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História Blood and Moon - A Predestinada - Doentio


Escrita por: Dinny_Ives

Capítulo 42 - Doentio


Já fazia alguns minutos que estávamos na estrada. Eu, Jamie e Bernard seriamos os primeiros a chegar na propriedade de Skandar, enquanto os lobos iriam em um outro carro e chegariam lá depois, para que desse tempo de tirar a atenção dos vampiros que segundo Bernard, monitoravam as redondezas de uma forma peculiar.

Olhei para minha nova roupa, um conjunto de mini blusa e saia godê estilo anos 80 todo padronizado com estampas africanas. Bernard possuía um bom gosto devo confessar, mas ainda assim eu me sentia desconfortável por não estar acostumada a usar este tipo de roupa. Stella e Shelby ajudaram-me a arrumar o cabelo, fizeram um coque torcido de lado. Em meus pés encontrava-se um par de sapatos meia pata que lembravam um scarpin. Colorindo meus olhos sombras de um  marrom claro e suave, rímel preto escurecia e alongava meus cílios, os lábios pintados de um vermelho bordô. Minutos atrás quando eu me vira no espelho, achei que fosse uma estrela de Hollywood. Realmente, não existe mulher feia, existe pessoas que não sabem se cuidar.

Eu observava Bernard dirigir concentrado em seu carro. Estava com os pensamentos longe, com certeza arquitetando os detalhes do que iventaria a família. Virei a cabeça para trás, Jamie sentara bem no meio do banco traseiro, olhava de mim a seu mestre. Esperava por algo. Ajeitei-me no carona novamente. Precisava conversar com Bernard, muita coisa estava incerta, ainda mais agora que estávamos indo para o covil de serpentes arriscar nossas vidas. Mas como teria a conversa que tanto queria com o vampiro ao meu lado se Jamie estava no banco de trás e ainda por cima adivinhando minhas intenções?

- Elli.

Sobressaltei no banco ao ouvir a voz de Bernard.

- Sim?

- Irei lhe contar alguns detalhes de minha família para que saiba com o que está lidando. Algumas coisas lhe disse uma vez e tenho certeza que Casper também tenha lhe dito. – Ele ainda estava concentrado na estrada e pensando longe enquanto falava.

- Ok. – Falei.

- Primeiro, Sophie, a minha madrasta, possui um dom muito especial. Ela capta pensamentos de outras mentes e os filtra. Digamos que se ela quiser saber algo sobre Casper, basta apenas concentrar-se na imagem dele que todas as memórias e pensamentos seus a respeito será transferido para ela. – Bernard deu uma olhada para mim, verificando se eu havia ouvido, afinal ficara em silencio.

Eu estava boquiaberta como alguém poderia ter tanto poder assim?

- Mas em que escala ela consegue fazer isso? – Perguntei a ele.

- Várias mentes ao mesmo tempo. – Bernard respondeu. – E é por isso que chegaremos a propriedade de meu pai antes dos lobos. Sophie estará tão atenta em você que não notará outras presenças na mansão. E isso serve a Jamie também, está ouvindo? – Bernard dirigiu a pergunta ao vampiro sentado na parte de trás do carro. Lançando-lhe um olhar sério pelo retrovisor. - Não deixe que ela entre em sua mente, entendeu? Libere apenas coisas idiotas e insignificantes de sua existência, se você nos entregar, não medirei esforços para lhe matar. – Ameaçou o outro.

- Calma Bernard, já disse que estou do seu lado. Não se preocupe, sou bom em enganar. – Jamie sorria perversamente.

- Elli você no entanto, não precisará se preocupar com Sophie, pois teoricamente, ela não poderá adentrar a sua mente, assim como Casper também não pode. Apenas estou lhe dando conhecimento a respeito do Coven de meu pai. – Bernard fez uma pequena pausa. - Katrina como você bem sabe possui a persuasão, mas acho que esta também não será um problema para você. Nicol é uma guerreira muito hábil. Benjamin aparentemente não possui dom, a não ser a estratégia. Juntos os dois são infalíveis. Rougyne e Jonaf são os únicos normais. Já meu pai possui uma peculiaridade e esta pode sim lhe atingir. Ele consegue dominar eletricidade ou raios, chame do que quiser, mas é letal a humanos.

- Sua família é poderosa, espero que não desconfiem do plano. – Falei preocupada.

Senti mãos em meus ombros.

- Não se preocupe Elli, se acontecer algo nós te protegeremos e você também poderá usar seus poderes. – A voz de Jamie sussurrou em meus ouvidos, causando arrepios involuntários.

Ele sorria maliciosamente.

- Tire suas mãos dela. – Bernard disse baixo, mas a voz carregada de... Raiva? Parecia mais com ciúmes. Seus olhos estavam quase saltando das órbitas enquanto observava as mãos do outro loiro.

Jamie afastou as mãos de mim como se o olhar do outro queimasse. Ele sentou escorado no banco de trás, cruzando os braços.

- Nunca imaginei que viveria o suficiente para ver algo assim acontecer. – O vampiro disse sorrindo de lado, presunçoso e com os olhos fechados. – Há quem diria em Bernard?

- Cale-se. – Foi apenas o que Bernard disse.

Um silencio crescente insistia entre nós três. Eu sentia-me desconfortável. Queria que Kaleb tivesse levado o loiro sentado atrás de mim em seu carro, mas sua presença era requisitada, afinal era o braço direito do vampiro ao meu lado.

- Ponha seus fones. – Disse Bernard como uma ordem.

- Sério? – Perguntou Jamie.

Bernard apenas lançou-lhe um olhar aterrorizante pelo retrovisor.

- Ok, ok. – Disse Jamie pegando seu ipod e pondo os fones no ouvido.

- E bem alto, quero ouvir a música daqui. – Falou Bernard.

- Entendi, você manda chefe. – Sorriu Jamie aumentando a música ao máximo, até eu pude ouvir o rock metal que gritava em seus ouvidos.

- Pronto Elli, sobre o quer conversar? – Bernard disse mais suave, perdendo sua postura rígida.

Fiquei surpresa, como ele sabia que eu queria falar com ele? Comecei com um assunto que estava me incomodando desde o momento em que dsci ao porão do chalé.

- Kaleb disse algo que deixou-me intrigada. – Falei sem olhar em seu rosto, o assunto era embaraçoso. – Algo sobre um massacre em um clã de lobisomens. Um massacre de crianças. - Finalmente eu o encarava. Seus olhos me encontraram e estavam tranquilos, sua  postura estava relaxada, não sentira-se nem um pouco incomodado com a minha pergunta.

- Isso foi a muito tempo. Na época em que meu pai expandia seus territórios e não deixava nenhum outro sobrenatural adentrar seu território. Iniciou-se uma guerra contra os lobisomens. Atacamos o clã e as ordens era erradicar com as próximas gerações. Foi uma estratégia de batalha. – Ele pausou, lembrando de algo. – Eu não fiz porque quis, era uma ordem de meu pai.

- Mas... Mas você massacrou crianças só porque seu pai mandou? – Perguntei perplexa. Não era o mesmo que colocar uma faca no pescoço de Bernard, afinal ninguém mandava nele.

- Você não conhece meu pai Elli, naquela época eu era um vampiro recém transformado. As coisas eram confusas, eu me submetia a tudo que meu pai  mandava fazer. – Ele disse por fim encarando-me.

Eu tentava entender como ele conseguira fazer algo tão horrível e dormir todos os dias como se nada tivesse acontecido, mas para mim era o mesmo que tentar entender a pedofília. Algo praticamente impossível. Começava a questionar-me, o que o tempo significava para a vida. O que significava para a morte. Será que o ser humano havia consciência e culpa apenas por não ter o tempo suficiente de esquecer as atrocidades que fazia, cometeria? Se pudesse viver milênios como os vampiros, teria ele a capacidade de esquecer o valor de uma vida? Deixaria esses sentimentos na escuridão da mente humana?

- Eram... Crianças, apenas crianças... – Repeti comigo mesma.

- Talvez seja algo cruel o que direi a você. Vampiros não foram feitos para sentir como humanos. Para nós os sentimentos são iguais ao paladar de alguém doente, quase inexistente. Raramente um vampiro consegue se desvincular do monstro que rege dentro de si, raramente ele consegue manter sentimentos e humanidade. – Bernard pausou, percebi em sua expressão o conflito dentro dele, a batalha travada dentro de sua cabeça. – Casper conseguiu isso e Adam também. Eu não, por mais que no inicio desejasse poder, como já havia lhe dito anteriormente, após décadas e séculos aceitei-me do jeito que sou e vivi feliz... Até hoje. – Ele parou deixando eu digerir as palavras.

Como assim até hoje? Quer dizer que ele não queria mais esse monstro...?

- Te conhecer despertou algo adormecido dentro de mim Elli. Nunca, se quer cogitei poupar vidas em todos esses séculos de existência, mas com você foi diferente. Eu sentia a curiosidade brotar dia após dia, queria saber mais de você, o que a fazia ser tão vivaz, o que a motivava, que força interior era essa, de onde vinha a sua ingenuidade, porque queria o que era certo, porque se privava do que desejava... Coisas simples, mas que eu esquecera. Sendo vampiro, você não conhece limites, mas pela primeira vez em minha eternidade eu queria saber como era. E por isso lhe poupei a vida. Não por causa de uma ordem de meu pai. Acredite, houve outras humanas que ele me mandara cuidar, no entanto, eu as matava sem piedade.

“Junto com essa minha curiosidade, veio a vontade de estar perto de você, de conhece-la, a admiração, e o receio. E por causa desse receio tentei o máximo estar longe de você, pois quanto mais ao seu lado eu ficava, mais a atração por seu sangue tornava-se irresistível. Se apenas fosse seu sangue... No entanto, a tua beleza, tua personalidade... Eu esperava encontrar uma garotinha e deparei-me com uma mulher. Talvez isso tudo que sinto seja a profecia, talvez ela lhe transforme nesse ser angelical e demoníaco que é capaz de trazer redenção e ao mesmo tempo derrubar-nos ao inferno.”

Eu estava espantada com as palavras que Bernard revelava-me. Nunca alguém dissera algo assim a mim, nem mesmo Casper. Sentia os tambores do carnaval tamborilar em meus ouvidos e em meu estomago, sentia as palavras dele adentrar meu ser, foi algo poderoso e aterrorizante, sentimentos como esse costumam devastar.

- Quando lhe dei aquele tapa, tive vontade de arrancar minha própria mão. Ainda não consigo me perdoar. – Para minha surpresa, algumas lágrimas caíram dos olhos de Bernard, enquanto seu rosto se contorcia em uma careta de ódio, ódio por si próprio. – Nunca odiei-me tanto como naquele momento infernal! Mas você não parava de dizer aquelas palavras e elas me feriam como estacas em meu coração, era insuportável, eu apenas queria que elas paracem de sair de sua boca, era tão errado ouvi-las sair de sua adorável boca. – Ele parou abruptamente o carro enquanto sugava o ar para os pulmões tentando acalmar-se.

- O que houve? – Perguntou Jamie desligando a música. – Porque paramos?

- Saia do carro, encontre os lobisomens e digam para aguardar no acostamento alguns minutos. Quando chegar o momento certo, lhe avisarei para voltar e eles prosseguirem com o plano. – Bernard disse segurando o volante do carro com tanta força que parecia querer quebra-lo. Sua expressão sério mostrava impaciência enquanto havia algumas lágrimas em suas linhas d’água.

- Mas Bernard é só ligar para el... – Ia continuando Jemie.

- Eu já disse para IR! – Ele falou rugindo tão alto dentro do carro que deixou-me quase surda.

Jamie já não estava mais no carro, eu podia ver mal e mal seu corpo sumir de vista enquanto ele distanciava-se pelo espelho da lateral do carro.

Ok, era só eu e Bernard ali, e agora?

- Elli, sei que não mereço. – Bernard quebrou o silencio. -  Mas por favor perdoe-me. É insuportável o que estou sentindo, preciso do seu perdão e somente assim poderei me livrar dessa sensação dilacerante. – As lágrimas de Bernard rolavam mais rápidas, uma atrás da outra de seus olhos agora vermelhos rubi, enjetados de sangue. A expressão dele era vazia, sem caretas. Eu podia ver no entanto aquela tristeza profunda e arrependimento no fundo de seu olhar. – Me perdoa por favor. Me perdoa porque eu te amo!

Arfei sem folego pelas palavras dele. Bernard me amar? Isso parecia loucura, parecia um sonho... Ou um pesadelo? Mas que diabos! Ele não poderia me amar! Como poderia se ele já sentia isso por Katrina?! Afinal o que eu tenho? Porque sou tão atraente para os vampiros?! A resposta martelava em minha cabeça “Profecia, profecia, profecia”.

Aquilo estava longe de ser amor, era sofrimento estampado em suas feições, era como se alguém invisível o açoitasse, Bernard sentia dor, aflição... Não, não podia ser amor, o amor que eu conhecia não fazia isso. Ele descobriu os sentimentos dentro de si da pior maneira, semelhante a uma doença, começou em estado de negação, lentamente avançando e infectando todo seu corpo, somente agora conseguiu aceitar e contar para mim. Céus a quanto tempo isso o vinha atormentando? A quanto ele vinha sofrendo dessa forma?

Eu não sabia o que dizer, mesmo que tudo aquilo parecesse ser a coisa mais linda que alguém já sentira, no entanto era doentio, intensamente doentio... Mas não maior e mais forte do que eu sentia por ele, meu sofrimento por um sentimento que não deveria existir era genuíno como o dele. Era um fardo, que deveria ser libertado.

- Eu te perdoo Bernard, porque... – Eu ia me arrepender cruelmente por dizer isso. - ... Porque... – “Não faça isso, não faça isso”. – ... Eu também te amo. – Fiz. A bomba está jogada e tenho certeza de que explodirá em minhas mãos.

Não há mais volta.



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