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História Blood and Wine - So cold


Escrita por: harIeyquinzel

Notas do Autor


Uma breve explicação.
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Capítulo 45 - So cold


Lauren estava amaldiçoada. Não era a tristeza que a incomodava, nem a solidão. Já se acostumara com isso. Era a sensação de que uma mudança se aproximava. A sensação de que havia algo maravilhoso depois da curva da estrada, só para ver suas esperanças esmagadas e para descobrir que dera seu coração a uma mulher que não a queria.

 

— Bom dia. — Camila entrara na sala de jantar tão silenciosamente que ela não a ouvira.

 

E a voz dela estava rouca, como se tivesse chorado até adormecer, depois de voltar para seu quarto no meio da noite. Incapaz de dormir, Lauren fora para a biblioteca, em busca da garrafa de conhaque, e quando voltara para a cama, ela havia desaparecido.

 

— Bom dia — respondeu ela.

 

O que mais poderia dizer para ela? Que pedido de desculpas lhe oferecer? Que explicação poderia lhe dar para apagar a amargura daquela manhã?

 

Ela entrara na sua vida sem querer. Lauren rira consigo mesma do fato de que sua mãe escolhera a noiva perfeita, uma mulher tão infeliz como ela própria. Seria um caso de atração entre semelhantes, e elas poderiam viver para sempre naquela casa, criando alguns filhos infelizes em meio a um silêncio de pedra.

 

E Lauren soubera da história dela, e ficara comovida. E observara enquanto ela desabrochava, modificando a casa e seus arredores, e dando-lhe razões para esperar que as coisas pudessem ser diferentes. Diferentes para ela. Diferentes entre elas.

 

— Café?

 

Antes que ela pudesse recusar, Camila enchia a xícara dela. Camila faria o mesmo com o seu chá da tarde, acrescentando o leite e o limão como Lauren gostava. Lauren não se lembrava de ter contado a ela sobre suas preferências, mas Camila as conhecia mesmo assim, e fazia todos os esforços para vê-la confortável. O café queimava em sua língua como bile.

 

Lauren olhara para ela, do outro lado do salão de baile, na noite anterior, e ficara fascinada com ela. O vestido que lhe comprara, as joias que lhe dera brilhando em seu pescoço. E Camila sorrira para ela, quando a multidão a levara. Lauren ouvira os suspiros dos jovens quando ela passara, e os sussurros curiosos dos viúvos, e se deleitara com a inveja de todos.

 

O vinho durante o jantar e o conhaque depois tinham sido demais. Era estranho que a bebida a afetasse tanto. Mas ela suspeitava que não fora a bebida. Fora a visão de Camila, a alegria de saber que ela lhe pertencia. Seu corpo vibrava com a sensação. Ansiedade. Lauren se sentira como.... Uma noiva. E ficara cansada dos sorrisos maliciosos que os outros homens lhe dirigiam, das tapinhas nas costas, quando a vira procurando por ela, chamando seu nome e se esgueirando para a biblioteca escura.

 

E, incapaz de esperar mais um minuto, Lauren a seguira, excitada além da razão com o escândalo, correndo para o inevitável. E ela a teria possuído ali, com aquele vestido, no chão da biblioteca, se...

 

Deu um murro na palma da própria mão para voltar à realidade. Ela deu um salto, assustada, deixando cair a colher que segurava, e ouvindo-a ressoar no prato. Então, deliberadamente, ela apanhou a colher e voltou ao seu café da manhã, sem comer, mas mexendo a comida para os lados do prato, em uma simulação crível de alguém que apreciava sua refeição.

 

Se ao menos Camila soubesse quem Lauren era. Os beijos que ela lhe dera eram para outra pessoa.

 

E quando elas chegaram em casa...

 

A mulher que sorrira para ela durante o baile mal podia olhar para ela, agora.

 

E Lauren a silenciara, com medo do que ela poderia dizer.

 

Eu nunca a amei.

 

Deixe-me ir.

 

Deixe-me ir para ele.

 

Lauren se perdera no alabastro da pele dela, na curva de seu pescoço. Um corpo feito para amar e ser amado, ainda que abrigasse um coração traiçoeiro.

 

Mas ao menos o que acontecera entre sua esposa e seu irmão não tinha ido longe o suficiente para causar dúvidas sobre legitimidade. Ela viera para a cama de Lauren virgem. Havia meios de enganar alguém, ela sabia muito bem, se uma mulher se desse ao trabalho. Ela não tivera tempo para preparar uma cilada, e a Duquesa sentira o corpo dela responder com dor, e não com prazer, quando a penetrara. Com sua grosseria, e com seu ciúme, ela a machucara.

 

Lauren se levantou da mesa e foi até a janela, olhando fixamente para o jardim. O sol brincava sobre as flores, zombando dela com a ilusão de paz e felicidade.

 

—Lorde Jauregui partiu.

 

Ela viera se juntar a Lauren, e também estava olhando pela janela.

 

— Eu sei.

 

Afinal, aquele era o jeito dele. Sempre fora assim: causava o maior caos possível e desaparecia em seguida, deixando os escombros para trás.

 

— Os serviçais disseram que ele veio buscar um cavalo e se foi a galope pouco antes de chegarmos em casa.

 

Então, ela fora procurá-lo, assim que acordara naquela manhã. Lauren agarrou as cortinas de veludo com uma das mãos, e sentiu os anéis que as sustentavam cedendo com a pressão. Forçou-se a relaxar antes de responder:

 

— Eu sei.

 

— Ontem à noite, no baile...

 

— Não vamos falar de ontem à noite — interrompeu ela. — Não quero ouvir os detalhes. Estou disposta a me esquecer de que a noite de ontem algum dia existiu... — Deus, como eu quero esquecer. —, se você prometer, se puder jurar, que qualquer criança que vier a dar à luz será minha. — Ela se virou para Camila, esperando a resposta.

 

— Eu juro. — A voz dela era quase inaudível.

 

— Muito bem então — disse ela, desvencilhando-se das cortinas. — Tenho negócios para tratar hoje. Vejo você à noite. — E saiu da sala.

 

Camila observou a tensão nas costas de sua esposa, enquanto ela se afastava, como se não pudesse suportar o peso do olhar dela.

 

Ela afundou na cadeira e brincou com seu café da manhã. Esperara, com a partida de Chris, ter uma chance de discutir as coisas com sua esposa. Claro que também esperara estar livre dos segredos que já guardava, e agora Lauren insistia em piorar tudo. Depois da noite anterior, havia mais um item na lista das coisas que jamais deveria falar.

 

Maldito Chris, por conhecer sua irmã tão bem. Aquele fora um golpe em seu coração e em seu orgulho. Ela estava certa, antes da véspera, de que Lauren se mostrava mais amável com ela, e que as coisas ficariam mais fáceis entre elas.

 

E ela respondera a Camila quando a encontrara na biblioteca. Ela respondera com entusiasmo. Camila estremeceu enquanto o desejo a invadia outra vez. Se fosse Chris, ela teria reagido da mesma maneira?

 

A experiência de Chris jamais poderia superar o ódio que ela sentia por ele. Quando encontrara Lauren, seu coração soubera o que sua mente não sabia, e ela respondera aos beijos dela. Mas como poderia se explicar, se Lauren queria fingir que nada acontecera? E ela ainda falava de filhos. Isso é tudo que realmente interessa a ela.

 

Talvez fosse assim. Mas se não houvera amor, houvera afeição. E a sensação de que poderia haver mais do que uma tentativa de concepção durante o tempo que elas passavam juntos na cama. A noite anterior fora breve, e houvera dor, mas ela não a usara com crueldade. Ela se lembrava do toque das mãos e dos lábios de Lauren em seu corpo e sentiu o desejo crescer dentro de si, afastando o medo. Voltaria a procurá-la naquela noite, sem aquela sombra entre as duas, para ver se Lauren realmente pretendia esquecer o baile.

 



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