História Blind - Cataclasm Pt. 2

Ao acordar, o primeiro gesto que Erik Lehnsherr fez foi esticar o braço procurando Charles ao seu lado na cama. Só abriu os olhos quando suas mãos não encontraram ninguém. Por instinto, ele ainda procurou em volta, mas não havia nenhum sinal do moreno por ali. O magnata levantou da cama, foi até o banheiro, se jogou embaixo do chuveiro e enquanto sentia a água gelada caindo por seu corpo começou a se lembrar dos detalhes da última noite.

Charles tinha aquele jeito doce e íntimo, que fazia com que você se sentisse próximo o bastante, mas ao mesmo tempo sempre parecera distante e intocável.... De certo modo, Erik já havia desistido de uma aproximação com o moreno, por isso, não podia negar que ficou francamente surpreso quando ele apareceu em sua cama repentinamente. Haviam feito amor a noite toda e, mesmo que ele sempre achasse que era impossível, só ficava melhor a cada vez que começam de novo.  

O ruivo vestiu-se com uma camiseta de cor creme e um blazer em tom terroso, passou um pouco de perfume e desceu as escadas a procura do bailarino. Acabou encontrando Charles sentado confortavelmente em uma das cadeiras da varanda lendo algum livro. Erik não pode reprimir o sorriso. Onde estivesse Charles Xavier, ele estaria dando um jeito de aproveitar da arte. Acabou ficando parado ali apenas o observando até que o moreno se deu em conta que ele estava ali e perguntou com um sorriso faceiro:

– Você estava aí a quanto tempo?

– Eu? Quem vai saber? Talvez dez segundos, talvez dez minutos? Olhar para você faz o mundo parar.

– Meu Deus, Erik – Charles abriu o sorriso como se estivesse escutando uma boa piada. – Deixe de ser tão brega. Simplesmente não te cai bem.

– Por que não?

– O que diriam os outros se te escutassem falando assim?

– O que tem problema eles ouvirem?

– Eu não... – O bailarino não sabia como continuar a frase e acabou fechando os lábios. Queria dizer a Erik que os outros achariam aquela ideia absurda, assim como ele também o achava. A barba ruiva por fazer que dava ao ruivo um charme incrível se aproximava cada vez mais e só aí ele se deu conta de que receberia um beijo.

– Peça para Janos preparar uma cesta para nós no almoço. – Erik disse baixinho após distanciar os lábios da boca do moreno.

– Você vai a algum lugar? – Charles acabou perguntando no mesmo tom. Fechou os olhos por um instante enquanto saboreava a sensação da boca do outro, mas logo os abriu de volta e pode apreciar o sorriso que o ruivo tinha no rosto.

– Nós vamos. Eu vou te mostrar o “lugar secreto” que você me pediu.

– Oh! É bom saber que é um homem de palavra, Lehnsherr...

O lago era um lugar pequeno e bonito. Havia algumas árvores em volta, mas um olmo bem próximo a margem, chamava mais atenção. Foi aí que Charles estendeu um pano xadrez que havia sido entregue a ele no chão, pôs a cesta num dos cantos e logo se acomodou também. Erik tirou o blazer e o dobrou para que pudesse usá-lo como um travesseiro. Alguma coisa naquele lugar fazia com que o ar cheirasse mais “fresco” que o normal do campo.

– Acredito que seu lugar secreto não seja tão secreto assim, Erik... – O bailarino comentou em tom divertido e quando o ruivo olhou para onde ele apontava, percebeu que, Noturno, o cachorro que havia os recepcionado no dia anterior, tomava água tranquilamente no lado oposto do lago.

– Olha lá, – Erik tinha um tom ultrajado na voz que era totalmente sarcástico – parece que alguém anda invadindo minha propriedade.

– Essa eu não deixava barato... – Charles comentou brincalhão, mas não demorou muito para que encarasse o magnata e perguntasse de supetão – Então, qual é o segredo daqui?

– Segredo? Como assim?

– É, você sabe. Por que o lugar te é especial? Veio aqui a primeira vez quando teve o coração partido ou o quê?

– “Coração partido”? – Erik riu em seco. – Nada demais. Apenas é um lugar bonito e tranquilo. Quando se tem um mundo de obrigações para gerir acaba sendo um bom lugar para se pensar sozinho.

– E o que você faz quando fica aqui sozinho?

– Por que quer saber? – O ruivo fez uma pausa para umedecer os próprios lábios com a ponta da língua. – Você tem alguma sugestão?

– Sugestão?

– Hurrum.

– Eu não. Não tenho absolutamente nenhuma. – Charles deixou as palavras saírem da sua boca, mas a ironia era que ao mesmo tempo que dizia aquilo, seu corpo se aproximava do de Erik. O ruivo já tinha um daqueles sorrisos sacanas no rosto e quando puxou o bailarino para mais perto o beijo veio como reação automática. As mãos do magnata se entrelaçaram no cabelo escuro do outro e quando Charles interrompeu o beijo para buscar ar, ele logo disse:

– Você me deixou cheio de marcas, Lehnsherr. – Erik deu um meio sorriso como se estivesse orgulhoso pelo feito. Charles acabou sorrindo de volta, mas completou em um tom de voz zombeteiramente raivoso – Não ria, é sério. Como vou explicar isso?

– E para quem você deveria se explicar?

– Para minha irmã que mora comigo? E para toda a companhia que me vê trocando de roupa nos ensaios? Principalmente, Moira que não vai me deixar um segundo em paz até receber uma explicação...

– Nós podemos resolver isso facilmente.

– Como? Você vai pagar por uma maquiagem milagrosa para que eu possa cobrir os roxos? Imagine minha paciência...

– Não, não isso. Você deveria vir morar comigo, Charles. Assim não terá nada do que se explicar a ninguém. Você poderia parar de trabalhar e no lugar de se cansar todos os dias com isso, ficaria apenas estudando enquanto esperasse minhas chegadas...

– Eu não sei qual é a parte mais sem sentido. Morar com você ou largar o balé? – Charles acabou rindo como riria de uma boa piada – Não seja tolo, Erik. Eu preciso de soluções, não de brincadeiras.

– Não é brincadeira, Charles. – Erik parou por um instante e prestou atenção na reação do moreno que parecia surpreso com a seriedade que ele dizia. – O que eu tenho que fazer para você perceber que eu quero você para mim?

– “Você para mim”? É a isso que tudo se resume? Erik, querido, você ainda não percebeu? – O bailarino inquiriu baixinho com um tom audacioso. De certa forma parecia desesperado para que o ruivo completasse sua pergunta, mas Erik acabou ficando quieto demais esperando que ele continuasse. Os dois acabaram se aproximando outra vez para um beijo rápido e Charles então completou quase sussurrante – Eu não sou alguém que você pode comprar e deixar em casa decorando o ambiente.

– Mas ontem à noite, você me disse que se manter distante não importava mais – o ruivo se calou por um instante enquanto recebia mais um selinho do Xavier. – Por que você não desiste de toda essa enrolação sem sentido?

– Eu disse que não havia mais motivos para que eu me segurasse, porque... eu já adoro você de qualquer jeito, Erik. Contudo, todavia, entretanto, isso não significa que...

– Que?

– Que eu ache que você não trocaria um garoto como eu na primeira novidade que aparecesse na sua porta. Eu sou apenas a novidade da vez.

– Um garoto como você?

– Entende? Você é um homem lindo, charmoso e encantador, Erik. E eu? Eu sou apenas um cara normal que por acaso dança.

– Eu realmente não dou importância ao que você é, Charles. A única coisa que eu sei... A única coisa que eu sei é que não consigo te tirar da cabeça. E não é por causa de ontem, antes que você reclame. Não é por causa de ontem. Eu sinto isso desde aquela maldita primeira noite.

– Erik... Eu não quero que você ache...

– Eu não acho nada, Charles – a voz do ruivo saiu séria. – Eu sei que estou apaixonado por você. Eu não sei de que inferno você tirou que é descartável, mas você não é. Não é....

Então, Erik puxou o bailarino para perto e iniciou um beijo profundo e cheio de carinho. Não demorou muito para que eles estivessem deitados no chão por cima da toalha xadrez. Charles deixou escapar um gemido quando os beijos do magnata desceram até seu pescoço. A sensação da barba roçando em sua pele era gostosa e extasiante. E mesmo que tivessem passado a noite ocupados, não se surpreendeu de fato quando percebeu o membro ereto do ruivo roçando em suas coxas. Suas pernas se afastaram mais abrindo espaço para que Erik se acomodasse ali.

– Me deixe ter você... – O ruivo murmurou manhoso.

Tanto a camisa social dele quanto o suéter lilás de Charles acabaram saindo em movimentos rápidos e quase bruscos. Erik acabou dando um sorriso quando constatou as marcas da noite anterior e se pôs a beijar com cuidando cada uma delas. Ele ainda parou no mamilo esquerdo do bailarino e o sugou por instante. Charles gemeu manhoso e logo o puxou para mais um beijo intenso.

Se alguém passasse por ali veria a cena de dois amantes se adorando e sendo esse alguém uma pessoa que não entendesse nada da história daqueles dois, imaginaria, no mínimo um casal de jovens apaixonados que só podiam se amar em segredo, ou então, quem sabe, recém-casados que estariam apenas aproveitando todo o tesão que surge no início do casamento.

 Às margens do lago, em cima da toalha xadrez e na sombra do olmo que estava ali desde sempre, tanto Erik Lehnsherr quanto Charles Xavier experimentaram a melhor sensação da vida deles até então. Fazer amor com alguém que você se sente apaixonada e sabe que te ama de volta.

Depois disso, eles acabaram voltando para casa sem comer nada, mas Erik foi até a cozinha e fez para os dois a única coisa que sabia cozinhar: omelete de ervas finas. Charles provou um pedaço com medo de qual seria o gosto, mas acabou abrindo um sorriso quando constatou que era realmente bom. Quando terminaram foram tomar banho juntos e o magnata fez questão de ensaboar o bailarino por completo.

Aquele dia tinha uma certa mágica no ar que fazia tudo parecer perfeito e dava a sensação de que tudo seria assim para o fim de seus dias. A Erik restava esperar para saber se teria Charles para ele como queria ou se estava completamente enganado...