hum... Tem visto o Cebola? — Mal fez a pergunta e já se arrependera desta. Sabia que Do Contra não gostava de falar nada que se dizia respeito ao antigo "troca-letras" e isso era claramente visível na forma como seu semblante enrijeceu.

— Não. — Sua voz saiu seca e ranheta, mais do que queria.

— Desculpa, é que... — Mônica selecionava as palavras certas para usar — Desde aquele desentendimento que tivemos nunca mais tive notícias dele.

— Desentendimento? Está falando da traição dele ao beijar a Penha na frente da escola inteira? — Do Contra não mensurou sua fala, cuspiu as palavras para afetar Mônica propositalmente e ela percebeu isso de imediato.

   Sua garganta secou e ela não sabia o que dizer, desviou seu olhar para o lado mas nada vinha em sua mente. Do Contra suspirou.

— Fala sério, Mônica. Até quando? Você merece mais do que isso, por que ainda insiste naquele idiota? — A voz dele saiu um pouco melancólica — Por que insistir em alguém que só te maltrata enquanto tem pessoas que fazem de tudo por um sorriso seu?

— Como assim? — Mônica perguntou por perguntar. Sabia o que o rapaz queria dizer. Ela tinha ciência dos sentimentos dele por ela, e ela também gostava muito dele, da sua companhia, da forma que ele se preocupa com ela.

Do Contra ficou em silêncio por um tempo, queria sair dali e ir para qualquer outro lugar o mais rápido possível.

— Não é o seu ônibus vindo ali?  — O veículo aproximou-se parando ao sinal de uma senhora. As portas se abriram e Mônica dirigiu-se até elas, mas quando virou o rosto para se despedir do garoto este já havia virado as costas e caminhava na direção oposta ao trajeto do ônibus. A morena afundou no assento do automóvel e encostou sua cabeça na janela. Por mais que Do Contra contrariasse tudo e todos, havia algo que ele concordava com o resto das pessoas próximas de Mônica. E esse algo era que ela deveria esquecer o Cebola. Ela queria seguir o conselho dele e erradicar o garoto de sua mente de uma vez por todas. Mas era apaixonada e não há antídoto que cure a paixão de uma mulher. Tentava se recordar de todas as coisa rudes que ele já fizera ou falara mas mesmo assim não deixava de ama-lo. Na verdade, ela nem sabia se o que sentia era de fato amor. Não queria pensar muito sobre o assunto agora. Sua mente precisava estar concentrada em uma só coisa: a entrevista.

   O ônibus parava de ponto em ponto até que alcançou o destino de Mônica. Do outro lado da rua em que estava localizava-se a cafeteria "Darling Lilly". A garota alisou o tecido da saia e estufou o peito mantendo uma postura de uma verdadeira dama. Caminhou em passos curtos até a porta de vidro que ao ser aberta tocava um pequeno sininho dourado. O ambiente possuía tonalidades leves como a de um quarto de criança. Algumas mesas estavam alinhadas na parede que possuía janelas centralizadas lado a lado. No balcão delicadamente polido havia vários frascos de ketchup, mostarda e maionese, além de porta-guardanapos e alguns molhos. O aroma que impregnava o ar era doce como chantilly e o perfume das orquídeas em diversos arranjos espalhados pelo lugar davam um toque a mais.

   Atrás do balcão havia uma mulher de aproximadamente trinta anos que vestia um vestido amarelo de mangas curtas e um avental branco de bordado vermelho com o nome da cafeteria. Mônica caminhou até ela, que ao perceber sua presença a recebeu com um sorriso.

— Olá, querida. Posso ajudar?

— Olá, senhora. Eu vim pela vaga de estágio, havia entrado em contato com o estabelecimento há três dias atrás. — Começou.

— Ah sim. Você deve ser a Mônica, não é?

— Sim. Perdão pela minha falta de educação. — Ela deu um sorriso desajeitado — Mônica Sousa. — Completou estendendo a mão.

— Ora, meu bem. Não tem problema. Não precisa dessa formalidade toda. — A senhora sorriu simpaticamente e abraçou a menina como cumprimento, ignorando a sugestão do aperto de mão — Eu sou Lilian, mas pode me chamar de Lilly. Você deve ter falado com o meu filho no telefone, ele ainda não chegou, se quiser esperar posso te servir um cafézinho.

— Eu espero sim, obrigada!

Os minutos se passaram e até então o filho da senhora ainda não havia chegado. Elas beberam café, conversaram sobre diversos assuntos até que Mônica olhou no relógio do seu celular e viu que este marcava 8h:07. Quando estava prestes a se levantar para ir embora — mesmo após as insistências da senhora Lilian — ouviu o sininho dourado tocar, mas dessa vez não era um cliente e sim um rapaz alto que aparentava não ter mais de vinte anos.

— Harry, querido! Finalmente você chegou! — Lilian disse em alto som com um largo sorriso no rosto.

— Desculpe o atraso, acabei me enrolando no escritório. — O olhar do homem pairou sobre Mônica e de prontidão ele estendeu a mão para cumprimenta-la — Você deve ser a Mônica, certo?

— Sim. — Mônica apertou a sua mão.

— Me chamo Harry. Peço perdão novamente por tê-la feito esperar. Além de administrar a cafeteria eu também trabalho em um escritório, por isso acabei demorando mais do que deveria.

— Sem problema, eu entendo. — Ela sorriu fraco.

— Venha, vamos conversar melhor em uma das mesas. — Harry sugeriu.

* * *

   Um longo dia se encerrara. Deveria ser umas 22h:00 quando Mônica finalmente parou em casa. A entrevista com Harry havia sido bastante agradável, e ao que parecia o perfil de Mônica o cativou. Harry explicou que sua mãe dava duro sozinha o dia todo porque ele não podia ficar para ajudar devido ao trabalho no escritório, e então decidiu abrir vagas na cafeteria. Haviam apenas duas para estágio e Mônica argumentou que escolhera esta porque ainda estudava à noite e pela tarde ajudava sua mãe dentro de casa. Ela receberia a resposta no dia seguinte, e caso fosse aceita trabalharia de segunda a sexta 8h por dia como garçonete e também ajudaria na preparação dos lanches. Harry citou que a cafeteria abria às 6h e sugeriu que Mônica tentasse chegar no horário para que pudesse ter pausa de 20 minutos para o almoço.

   A garota suspirou, estava esgotada. Após um relaxante banho, deitou-se no sofá e pegou seu celular para contar a sua amiga Magali como havia se saído. Ao desbloquear o padrão de segurança, viu o papel de parede que ali se encontrava. Uma foto dela com Magali, Cascão... E o Cebola. Eles pareciam tão felizes na imagem. Desde o que acontecera com o rapaz e a francesa Penha, Mônica nunca mais teve notícias dele. Fazia pelo menos dois meses que não o via. Lembrou-se que havia passado um bom tempo sem sair de casa, alimentar-se e fazer qualquer outra coisa. E só teria se erguido e criado coragem para correr atrás de um emprego graças à Magali, Cascão e principalmente Do Contra que não largava de seu pé e fazia de tudo para anima-la. Mônica até havia cogitado que ele estava se aproveitando da fragilidade dela para conseguir sua atenção, e agora via o quanto esse pensamento fora imbecíl. Mesmo antes de tudo isso acontecer, Do Contra sempre esteve ali para ela. E sem perceber acabou se tornando muito próxima do garoto. 

   Seu dedo deslizou pela lista de contatos e surpreendentemente não se dirigiu até a letra "M". Ela tocou na tela para discar o número. Após alguns toques o telefone foi atendido do outro lado da linha e uma curva se formou em seus lábios.

— Oi, DC.

 


Notas Finais


Aqui está o primeiro capítulo saído do forno para vocês, meus amendoins!
Espero que gostem!
E para quem não leu a primeira versão, sim essa se trata de uma fic DCxMô.
Beijinhos! ^^


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