História Blood and Moon - A Predestinada - Mudança

Eu observava minha mãe dirigir, um sorriso iluminado brincava no rosto dela enquanto cantava “o sítio do vôvô MC’Donald” com meu irmão de 6 anos. Ela estava realmente feliz de estar saindo de Los Angeles para uma cidadezinha pacata e sem sal do estado de Vermont, Essex. O que não me deixava muito feliz, meus amigos de uma vida toda ficaram, a minha metrópolis favorita já era e a minha futura carreira de atriz nem se fale, não me leve a mal, estou feliz por minha mãe se livrar de um casamento furado com um idota de carteirinha que era meu ex-padrasto, então se for para analisar isso, sim estou muito feliz.

Nós vamos morar na casa de campo que minha mãe e meu falecido pai haviam comprado para passarmos os verões, lembro pouco dela já que eu era pequena, a reformamos e agora ela está novinha. É nasci em Essex, mas faz muito tempo que não ponho meus pés nessa cidade, deve continuar a mesma de sempre, cidades minúsculas dificilmente mudam.

Lá mora meu tio Ben, casado com tia Sarah irmã de meu pai. Eles tem dois filhos o Jonas e a Mikelly, que a propósito faz uns dez anos que não vejo.

Pelo jeito já estavamos quase chegando, eu sabia pois a vegetação estava cada vez mais densa. Isso aí Vermont mostrando seus 77% de mato. É havia quase me esquecido de como tudo aqui se assemelha com a casa do Tarzan.

Quando chegamos na cidade passamos pelo centro dela, era tudo tão comum. Nossa casa de campo era afastada do centro da cidade,“sem vizinhos para pertubar”, como papai dizia, a única coisa próxima dela era a propriedade do tio Ben e ainda assim ficava quilômetros de distância. Meu tio era fazendeiro e agricultor.

E lá estava ela, toda de madeira antes branca e agora rosa malva, sua varanda estava um doce, ainda mais com aquele balanço, tinha certeza que as bonequinhas de porcelana sairiam a qualquer momento pela porta. Ao seu redor havia um canteiro de flores que mamãe plantou para se enterter e claro que em volta dela havia árvores grandes oferecendo sombras frescas. Ali perto via-se um celeiro.

Mamãe mostrou a casa para mim e meu irmão pois não tinhamos visto a reforma. Linda e alegre, se resumia nossa moradia, a cara da mamãe.

Meu quarto era espaçoso, as paredes da cor lilás, cortinas de renda branca estavam penduradas na janela, uma cama de casal com colcha roxa, um ropeiro grande de madeira, um rack para meu notebook, acima deste uma prateleira para colocar meus livros. Amei o meu cantinho, sem contar que havia uns espaços legais para colocar meus posters.

Arrumei todas minhas coisas e me senti um pouco exausta, então me deitei. Dormi por meia hora. Nesse tempo sonhei que algo iria acontecer, mas não sabia o que era, eu esperava alguma coisa, mas não lembrava o que. Do nada acordei, minhas mãos estavam cerradas em punho, eu suava e ofegava. Porque não conseguia lembrar do sonho? E porque estava daquele jeito, suada e nervosa? Por quase toda minha vida, sonhei com sonhos desse tipo. Desde criança, meus pais chegaram à procurar especialistas, mas nada funcionou.

Levantei da cama deixando para lá toda essa esquezitice e fui procurar minha família. Mamãe estava arrumando a sala.

- Oi filha, pode me dar uma mãozinha? – Ela perguntou. Minha mãe era bonita e conservada para sua idade. Usava um lenço na cabeça para evitar o pó em seu cabelo negro e curto, alguns cachos rebeldes escaparam do lenço, mesmo assim gostei de seu visual.

- Claro mãe. – Respondi.

Comecei guardando os livros na estante.

- Tio Ben e Sarah ligaram, eles virão nos visitar amanhã.

- Legal , faz um bom tempo que não os vejo. – Falei.

- Sei disso, eu também. – Ela pausou. – Já fiz sua matrícula e a do seu irmão na escola semana passada quando vim ver o término da reforma.

- E o que achou do lugar? – Perguntei.

- Hmm, eu achei ótimo, conhecendo você, com certeza irá gostar. – Minha mãe riu.

- Espero que sim. – Suspirei.

- Sei que você não ficou feliz a principio por nos mudarmos pra cá, mas tente ver o lado positivo Elisa, pelo menos nos livramos do Jerry. – Minha mãe adorava me chamar de Elisa, afinal nem sei porque colocou meu nome de Ellizabeth, nome horrivel, prefiria mil vezes Elisa, mas já que meu nome era feio mesmo, eu prefiria ser chamada de Elli, mas mamãe nunca concordou com meu apelido moderno por isso me chamava de Elisa. E quer saber? Não me importava com nada disso de nomes pois a melhor coisa na vida é poder ver a pessoa que mais amamos sorrir abertamente e com vontade por ter feito a escolha certa.

E ve-la assim também me deixou feliz e já não importava mais onde estivessemos.

Ao fim do dia conseguimos arrumar a sala e a cozinha. Então fomos descansar pois o outro dia guardava muitas novidades.

As 6:00 do dia seguinte eu já estava em pé e pronta para meu primeiro dia de aula.

- Não vai comer nada Elisa? – Perguntou minha mãe.

- Ah sim aceito uma maçã, estou tão nervosa que a última coisa que eu poderia pensar seria em comida. – Falei sendo sincera com ela, afinal mesmo não achando a mudança as mil maravilhas, ainda assim eu estava anciosa para conhecer a escola. Mamãe soltou um risinho com um sussurrinho “Esses jovens...” divertindo-se. Ela se virou para meu irmão. – E o meu garotão? Já comeu seu cereal?

- Já mamãe. – Disse Natan sorrindo para ela.

Eu peguei minha maçã pensativa, como será a tal escola?

Entramos no carro de minha mãe, ela também teria seu primeiro dia de trabalho em uma industria de agropecuária e estava anciosa. Nos deixou na frente da escola prometendo que viria nos buscar assim que nosso dia de aula terminasse. Meu irmão saiu em disparada para a parte de ensino fundamental da escola.

Pois é, a Essex High School não era velha e nem um pouco pequena, na verdade era bem grande, como minha mãe havia dito, eu havia gostado de seu visual. Eu me sentia um peixinho fora d’água, ainda mais pelo fato de estar em um território desconhecido, ou talvez fosse pelos olhares dos alunos conforme eu ia passando?

Fui logo procurando a secretaria, era um lugar claro e aconchegante comparado com o friozinho que fazia na parte de fora.

Havia uma moça atrás do balcão, devia ser uma estagiária.

- Pois não? – Ela disse com um sorriso no rosto.

- Ah sou uma aluna nova, minha mãe me matriculou na semana passada.

- Só um minuto. – Ela disse mechendo em alguns registros ao lado do computador. Ela pegou uma ficha. – Ellizabeth Glandier?

- Sim.

- Ok, tenho aqui seu horário e o mapa da escola, se precisar de alguma coisa é só me procurar, meu nome é Alby. – Ela falou toda prestativa.

- Ta bom muito obrigada.

Conforme estava no meu horário, agora eu teria aula de  Literatura. Peguei o pequeno mapa da escola para poder me localizar. Então alguem esbarrou em mim.

- Foi mal, não tive a intenção. – Olhei para um garoto de cabelos castanhos e olhos cor de mel, do tipo Steven R. McQueen, bem bonitinho.

- Ah não foi nada. – Falei.

- Hei você é nova por aqui, nunca te vi antes. – Disse ele se aproximando de mim com uma bola de basquete na mão, a razão por ter esbarrado em mim. E a propósito não tinha percebido como ele era alto e forte também, o tipo que arrancaria sorrisos e suspiros na minha antiga escola.

- É o que parece, cheguei ontem na cidade.

- Bom, seja bem vinda. Sou Josh e você?

- Ellizabeth, mas pode me chamar de Elli. – Falei apertando sua mão.

- Legal Elli, você esta indo para sua próxima aula?

- Sim Literatura.

- Eu também, vem te mostro onde é.

Conforme nós andavamos pela escola percebi os olhares das garotas para ele. Certo o garoto era popular, mas nem dava atenção para nenhuma das garotas que o encarava e olha que tinha umas líderes de torcida tipo Barbie sexy que o devoravam. Eu já estava meio sem graça, afinal logo o cara mais popular tinha que esbarrar em mim?

- Pronto chegamos. – Disse ele mostrando sua dentição perfeita.

- Obrigada. – Falei soltando um sorriso timido pra ele.

Me dirigi até o professor e mostrei a matricula ele pediu que eu escolhesse um lugar para sentar. Visualizei a sala e escolhi um ótimo lugar no fundo da sala.

Quando começou a aula o professor falou:

- Bom dia turma, temos uma aluna nova como vocês podem perceber. Gostariamos de desejar-lhe boas vindas. Agora por gentileza poderia se apresentar a todos? – Ele insentivou com um sorriso cativante, mas eu óbviamente não percebi pelo fato de estar totalmente envergonhada, odeio ser o centro das atenções. Ele realmente não fez isso, fez? Ah droga!

- Er, oi. Meu nome é Ellizabeth Glandier, mas todos me chamam de Elli, tenho 17 anos e morava em Los Angeles, mas sou daqui mesmo de Essex. – E então desabei na cadeira.

- Obrigada Ellizabeth. Gente sei que todos estão loucos para conhecer melhor nossa nova colega, mas temos que retornar a aula. – Disse o professor me salvando de vários olhares analistas que logo se transformariam em vozes anciosas.

- Oi sou Leslie. – Uma garota ao meu lado me comprimentou sussurrando. Ela tinha olhos castanhos contornados de preto, sua pele era muito bonita do tipo que ficaria dourada em poucas horas no sol de Los Angeles, seus lábios delicados estavam pintados de um marrom claro, seus cabelos lisos e vermelhos estavam prendidos em um coque com dois palitos. Ela não parecia nem um pouco ser de Essex, parecia uma nova-iorquina.

- Oi. – Eu disse sorrindo.

- Você é mesmo de Los Angeles?

- Sim. – Respondi.

- Legal, eu era de Washingtow DC. – Haha eu sabia! Ninguem vence minha intuição.

- Sério? Nossa e como você veio parar aqui? – Perguntei.

- É eu sei, cidade pequena, acontece que eu precisava acalmar as coisas na minha vida por isso vim morar com minha vó. – Ela disse sorrindo serenamente.

- Entendo, deve ter acalmado bastante.

- Ah nem sabe até de mais.

E foi assim que fiz uma grande amiga, Leslie era encantadora, sua inteligência ia além de um simples rostinho bonito.

A manhã na escola seguia calmamente conforme eu ia conhecendo meus professores e os alunos de todos os tipos que aquela cidade poderia abranger. Além de Leslie, fiz outra amiga Joenna, uma garota com várias habilidades, manipulava o jornal local da Essex High School, fazia parte do comite de alunos e ainda era lider de torcida, wow! Mas sua maior habilidade era cheretar a vida alheia, sim a garota era a verdadeira CNN em carne e osso. Juro que tentei me manter afastada dela, acontece que minha timides perdeu para o jeito ousado da jornalista de plantão. O auxiliar dela no jornal se chamava  Mason um garoto fissurado por fotografias e video game, sem contar no facínio por biologia e química.

Finalmente o primeiro dia de aula havia terminado e quando cheguei na frente da escola minha mãe já esperava por mim e meu irmão.

- E então como foi o dia de vocês? – Perguntou minha mãe toda empolgada.

- Foi ótimo. – Eu disse.

- O meu também. – Disse Natan. Bastava uma pergunta ao meu irmãozinho para ele descrever tudo o que fez durante o dia, gracinha.

Quando chegamos em casa troquei de roupa, coloquei algo confortável e fui entrar no meu e-mail para ver se havia alguma noticia de minha amiga Christina.

Oi Elli estou com muitas saudades, a escola sem vc é um tédio...

Como é por ai? Tem bastante gatinhos? Esta se adaptando?

Tenho novidades que a deixará com os cabelos em pé, Vivian esta se atirando para o Jhonny.É ridículo, digno de pena, ela corre feito uma cadela no cil atrás dele.

Bjos te adoro e responda logo!

Chris!

Não posso acreditar que aquela vaca da Vivian pensa que pode conquistar o Jhonny! Ai que raiva dessa... Vivian era repugnante. Toda vez que havia carne nova no pedaço, ela rondava feito um urubu! Seu guarda roupa se resumia em mini-saias e baby looks com decotão. Era considerada a mais “popular” da escola, mas sua popularidade não tinha nada a ver com a “cativante personalidade”, pelo contrário não havia nada de inteligente naquela garota, ela fazia questão de humilhar qualquer um que não fosse digno de sua companhia.

Bom... E o Jhonny era um garoto muito fofo. Nossa amizade começou quase que instantaneamente, assim como nosso relacionamento enrolado. Ele era muito legal para ser enganado por uma vaca como a Vivian. Só de pensar daquela saracura pondo suas garras de monstra nele me dá ânsia de vomito.

Digitei:

Chris, também estou com muita saudades sua. Ainda não sei o que esperar desse lugar. Por enquanto tudo está tranqüilo. A paisagem é legal bem diferente dai. Acho que estou me adaptando bem, mamãe e Natan também. A escola é pequena e há alguns gatinhos mas nada em especial.

A respeito da monstra devoradora de corpos só posso dizer uma coisa: REPULSA! Mas infelizmente não posso fazer nada. Diga ao Jhonny que sinto sua a falta. Talvez ele ainda fique por mais um tempo pensando em mim antes de cair naquelas mãos sujas!

Bjos tbm te adoro.

Elli!

Depois disso eu queria arrancar o figado daquela loira azeda, aff... Deitei na minha cama pensando na minha antiga vida, peguei meu celular e comecei a ver as fotos de todos meus amigos, que saudades. Será que eu iria conseguir mesmo me adaptar?

Ouvi um carro chegar na frente de casa, desci correndo eu já sabia quem era, meus tios.

Tia Sarah continuava linda com seus cabelos caindo em caixos dourados pelas costas, seus olhos azuis claros destacavam seu rosto, ela nunca parecia envelhecer... a genética do papai era mesmo uma belezura. Tio Ben continuava o mesmo talvez um pouco calvo, mas seu sorriso gentil fazia com que ele parecesse um garoto de 15 anos novamente. Minha prima Mikelly estava linda como sempre no seu estilo roqueirinha, cópia fiel de tia Sarah mas de cabelos negros, lisos e curtos.

Quando me avistaram vieram me cumprimentar e me abraçar.

Eles conversaram muito com nós, ficaram para jantar e se ofereceram a ajudar se precisacemos de algo.

Naquela mesma noite eu refleti deitada na cama esperando o sono chegar. Passar o resto de minha adolescência em uma cidade pequena não era a coisa mais empolgante, claro que isso seria diferente se eu tivesse em meus 40 anos. Mas sério, passar por aventuras e experiências diferentes não mataria ninguém. Claro que fazer isso por aqui não ia dar certo. Talvez fosse apenas uma fase, mas eu andava muito ansiosa esperando por algo que estava quase se atrasando... Como no meu sonho. Mas afinal que raios estava dando em mim?

Virei para o lado e adormeci.