História Blame - Capitulo 7

18:35, segunda-feira, 12 de fevereiro de 2016

A neve do lado de fora do Shopping já estava parando, e graças à minha péssima escolha de casacos eu estava muito feliz por isso.

Larissa tinha atrasado cinco minutos, Cameron estava sentado em uma mesinha do Starbucks, falando com algum amigo estranho dele de Chino Hills enquanto eu estava parada na loja ao lado, onde Lari estava. Tirei meu celular do meu bolso e olhei o horário de novo, Larissa realmente estava atrasada. Assim que bloqueei a tela, uma figura loira e sorridente saiu pulando da loja e me abraçou.

"Por que tão feliz? Posso saber?" Perguntei enquanto chamava Cameron com as mãos.

"Consegui o emprego! Três dólares a hora, oito horas por dia!"

"Muito legal! Agora nós vamos pra escola pintar meu armário"

"Está com tudo no carro?"

"Sim! E com uma calça moletom minha é uma blusa de manga longa velha do Cameron pra não sujar a sua." Sorri.

Fomos todos pro estacionamento e Cameron dirigiu até a escola, que estava com as portas destrancadas ainda. Por sorte. Cameron disse para ligar pra ele quando fosse pra me buscar e assim prometi que faria. 

Eu e Larissa entramos na escola correndo e demos de cara com Regina, paramos e tentamos correr até o outro andar sem que ela nos visse, mas foi em vão.

"Senhorita Dallas! O que faz aqui?!" Ela gritou e eu andei até ela.

"Eu só vim pegar algumas coisas, já estou de saída"

"Não! Você deveria ter pego antes de ter ido para casa, a escola não recebe mais alunos essa hora!"

"Regina..." Ouvi a voz da Déborah atrás de mim "deixe as garotas, elas só querem algumas coisas no armário da Angelina. Qual o problema?"

"Senhora Gordon! A senhora sabe muito bem qual é o problema!" Regina disse batendo seu pé gordinho no chão.

"São águas passadas, Regina! Deixe-as!" Déborah sorriu e Regina andou bufando até a diretoria "Desculpe por ela, garotas, aconteceram algumas coisas com uns alunos que vieram aqui alguns anos atrás, Regina não permite mais alunos aqui a noite"

"Tudo bem, Déborah, obrigada!" Sorri e ela me abraçou.

Eu e Larissa corremos até o meu armário e jogamos todas as tintas, adesivos, moldes, fotos, tudo no chão. Ela pegou a tinta roxa e durex. Virou pra mim segurando o riso e disse:

"Você esqueceu os pincéis"

"É muito necessário?"

"Não, por agora posso viver sem ele. Abre o armário" ditou.

Destranquei o armário e Larissa colocou a foto lá, a prendendo com fita adesiva e pegou uma das esponjas, que ela chama de esponjas de acabamento, e a mergulhou no pote de tinta roxa.

Ela batia a esponja contra o armário enquanto eu pintava flores com o meu dedo na ponta de baixo do armário.

Depois de bastante tempo, Larissa terminou de fazer três quadrados de cores diferentes pra prender fotos, e foi o que eu fiz.

"Agora eu precisaria do pincel pra orientar algumas coisas, tipo flores, coisas do tipo. Não tem nenhum aqui?"

"Deve ter na sala de artes. Vou ver"

Virei as costas pra ela e desci as escadas. A escola já estava escura, a porta da frente estava trancada por fora, merda. Andei até ela e minha preocupação foi embora, havia apenas uma chave do lado de dentro. Acho que Regina trancou por dentro e saiu por outra porta, não que aquilo importasse. Peguei o meu celular e liguei a lanterna, fui passando pelas janelas de vidro das porta, até achar uma com a plaquinha "Sala de Artes - 179". Sorri.

Entrei na sala e nem se quer precisei ligar a luz, a luz da lua do lado de fora foi iluminação o suficiente para achar os pincéis e um pote com água. Peguei cinco pincéis e um dos potes manchados de laranja ali e coloquei tudo no bolso do meu moletom. Ouvi passos de uma bota pesada do lado de fora e me encolhi atrás da parede, longe da janela da porta. 

Depois que o barulho ficou mais baixo, andei até a janela e coloquei a cabeça, vi apenas um vulto virando o corredor e sai da sala em silêncio para segui-lo.

Ele curvava os corredores rápido e era difícil acompanhar, mas eu estava conseguindo sem que ele me visse. O vulto entrou numa sala com armário azuis e fechou a porta, coloquei a minha cabeça na janela e, com apenas os olhos na janela, pude ver Matthew revidando um armário e tirando uma caixinha pequena com um senha que ele sabia de cor. Olhei pra plaquinha em cima da porta e li "Sala dos Professores", prestei atenção ali por um minuto, mas logo o barulho das botas de Matthew voltou e eu corri pra trás de uma parede.

Sai de lá quando o barulho tinha parado, e eu tive certeza de que ele não estava mais ali. Corri de volta para o corredor principal da escola e assim que virei o corredor, dei de cara com Taylor olhando fixamente pra quem curvasse o corredor.

"O que faz aqui?" Perguntou.

"E-eu... Eu estava... Estava só..." Dei uma pausa me embolando com as palavras "pincéis, apenas isso, pincéis"

"A sala de arte é ali." ele apontou com a cabeça "Você seguiu Matthew"

"O que? Seguir Matthew? Por que eu faria isso?" Menti. Ele riu.

"Não está com sorte hoje, não é, Angelina?" Perguntou se aproximando enquanto eu andava pra trás "Você é uma péssima mentirosa"

"Não estou mentindo!"

"Como eu disse, uma péssima mentirosa" ele riu mais ", você vai aprender a não seguir o Matthew nunca mais."

Eu já não tinha mais pra onde ir, estava com as costas nos armários e ele estava poucos centímetros de mim. Senti uma lágrima se formar nos meus olhos, mas antes que ela pudesse rolar, ouvi uma voz a mais.

"Taylor?"

Abri os olhos e vi Shawn parado, com cara de bravo e os punhos cerrados.

"O que você está fazendo?" Ele se aproximou de Taylor, que continuou firme.

"Ela seguiu o Matt." Ele disse "Ela viu..."

"O que ela viu, Taylor?" Ele perguntou cruzando os braços "Diga!" Ele gritou logo em seguida.

"Você sabe o que ela viu." Ele falou.

"Não estamos fazendo nada de mais aqui Taylor, só estamos acompanhando Matt, afinal ele veio buscar anotações de história." Ele arqueou as sobrancelhas.

Taylor negou com a cabeça e Shawn sussurrou algo quando puxou o braço dele, para que Taylor ficasse mais perto. O garoto de bandana seguiu pelo corredor logo em seguida. 

Shawn me puxou pra primeira sala que viu na frente e trancou a porta com a chave que tinha lá.

"Sai daqui." Ele falou.

"O que? Por quê?"

"Porque eu estou falando pra sair! Vai logo! Você tá sozinha?"

"Não, a Larissa tá lá em cima, a gente tá pintando o meu armário. O que tá acontecendo? Do que ele tava falando?" Perguntei enquanto suava frio esperando a resposta.

"Nada. Nada que eu posso te contar. Não agora, mas eu prometo que vou contar." Ele segurou meus ombros "Agora você precisa chamar sua amiga e ir embora, não é seguro!"

"Por que não? Quem mais está aqui? O que o Matt tava fazendo de tão grave que eu não podia ver?"

"Eu prometo que vou responder todas as suas perguntas no tempo certo. Mas, por favor, vá pra casa! Eu prometo que venho com você outro dia, a tarde e a gente pinta, só saia daqui!"

"Eu saio assim que você me explicar o que está acontecendo!"

"Por favor, Angel, eu prometo te dizer, outro dia, em uma outra ocasião, só saia daqui antes que algo ruim aconteça"

"O que de ruim pode acontecer?!"

"Angelina só confie em mim! Sai daqui por favor!"

Um silêncio pairou no ar depois disso, ele ainda segurava meus ombros com força e me olhava no fundo dos olhos um pouco desesperado. Respirei fundo, olhei pro lado e voltei a olhar pra ele.

"Tudo bem." Falei desanimada.

"Obrigada por entender!" Ele beijou a minha testa e saiu da sala, olhando pros dois lados antes.

Eu fiquei ali parada, com um ponto de interrogação na testa e com um monte de perguntas que não foram respondidas. Quando finalmente resolvi ir até Larissa é realmente ir embora, eu já estava apavorada.

"Estou quase terminando, você demorou uma década pra buscar os pincéis, fiz com a esponja mesmo"

"Larissa, é melhor irmos embora" falei me aproximando ", já está tarde."

"Tudo bem, voltamos outro dia!" Ela sorriu e colocou tudo de novo dentro da mochila.

Coloquei a mesma nas costas e mandei mensagem pro Cameron mandando ele nos buscar, desci as escadas com certo receio de dar de cara com mais alguém e fui correndo até a porta com Larissa atrás de mim.

Quando fechei a mesma, vi que o trinco tinha sido arrombado, com um grampo de cabelos. Um pouco clichê, com certeza. O grampo continuava preso ao trinco, mas resolvi ignorar, afinal Larissa não notou aquilo. Cameron chegou poucos minutos depois e nos levou cada uma pra sua casa.

Eu fiquei muda durante todo o trajeto enquanto Lari e Cameron conversavam. Eu estava me entupindo de perguntas sem respostas, perguntas que Shawn poderia ter me dado as respostas, perguntas que talvez ele nunca responderia.

Eu acreditava que a água quente poderia tirá-las da minha cabeça, e depois se sair do banho percebi que talvez nem dormiria pensando naquilo. Coloquei um pijama de ceda azul claro e me joguei na cama. Virei pra parede e fiquei encolhida de baixo das cobertas, em meio ao silêncio mortífero do meu quarto, usei a minha imaginação pra criar explicações pro que tinha acontecido alguns minutos atrás. Foi pior.