Parte II
O-o-oh, luzes se apagam
No momento estamos perdidos e achados
Eu apenas quero estar ao seu lado
Erik não sabia o que fazer.
Charles tinha parado de aparecer para visita-lo e não havia um momento do seu dia que ele não sentisse a falta do moreno. É claro, a seu comando, Logan havia ido atrás do bailarino para que ele mandasse notícias, mas a cara estranha com que o segurança tinha retornado apenas o fez ter medo da resposta. E ele não quis ouvir. Não queria ter que ouvir que ele não ia voltar.
Mas o magnata podia sentir a falta dele a todo momento. E aquilo doía.
Não importava o que estivesse fazendo, o Xavier vinha a sua mente. O modo bondoso que ele sorria e a maneira que ele lhe encarava desafiador mesmo tantos anos mais novo. Erik sentia falta de poder chegar perto dele e sentir o perfume bom que ele tinha, mas sentia ainda mais falta de poder beija-lo. Queria poder ouvi-lo falando sobre o último poeta que havia lido e queria ainda mais fazer amor com ele.
Charles havia caído em sua graça assim que o percebeu naquele balé que parecia a tanto tempo atrás agora e, como em todos seus outros casos, o ruivo acreditava piamente que toda aquela vontade que sentia iria embora quando satisfizesse sua luxúria. Mas não foi o caso. Cada segundo que havia vivido até o dia que o bailarino havia decidido se entregar a ele custou o que ele menos esperava acontecer... Ele se sentia tolamente apaixonado. Como se fosse o jovem que ele já não era a muito tempo.
Não entendia como ele, um poderoso magnata, alguém que podia ter praticamente tudo no mundo aos seus pés, estava preso ao pequeno Xavier daquela forma. O bailarino havia tirado seu fôlego desde o primeiro instante e, até então, nada mudara. Se fechasse os olhos e respirasse fundo, a mente lhe buscava a primeira imagem que teve dele. Dançando com a irmã no teatro. Tão bonito quanto... Não, mais bonito que qualquer um dos quadros que ele tinha em sua coleção.
Erik sorriu ao imaginar o riso debochado que o moreno daria ao ouvir um comentário daqueles e, é claro, falaria o quanto ele era ridículo ao falar algo como aquilo. Respirou fundo enquanto se decidia por tomar uma decisão. Ele tinha seu orgulho e nunca deixava que os outros passassem por cima dele. Mas, Charles... Charles era sua perdição. Por isso, levantou-se e foi até o banheiro se enfiar embaixo da ducha gelada. Hoje, ele tinha uma apresentação de balé para ir.
***
Charles não pode evitar de abrir um sorriso quando Moira fez um comentário engraçado sobre sua roupa. Eles estavam prestes a começar mais uma das exibições de O Lago dos Cisnes e ele podia garantir que parecia galante e pomposo com o vestuário do príncipe Siegfried. Moira com os cabelos escuros preso em um coque elaborado estava graciosa com o vestido feito de plumas brancas da Princesa Odette. Na performance eles eram um casal destinado um ao outro, mas foram dali eles nada mais que velhos amigos e, por isso, a McTaggert sorriu de volta para o moreno.
Algum tempo havia passado da decisão que Charles havia feito de não ver mais o homem por qual estava apaixonado. A cada dia que se passava era possível ver o abatimento nos olhos azuis vívidos dele. Logan ainda havia aparecido uma vez como um garoto de recados temeroso em transmitir a mensagem que carregava, mas havia ido embora com a mesma cara que tinha chegado. Se não, pior.
Logo após, ela tinha tentando tirar algumas palavras do amigo, fosse sobre o que Logan havia falado ou sobre como ele estava se sentindo, mas sua insistência só fez com que Charles ficasse irritado. E Charles nunca ficava irritado. Moira sabia que ele era o tipo de pessoa que poderia cuidar e orientar uma centena de jovens sem nunca alterar a voz.
E em toda preparação para mais um dia de espetáculo era como se aquela face retornasse. Ela podia sentir a tensão pesando nos ombros do amigo, mas não sabia como ajudar.
– Vamos lá, Charlie. Melhore essa cara. Eu não quero ser prometida a um príncipe tão emburrado. Você sabe que eu não sou uma daquelas princesas que se ilude por um rostinho bonito e pronto.
Naquele instante, Raven apareceu de algum lugar com os cabelos loiros presos num coque idêntico ao de Moira e usando uma roupa idêntica à que moira estava usando, só que totalmente preta. Uma perfeita Odile, a filha corrompida do mago Rothbart. A loira sorriu e erguendo uma das sobrancelhas, comentou:
– Não mesmo. Ela prefere um corpo forte, malhado e, quem sabe, decorado com algumas cicatrizes.
– O quê? – Charles questionou sem entender.
– Raven!
– Moira!
– Eu ainda não entendi – o moreno comentou mesmo sabendo que seria ignorado pelas farpas que a irmã e a amiga trocavam. Não era uma briga de fato, apenas o resultado de duas personalidades fortes que trabalhavam sempre juntas e precisavam de alguma diversão.
– Se eu soubesse que você ficaria tão chateada por não ter ficado com o papel da princesa Odette eu teria pedido ao senhor Diretor que a lhe entregasse.
– Tudo bem, Moira. Eu me sinto bem melhor de preto. Odile está boa para mim.
– É, o papel de fingir que é outra pessoa lhe cai bem de fato.
– Oi?
– Tal qual uma farsante tentando se passar pelos outros?
– Eu não tentei me passar por ninguém. Se você não tenta suas chances não é minha culpa. Eu tento as minhas.
– Vocês poderiam me explicar o que está acontecendo??? – Charles as interrompeu em um tom acima do que elas estavam usando para ter certeza que seria ouvido. As duas ficaram caladas por um instante se encarando e Moira riu em seco jogando o pescoço para trás.
– O que está acontecendo aqui, irmãozinho – Raven começou a responder com um falso sorriso estampado no rosto. Ela se aproximou um instante para realinhar a roupa que ele estava usando e então completou – É que tanto você quanto a Moira precisam aprender que o mundo não vai responder aos seus pedidos se ficaram parados esperando por eles. O mundo é cruel e a maioria das pessoas nele também. Se encontrarem um ponto de luz em meio a isso tudo, apenas vão atrás.
A loira se virou e sem dizer mais nada se distanciou e foi, provavelmente, em buscar do dançarino que interpretava o Mago Rothbart, seu pai, no espetáculo. Seus pontos eram marcados a partir dos dele e era importante que ficassem sempre próximos. Nisso, Charles sacudiu a cabeça de leve tentando reorganizar as ideias e acabou fazendo uma careta enquanto questionava a Moira:
– O que deu nela?
– Eu acho que você entendeu, Charlie.
– Oi???
– Seu caso com o Lehnsherr.
– Moira...
– Você virou a página sem ter terminado a história.
– Eu não...
– E você está se remoendo por isso. Eu posso ver, sua irmã pode ver e todo mundo que não conhece a história também. Eles só entendem o motivo. – A morena deu de ombros – Sinceramente, é um milagre que você tenha conseguido um papel tão importante no espetáculo estando assim.
– O balé é...
– Eu sei. É maravilhoso. Nos desgasta e nos levas a exaustão e mesmo assim adoramos isso aqui como uma parte importante das nossas vidas. Mas ele não é tudo, Charlie. Existem outras coisas.
– Moira...
– Não adianta você...
– Por que Raven falou sobre você também?
– Porque sua irmã é louca?
– Moira!
– Você sabe que é verdade.
– Não me esconda o que quer que esteja acontecendo, sua...
– Não há nada para esconder, oras – ela disse convicta.
Porém, o Xavier sabia ser mentira porque a amiga começou a se afastar caminhando para longe aos poucos e quando estava certa de algo, Moira era a pessoa mais contundente que ele conhecia. Ela não sairia de perto até ter certeza que o que dizia havia assimilado pela outra pessoa.
– Não fuja de mim, McTaggert! – Charles resmungou na voz mais alta que podia usar.
– Fugindo? Quem aqui está fugindo?
– Não se faça de idiota!
– Eu não faço a mínima ideia do que você está falando.
E antes que ele pudesse reclamar mais alguma coisa, a morena já havia desaparecido em meio à confusão de bailarinas que se aprontavam para a apresentação que estava prestes a começar. Ele bufou alto por estar sendo contrariado, mas por hora não havia muito o que pudesse fazer.
***
Como era de costume, Charles foi ficar ao lado da irmã no pós-apresentação onde as bailarinas ganhavam alguns agrados por seu trabalho feito de alguns fãs e entusiastas. Era normal que de vez em quando aparecesse um indivíduo bem abastado propondo um affair em termos bem subjetivos e indiretos. Raven havia declinado todos sem nem pestanejar e o moreno se perguntava - enquanto fazia uma aposta mental - quantos mais apareciam com o desejo de levar o cisne negro para a cama naquela noite. Ele mesmo recebeu dois ou três buquês de algumas espectadoras e não pode negar que estava feliz em ser reconhecido. Era usual que as estrelas das noites fossem as garotas e aquele momento fosse bem entediante para ele.
Por isso, quando Erik apareceu com um buquê vistoso e um daqueles paletós que o deixava tão bonito, ele odiou ter saído do marasmo para a confusão que virou seu peito. Tinha certeza que estava ouvindo o próprio batimento do sangue. O ruivo fez um cumprimento e entregou o buquê para a irmã, então se virou para ele e disse sério:
– Nós precisamos conversar.
– Erik...
– Charles. Um último pedido, sim?
– Okay – ele consentiu. O bailarino sentia a falta de Erik, mas não podia conviver com a ideia de ter que escolhê-lo ou o balé. A insistência dele para que isso que acontecesse o deixava nervoso e, ironicamente, acabou fazendo que ele escolhesse a dança. Que sempre havia sido seu porto seguro.
Não era o que ele queria, mas ver o magnata a sua frente, com aquele pedido, o fez fraquejar. Lamentou ser tão fraco e enquanto caminhava para um lugar afastado rezou baixinho para ele não o tocasse. Não sabia o que poderia fazer se isso acontecesse.
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