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História Black Gentleman - Dois


Escrita por: Sorani

Capítulo 3 - Dois


Outro dia desabrochava. Os pássaros em seus postos cantam alegres. O ruído alto do despertador em cima da cabeceira fazia Mônica resmungar. Com muito esforço, estendeu sua mão e cessou aquele barulho irritante. Os ponteiros marcavam exatamente 7h:00. Sentou-se na cama ainda sonolenta e tentou reorganizar seus pensamentos. Havia passado horas conversando com Do Contra pelo celular, sentia-se quase como uma adolescente de quinze anos outra vez. Após isso, lembrou de ter visto milhares de mensagens de Magali e também um convite — na verdade uma ordem — para tomarem café da manhã juntas. E o mais fundamental: não podia esquecer que a qualquer momento do dia receberia um telefonema de Harry para avisa-la se teria passado na entrevista ou não, por isso precisaria estar alerta.

Mônica respirou fundo três vezes antes de se levantar e encarar o dia. No banheiro deixou a água corrente massagear suas costas enquanto planejava seu dia. As provas finais estavam cada vez mais perto e ela precisava estudar. Mônica sempre estudava com Cebola porque tinha muita dificuldade na matéria mas agora precisava se virar sem ele.
Cebola.

Ela repreendia a si mesma por dentro por estar sempre se recordando deste nome. Mas parecia que tudo que acontecia ao seu redor levava a ele. Odiava o fato de que ele sumira do mapa sem tentar conversar, não iria apagar a cena que ela viu mas pelo menos seria uma forma de demonstrar que ele se importa. Sentia-se idiota. Sempre foi tão forte e acabou permitindo que um garoto a ferisse tanto. Onde ele estaria? Com quem estaria? Teria fugido com Penha? Pensar nisso fazia seu estômago embrulhar.

Mônica desligou o chuveiro e enrolou-se em sua toalha. Por morar sozinha, o apartamento era insuportavelmente silencioso, sentia falta até mesmo dos latidos de seu cachorro, no entanto animais não eram permitidos e este teve de ficar na casa dos seus pais.
Chegando em seu quarto abriu o guarda-roupa e procurou por algo confortável para vestir. Tirou de lá uma blusa rosa de manga 3/4 além de uma saia leve branca. De frente ao espelho penteou os cabelos castanhos que iam até a altura dos ombros e notou o acessório que usava no pescoço. Um colar que tinha um pingente de coelhinho. Ela nunca o tirava nem mesmo para dormir. Porque ele havia dado para ela. Se quisesse supera-lo teria que começar livrando-se das coisas que a faziam lembrar dele. Sem pensar, tirou a corrente do pescoço e a atirou na lixeira de sua cozinha. Em seguida pegou sua bolsa e saiu de casa para encontrar-se com sua amiga.

Era incrível como a padaria do seu Joaquim, pai do Quinzinho, ainda não havia fechado as portas mesmo após seu falecimento. O pobre homem morreu de parada cardíaca há dois anos e meio atrás, foi difícil para Quim superar o que aconteceu. Mas graças a Magali ele conseguiu seguir em frente, e prometeu a si mesmo fazer a padaria expandir e nunca ser esquecida em homenagem ao seu pai.
Aquele cheiro de pão recém assado era extremamente nostálgico. A padaria era o ponto de encontro oficial da turma e até então continua sendo. Mônica pôde ver alguns rostos conhecidos por ali. Dorina, Lucas, Timóteo, Isadora e, estranhamente, Maria Mello.
— A Magali está sentada lá no fundo. — Disse Joaquim ao ver Mônica girando a cabeça ao redor como uma lagartixa.
— Obrigada, Quim!
— Como vai, Mônica? — O garoto indagou enquanto secava alguns copos e os organizava nas prateleiras atrás de si.
— Vivendo e aprendendo como sempre. — Mônica sorriu — Pode levar o de sempre pra nossa mesa?
— Claro, estarei lá em 20 minutos.

Mônica caminhou pelo extenso corredor até encontrar Magali que logo foi se levantando para abraçar a amiga.
— Menina, onde você se meteu ontem à noite? Não viu minhas mensagens? — Magali a repreendia num tom levemente irritado e preocupado ao mesmo tempo.
— Eu estava em um telefonema.
— Por três horas?! — Disse em alta voz — Com quem mais você fica conversando até tarde senão eu?
O rosto de Mônica ruborizou levemente, não havia como escapar daquela pergunta, Magali a perseguiria até arrancar essa informação dela. E quando se trata de persuasão Magali se torna expert.
— Tá... — Começou tentando controlar a voz trêmula — Foi com o DC.

Ao ouvir aquelas palavras a garota do outro lado da mesa suspirou aliviada e um tanto curiosa. Logo os lábios se contorceram num sorriso malicioso.
— E o que tanto falavam para durar três horas?
— N-Nada demais! — Gaguejou Mônica.
— Tenho notado que a cada dia que se passa vocês estão ficando cada vez mais próximos. — Sugeriu a amiga — Por acaso você está...
— Não, não e não! Definitivamente não estou apaixonada pelo Do Contra. — Mônica argumentou dando entonação ao último "não".
— E quem disse que eu ia perguntar isso? — Magali parecia se divertir com a forma que aquela conversa ia ganhando rumo — Ia perguntar se por acaso você está sendo legal pra ele te ajudar com a matéria já que o Cebola não está mais por aqui.

Magali se tocou no que havia dito logo após ver a expressão da amiga mudar. O olhar de Mônica agora estava focado na vista da rua pela janela do estabelecimento.
— Ai, Mô... Desculpa... Eu... — Antes que pudesse terminar foi abruptamente interrompida por Mônica.
— Não tem problema. Se estou querendo superar o que aconteceu não posso permitir que ouvir o nome dele me afete. — Um sorriso confiante surgiu no rosto da garota relaxando Magali que sorriu de volta satisfeita.

Não demorou muito até Quim chegar com o café da manhã das duas. Ovos com bacon, torradas amanteigadas com granola, iogurte e um suco de frutas vermelhas bem caprichado. Só de olhar dava água na boca. As meninas agradeceram e começaram a comer enquanto conversavam.
— Escuta, Mô... — Magali pronunciava as palavras entre mordidas em uma torrada — Tem percebido que a Denise anda meio sumida no colégio?
— Hum? Não, não prestei atenção nisso. Tem acontecido tanta coisa ultimamente...
— Sério? — Magali arqueou uma das sobrancelhas — Que estranho, pensei que você deveria saber o porquê.
— Como assim eu deveria saber?
— Fiquei sabendo que a Denise se mudou para o seu prédio.
— Tem certeza? Eu nunca a vi entrar ou sair.
— Você mal para em casa também... — Magali sorriu. Ambas trocaram mais alguns assuntos antes de finalmente pedirem a conta e irem embora. Mônica ficou pensando sobre o que Magali dissera a cerca de Denise, de fato fazia um bom tempo que não a via e agora se perguntava se algo estava acontecendo com ela.

No caminho de volta para casa encontrou Do Contra sentado em um banco de praça. Ao se aproximar percebeu que o garoto parecia incomodado com algo.
— DC? Tudo bem?
— Oi, Mô... — Seu sorriso era fraco e logo se dissipou em sua face.
— O que houve? — Mônica sentou ao seu lado e repousou a mão no ombro de Do Contra.
— É a minha mãe...
— Dona Keiko? O que tem ela?
— Ela está gravemente doente e ninguém imagina o que seja, nem mesmo os médicos. — Do Contra suspirou pesadamente — Tenho medo de que ela possa...
— DC. — Mônica interrompeu e segurou seu rosto com as duas mãos o forçando a olha-la. — Não fala uma coisa dessas nunca, entendeu? Vai ficar tudo bem, eu garanto.
— Você não pode garantir algo que não tem controle. — O olhar de Do Contra era distante. Mônica nunca o vira assim, ele sempre fazia de tudo para estar contente a todo momento, divertir as pessoas com sua mania de oposição e esconder seus problemas, mas agora era diferente.
— Do Contra... Eu... — Mônica reprimiu uma lágrima, sentia o quão verdadeira eram aquelas palavras e em como o rapaz deveria estar sofrendo com aquilo.
— Fica tranquila, Mô... Eu tô de boa.
— Cala a boca.
— Hã?
— DC você sempre esteve comigo por todo esse tempo, sempre me ouviu e me fez sorrir quando eu menos queria. Como espera que eu deixe pra lá sua situação? — A respiração de Mônica ficou mais pesada e a voz começara a oscilar, ela ainda segurava firme o rosto de Do Contra enquanto falava o olhando fundo nos olhos — Eu quero que saiba que eu estou aqui pra você, estou aqui para te dar meu ombro se você precisar! Eu me importo com você, DC...

Do Contra afastou as mãos dela e abaixou a cabeça em silêncio, instintivamente inclinou seu rosto e encostou a testa no ombro de Mônica.
— Era tudo o que eu precisava ouvir. — A garota sentiu algo quente pingar em seu braço e então o abraçou firmemente colocando uma das mãos em sua nuca. Eles ficaram em silêncio e Mônica preferiu deixar assim, afinal mais nada deveria ser dito naquele momento.

                           * * *

A lua estava imensa e brilhante naquela noite. O último sinal já havia soado no Colégio Limoeiro e os alunos um a um se retiravam. Mônica despediu-se de seus amigos e caminhava em passos apressados até o ponto de ônibus. Estava afundada numa mistura de ansiedade, decepção e desesperança. O dia já estava nos seus momentos finais e ainda não recebera a resposta tão esperada de Harry. A cada meio minuto checava o visor de seu celular para certificar-se que não havia nenhuma chamada perdida.
Nada.

Estava quase dando-se por vencida. Harry havia a garantido que se não ligasse naquele dia o motivo seria simples: ela não teria passado na entrevista. Quando o ônibus chegou, sentou-se no assento do fundo e passou a viagem inteira encarando o celular.
Toca, toca por favor.

A cada degrau que subia em seu prédio as 00h:00 se tornavam mais próximas. Sem perceber acabou se esbarrando em alguém e desculpou-se desajeitadamente, surpreendendo-se logo em seguida com quem acabara de se bater.
— Denise?
— Oi, fofa! Tá fugindo de quem? — Denise sorriu, divertida.
— De ninguém, só estou um pouco angustiada. — Mônica explicou — A Maga me contou hoje que você morava nesse prédio mas eu nunca a vi por aqui.
— Não tenho ficado muito em casa ultimamente. — Denise dizia enquanto acompanhava Mônica.
— Por que nunca mais foi ao colégio?
— Uns probleminhas aí que tem me tirado o sono, nada demais! Logo, logo aparecerei linda e deslumbrante como sempre. — Denise deu uma piscadela. Era a mesma garota divertida de sempre, não havia mudado em nada, nem mesmo o penteado. — Bem, vou indo. Somos vizinhas agora, amore! Qualquer dia apareço na sua casa para tomar um cafézinho.
— Estarei te esperando. — Mônica riu e despediu-se da ruiva que entrou em seu apartamento que era de frente ao dela.

Ao abrir a porta foi logo atirando o celular no sofá, precisava de um banho para desestressar. Passaria mais um longo mês até encontrar outra oportunidade e isso a desanimava. Decidiu lavar os cabelos para esfriar sua mente, mal saiu do box e ouviu o toque alto do seu celular ecoar pela sala. Correu depressa ao encontro deste e quase teve um espasmo de alegria ao ver o número que a ligava.
— Mônica? Desculpa ligar tão tarde. Então, indo direto ao ponto... A vaga é sua.


Notas Finais


Olha só quem apareceu com mais um capítulo. Meio tarde pra postar né?
Espero que curtam!
Ah, essa fanfic segue a mesma ideia principal de The Reason, ou seja, vai contar a história da Mônica e da Denise em capítulos separados, no entanto as histórias se conectam em certo momento.
Eu vou colocar o nome da personagem no início para vocês saberem quem é quem. Neste não tem o nome porque ainda é continuação da história da Mônica ;)
Caso alguém não saiba Dorina é a Dorinha, Lucas é o Luca (duuh) e Timóteo o Titi
Tenham uma boa madrugada, amendoins <3


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