História Blast Heart «Jikook» - Terceiro

Jungkook acordou com o balançar do caminhão, as costas do garoto doíam como as de um velho pelo desconforto. Viu que Namjoon ainda estava ao seu lado, porém agora, estava de pé e parecia estar acordado há algum tempo.

Jeon se levantou, se equilibrando nas duas pernas, estava faminto, e provavelmente todos os garotos ali estavam, já que a barriga de Jungkook não era a única que roncava. Namjoon parecia olhar ansioso para a porta do caminhão.

- O que aconteceu? - Perguntou Jeon.

- Não tenho muita certeza, mas acho que chegamos - O Kim respondeu, cerrando os olhos.

Estava realmente apertado dentro daquele caminhão, era impossível não sentir o cheiro de suor e o tamanho abafo que o ambiente possuía, Jungkook não queria nem imaginar o que aconteceu com os garotos que precisavam usar o banheiro dentro do caminhão.

- Eu só quero sair daqui... - Afirmou o mais novo, limpando as gotas de suor na testa com a manga da blusa.

- Não diga coisas assim - Namjoon ainda era uma figura desconhecida para Jungkook, já que todo o tempo, estiveram no escuro, mas Jeon podia muito bem imaginar uma feição séria no rosto do outro - O lugar lá fora pode ser muito pior do que aqui dentro.

- O que pode ser pior que isso? - Jungkook balançou a cabeça e sussurrou, sabia que se falasse alguma besteira, os soldados japoneses poderiam ouvir.

- Com certeza já ouviu falar da Primeira Guerra Mundial, Jungkook.

O mais novo juntou as sobrancelhas, a idéia de uma nova guerra o assustava. Se fosse verdade, iria mesmo participar dela? Não, não podia ser, Jungkook odiava guerras, nem ao mesmo dar um soco direito conseguia. Disparar um tiro em alguém seria impossível.

- Você não acha que...

A porta do caminhão se abriu, e finalmente Jungkook pode inspirar um pouco de ar fresco, mesmo que estivesse no fundo. Cobriu o rosto, a claridade por enquanto o desagradava demais, tanto que, soltou um grunhido enquanto os olhos se acostumavam à força com a luz. O soldado que havia aberto o caminhão ordenou que os garotos saíssem em ordem do veículo, e todos obedeceram de cabeça baixa.

Jungkook tentou calcular que hora do dia devia ser, chutou então, estar perto do meio dia ou algo perto disso, e pelo cheiro de chuva, concluiu que o céu estava carregado e acinzentado, o que dificultava sua suposição de saber as horas do dia. Não sabia onde estava, que horas eram, o que iria fazer, pra quem iria fazer e não sabia se voltaria, pior ainda, se voltaria vivo.

Pulou fora do caminhão, seguindo a fila de garotos que já caminhava por um local indicado por outro soldado. Eles deviam manter as mão em frente ao corpo e cabeça baixa. Mesmo assim, Jungkook analisou o local em que estavam. Era assustador.

Se assemelhava à um quartel, era acinzentado e tinham cercas de metal, fora os.locais de treinamento que eram bem visíveis. Torres de vigilâncias eram locais para alguns soldados rondarem, e Jungkook jurava que podia ouvir os gritos de ordens de capitães ao longe.

- Estou bem atrás de você, garoto - Ouviu a voz de Namjoon soar forte como sempre.

Tentou virar a cabeça e enxergar o rosto do rapaz, já que agora a luz lhe permitia, mas foi censurado por Namjoon.

- Não se vire, eles estão olhando. Eu sou o último da fila, não será difícil me encontrar depois.

Jungkook abaixou novamente a cabeça enquanto a fila assustada de garotos adentrava aquele grande recinto acinzentado, logo, Jeon percebeu que se tratava de um refeitório, percebendo que sua suposição não deveria estar tão errada, a barriga insistiu em roncar novamente, completamente vazia.

Os olhos de Jungkook procuraram não parecer tão curiosos ou assustados quando entrou no refeitório, ele sabia que nesse tipo de lugar, tudo o que se não pode mostrar é vulnerabilidade, mesmo que soubesse que era um dos mais novos ali.

O local estava repleto de soldados, um pouco mais novos que aqueles que haviam lhe dado ordens nos caminhões, e todos eles permaneceram em silêncio quando a fila de garotos entrou. Jungkook tinha a sensação de que passavam os olhos por cada um da fila, ele poderia sentir os ombros tremerem se não estivesse repleto de fome. Passou os olhos também rapidamente pelos soldados que comiam, o cheiro de arroz preenchia o lugar.

Parou seus olhos numa mesa de soldados, eles estranhamente pareciam mais normais que os outros, juvenis e soltos, entre eles, um soldado um pouco mais baixo, de cabelos lisos e castanhos, tinha os olhos escuros e as bochechas que pareciam ser macias, apesar disso, sua feição transmitia total maturidade e seriedade, até mesmo seu uniforme sujo de lama parecia intimidar Jungkook.

Ele engoliu em seco e seguiu a fila, pegou sua bandeja e carregou o próprio prato com tudo o que poderia comer.

- Você vai alimentar o caminhão inteiro? - A voz de Namjoon soou novamente ao seu lado e num impulso, Jungkook se virou para ele.

Aquela foi a primeira vez que Jeon viu o rosto de Namjoon.

Ele tinha traços de um guerreiro.

- Eu estou com fome. E esse lugar me dá calafrios.

- Calafrios dão fome? - Namjoon despejou um pouco de salada em seu prato, saindo da fila e caminhando até uma mesa vazia.

Jungkook o seguiu, ficar sozinho ali era uma sugestão impossível para ele. E ao sentar-se de frente para o mais velho, rodou novamente o olhar pelo local.

- Você disse que queria vir pra cá. Por acaso conhece alguém aqui?

- Conheço, mas se quisesse ficar com eles eu me sentaria em suas mesas, certo? Não... Já disse que não estou aqui para isso.

- Então por que está me ajudando?

Namjoon bebeu o suco de sua caneca e também passou os.olhos pelo local. Apenas os dois estavam naquela mesa.

- Eu não te ajudei em nada para começar, eu apenas abri seus olhos um pouco. Além disso, você parece um pássaro caído de ninho, me sentiria culpado se não o fizesse.

Jungkook juntou as sobrancelhas enquanto comia seu arroz com prazer.

- Eu devo agradecer?

Namjoon pousou sua caneca na mesa novamente e encarou por um segundo os olhos de Jungkook.

- Não.

※

Os dormitórios foram distribuídos a partir da letra inicial dos novos garotos, ou seja, Jungkook foi designado para um dormitório onde só haviam homens com a letra "J".

O que o deixou apreensivo foi que não haviam apenas os novos garotos, e sim, soldados que já frequentavam o quartel.

Foi entregado para Jeon (e os outros rapazes) uma bolsa repleta de coisas de um soldado e em seguida, Jungkook teve de trocar sua roupa para uma esverdeada de recruta. Enfim, foi até o dormitório, onde agora, os soldados já haviam comido e relaxavam ao seu modo, alguns conversavam outros jogavam truco e Jungkook jurou enxergar alguns que liam escondido revistas pornô.

Segurou um papel em sua mão, que também fora entregado anteriormente para ele, dizendo em que beliche ele dormiria (já que naquele quarto haviam muitas) e tudo indicava ser a 15.

Ela ficava no meio do corredor de beliches e Jungkook percebeu que no colchão de cima, um dos soldados estava deitado de costas, lendo um revista sobre esportes. Ele decidiu não atrapalha-lo e deixou sua bolsa no colchão de baixo, jogando seu corpo no mesmo, sentindo as costas doerem novamente.

Do lado direito, ele viu algo se mover e de cima, a cabeça soldado que estava lá surgiu. Jungkook ficou nervoso quando percebeu que se tratava do soldado de cabelos castanhos e traços juvenis que havia visto antes.

- Essa beliche é fraca.

Jungkook juntou as sobrancelhas, os cabelos do rapaz estavam de ponta cabeça, assim como ele.

- O quê?

- Essa beliche é fraca, se você se jogar assim novamente ela vai acabar se quebrando e nós dois caímos juntos.

- Oh... - Jungkook se sentou, não tirando os olhos do rapaz - Desculpe.

O outro ficou em silêncio por alguns segundos e então assentiu, numa forma de "obrigado" e voltou sua cabeça para cima. Por um momento, Jungkook pensou que a conversa havia acabado, mas logo depois, a cabeça castanha surgiu novamente, mas dessa vez, do lado esquerdo.

- Hum, se vamos ser colegas de beliche, acho que preciso saber seu nome.

- Ah sim. Meu nome é Jeon Jungkook.

Por um momento Jeon não se sentiu mais tão intimidado.

- Qual é o seu?

Ele respirou fundo antes de responder, já que estava de cabeça pra baixo.

- Sou Park Jimin.