3; Nada como antes.
A porta do escritório estava sendo aberta... Respiração ofegante... Passos arrastados de um cadáver em movimento... O silvo agudo de um machado... O som grave do metal penetrando a carne... Um Splash de um peso molhado desfalecendo no piso de madeira... E por fim, o barulho de um corpo caindo sobre o chão.
Escutando tudo isso, um calafrio percorria as espinhas das irmãs Cabello.
O silencio volta a reinar no ambiente. Com os olhos acostumados á escuridão, Camila vê o primeiro brilho do sangue arterial espesso por debaixo da porta do armário. Parece óleo de carro. A latina conhecia bem, pois seu pai tinha uma oficina mecânica, na qual ele trabalhava.
Suavemente, Camila tenta abrir uma fresta da porta do armário. Ela não sabe o que fazer, escutar a irmã chorar baixinho era torturador. Quer ajudar a pequena, quer sussurrar algo para passar alguma segurança, mas não consegue pensar em nada que possa inspirar confiança.
Fecha a porta novamente, mas torna a abrir quando escuta uma voz masculina dizer:
- Batata doce.
...
- Temos que mata-la. – Disse Alessandra encostada em um dos lados da porta.
- Não. – Ally desatou a chorar novamente abraçando sua avó.
A idosa parecia estar gripada, mas seu nariz estava tampado com algodões, pois sem eles seu nariz sangrava sem parar. A senhora estava de boca levemente aberta para respirar e olhos fechados, estava na cama de barriga para cima coberta até o pescoço.
- Ela não foi mordida. – Brandon tentou convencer a morena a sua frente.
- Ninguém vai matar ninguém. – Disse Lauren firme do outro lado do quarto. Todos no quarto, com exceção de Allyson, estavam distante da idosa.
- Como não? Ela esta sangrando pelo nariz, esta infectada. Pode virar um deles a qualquer momento. – Disse Alessandra irredutível.
- Não sabemos disso. – Disse Normani pela primeira vez desde que entraram no quarto da senhora Hernandez. – Não sabemos como é a contaminação.
Depois de ver os vândalos quase quebrarem a porta da sorveteria, Brandon deixou que todos entrassem na casa ao olhar raivoso de Allyson. Era com o pensamento em sua avó que a garota do Texas não queria que ninguém entrasse na casa.
Ficaram na sala por um tempo. Mas tarde Chris queria ir ao banheiro, teve que passar por um quarto, onde a senhora Hernandez não parava de tossir. Foi assim que todos ali souberam que uma possível infectada estaria muito próxima deles.
- Então vamos amarra-la. – Sugeriu Alessandra. – Ela pode acordar e atacar todos nós.
- Estou de acordo. – Disse Lauren segundos depois encarando Normani que balançou a cabeça para a de olhos claros.
- Também concordo.
- Isso não é coisa de Deus. Ela é uma senhora, não consegue nem ficar em pé, quanto mais te atacar, sua louca. – Ally disse com uma voz tremida encarando a porto-riquenha Alessandra.
- Louca é você de achar que só porque ela parece inofensiva não vá te matar. – Alessandra disse já tirando sua mochila das costas. Ouviu a risada de Pedro que estava na sala com Chris. Sorriu em pensamento. Fazia tempo que não escutara seu irmão rir.
- O que vai fazer? – Questionou Brandon ao ver a porto-riquenha tirar cordas de dentro da mochila.
- Amarra-la.
Vendo a morena se aproximar da idosa e Brandon, com certa dificuldade para tirar Allyson de cima da avó. Lauren, com o olhar, chamou Normani para mais perto.
- Você não pode deixa-la fazer isso com a nossa vó, Brand.
- Não consigo ligar para o meu pai desde a ultima vez. – A morena de olhos verdes sussurrou para a mulata.
- Não se preocupa, eles devem estar todos bem. – Normani afirmou com a cabeça. – Logo estaremos com eles.
Lauren, horas antes havia falado com seu pai por celular, mas mesmo com a ligação ruim, conseguiu falar que estavam bem e escutar a voz grossa de seu pai dizer que Taylor e sua mãe também estavam bem, e que os Hamilton estavam com eles.
Os Jauregui e os Hamilton eram muitos próximos, pois Michael Jauregui e Derrick Hamilton trabalhavam juntos na delegacia de Miami. Michael era capitão e Derrick major, ambos colegas de faculdade.
A bagunça nas ruas pareciam não ter fim, muito pelo contrario, parecia aumentar mais e mais.
...
- Esta tudo bem, meu amor. – A voz melosa de Sinuhe Cabello era focada para Sofia em seu colo. As duas estavam sentadas no banco de trás de um chevette dos anos 90 que Alejandro tinha paixão.
Enquanto o marido de Sinuhe guardava um machado, uma pá e as três caixas de ferramentas no porta malas do carro onde continha: Jogo de Chaves Combinadas, Jogo de Soquetes, Jogo de Chaves Biela e Alicates.
Dentro do carro já havia mochilas onde continham roupas e viu Camila, espirrando, trazer mais duas mochilas: Uma nas costas e uma nas mãos. Pareciam pesadas, logo o homem foi ajuda-la.
- Pegou todos enlatados?
- Peguei. Todas as barras de cereais da mamãe e também achei isso. – Mostrou a pequena caixa de remédios.
- Ótimo. – Encarou a filha após colocar as mochilas no carro. – Kaki, sua mãe... Ela viu muita coisa aqui fora e... esta um pouco atordoada, eu... eu...
- Eu vi no colégio, pai. Estou tentando entender juro, mas tenho consciência que é muito grave.
- Maravilha. – Seu pai a abraçou por um dos ombros e guiou sua filha até o banco do carona do carro.
Ficou surpreso pela adolescente estar ciente e não surtando como a maioria.
Fechou a porta do carro e deu a volta para entrar no mesmo quando, seu vizinho e ajudante na oficina, Gael Arrivas o puxou.
- Está maluco, garoto?! – Apontou um dos alicates, que estava mantendo em segredo na cintura, para o rapaz.
- Desculpa, senhor Cabello, mas... eu preciso de ajuda. É... a minha... minha mãe, ela não parece bem, ela esta...
Alejandro viu, por cima dos ombros de Gael, Joana Arrivas atacando seu vizinho, um senhor asiático que se arrumava para viajar para qualquer lugar. Era o que a maioria no bairro estava fazendo. Abriu a porta detrás do chevette e guiou o rapaz para dentro.
- O que...?
- Entra logo ai. – O rapaz entrou encarando Sofia e a senhora Cabello tensas.
Alejandro fechou a porta e entrou pela outra já ligando o carro.
- Oh, meu Deus, é a minha mãe ali. – O rapaz se desesperou ao ver sua mãe arrancar as tripas do asiático com as próprias mãos. – S-senhor Cabello?!
Tentou abrir a porta, mas o carro já estava em movimento e logo já estava em uma velocidade alta.
- Isso é um pesadelo. Vai acabar, meu amor. Não é um trabalho de Deus. – Sinuhe sussurrou entre os cabelos de Sofia, sendo assim, ninguém escutou.
...
- Aquela não era a minha mãe, né pai?
- Não. – Alejandro encarou o rapaz, que é dois anos mais velho que Camila, segurando uma ferramenta em formato de L.
- Desculpa, saiu sem querer. – Abaixou a cabeça e sentiu o pai se aproximar com um machado em mãos. – Não vai mais aconte...
- Eu estava falando que aquela não era a sua mãe. Esquece isso, filho. – Gael levantou a cabeça e Alejandro tentou sorrir para o jovem a sua frente. – Era alguém, mas não a sua mãe. Agora me ajuda com esse carrinho aqui.
Os dois estavam saqueando o que ainda continha no supermercado com mais algumas pessoas, quando um policial fardado de cabelos castanhos claros apareceu se aproximando deles. Os dois pararam o que estava fazendo quando o policial parou na frente deles.
- Cabo O'Brien. – Alejandro o cumprimentou.
- Sem o “cabo O'Brien”, senhor Cabello, apenas Dylan. Não será nada como antes. Tem como vocês me doar um desses bolinhos? - Apontou para dentro do carrinho. - Minha namorada ama isso e o pai dela meio que me fez prometer que eu voltaria com um desses. Caso contrario, ele me bota na rua. E a rua agora não é um dos melhores locais. – Sorriu gentilmente para os dois. Pai e filho se encararam, não será nada como antes.
Gael Levou sua mão até o centro do carrinho e pegou uma das cinco caixas onde havia três bolinhos de chocolates dentro, e o entregou ao policial.
- Obrigado e continuem não seguindo as instruções dadas pelos superiores. É tudo uma grande mentira. Não digam que fui eu quem disse isso. Vão pelo norte, dizem que é o melhor a se fazer.
Os dois se encararam novamente. Então a noticia dada no radio do carro que em Atlanta na Geórgia, onde o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CCD) disse ter criado uma zona de segurança na cidade, não havia suprimentos e nem estava resgatando sobreviventes? E agora? Norte era mesmo o melhor lugar?
- Ele poderia estar mentindo.
Alejandro disse a Gael que empurrou o carrinho para fora do supermercado.
As três Cabello estavam dentro do carro trancado que estava estacionado no estacionamento do supermercado. Camila tentando desvendar a senha do Wife do restaurante próximo, queria saber se suas amigas estavam bem. No banco detrás, Sofia estava dormindo no colo de sua mãe e Sinuhe estava se perguntando como seu auxiliar estava, ela o havia jogado do decimo primeiro andar, pois o mesmo estava irreconhecível e selvagem, e quando ela saiu do prédio do seu estúdio, o mesmo se encontrava rastejando com metade do corpo arrancada. Ele ainda estava vivo?
Novamente queria vomitar depois de presenciar a cena e vê-la de novo em sua mente. Não esqueceria tão cedo.
- AHHH! – O grito agudo e desesperado de sua filha mais velha a tirou do transe.
Camila segurava um facão de cabo de madeira sem sua capa. Havia vários no kit que ela pegou na cozinha e mantinha guardado na bolsa que estava sob seus pés no carro. O infectado, que socava o vidro tentando entrar, havia a assustado.
- Onde você pegou isso, menina? – A mulher perguntou sobre a faca.
Ignorando sua mãe, Camila se perguntava internamente de como partiria a cabeça do homem branco selvagem fora do carro sem se sujar de sangue.
- Karla, me de isso aqui. – Sinuhe pediu, o choro de Sofia denunciava que a mesma havia acordado.
Antes de Camila abrir a janela para enfiar o facão no crânio do infectado, o machado de seu pai penetrou a cabeça do morto sem dó. Por puro reflexo Camila virou o rosto, imaginado os respingos de sangue que caíram na janela, iriam cair nela.
Camila rapidamente e ágil, empurrou com os pés a bolsa do kit de facas para debaixo do banco e colocou a capa de volta no facão.
Enquanto Gael colocava todo que tinha no carrinho dentro da bolsa aberta por Sinuhe, Alejandro, seriamente, encarava sua filha (do meio).
- Onde você encontrou isso? – O homem se referiu ao facão.
- Na cozinha.
- Onde esta o resto das facas?
- Lá trás. – Camila não o olhava nos olhos, então não percebeu que seu pai havia visto a alça da bolsa debaixo do banco.
- Precisamos ser verdadeiros agora, Kaki. Uma mentirinha que seja, pode acabar com toda a confiança de alguém que tenha em ti para sempre, no mundo em que estamos agora: 100% de confiança é tudo. – Sua voz era firme e um tanto decepcionada com a adolescente de 17 anos. - Vou perguntar novamente: Onde esta o resto das facas?
Camila o encarou, olhou nos olhos de seu pai e soube que o mesmo havia a pego na mentira, ambos escutaram a porta detrás sendo fechada por Gael. A latina suspirou derrotada e puxou com um dos pés a bolsa debaixo do banco.
- Desculpa.
Entregou a bolsa para Alejandro. O mesmo pegou e abriu. Deu mais uma faca a ela, ficou com uma, entregou uma a Gael e uma a Sinuhe – que negou –, mas o marido insistiu e ela pegou. Colocou a bolsa vazia dentro do porta luvas.
Camila colocou a faca menor dentro da bota de cano médio para o plano b e o facão deixou no tapete do carro. Colocaria em sua cintura quando estivesse fora do carro.
- Pra onde vamos, pa-senhor Cabello?
- Para o norte.
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