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História Blindness - Carrossel


Escrita por: belovedgrey

Notas do Autor


Olá, pessoas ♥

Sem delongas, peço desculpas por mais um hiato que aconteceu devido os já conhecidos motivos, agradeço pelos novos favoritos e comentários. Amo vocês e vamos ao que interessa!

1 - Este capítulo é, sem sombra de dúvidas, o meu preferido. Por dois motivos: A personagem Britney entregou-se de corpo e alma para o que sente e suas perspectivas. Neste, saberão quase tudo que ela passou na história, relacionada sempre com a visão autoral de realidade. Em segundo, tive a audácia de me inspirar na minha série favorita, aka Grey's Anatomy. Para quem assiste, perceberão ao decorrer algumas citações. Para quem ainda não (vá correndo assistir), deixo os créditos também.
2 - Justin está um amorzinho ^^
3 - Preparem os lencinhos e também os potes, muita fofura!

Desejo uma proveitosa leitura e até lá embaixo :D

Capítulo 9 - Carrossel


Fanfic / Fanfiction Blindness - Carrossel

Nós não precisamos

De nada

Ou de ninguém

Se eu me deitar aqui

Se eu simplesmente me deitar aqui

Você deitaria comigo e esqueceria do mundo?

Eu não sei bem

Como dizer

Como eu sinto

Aquelas três palavras

São ditas demais

Elas não são o suficiente (...)

 

Quando eu tinha cinco anos, minha mãe me perdeu em um parque. Eu não me lembro de muito, exceto que em um minuto eu estava no carrossel e no outro… Ela não estava lá. Eu não me lembro como a encontrei. Eu não me lembro de como cheguei a casa. Tudo que me lembro é o que aconteceu depois. Ela me disse para não me preocupar. Ela me disse que tudo ficaria bem. Ela me disse que era hora de jogar o jogo do silêncio, então eu sabia que não deveria perguntar nada… Ou talvez, eu deveria ter dito a ela… Eu esqueci minha boneca. Eu amava tanto aquela boneca. Deixá-la para trás me matou. Engraçado, não é, o jeito que a memória funciona… As coisas que você mal lembra e as coisas que você nunca esquece?!

Outrora, em meu aniversário de vinte e um anos, já tinha reencontrado meu primeiro amor. Eu me recordo exatamente de cada detalhe, exceto de como e quando tudo começou a desmoronar. Em um segundo ele estava lá, com os joelhos ao chão, curvado a minha frente e pronunciando o tão aguardado pedido: “Pinky, você aceita se casar comigo?”. E eu respondi: “Sim, sim e sim!”. No outro, ele estava quebrando coisas em nosso quarto. Os olhos avermelhados, maxilar trincado e desprezo estampado em seu semblante. Ele me disse adeus. Ali, sem mais nem menos. E eu sentir que era verdade no fundo meu coração partido. Não deveria implorar para que ele ficasse, não mais. Ou então, talvez, eu deveria ter dito a ele... Você o está levando consigo. Deixá-lo para trás me matou, pela segunda vez. Engraçado, não é, o jeito que a memória funciona... As coisas que você mal lembra e as coisas que você nunca esquece?!

Portanto, em meados dos meus vinte e seis anos, esqueci-me da garota que fui um dia e me dei conta da grande piada que havia me tornado. Tudo não passava de um borrão, senão o desejo de redenção. Ele surgira como uma válvula de escape e de repente, tornou-se meu grande erro. As viagens e hospedagens em hotéis cinco estrelas. Os inúmeros clubes que ambos visitavam após os shows da sua turnê, junto dos dançarinos. Drinques e mais drinques solitários. Sexo. Sexo. Sexo. Insaciável. Ele dizia: “Eu vou foder você todinha, pequena.”. De um jeito enlouquecedor, sabe? Daqueles que você perde a noção do perigo, as pernas tremem e o coração acelera. Jogou-se. O que tinha a perder? Somente então, sem explicação plausível, ele mostrara sua verdadeira face. E eu sentir, pela terceira vez, que era meu fim. Foi assim que descobrira, dolorosamente, seu valor. O quanto perdeu e o quanto tinha de lutar para reconquistar. Ao contrário das outras ocasiões, insistir. Muito. Humilhei-me até não sobrar absolutamente nada. No fundo, eu sabia que não devia. Ou talvez, pudesse ter indagado: “É impressão minha, ou você desde o princípio fora um desastre iminente?”. Deixá-lo para trás me matou, pela última vez. Engraçado, não é, o jeito que a memória funciona... As coisas que você mal lembra e as coisas que você nunca esquece.

A memória de ninguém é perfeita ou completa. Nós confundimos as coisas. Perdemos a noção do tempo. Estamos em um lugar… E então, em outro. E tudo se parece com um longo e inescapável momento. É como minha mãe costuma dizer... O carrossel nunca para de girar.

E o meu não parou...

Vê-lo a poucos metros de distância, estático, vestido a rigor e com um sorriso despreocupado no rosto, daqueles que te deixam sem fôlego, deixou-a em transe. Um flashback percorreu sua mente obrigando-a trazer à tona todos os resquícios das lembranças que criaram juntos no passado. Quantas vezes não endireitou sua gravata que sempre ficava torta, pois ele jamais teve uma coordenação motora decente? Ou, deu aquela costumeira volta ao redor de si mesma, propositalmente? Naquela época, ela sabia muito bem o poder que exercia sobre todos, principalmente sobre seu amor. E Justin adorava, os olhos ressaltavam um brilho azulado inconfundível todas as vezes que a reencontrava, não por vislumbra-la como um trunfo, mas por compreender o quão sortudo era em tê-la ao seu lado.

No entanto, não demorou muito tempo e a realidade ansiava por gritar o seu nome, a fim de fazê-la enxergar, de uma vez por todas, que ambos não estavam mais no mesmo patamar de sanidade. Britney quis fugir, mas escolher não era uma alternativa. “Eu não tenho outro lugar para ir, estou sozinha e sem carro.”, pensou. Resolveu, pela primeira vez em quatorze anos, encará-lo sem máscaras, afinal, estava visivelmente destruída e havia gasto todas as suas energias para chegar até ali; não tinha reservas para tentar fazê-lo concluir algo que fosse diferente do que os tabloides e afins dissipavam em relação a si.

Sendo assim, deu-lhe um voto de confiança e fora, felizmente, surpreendida. Aquele estranho conhecido mostrou-se digno do garoto gentil que conhecera na infância. Divertido e altruísta, sem ironias e vinganças incomplacentes. Apenas o bom e velho Justin, sem remorsos à primeira vista.

Quando, em seus sonhos mais remotos, imaginou contemplar Preston aninhado nos braços do único homem que amou um dia? E, acima de tudo, observar o tamanho cuidado com o qual Ele o segurou, protegeu e preocupou-se? Em míseros minutos, Justin Timberlake fora capaz de ser a figura paterna ideal que tanto projetara para seu filho, coisa que o seu maior pesadelo, sequer se esforça para ser. Naquele instante, novamente, ela sentiu o peso de suas más escolhas recaírem sobre seu pequeno corpo e institivamente, começou a chorar.

Ao experimentar aquele carinho tão clássico no passado, repetir-se, Britney abaixou a guarda que ainda insistia em manter como escudo. “Ele não pode continuar a me ver desse jeito. Revelando fraqueza a cada suspiro. Você não pode chorar, Britney. Não agora, não a frente dele. As pessoas costumam usar isso contra você.”, devaneou, no entanto, seu emocional prevaleceu. A mão esquerda dele afagando-a, grande, quente e macia. Ali, exatamente no mesmo local de anos atrás. Ela necessitava de atenção, de alguém que se fizesse presente não só com palavras, mas com atitudes. Ela precisava de alguém que ao menos naquela noite, escolhesse ficar. E Ele escolheu.

Seria uma má ideia, Stinky?!

Após o jantar, – no qual Justin a assistiu sem desviar o olhar ao menos por um milésimo, ouvindo-a falar sobre seu filho, carreira e aspirações – ambos entraram em um acordo justo:

– Eu lavo os pratos, senhora Spears.

– Senhora? Eu só tenho 35!

– Estou vendo até um fio de cabelo branco bem aqui – apontou, fazendo-a gargalhar.

– Idiota! – empurrou-o, divertida. – Então eu arrumo a bagunça que o senhor fez e enxugo os pratos. – disse.

– O.K., resmungona.

Somente ao término, dirigiram-se ao sofá da sala de estar. Britney sentou-se do lado oposto, abraçando as suas pernas, encolhida, enquanto ele cruzou as pernas e continuou a fita-la, curioso.

– Como você e Cade se conheceram?

– É uma boa história! – ela sorriu. – Há sete anos eu estava na festa de aniversário de uma grande amiga minha, em Las Vegas. Cade é advogado do escritório Hudson’s, onde, por acaso, meu pai acabou se tornando sócio majoritário anos atrás, ao saber que o Sr. Patrick, pai do Cade e amigo de infância, viu seu negócio ir do topo às ruínas, aos poucos e precisava de um novo investidor, vamos assim dizer.

– Certo e onde entra o Cade?

– Superprotegida.

– Como?!

– Após o meu “colapso” – revirou os olhos, irônica. – meu pai enlouqueceu e me proibiu de fazer várias coisas.

– A tutela.

– Sim. Ele só quis me proteger e eu serei eternamente grata. Mas, tudo tem um limite. Nesse caso, eu fui à festa sem avisá-lo e acabei causando um desgaste imenso. Acabou que ele pediu ao Cade para ir atrás de mim. Para minha sorte, Cade foi incrível e ao invés de dizer onde eu estava, de fato, fez algumas omissões e tudo ficou bem.

– A partir daí surgiu uma grande amizade.

– Sim.

De onde estava ela pôde vê-lo encará-la, sem pudor ou qualquer cerimônia. E, ao invés do olhar brilhante e charmoso de instantes atrás, se deparou com um tão comum: penoso. Podia jurar, sem sombra de dúvidas, que Justin sentia pena dela.

– Não precisa me olhar assim.

– Assim como?

– Não lamente, Justin. Estar sob tutela é o menor dos meus problemas, pode crer.

– Desculpas. – ele levantou-se, sentando-se agora a sua frente, na mesinha de centro. – É tudo tão surreal.

– Pois é. – suspirou, com ar de tristeza. – Mas não quero ser o tipo de pessoa que senta e reclama. Pela primeira vez em muito tempo, sinto que posso tomar o controle da minha vida, literalmente.

– E você pode. – disse, colocando sua mão direito sobre o joelho dela. – Eu posso te ajudar.

– Justin, de verdade, não precisa. – falou, retribuindo o toque ao pôr sua mão esquerda em cima da dele. – Você já fez muito ficando ao meu lado essa noite.

– Não foi nada demais. – Justin sorriu, ficando de pé novamente e espreguiçando-se. – Já passa da meia-noite. Se você não se importar, poderíamos assistir a um filme.

– Eu não sei... Preciso ver como o meu filho está. E você tem uma família que precisa de você, certo?

Silêncio.

Merda.

Merda.

Merda.

“Eu deveria ter permanecido de boca fechada.”.

– Claro que sim. – ele quebrou o silêncio. – É que eu avisei a Jessica que só chegaria pela manhã, pois estaria na festa com a equipe do filme.

– Mas você não está com a equipe do filme, não mais.

– Eu sei, é que...

Ufa! Barulho de celular tocando. Salva pelo gongo!

“Não se vá, Stinky, mesmo que eu o mande embora.”.

– Deve ser o meu. – falou, saindo da sala de estar e retornando pouco depois. – Era o Cade.

– O que ele queria?

– Saber se deu tudo certo com o terno e gravata.

– Você disse que eu estava aqui?

– Não, apenas disse que havia deixado a chave com o porteiro e não retornaria mais a festa. Era para dizer?

– De modo algum. Ele viria correndo e a festa é uma causa muito mais importante.

– Não diminua seus problemas.

– Eles podem ser adiados por hoje. – levantou-se. – Vou conferir o Preston, enquanto você escolhe o filme.

– Terror?

Ela fez uma careta e mostrou-lhe o dedo do meio.

“A realidade já é aterrorizante demais, baby.”.

O braço está doendo, mas não tanto quanto antes devido aos anestésicos que tomara. Ela precisava descansar. Não tinha dado trégua ao corpo até então, uma hora, ele a obrigaria a parar. Na névoa da mente que acaba de acordar de um sonho, Britney está ficando com mais frio, mais medo. E se acontecer de novo? Será que sobreviveria? Sentia-se exposta. Exposta e dopada. Todas as perguntas que Ele fazia, sua curiosidade. Interesse forjado de gentileza ou vice-versa? Será que Justin seria capaz de tamanha crueldade? “Eu não tenho respostas para explicar como cheguei até aqui.”, ela pensava. Só tinha a plena convicção de que ser decepcionada mais uma vez, por ele, seria uma bela cartada final.

“O carrossel nunca para de girar.”.

No quarto, sentou-se ao lado do seu pequenino e retornou a chorar, baixinho, sem alarde. Chora porque deixou ser machucada por Jason, outra vez. Chora por ter perdido toda a dignidade que havia reconquistado duramente após seu último casamento. Chora por ter reencontrado o grande amor da sua vida nesse estado. Chora pelo mesmo está sendo tão bom, mas ainda assim, duvidar de tamanha bondade. É uma reação involuntária causada pelo que o mundo tem feito consigo. Ele é tão inescrupuloso. Chora por razões demais para explicar. Mas sabe que parte disso é porque descobriu que Preston é o único capaz de mantê-la de pé, mesmo que apenas pelo tempo suficiente para continuar a viver. E, chora, finalmente, por ter certeza que investir no divórcio, é colocar em risco a guarda do teu suporte.

“Eu não posso perdê-lo. Deixá-lo para trás, Preston, me mataria, pela quarta vez.”.

– Te amo. – sussurrou, enquanto acariciava os ralos cabelos amendoados. – E prometo, não vou desistir. – depositou um beijinho na testa, respirou fundo, enxugou as lágrimas e retornou à sala.

– Está tudo bem? – Justin perguntou.

Britney assentiu, acomodando-se próximo a ele.

– Foi um cisco. – omitiu, referindo-se aos olhos que provavelmente deviam estar avermelhados. – Curtindo A Vida Adoidado?

– Para relembrar os velhos tempos. – entregou-lhe o edredom. – Caso esteja com frio.

– Você sempre muito sábio. – ela sorriu, enrolando-se e colocando os pés em cima do sofá. – Há espaço para dois aqui dentro, caso não se importe. – sugeriu.

– Vou aceitar o convite. – riu. – Eu não lembro quase nada desse filme. Só espero que possamos nos divertir tanto quanto a primeira vez que assistimos.

– Eu também, Justin. – encostou a cabeça cuidadosamente em seu ombro.

– Como está o braço?

– Shiuuu!

– O.K., rabugenta.

Em poucos instantes, ela se pergunta se o que está acontecendo com ela é uma coisa horrível. Apagar. O que vai acontecer com o Preston? Vai ficar bem se a mamãe simplesmente dormir? Se o Jason aparecer e leva-lo para longe?

E pronto.

O corpo dela relaxa, pequeno e esbelto, junto ao dele. Em sua mente, Justin a observa, mas ela não tem forças suficientes para abrir os olhos e confirmar. Então, enquanto ele lhe pergunta algo referente ao filme, Britney, a capitã daquele infinito pesadelo, apaga totalmente. Recebida pelo calor e aconchego daquele que escolheu ficar.

– Britney? – Justin abaixa a cabeça cautelosamente e sorrir ao perceber que ela havia adormecido.

Com cuidado para não acordá-la, pôs o braço direito ao seu redor, puxando-a para perto de si. Subiu a coberta, protegendo-a melhor do frio e de imediato, sentiu o cheiro de ervas exalar do longo cabelo loiro. “Eu vou passar a usar o mesmo shampoo, se este fizer lembrar-me dela, Cade.”. O rosto não emanava tranquilidade, pelo contrário, agonia e aquilo lhe destruía. Gostaria de poder fazer mais por ela. Porém, apesar de concordar em parte com o que dissera dias atrás quando a chamou de “estranha que costumava conhecer”, sabia o quanto Britney, na verdade, não mudou absolutamente nada. Orgulhosa. Rabugenta. Louca de pedra. Apaixonante. Acontece que lá no fundo, quando a tem do seu lado, ele se transforma exatamente na cópia – rebuscada – do garotinho que fora um dia e ao contrário de outrora, não iria embora tão fácil assim.

“Eu não vou desistir, baby.”.

***

 

A figura sombreada no assoalho de madeira da cozinha deixava escapar solidão por todos os poros de seu corpo cabisbaixo.  O fogão a alguns metros de distância, na parede oposta, parecia visualmente agradável e tão admirável quanto um pôr do sol em Maui. A chama flamejava e o cheirinho de chá de camomila lhe acalmava os nervos que há muito estavam à flor da pele e não a deixavam relaxar. Nunca gostara muito da bebida, contudo, desde que despertara do abraço dele, necessitava de ajuda para prosseguir aquele longo dia que estava por decorrer. Os efeitos colaterais são tão variáveis... Dores musculares, enxaquecas, pavor, aversão e o incurável, sua grande tristeza.

7h08, domingo. Ao despertar, deparou-se com um peso pendendo sobre si. Era ele. Dormia profundamente. Tão sereno e lindo! Extremamente lindo. Ah, como ela adoraria permanecer naquele casulo por mais algumas horas... Entretanto, ruídos bem próximos do cômodo que estavam prevaleceram fazendo-a levantar, com cuidado. Dirigiu-se até a origem do som e... Algazarra! Cade e Preston divertiam-se jogando Just DanceThriller parecia à trilha sonora perfeita. Observou-os em silêncio, sorrindo, ao lado da porta. Seu garoto transbordava alegria e naquele instante, sentiu-se extremamente grata ao amigo.

– Mamãe! – Preston correu em sua direção, jogando-se em seus braços assim que a viu. – O tio Cade me levou para comer fast food e depois começamos a jogar Just Dance!

– A parte do café da manhã improvisado era segredo, pirralho. – Cade protestou.

– Cade! – ela gritou, fazendo careta. – Custava preparar alguma coisa saudável? – reclamou.

– Cale a boca. – deu de ombros, passando por ela e sussurrando “exijo uma explicação” em seu ouvido.

Ela assentiu, retomando sua atenção para o filho.

– Sentir tantas saudades, meu amor! – encheu-lhe de beijinhos e cócegas.

– Mãe, eu estava aqui o tempo todo. – explicou-se, levando as pequenas mãozinhas para suas bochechas, retribuindo o carinho.

– Eu sei. – suspirou.

– O braço está curado?

– Ainda não. Logo, logo ele ficará, certo? Não precisa se preocupar. – ela sorriu. – Você tomou banho e escovou os dentes?

– Sim. Tio Cade lavou minhas roupas e elas estão novinhas em folha! – apontou para a camisa recém-lavada.

– Muito bem, rapazinho. – o colocou no chão.

– Quem é aquele homem no sofá?

– Um velho amigo.

– Tudo bem. – deu de ombros. – Posso jogar mais um pouco?

– Claro.

Em seguida, juntou-se ao advogado na cozinha e relatou todo o ocorrido das últimas 24 horas, sem deixar escapar detalhes. Sob protestos e xingamentos, acompanhou o mesmo levantar e sentar-se inúmeras vezes, indignado.

– Eu vou matar esse filho da puta. – esbravejou. – Ele te derrubou da escada, Britney!

– Por favor, Cade. – ela balançava a cabeça. – Eu não quero brigar, apenas o divórcio. – voltou a chorar. – Você pode pegar meu caso sem que meus pais saibam?

– Ei, calma. – abraçou-a. – É claro que sim. Mas eles cedo ou tarde irão saber, afinal, Jamie é seu tutor. Aliás, por que você não quer que seus pais interfiram?

– Eles sabem de tudo, segundo Jason. E não fazem absolutamente nada para me defender! – gritou, em meio a soluços.

– Porra!

– Desculpa, mas eu não pude deixar de ouvir. – Justin falou, aproximando-se. – Meu advogado é ótimo, um dos melhores em LA. Posso indicar seu caso e você terá a vantagem de alguns dias, quem sabe até meses, sem que seus pais tenham conhecimento. Ele é autônomo, não é sócio de escritório algum.

– Cade? – Britney recompôs-se, saindo do abraço do amigo.

– É uma boa ideia. O fato de eu trabalhar no escritório Hudson’s, dificulta questões de sigilo para com Jamie, que atua como sócio majoritário.

– Então a resposta é sim. Mas quero que o Cade auxilie e esteja por dentro de todo o andamento.

– Sem problemas.

– Eu posso confiar em você, Justin? – encarou-o.

Vou te provar que sim.

– Ual, que tensão! – Cade comentou, desfazendo os olhares. – Esse chá já não está bom, tampinha?

– Provavelmente.

– Tampinha? – Justin riu. – Você é um cara muito legal, Cade.

– Idiotas.

Campainha tocando...

Jason.

Em um sobressalto, pensa. Só pode ser ele. Ele é esperto o suficiente para saber quais decisões sua esposa tomaria. Mas-s, mas a entrada dele no condomínio é proibida. Socorro. Ela queria gritar.

O coração pulsa a toda velocidade. Seu braço esquerdo, forçado a superar a exaustão da noite anterior, resiste. Medo em sua forma mais pura. Pela fisionomia de Cade e Justin, ambos pensaram o mesmo que ela.

Britney inspira e expira. Calmamente. Tentando a todo custo manter a tranquilidade. Seu filho estava seguro no quarto. Ela não estava sozinha, não desta vez. “Eu quero gritar.”.

O que mais pode fazer? O que mais pode fazer além de fugir? Trawick veio busca-la. Será que vai conseguir? De repente, ela começa a suar. Um arrepio percorre suas costas e por instinto, só pensa em correr dali.

Como se tivessem acesso aos seus pensamentos, Justin segura suas mãos e a puxa para o quarto. Ele fala alguma coisa que ela não consegue compreender. A respiração falha. “Eu vou desmaiar.”.

Tudo vai ficar bem. – ele disse, apertando sua mão esquerda, sem desgrudar.

Som de porta sendo aberta...

– Olá, Trawick. O que sua ilustre presença deseja? – sarcástico, Cade indaga, abrindo a porta somente o suficiente para que pudesse passar.

Cadê ela? – grunhiu, forçando a passagem.

– Britney não esteve aqui. – disse, com firmeza.

– Eu não vou perguntar de novo. Cadê a vagabunda da minha mulher? – gritou, tamanha a raiva que sentia.

Bingo!

Ela sabia. Sempre soube. Apertou Preston contra si, enquanto uma lágrima de desespero caía sobre seu rosto pálido.

Justin, eu preciso de você.”, balbuciou. “Eu não vou a lugar algum.”, respondeu.

– Desculpa, mas você é surdo? Britney não está aqui. Ou você dar meia volta e tira seu traseiro babaca daqui, ou chamo a segurança.

Ela é uma mulher morta. É bom avisa-la enquanto há tempo. – ameaçou. – Vou sugar tudo que é mais importante e deixá-la absolutamente sem nada.

– É o que veremos. – deu uma piscadela, fechando a porta com força e ligando para a segurança, a fim de se certificar que ele saia do prédio.

Alívio.

Parece que seu braço está pendendo do corpo, de novo. No entanto, ela o força, apertando Preston ainda mais contra seu peito. O rumo para onde está levando sua vida pode não existir, de fato. A luta constante, como se estivesse às cegas pode não dar em nada. Será que quando chegar ao seu destino, estarão seguros? E se o que ela estiver procurando não estiver lá?

– Está doendo.  – Preston tentou sair, assustado.

Ofegante, ela o solta aos poucos. Fitou o pequenino em seu colo e mais lágrimas caíram. Justin continua a falar, mas sua voz parecia tão distante. “Eu preciso sair daqui.”.

– Britney, ele já foi embora. – finalmente o escuta.

Ele vai voltar.

Tudo vai ficar bem. – ele repetiu, tentando consolá-la.

– Eu não posso te perder, Preston. Eu não posso. Não posso. Não, não não! – gritou, aos prantos.

– A senhora está me assustando, mamãe.

Desculpa, meu amor. – encolheu-se no chão.

Cade adentra o quarto e tenta ajudar, mas é em vão. Ele então tira o garoto do cômodo e o leva para sala, onde liga a TV, colocando em um programa infantil qualquer.

Você e seu filho estão a salvo, Pinky. – Justin diz. – Não precisa se preocupar.

Ela fungou, levantando a cabeça somente para encará-lo de novo.

– Não assuma o papel de protagonista. Não seja o cara que finge estar sempre presente, pois você não esteve. É a minha vida. Preston é meu filho e você não faz parte dessa família. Você escolheu não fazer e voltar atrás não é uma opção. – despejou. – Agora vá embora.

No fim das contas, ao completar trinta e cinco anos, percebi que estava perdida e o quão seria difícil me reencontrar. Tudo se tornou uma grande farsa. Sentia-se burra. Frágil. Inútil. Ele surgira com respostas em meio a uma enxurrada de perguntas incompreendidas. O belo sorriso ligeiramente mau caráter. O estilo livre e ao mesmo tempo responsável. O modo como a convencia de fazer absolutamente qualquer coisa, desde que esta, fosse do seu interesse. Jason Trawick chegara de mansinho, despretensioso. Ganhou-me com beijos lentos e demorados, enquanto recuperava-se do infinito vendaval que deixara para trás. “Mal sabia ela que o pior estava por vir.”. Sr. e Sra. Spears viram no rapaz, a oportunidade brilhante de livrar-se da própria filha. Xeque-mate. Ele dizia: “Fique comigo, docinho.”. Quantas foram às vezes que insistiu? Inúmeras. E, somada a solidão na qual estava mergulhada, acabou por ceder. Eu quis acreditar. Precisava. Chegou a pensar que ele a amava, de verdade e podiam construir um futuro juntos. Enganada. Lentamente, o esposo dedicado e fiel, deu lugar a um perigoso desconhecido com quem dividia a cama. Tentou partir. Tentou sim. Como anteriormente, rebaixou-se, embora agora tivesse muito a perder. E eu sentir, pela quarta vez, que era meu fim. Talvez pudesse ter sido mais firme ou até ultimado: “Eu vou sobreviver sem você.”. A ideia de deixá-lo para trás me matou, antes mesmo que o deixasse, pela quarta vez. Engraçado, não é, o jeito que a memória funciona... As coisas que você mal lembra e as coisas que você nunca esquece.

Às vezes, temos que nos perder para nos encontrarmos. E, às vezes, nos encontramos apenas para nos perdermos de novo. Você nem sempre pode controlar as coisas que vão te ajustar a deriva. E enquanto você fica parado olhando para a vida que está para deixar para trás, você tem que aceitar que acabou, está perdido, assim como você. Tudo que pode fazer agora é ficar bem firme e tentar permanecer aberto para onde quer que o vento te leve depois.

O carrossel nunca para de girar, mas ainda quero que ele me leve a você, baby.”.

Esqueça o que nos disseram

Antes de ficarmos muito velhos

Mostre-me um jardim que está se abrindo para a vida

Vamos passar o tempo

Perseguindo carros

Em volta de nossas cabeças

Eu preciso da sua graça

Para me lembrar

Para encontrar a minha própria (...) – Chasing Cars, Snow Patrol.


Notas Finais


Pergunta de sempre: O que acharam?

Devo frisar que é importantíssima interação e opiniões de você, afinal, escrevo para vocês e caso não estejam gostando de algo ou querem sugerir possíveis rumos, estou aberta. Ficarei bastante feliz! COMENTEM!!!

Basicamente o capítulo foi focado em nossa protagonista e na sua visão em relação aos últimos acontecimentos, principalmente os que encaixam o reencontro com o Justin no anterior e o desenrolar do divórcio. Gostaram de saber mais detalhes sobre o término dos dois? Kevin? Fiz o máximo para resumi-los sem deixar cansativo. É importante lembrar também (não sei se já tinha dito antes), que o motivo do término em Blindness será contado de um jeito diferente!
Sabemos também o que de fato aconteceu com o Jason (alguém aceita bater nele por mim?) D: Onde já se viu derrubar nossa fada da escada?! A ideia de colocar uma aparição do mesmo foi algo que fiquei duvidosa. Mas espero que tenha feito jus. Quis mostrar o quão medo Britney sente em relação a ele. Será que o monstro vai conseguir pegar a guarda total do Preston?! (Vamos orar para que não!).
O meu amado Cade apareceu pela primeira vez (VIVA!) ♥ Amei escrevê-lo. E pretendo investir cada vez mais em seu senso de humor, haha :p Ele cuidando do nosso rapazinho ^^
Cenas da Britney e Preston? Partiu meu coração. Me emocionei de verdade, pois relacionei tais cenas, com o que eu imagino ter acontecido lá em 2007 </3
Será que Britney dará continuidade ao divórcio após esse final? E ela expulsando o Justin? Buáaaa!

No mais, "o carrossel nunca para de girar" ♥
Espero que tenham gostado tanto quanto eu e até o próximo!
P.s.: Chasing Cars também foi trilha sonora de vários episódios de Grey's e como a letra se encaixa perfeitamente em Blindness, resolvi colocar como tema :D


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