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História Black Wings - Em casa


Escrita por: And990

Capítulo 6 - Em casa


     Atrás de Seline entraram Elizabeth e Cain. Posso ter corado de constrangimento, pensando no quanto eles ouviram da conversa. Gabriel tomou a iniciativa.
     - O quanto vocês...? - perguntou, ou melhor, não perguntou ele. Estava começando a entender algo engraçado sobre o cara. Ele estava sempre sorrindo de uma forma sincera, espontânea... parecia que conseguia ver graça em qualquer situação. Principalmente situações constrangedoras, para os outros ou para ele mesmo. Acho que "vergonha" não era um sentimento natural pra ele, como se soubesse que não adianta se arrepender do passado, mesmo que "passado" fosse trinta segundos atrás.
     - Percebemos que você estava fofocando sobre nós e nosso mundo, e resolvemos dar um espaço. Não foi maneiro, mas ele precisava saber alguma coisa sobre os dois assuntos - disse Elizabeth.
     - Só pra deixar claro, não preciso da sua pena. Vai ser constrangedor se você começar a me olhar cruzado e depois virar a cabeça pra baixo melancólico, como alguns almofadinhas por aí... - falou Cain.
      - Delicado como sempre... - disse Seline.
      - Aí, de onde eu venho, educação é arrancar a cabeça antes dos membros - respondeu ele.
      - Você não acabou de insinuar que não gosta das pessoas comentando sobre de onde você vem? - perguntou Gabriel.
      - Ahrg, que seja... - reclamou ele de volta. Eu, Seline e Gabriel rimos. Elizabeth esboçou um sorriso.
      - Bem, vocês não parecem ter muito o que fazer, então por quê não vão se arrumar e depois a gente dá uma volta pelo instituto? Podemos ir até a praça... - disse Elizabeth, depois de um tempo.
      - É uma boa ideia! - exclamou Seline, bem alegre e empolgada.
      - É, parece divertido - disse Gabriel.
      - Nem pensar - disse Cain.
      Nós quatro nos viramos pra ele e encaramos, meio embasbacados.
      - Qual é, eu tenho que estudar!
      - As aulas ainda nem começaram, Cain! A gente sabe que você não pode repetir de novo, mas você vai enlouquecer se não tirar a cara do livro de vez em quando, e você normal já é um saco... - disse Elizabeth. Ele virou a cara pro lado e pareceu cogitar por um momento, emburrado.
      - Tá, vamo nessa... - disse ele, por fim.
      - Então, OK. São uma e meia da tarde. Se arrumem até uma e quarenta e cinco. Dêem seu jeito. Vamos ter quinze minutos pra não sair de barriga vazia, e às duas horas saímos. Entendido? - perguntou Elizabeth. "Ok", respondemos, praticamente em uníssono.
     Meia hora depois, nós cinco estávamos na porta de casa, usando roupas casuais, quase esportivas. Nenhum casaco, camisetas de manga curta e bermudas. Eu, Elizabeth e Gabriel tínhamos comido sanduíches, Cain meio comeu meio destruiu impiedosamemte um pedaço de bife, e Seline estava terminando uma cenoura. Pura. Eca.
     - Como você consegue? Essas coisas tem gosto de terra... - disse Cain.
     - Não tem, não. Terra é amarga. Cenouras são doces - respondeu Seline.
     - Nãããããão: DOCES são doces. Cenouras não são doces, e portanto não são doces - disse Gabriel.
     Ficamos encarando ele uns cinco segundos.
     - Ok... vamos esquecer as cenouras por um momento... - falei.
     - Todos prontos? Vamos - disse Elizabeth, e abriu a porta. Nós cinco saímos, e a três metros de distância da porta nos encaramos.
      - Quem foi o últimos a passar? - perguntou Seline, pra ninguém em especial.
      Silêncio...
      - Foi o novato.
      - Que eu me lembre, foi a Lizie.
      - Ela foi a primeira!
      - Tenho certeza de que foi o Gabriel.
      - Pra mim tinha sido o Cain...
      - Ok, ok. Vamos tirar no zerinho - ou - um pra ver quem fecha a porta - disse Elizabeth. Nós levantamos as mãos e começamos.
      - Zerinho ou... - antes da última palavra, Gabriel correu até o meu ouvido, cochichou duas palavras e me fez mudar minha escolha em uma velocidade que eu realmente não esperava. Ele disse "bota zero".
       - Um! - terminamos, em uníssono.
       Cinco mãos. Seline, Gabriel, eu e Elizabeth botamos zero.
       Cain botou um.
       - Puta merda! Por quê eu sempre perco!? - xingou ele, alto.
     Eu encarei Gabriel, Elizabeth e Seline. Os três sorriram maliciosamente de volta.
     "Ele sempre põe um", gesticulou Seline, com os lábios; dando uma risadinha de quem se sente culpada, em seguida.
      Eu sorri, me divertindo. Nesse tempo, Cain foi até a porta, fechou - a, e voltou.
      - Um dia vai dar certo...
      - Vai nessa... - respondeu Elizabeth.
      Nós caminhamos durante um bom tempo, em silêcio.
      - Então, alguns de vocês já tem asas? - perguntei, sem jeito, pra quebrar o gelo.
      - Claro. A fagulha dos anjos é acendida em uma cerimónia no céu aos quinze anos, assim como a da maioria dos caídos - começou a explicar Elizabeth. - "A fagulha" é como nós chamamos nossos poderes anjelicais, Christian. Nós, anjos, somos capazes de quebrar a fronteira entre a nossa imaginação e a realidade. Nós literalmente desafiamos as "leis da física" que os humanos tanto estimam, e na verdade, fazemos isso o tempo todo; por exemplo, quando abrimos nossas asas. Nós somos capazes de criar e destruir simplesmente com a nossa vontade. Entende o que é isso, Christian? O poder de Deus. Para realizar grandes feitos, é necessário ter muita experiência e ser muito forte, mas pra anjos realmente extraordinários, quase qualquer coisa é possível. Manipular mentes frágeis, criar ilusões, controlar elementos e corrente elétricas, transmutar substâncias, até gerar matéria a partir do nada. Tudo depende de controle e concentração.
     - Mas voltando ao assunto, Gabriel teve suas asas abertas nessa cerimônia. Eu abri as minhas dois anos atrás, alguns dias depois da iniciação, a mesma que vai acontecer hoje à noite. Seline... tem as asas um pouco diferentes das nossas. As dríades ou nascem com elas, ou nunca as têm. Cain... - hesitou Elizabeth, repentinamente constrangida.
     Um pesado silêncio se instalou. Claramente as "asas" de Cain eram um assunto muito delicado e triste. Quem rompeu o silêncio foi ele mesmo, com uma melancolia de quebrar o coração, principalmente vindo de alguém geralmente tão... intenso.
    - Minhas asas são horríveis. E elas só aparecem quando eu tomo minha forma demoníaca. É horrível. Apavorante. Quando eu entro nela... - ele estremeceu por um momento, e não era frio. - Não sou eu mesmo. Parece que eu me torno um daqueles monstros que eu tanto temia e odiava. Eu me lembro de destroçar almas humanas semi - consciente. Eu lembro das garras ensopadas de sangue seco. Eu lembro dos gritos... - ele foi interrompido quando Gabriel colocou a mão sobre seu ombro, de forma solidária. Seus olhos estavam sérios, frios, e continham uma mensagem explícita... "está tudo bem".
     Cain colocou sua própria mão sobre a de Gabriel e suavemente afastou - a. Outra mensagem facilmente legível: "obrigado. Estou bem."
     Fiquei muito envergonhado. Tentando "quebrar o gelo", eu parecia ter nos levado pra Rússia.
     Caminhamos mais um bocado de tempo, e em algum momento do caminho, Seline começou a chutar um tampinha de garrafa pet enquanto andava. Uma hora, ela foi parar no pé de Gabriel. Ele também entrou no jogo. Depois de uns toques e uns dribles no nada, chutou para elizabeth. Ela conseguiu levantar com a ponta do tênis e começou a fazer embaixadinhas enquanto andava. Nossa, ela era boa...
     Depois de alguns toques, ela lançou pra mim. Eu tentei continuar as embaixadinhas, mas joguei a tampinha pra calçada em um momento.
     - Joga nada!
     - Lixo! Até minha avó faz melhor! - zombaram Seline e Elizabeth, rindo.
     Eu fui até a calçada e chutei de volta pra eles, errando feio. Gabriel correu e mandou pra Cain, que trocou passes com Elizabeth por algum tempo.
     Fomos avançando assim, cada vez mais devagar, mas rindo e zoando muito. O jogo acabou quando Cain isolou a tampinha.
    - Porra Cain! Não fode!
    - Qual é cara, gastou!
    - Sempre o Cain mano...
    - Ahrg, que saco! Vocês são chatos pra porra, hein!? - respondeu ele, reclamando. Rimos muito, de novo.
    Finalmente, chegamos à praça de alimentacão. Ela, as quadras e alguns outros estabelecimentos só ficavam pouco mais perto do prédio de aulas, mas já dava pra ver o quanto ele era gigantesco. As torres totalmente negras e o aspecto medieval o faziam lembrar Hogwarts, de certa maneira. No topo da torre mais alta, havia uma enorme bandeira roxa, que tinha desenhadas duas grandes asas negras se cruzando e sobrepondo.
    Eu nunca me senti tão em casa.
   



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