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História Black Wings - Colegas de casa


Escrita por: And990

Capítulo 3 - Colegas de casa


     Fiquei quieto, ajoelhado e encolhido por alguns segundos.
     Quando levantei, vi as asas passando pelas minhas laterais.
     Eu sentia elas como uma extensão de meu corpo. Não era como se eu ganhasse um novo dedo ou uma perna, meu sistema nervoso e coordenação não precisavam se adaptar. Era como se elas sempre estivessem ali.
     Por algum motivo, elas não tinham ossos. Não tinham músculos. Era como se as penas azul - escuro só se mantessem coladas entre si a mim por um fluxo de energia.
      E aliás, QUE azul... se ficava muito legal nos meus olhos e cabelo, ficava LINDO nas penas das asas.
      Rihana desceu voando até mim e pousou na minha frente. As pontas de suas asas onde ficariam cartilagem se dobravam meio metro acima de sua cabeça, e depois disso pendiam pra baixo, chegando a se expalhar pelo chão. Ela me olhava com espanto, não admiração.
       - Não... isso é impossível... está errado...
       - O quê? O fato de que minhas asas são mais legais que as suas?
       - Não, não foi isso que eu quis... olha, Christ, isso está errado. Suas asas só deveriam se abrir depois da cerimônia de iniciação. Nunca ouvi falar de alguém cuja fagulha se acendeu sozinha...
       Ah, é, esqueci de avisar. Meu nome é Christian.
       - Olha, Ri, eu não to entendendo nada. Você não gostou das minhas asas? Legal! Mas por quê isso não deveria ter acontecido?
        Rihana suspirou.
        - Desculpa, Chirst. Não posso explicar agora. Vá pra sua casa e não pense muito nas suas asas. Se fizer isso, elas vão se retrair aos poucos. Não se atrase pra cerimônia de iniciação no castelo - disse ela, e depois disso, flexionou os joelhos, abriu as asas e disparou pelo ar como uma flecha, sem esperar uma resposta e levantando outra nuvem de poeira.
        Fiquei uns quinze segundos ali, parado, puto da vida por ela falar o que falou e ir embora sem nem se despedir. 
        Depois comecei a caminhar, lenta e desanimadamente em direção ao meu endereço.
        Minha camisa estava em frangalhos, nem pensei em juntar os pedaços de tecido. Aliás, tirei os que sobraram e joguei no chão. Normalmente, eu ficaria vermelho de vergonha por andar pela cidade sem camisa no primeiro dia de aula, mas não conseguia me importar tanto assim.
         Puxei minhas asas pra minha frente pra poder vê - las de novo. Passei minha mão pelas penas. Sério, elas eram incríveis. Lindas, e super macias. Elas cobriam totalmente o que as prediam juntas, mas eu podia ver ramificações de linhas azuis brilhantes passando pelas penas e fluindo como rios minúsculos, e cheguei à conclusão de que o que as mantinha juntas era igual, só um pouco maior.
         As pessoas que ainda estavam nas ruas ou na porta de suas casas estranhavam um pouco quando me viam. "Se eu fosse um novato, minhas asas ainda não deviam ter aberto". "Se eu fosse veterano, deveria estar com o uniforme pra minhas roupas não rasgarem".
         Em determinado momento, me cansei dos olhares. Tentei retrair as asas a força, mas nada aconteceu. Rihana me falou pra não pensar nelas e elas se retrairiam. Mas eu não estava com paciência pra esperar.
        E mais: Foda - se a Rihana.
        Tentei me acalmar e me concentrar no fluxo de energia azul que eu acreditava ser o suporte das asas. Em vez de tentar prendê - lo às minhas costas, me imaginei "sugando" esse fluxo lentamente pra dentro do meu corpo de novo.
        Deu certo. As penas se tranformaram em energia e adentraram minhas costas. Não foi uma sensação ruim nem agradável, só um pouco diferente.
        Finalmente, depois de uma caminhada muito, MUITO longa, cheguei na porta de casa. Eu gosto de caminhar, mas ela ficava no lado do instituto exatamente oposto ao portão. Devia ser em torno do meio dia. O portão abriu às dez.
        De dentro da casa vinham vozes elevadas. Imaginei se devia esperar, mas resolvi largar o foda - se. Pensei em abrir com a minha chave, mas a porta não estava trancada.
        Uma fração de segundo depois de abrir a porta, um livro de capa dura voador me acertou entre os olhos.
        - Olha o que você fez! Matou o novato!
       - A culpa não é minha se você desviou!
     Não desmaiei, mas a pancada foi forte. As vozes vinham de dentro da casa. Assim que me consegui, me sentei, com a mão na testa. Um garoto de cabelo cor de sangue longo, até a altura do peito, e olhos de um verde muito claro colocou a mão no meu ombro. Era um pouco mais alto que eu, tinha pele muito clara e parecia um pouco magricela.
     - Oi, você está bem? - perguntou ele, olhando nos meus olhos de um modo solidário.
     - Mais ou menos... quem é você?
     Ele  se levantou e depois me ajudou a levantar, e foi falando enquanto entrávamos na casa.
     - Meu nome é Gabriel. Sou um anjo. Antes de mais nada, saiba que eu não tenho nada contra anjos caídos. Aliás, sou curioso sobre a sua espécie. Tenho dezessete anos e estou chegando no instituto esse ano, por interesses puramente acadêmicos. Vou ser um estudante de anjos caídos
- disse ele. Fiquei meio confuso. Acabei de perceber que não tenho a menor ideia de como funcionam as relações entre anjos e anjos caídos. Em teoria, pra mim, eles eram inimigos.
     Tinha um outro garoto, sentado em uma mesa, lendo compenetradamente um livro de aspecto estranho. Era moreno, musculoso, muito alto e tinha cabelos longos extremamente pretos. Tinha um ar agressivo e brutal, de quem tem poucos ou nenhum amigo. Soube imediatamente que era ele quem tinha arremessado o livro.
     Além disso, percebi logo depois que ele tinha olhos cor de sangue denso.
     - Quem é ele? - perguntei a Gabriel, cochichando, sem jeito.
     - Meu nome é Cain. Demônio. Agora por favor, me deixe estudar - resmungou ele.
     - Cain, pelo menos peça desculpas pelo livro!
     - Tá, desculpas, caralho...
     - Não diga palavrões enquanto pede desculpas!
     - MEU DEUS, EU JURO QUE UM DIA AINDA QUEBRO O SEU PESCOÇO!
     - De... demônio? - interrompi, gaguejando.
     - É, demônio, tinhoso, coisa ruim, perna - torta, capiroto, belzebu, leviatã, asmodeus, lucifér, e muitos outros. Agora quer me deixar estudar? - respondeu ele, se acalmando.
     - Érr... se mostrarem onde é o meu quarto, posso deixar vocês em paz...
     - Somos colegas de quarto, Iliriel. Venha, vou te mostrar ele. É bem aconhegante, na verdade - disse Gabriel.
     Atravessamos a sala deixando Cain estudando. A sala dava pra cozinha que dava pra dois quartos. Cada um deles tinha um beliche, um armário grande, uma escrivaninha, uma cadeira giratória e uma porta pra um banheiro. O da esquerda tinha roupas jogadas em todas as direções, livros e livros empilhados desleixadamente na escrivaninha e o banheiro tinha água no chão. O da direita tinha as duas camas do beliche forradas e limpas, livros e cadenos organizados por matéria em cima da escrivaninha, e roupas limpas penduradas em cabides no armário. Nós entramos no da direita.
     - Lamento se minha maneira de organizar as coisas é... como se diz?... careta. Não me incomodo se suas coisas ficarem meio expalhadas. Só sou meio obcecado com arrumação com as minhas.
      - Tudo bem, eu nunca fui de deixar zona mesmo... mas, uma coisa... porque me chamou de Iliriel?
      - Ah, isso... anjos treinados nisso podem ver o nome de alguém só encarando a pessoa.
      - Mas... meu nome é Christian...
      - Ah, isso... pra te proteger, seus pais te deram um nome humano. Seu nome verdadeiro, escolhido pelo seu pai e que consta nos registros angelicais, é Iliriel. Na verdade, eu sei muito sobre você. Eu praticamemte estudei você. Seu avô era um anjo guerreiro conhecido como Uriel, o Cataclísmico. Ele manipulava tempestades e causava terremotos que a escala dos humanos não consegue medir. Ele venceu uma guerra pelos anjos contra os demônios, mas a teoria mais aceita é que algo naquela guerra o fez duvidar da Lei Divina de Michael, e então ele se juntou aos caídos. Enquanto seu avô nasceu um guerreiro do tipo um - em - cada - geração, seu pai nasceu um gênio do mesmo tipo. Ele dominou a arte do discurso e as ciências divinas como poucos fizeram.
      - Ficou rapidamente evidente que ele seria um grande líder dos caídos. Acontece que quando seu pai, Acriel, fez catorze anos, Uriel desapareceu. Nunca mais foi visto. Seria de se esperar que ele tivesse sido morto por um de seus inimigos dado o número deles, mas uma coisa minha intuição como estudante da história dos caídos me diz... alguém que luta de igual pra igual contra membros do Grande Conselho aos dezoito anos... alguém assim não morre fácil, Christian.



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