História Blast Heart «Jikook» - Quinto

Conhecer Namjoon é como um desses típicos fatos, quase milagrosos do dia-a-dia. É como ir para a aula e o professor ter faltado, ou por exemplo, a fatia do pão cair com a geléia para cima.

Conhecer Namjoon era como uma vantagem (que na maioria das vezes) lhe trazia coisas boas, mas apenas se você tiver um cérebro bom para acompanhar os pensamentos do rapaz.

— Jiminie! — O mais velho sorriu ao ver o amigo de longa data.

— Parece que seu plano funcionou, já que voltou para a Coréia — Jimin colocou as mãos na cintura.

— É, deu certo, mas não acabou ainda. Deuses... A Alemanha pode ser bonita mas aqueles alemães são extremamente burros!

Os garotos que ouviam a conversa juntaram suas sobrancelhas em confusão.

— Alemães? O quê? — Yoongi de aproximou mais.

— Namjoon foi até a Alemanha disfarçado — Jimin explicou, olhando antes aos redor, eles estavam sozinhos no refeitório — Foi disfarçado de tenente.

— O quê?! — Hoseok se espantou.

— Fui acompanhar o Presidente numa reunião com os alemães, ou melhor com Hitler.

— Hitler?! — Dessa vez, foi Taehyung que se espantou e questionou o mais velho.

— Eu estava disfarçado faziam alguns anos. Nunca fui tenente e graças a Deus nunca serei - Nem mesmo um soldado como fingia ser no momento - Meu trabalho lá era recolher informações. Eu sou um espião.

Enquanto Jimin esboçava um grande sorriso orgulhoso, o restante dos garotos se engasgavam com suas próprias salivas, totalmente afetados por aquela frase.

— Espião?! Mas que diabos! Aish, eu não acredito em você, se realmente fosse um espião, não nos contaria! — Dessa vez, foi Jin quem disse, já que todos estavam ocupados demais tentando processar aquilo. Suas mãos no jaleco, aparecendo no refeitório também, pegando todos de surpresa.

Todos se viraram para encarar o médico que se aproximava.

— Esse é o Jin — Jimin sussurrou para Namjoon.

O espião suspirou e bateu suas botas de soldado no chão, como se o raciocínio humano de Jin não fosse pálio para o dele.

— Jimin é um amigo de anos, e eu confio nele. Mais ainda que ele não tem maus amigos que sairão contando tudo para todos, assim digamos.

Jin examinou Namjoon com desconfiança, e cruzou seus braços, dizendo:

— Pois então, continue.

— Ah, como dever saber, o Japão, e consequentemente nós coreanos, somos aliados da Alemanha. E recentemente, foi divulgado que isso é por causa de interesses econômicos. Eu lhes digo com total certeza, isso é mentira, completamente uma farsa.

— Quer dizer então que sabe por que estão mandando soldados novos aos montes para cá?

— Sim — Namjoon olhou para o chão com pesar nos olhos.

— E então, por quê?! — Taehyung parecia nervoso.

— Quando estava na Alemanha, naquelas reuniões, tudo era muito tenso. Hitler é o homem mais... Cinza que eu já vi na minha vida. Sinto até hoje o cheiro de charuto e ouço aquelas risadas malignas daquela sala de reuniões. Foi preciso tempo para eu conseguir o que queria, no caso, informações importantes. Hitler é basicamente uma criança braba quando se tira o doce dela, a criança quer o doce de volta. Na Primeira Guerra, a Alemanha perdeu quase tudo inclusive a própria guerra. Hitler quer vingança e não se preocupa em esconder isso.

Alguns segundos de silêncio se instalaram no refeitório.

— Então... O que está tentando dizer? — Yoongi perguntou, mas no fundo já sabia da resposta.

— Quero dizer que, haverá uma nova guerra, e dessa vez muito, muito pior.

xXx

Ouvir uma conversa na espreita não era o melhor modo de ficar por dentro dos assuntos, segundo Jungkook. Tinha sido educado desde criança a nunca fazer fofoca e nem ouvi-las, não fazia bem, era o que sua mãe dizia.

E por isso, tentava encontrar bons e convincentes motivos para estar ali, ouvindo aquela conversa.

" Um: Eu estava com fome, tenho o direito de estar aqui, certo?"

"Dois: O refeitório é público"

"Três: Eles estão falando alto, não há ninguém cochichando sobre o assunto, qualquer um pode ouvir"

Mas, para Jungkook, nenhum destes motivos era bom e convincente o suficiente para justificar sua espreita naquela conversa. Caramba! Aquilo eram informações confidenciais do governo e possivelmente internacionais! E Jungkook se encontrava simplesmente ali, ouvindo tudo como se fosse uma fofoca de colegial.

Porém, lá no fundo, bem escondido dentro de seu peito, um sentimento, quase inexistente, e que se não estivesse concentrado tanto quanto estava, nem mesmo o perceberia. E este, era um alívio por finalmente saber o que estava acontecendo.

E por outro lado, um outro sentimento que tomava quase todo seu corpo. A palavra "guerra" o fazia se estremecer, e de acordo com Namjoon, essa iria ser horrível, muito mais que a anterior. É para isso que ele estava? Morrer lutando contra a própria vontade?

— Uma guerra? — Hoseok juntou as sobrancelhas — Mas... O que Hitler quer afinal? 

— Aish! Eu... Olha, outro dia eu prometo que conto tudo o que aconteceu na Alemanha e tudo o que precisam saber, no momento, meu plano precisa ser um tanto secreto.

Os garotos estavam curiosos e ao mesmo tempo assustados quando aquela notícia, e com o maior esforço que podiam, não prosseguiram com as perguntas.

— Agora, podemos focar em outro assunto? — Namjoon balançou a cabeça — Isso é um assunto confidencial e não é bom ficar falando, está bem? — Levantou as mãos.

— Okay, se você quiser... — Taehyung cruzou os braços — Além disso, precisamos ter uma conversinha com o Sr. Park Jimin aqui.

— O quê?! — Ele levou a mão ao peito, espantado — Eu?!

— Exatamente — Yoongi o encarou decidido — O que foi aquilo no treinamento dos novatos?! Você pegou pesado demais com aquele garoto, Jiminie!

Em resposta, o Park soltou uma risada nasalada e irônica, cruzando seus braços com um tanto de desprezo no fundo de seu olhar.

— O quê? Se estão falando daquele tal de Jungkook... Eu apenas fiz meu trabalho.

— O que aconteceu? — Jin, que estava por fora do assunto, decidiu se localizar na conversa.

Hoseok respondeu o mais velho, falando a verdade e apontando a cabeça para Jimin.

— O 'capitão' aqui, decidiu pegar pesado com um dos novatos, quase como fosse de propósito. Apenas porque ele não conseguia fazer algumas flexões.

— O quê?! — O mais velho encarou Jimin de olhos arregalados e expressão julgadora.

— Eu ouvi dizer que você é o companheiro de beliche dele não é? — Namjoon cruzou os braços - Ei, ele é um garoto legal, vim com ele no caminhão, ele está assustado. Por que fez isso, Jiminie?

O outro agora parecia incomodado, e em vez dos braços cruzados de desprezo, ele agora tinha os ombros caídos, sentindo uma culpa intensiva ser sugada em seu peito. Abaixou os olhos e molhou os lábios, nervoso. Nem mesmo ele sabia por que tinha sido assim tão rude com Jungkook.

— Park Jimin... — Jin levantou as sobrancelhas — Se me permite, eu me lembro muito bem de quando você entrou pro exército e não conseguia nem carregar pesos na musculação! E também... Se me lembro, havia um certo general que parecia te odiar e fazia dos seus dias um inferno.

Jimin suspirou e encarou o Kim que lhe lançava uma lição de moral.

— Aigo, Jin! Você parece uma senhora de idade me dando um sermão assim!

— Você vai pedir desculpas — O mais velho completou.

Jimin, que estava prestes a protestar e abrir sua boca, analisou o olhar de todos sobre sua aura culpada e concluiu que se tivesse de sair daquela situação, deveria se desculpar com Jungkook. Seus amigos estavam certos.

Até porque ele começou a odiar o modo como se comportou com Jeon.

Lembrava o modo como seu pai se comportava.

— Tudo bem, eu irei falar com ele — Cedeu e suspirou mais uma vez, caminhando para fora do refeitório, Namjoon foi junto para concluir seu treinamento lá fora, assim como os outros garotos, que sendo soldados veteranos, deveriam auxiliar os mais novos.

E Jungkook, que estava escondido na dobra de um corredor, ouvindo absolutamente tudo, percebeu que aquela era a hora exata de sair dali. Lembrou-se então da tarefa que lhe foi designada: Como pior novato nas flexões, ele deveria lavar o chão do banheiro. As pernas ágeis correram silenciosamente até o local, onde agarrou rapidamente um balde e um esfregão. Enfiou alguns panos na água para encharcá-los e por fim, iniciou a limpeza acelerada do banheiro, nervoso. Alguns segundos depois, Jimin apareceu em seu uniforme na porta, Jungkook não ousou olhar para ele. Está certo que havia ouvido a conversa dos garotos e sabia o motivo do Park estar ali, mas mesmo assim, depois daquele acontecimento mais cedo, Jeon temia que ele fosse alguma espécie de bipolar.

Jimin se manteve em silêncio, e o mais novo podia ouvir o barulho das botas se aproximando enquanto esfregava o chão, mas o cabo do esfregão parecia escorrer das suas mãos já que as mesmas se encontravam suadas pelo nervosismo extremo do rapaz.

— Jungkook — Jimin agarrou o cabo, fazendo o mais novo parar o que fazia, mas ele ainda olhava para baixo, sinceramente, a coragem que possuíra mais cedo havia se dissipado.

— Sim, senhor — Os olhos fixados nas lajes acinzentadas do chão mostravam o receio de olhar para os olhos castanhos do Park.

— Não precisa me chamar de senhor, estamos fora do horário de trabalho.

Jungkook assentiu em silêncio e ousou dar uma pequena encarada no rosto do mais velho, o que fez seu peito quase derreter. O olhar que Jimin possuía era de extrema culpa, e então, em vez de abaixar seus olhos para o chão novamente, ele os fixou nas iris castanhas do outro.

— Eu queria me desculpar, pelo acontecimento de antes. Eu não tenho autoridade e abusei do meu poder. Me desculpe, Jeon Jungkook.

Ele engoliu em seco e encarou o mais novo que lhe lançava um olhar curioso, como se tentasse desvendá-lo, suspirou e pressionou os lábios carnudos. O mais novo suspirou e agarrou firme o cabo do esfregão, estava nervoso.

— Eu... Eu sei. Ouvi a conversa sua com seus amigos agora, Park. Me desculpe.

Encolheu os ombros e esperou então uma bronca de Jimin, mas ela não veio.

— Você ouviu?

— Sim, Senh... Park - Se auto corrigiu.

— Bom, isso... Deixa minhas desculpas muito mais fáceis, eu acho — Sorriu sem jeito com a honestidade do Jeon e balançou sua cabeça.

— Acho que sim — Respondeu também com um sorriso.

Um momento de silêncio certamente constrangedor tomou o banheiro e os dois desviaram seus olhares não sabendo como lidar com aquela situação. Jungkook tomou novamente o esfregão e agitava o mesmo, limpando o chão, mas ele não conseguiu segurar a própria língua, e por fim direcionou sua cabeça para o mais velho.

— Jimin, sobre esta guerra... Eu devo me preocupar? Quer dizer, Namjoon disse que irá ser muito pior que a outra, minha mãe, meu irmão, eles...

— Jungkook — Chamou a atenção do rapaz.

— Hu? — Ele levantou as sobrancelhas.

— Qualquer notícia nova, eu irei te dizer. Ás vezes, presidentes planejam coisas que não se realizam, eu prometo que não será nada grande. Hitler está com pouco território e isso não vai longe, está bem? Sua família irá ficar bem.

Os olhos escuros de Jungkook pararam por um momento em Jimin e ele parou de limpar, engoliu em seco e assentiu, sentindo um grande reconforto dentro de seu peito.

Ele não sabia que aquela seria a primeira, e última promessa quebrada de Park Jimin.