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História Black Gentleman - Três


Escrita por: Sorani

Capítulo 4 - Três


Uma a uma as roupas iam sendo lançadas sobre a cama. O relógio marcava 5h:10, não tinha muito tempo para pensar no que vestir, mas também não queria ir de qualquer maneira para o seu primeiro dia de trabalho. Escolheu um vestido vermelho estilo Alice de colarinho e mangas bufantes brancas. Perfumou-se e arrumou os cabelos. Não tinha tempo para tomar café, então pegou apenas um danone e uma maçã na geladeira, comeria no caminho. Calçou um pequeno salto preto e apanhou sua bolsa pendurando-a de lado. Desceu apressada os lances de escada e praticamente correu até o ponto de ônibus, estava ofegante quando finalmente o alcançou.
5h:30

Não estava tão atrasada assim, considerando que o ônibus levava cerca de 20 minutos para chegar em seu destino e seu ponto era do outro lado da rua da cafeteria. Ela se sentou ao lado de uma senhora — a mesma que via todos os dias no ponto — e a cumprimentou docemente sendo retribuída da mesma forma. Não demorou muito até o veículo estacionar à sua frente. As duas entraram e seguiram a viagem silenciosamente. Além delas e o motorista havia apenas uma garotinha sentada em um dos bancos da frente. A manhã estava tranquila e a brisa refrescante. Mônica estava bastante positiva, fazia um bom tempo desde a última vez que se sentira assim.

Desceu em seu ponto e esperou o ônibus ir embora antes de atravessar a rua. A senhora Lilly já estava abrindo a cafeteria.

— Bom dia, dona Lilly. — Mônica cumprimentou enquanto a auxiliava a colocar a chave na fechadura.

— Bom dia, meu bem. — Lilian sorriu, feliz ao ver a garota — Obrigada, eu sempre levo um bom tempo até conseguir abrir essa porta.

Ao entrar, Mônica girou a plaquinha plugada na porta de vidro para o lado verde em que dizia "aberto".

— Venha, vou te dar um avental. Pode colocar sua bolsa na despensa ali atrás.

   Mônica assentiu com a cabeça e caminhou até a porta de madeira envernizada enquanto Lilian ligava o ar-condicionado principal para refrigerar o ambiente. Logo retornou com um avental idêntico ao que usara na primeira vez que Mônica a viu. A garota o colocou rapidamente, causando um sorriso terno na senhora à sua frente.

— Parece uma bonequinha!

— Obrigada, dona Lilly. — Mônica sorriu levando uma mecha de seu cabelo para trás de sua orelha como sempre fazia quando recebia um elogio — Então, como posso ajuda-la?

— Enquanto ainda não temos clientes você pode me ajudar com os lanches. Eu sempre os preparo uma noite antes para poupar trabalho, só temos que fritar agora.

— Certo! — Mônica pegou uma fita vermelha que havia colocado dentro do bolso do seu vestido e prendeu o cabelo. Seguiu Lilly atrás do balcão, onde além das prateleiras havia uma pequena pia e um forno embutido na parede. Mônica observava cada detalhe atenciosamente. Sugeriu que Harry ganhava bem devido às coisas modernas que se encontravam ali, e não deixou de se sentir sortuda por ter se tornado uma funcionária dele e de sua mãe.

   Lilly e Mônica se divertiram bastante enquanto preparavam os lanches. A garota gostava da companhia da senhora, era como se estivesse olhando para sua própria mãe. O dia seguiu calmo, como não tiveram muito movimento Mônica pôde aprender e executar suas tarefas com mais tranquilidade. O horário do final de seu expediente se aproximava, mal esperava a hora de ir correndo contar para sua mãe que havia conseguido a vaga afinal não tivera tempo para fazer isso nas últimas 7hs. Todas as tardes a garota ia até a casa de sua mãe para ajudá-la com afazeres domésticos, mesmo já sendo autônoma e capaz de bancar a si mesma. A verdade era que Dona Luísa sofria de anemia falciforme sendo incapaz de fazer a maioria das atividades de casa devido às dores e fadiga constante que sentia. Seu pai precisava trabalhar para manter o tratamento da esposa e isso acabava o deixando sem tempo para auxilia-la dentro de casa. Fora isso, Mônica sentia-se feliz e realizada e acreditava que a notícia deixaria sua mãe da mesma maneira.

   Dado o horário, dirigiu-se rapidamente até a casa de seus pais e ao entrar na residência surpreendeu a mulher com um abraço eufórico.

— Filha? Por que toda essa energia? — Dona Luísa sorria retribuindo o abraço animado da filha — Você demorou um pouco hoje, aconteceu alguma coisa?

— Sim, aconteceu! — Mônica tentava se recompor, colocou sua mãe sentada e mexia as mãos ansiosamente.

— Ai, Moniquinha. Fala logo! Vai me matar de curiosidade desse jeito.

— Eu consegui o emprego! — Luísa não pôde evitar um largo sorriso de orelha a orelha ao ouvir a incrível notícia. Praticamente pulou do sofá para dar um abraço apertado em Mônica que correspondia com a mesma alegria.

— Meu bem, estou tão feliz por você. — Sua mãe dizia enquanto acariciava o rosto da garota — É bom ver que minha filhinha está conseguindo dar a volta por cima.

— Obrigada, mãe. Acho que finalmente caí na real. Não posso mais ficar chorando pitangas pelos cantos enquanto vejo minha vida ir embora.

— É esse tipo de pensamento que quero que tenha. Você é guerreira, Mônica. É mais forte do que imagina. — Luísa sorria com um olhar terno — Quero que me prometa algo.

— Sim, qualquer coisa.

— Se aquele rapazinho aparecer outra vez... — A mulher deu uma breve pausa antes de continuar — Prometa que não vai permitir que ele te afete.

   Mônica não gostava de prometer coisas que sabia que muito provavelmente não conseguiria cumprir, mas ela precisava se esforçar ainda mais devido à fragilidade de sua mãe.

— Prometo.

— Mesmo?

— Sim. Palavra de escoteira. — Mônica disse estendendo a palma da mão, rindo juntamente à sua mãe logo em seguida.

— Vou fazer um bolo de cenoura com calda de chocolate para comemorarmos. — Dona Luísa dizia enquanto caminhava em direção à cozinha.

— Oba! Deixa que eu ajudo!

* * *

   A lua minguante sorria calorosamente para as pessoas naquela noite. Era o último horário no Colégio Limoeiro e a aula estava insuportavelmente cansativa. Mesmo após alguns anos Licurgo mantinha seu roteiro de aulas e comportamento fora do comum. Nos próximos 45 minutos a turma precisaria realizar uma resenha sobre um livro de duzentas páginas que ele mesmo havia escrito, intitulado por “Dragões e suas peripécias”.

— Para ser mais legal com vocês, vou permitir que formem grupos com quatro pessoas! — O professor dizia enquanto riscava coisas aleatórias na lousa.

   Como de costume, Mônica, Magali e Cascão se reuniram para a execução do trabalho. Antes mesmo que as meninas pudessem falar algo Cascão convidara Do Contra para o grupo.

— Como vamos conseguir ler essas páginas todas e ainda fazer uma resenha em apenas 45 minutos? — Magali dizia tristemente.

— Calma, Maga. Com certeza ele vai dizer para levarmos o livro para casa e entregar na próxima aula, ou algo assim. — Cascão respondeu colocando uma mão no ombro da amiga — Ele não é louco de exigir que entreguemos isso hoje.

— Ah! Antes que eu me esqueça, esse trabalho é a prova de vocês, não aceitarei a entrega outro dia! — Licurgo bradou em cima de uma mesa.

— Ô boca, hein. — Mônica deu um tapinha na nuca de Cascão que riu desajeitado.

— Podíamos começar lendo o livro de trás para frente! — A ideia partiu de Do Contra, atraindo os olhares indagativos dos três ali reunidos — Como nos mangás, sabe? Vamos saber logo o final e ficará mais fácil de escrever esse troço.

— DC, não viaja. — Mônica revirou os olhos com um leve sorriso torto nos lábios.

— Não, Mô! É sério! — Do Contra balançou as mãos nervosamente — Para essas resenhas o fundamental é o início e o fim. Se soubermos o final da história logo, só precisaríamos ler o início e o desenvolvimento não seria tão relevante.

— Olha, é uma ideia meio maluca mas pode dar certo. — Magali disse.

— Até que faz sentido, e isso nos pouparia bastante tempo. — Cascão concordou.

— Ai, ai. Só você para ter essas ideias, DC. — Mônica riu — Tudo bem vamos tentar.

Yes! Além de terminarmos logo será uma forma diferente de fazer, acredito que mais ninguém pensou nisso. Nosso trabalho será original! — O rapaz se vangloriava enquanto abria o livro de capa grossa pelo fundo.

   Em pouco menos de 30 minutos os quatro terminaram a atividade. Algumas equipes ainda nem haviam chegado na metade do livro. Magali fez uma capa bonitinha para colocar na frente e entregou ao professor que se surpreendeu com a eficácia do grupo.

— Muito bem! E ainda escreveram com uma fonte bonitinha, estou impressionado. — Licurgo elogiava-os, sorridente — Na verdade pouco importa o que escreveram, a nota máxima seria para quem entregasse primeiro — O homem sussurrou apenas para os quatro ouvirem e depois os dispensou com um aceno exagerado.

— Caraca, que sorte! Ainda bem que seguimos o plano doido do Do Contra. — Cascão respirava aliviado enquanto andava com as mãos atrás da cabeça.

— Só o DC para entender aquele louco do professor. — Magali riu baixinho.

— Eu não sou louco! — Os três deram um salto de susto ao ouvir a voz de Licurgo subitamente ecoando pelo corredor, Do Contra permaneceu estável e disse que era muito previsível eles se assustarem com aquilo visto que Licurgo sempre aparecia gritando ao ouvir a palavra “louco”. Todos riram da situação e continuaram andando em direção à saída.

— A Denise não veio hoje de novo. — Magali lembrou, suspirando pesadamente — Nesse ritmo ela vai acabar reprovando.

— Eu me esbarrei com ela ontem subindo as escadas do meu prédio. — Mônica lembrou — Ela parecia normal para mim. Quero dizer, normal estilo Denise.

— E ela disse por que está faltando?

— Só falou que estava resolvendo alguns problemas, mas não disse nada além disso.

— Sabe o que é estranho nisso tudo? — Cascão entrou na conversa — O Xaveco também anda meio sumido, distante.

— Ah, mas isso é normal, não? Ele nunca foi tão destacado. — Agora Do Contra se juntava ao diálogo.

— É, o DC tem razão. O que o Xaveco teria a ver com o sumiço da Denise? — Mônica disse.

— Sei não, mas que é estranho é.

   Fora do colégio eles se despediram um do outro indo cada um em direção às suas casas. Mônica caminhava enquanto pensava na analogia de Cascão procurando algum sentido naquilo. De fato Xaveco e Denise era bastante próximos e ela não os via juntos há um bom tempo. Mas como Do Contra havia lembrado, Xaveco sempre fora meio apagado na turma e ele sumir não era lá algo tão suspeito. No final achava que era só cisma de Cascão mesmo. Talvez os problemas que Denise dissera estar passando sejam apenas problemas familiares, como ultimamente todos estavam enfrentando aliás. De qualquer maneira não deixava de se preocupar com a amiga e queria vê-la para conversar um pouco e tentar ajuda-la de alguma forma.

   Mônica cumprimentou o outro síndico do seu condomínio que trabalhava no turno noturno e caminhou tranquilamente até o seu prédio. Mas então parou quando avistou Denise, ela não estava sozinha. Havia alguém com ela, um garoto que Mônica não conseguiu distinguir quem era, mas que também não parecia ser ninguém conhecido. Eles pareciam estar discutindo, talvez fosse um namorado de Denise que ela não teria contado para ninguém? Não. Mônica acreditava que não. A garota cogitou em intervir quando ele pegou o braço de Denise e a puxou para dentro do prédio, mas o seu olhar se encontrou com o da amiga que pareceu se espantar ao ver Mônica ali. Imediatamente Denise soltou-se das mãos do rapaz e disse algo para ele que o fez olhar discretamente na direção de Mônica, mas não discreto o suficiente para passar despercebido por ela. Logo eles se afastaram, Denise entrou rapidamente no prédio e o garoto colocou um capacete montando em uma moto logo em seguida.  

   Mônica o acompanhou com o olhar enquanto deslocava-se de onde estava numa tentativa de reconhece-lo, mas não conseguiu, estava escuro demais e seu capacete possuía uma viseira fumê. Ao passar com a moto ao seu lado ele fez questão de olhar diretamente para Mônica antes de finalmente sair do condomínio. Naquele momento pôde ter certeza que Denise estava realmente com problemas, mas não eram familiares.


Notas Finais


Mais um capítulo fresquinho pra vocês. Talvez ainda essa semana eu poste outro.
Ah, em breve também estarei postando a fic no meu perfil do Nyah! (https://fanfiction.com.br/u/337413/)
Possuo outras histórias lá, se quiserem dar uma olhada sintam-se à vontade ♥
Beijos!


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